Yezud e Shadizar

(por Fernando Neeser de Aragão)



- Procurando tesouros, bárbaro? Há muitos na Torre do Deus-Aranha.

O homem a quem a frase foi endereçada olha para cima, e vê outro, de turbante branco, pele morena, barba preto-azulada, nariz curvo e dois olhos negros como contas brilhantes. Sem dúvida, um shemita. O bárbaro ali sentado, por sua vez, é um homem alto, bronzeado e musculoso, de desgrenhada cabeleira negra e olhos azuis. Aquele jovem agigantado havia, há não muito tempo, participado de um ataque mal-sucedido de hirkanianos à cidade de Khorusun, e chegara em Zamora quase sem riquezas. Procurado pelo governo da capital, perto da fronteira oeste daquele país, aquele cimério já está há um dia e uma noite em Yezud, com apenas o dinheiro da dormida daquela noite na estalagem onde se encontra.

- Torre do Deus-Aranha? – pergunta o bárbaro, bebendo vinho e com ar taciturno.

- Aquela ali – responde o shemita, apontando uma torre de pedra, de uns 20 metros de altura, visível pela janela daquela taverna. – Vamos invadi-la. Dois ladrões agem melhor do que um – ele acrescenta, piscando o olho.

O bárbaro de olhos azuis dá de ombros e, desconfiado como sempre, mas sem dinheiro, termina seu vinho e resolve segui-lo.

* * *

O local mencionado é uma construção bem menor e mais simples que a Torre do Elefante, e não tem nenhum brilho de jóias na parte externa. Naquele momento, os dois ladrões chegam perto da torre, após terem se esgueirado pelas ruas da cidade de Yezud, na qual o forasteiro ocidental chegara, em busca de alguma riqueza a ser roubada.

- Quer dizer que você ia subir esta torre sem nem sequer uma corda? – ri o homem do oeste.

- Bem – responde o shemita em sua fala rápida –, eu tenho uma corda comigo, em algum lugar, mas por Bel e Derketo, não consigo achá-la...

- Por Crom, deixe de mentir – o bárbaro ri mais ainda. – Eu tenho uma. A propósito, qual o seu nome?

- Mosiah, de Shumir. E o seu?

- Conan, da Ciméria.

Num ponto desguarnecido da torre, Conan arremessa a corda com um movimento poderoso de seu braço musculoso, e o gancho se firma bem em algum ponto lá do alto, pois os puxões vigorosos do cimério não conseguem tirá-la do lugar. O bárbaro agarra a corda e, apoiando o joelho numa laçada, começa a subir como um gato, seguido pelo shemita.

Enquanto os dois sobem silenciosamente, as luzes de Yezud vão se afastando mais e mais, até que, como uma dupla de felinos, os ladrões alcançam a beirada do local onde a corda se enganchara. Por um momento, Mosiah se queixa do mau-cheiro de carniça, vindo de um poço escavado no alto da torre, e do qual se aproximam.

- Bah! Já senti cheiros piores em campos de batalha, Mosiah – responde Conan.

Então, encaixando a corda do lado externo da beirada, ambos começam a descer para dentro da Torre do Deus-Aranha, esgueirando-se até avistarem sacerdotes convergindo para um salão interno do local. Seguindo-os, a dupla de ladrões vê aqueles mesmos sacerdotes pegando prisioneiros – a maioria mendigos e indigentes, encontrados nas ruas –, fitando dentro dos olhos deles e murmurando encantos. As vítimas se tornam mortas-vivas, com os olhos vidrados, fazendo tudo o que lhes é ordenado. A principal ordem é para que aqueles prisioneiros desçam o poço.

Em meio àqueles rituais abomináveis desse templo proibido, Conan e Mosiah também vêem jovens mulheres yezuditas, usando grandes pérolas de jade negro nos pescoços e pulsos, e dançando diante de uma aranha de pedra negra, que é o deus daquela cidade. O cimério então fala, ao seu parceiro shemita, que irá investigar os andares inferiores daquela torre, em busca de riquezas. O shumiriano, contudo, prefere ficar naquele andar – seu olhar não desgruda daquelas pérolas de jade, e ele, como todo shemita, prefere ganhar riquezas mais fáceis.

* * *

Descendo para o compartimento mais baixo da torre em sua corda, Conan sente, cada vez mais forte, o odor familiar da morte, a se desprender de ossos humanos, espalhados pelo chão sujo da parte mais inferior da Torre do Deus-Aranha. Ele também nota, além das teias que envolvem as ossadas, a presença de uma bela mulher acorrentada a uma das paredes, bem como um cheiro diferente, que se sobressai em meio ao fedor de carniça.

Aquele cheiro não é estranho a Conan – ele já o havia sentido há alguns anos na Torre do Elefante. Ao avistar a forma que se aproxima da zamoriana acorrentada, o cimério já não tem mais dúvidas. É uma gigantesca aranha negra, igual à que o cimério enfrentara pouco antes de conhecer Yag-Kosha. Aquele aracnídeo é do tamanho de um porco, e suas oito patas grossas lhe carregam o corpo repulsivo sobre o chão, num passo rápido; seus quatro olhos maldosos brilham com terrível inteligência para a linda e jovem prisioneira; e, de suas presas, goteja um veneno carregado de morte instantânea.

Investindo silenciosamente por cima, o cimério se esquiva de uma teia lançada pelo aracnídeo e decepa, de um só golpe de seu sabre hirkaniano, o focinho da aranha gigante, impedindo-a de lançar qualquer teia ou veneno – tanto contra ele quanto contra a jovem acorrentada à parede. Após lhe decepar metade das patas, Conan termina de matar aquele aracnídeo, cravando profundamente a lâmina na carcaça da criatura ferida.

No momento seguinte, entretanto, surge outra abominação, a qual parece recém-saída de um pesadelo: outra aranha negra, ainda maior do que a que Conan acabara de matar, cujo comprimento equivale ao dobro da altura do cimério e com as presas também gotejando veneno. A jovem zamoriana lança um grito estridente de puro horror. Aquela criatura já havia se alimentado de um dos prisioneiros hipnotizados, mas ainda está faminta. Todavia, antes que o bárbaro possa investir, uma forma esguia cai de pé sobre o gigantesco aracnídeo: é Mosiah, com uma lança zamoriana nas mãos. Antes que possa usá-la contra aquela nova aranha gigante, o shumiriano é derrubado pela própria criatura, de modo que o shemita e a lança caem próximos ao cimério.

Sem perder tempo, Conan agarra a lança, sabendo que só tem chance para um golpe, e a enfia na boca do aracnídeo, de modo que a ponta se projeta pela nuca da criatura. Com muito suor e um esforço sobre-humano, o bárbaro gira a lança como uma alavanca, até conseguir fazer a moribunda aranha gigante ficar virada sobre as próprias costas. A lança teria atravessado o cérebro da criatura monstruosa, se ela tivesse algo semelhante. Pelo que parece uma era, a criatura se contorce, o sangue escorrendo pela enorme ferida em seu corpo gigantesco, até que, finalmente, os gestos da aranha gigante se tornam cada vez mais mecânicos, e o cimério percebe que o aracnídeo está morto.

Então, voltando-se para a bela jovem acorrentada, ele vê que os grilhões a prenderem-na à parede são de ferro – o mesmo que nada para sua ensangüentada espada de aço. Com apenas dois golpes, a garota está livre e, impulsivamente, beija os lábios do bárbaro. No instante seguinte, Conan a conduz apressadamente para fora do recinto, seguido pelo shemita, o qual sobe, junto com o casal, pela mesma corda na qual o bárbaro descera – pois outros guardas e sacerdotes podem ter ouvido os sons da luta e, além disso, eles não querem se deparar com outros daqueles gigantescos aracnídeos repulsivos.

Após descerem rápida e furtivamente por onde subiram, o cimério nota que Mosiah traz consigo algumas pérolas de jade negro, e logo entende o motivo daquele shemita ter usado uma lança zamoriana ao invés da cimitarra.

- Não perdeu tempo, hein, shumiriano? – diz Conan, com um sorriso nos lábios.

* * *

- Talvez Druuna possa usar seus encantos femininos para distrair os guardas e fugirmos de Yezud – sugere Mosiah de Shumir, enquanto se esgueira à noite com Conan e a garota à qual este último salvara.

Assim, envolta num manto escuro que lhe substitui os trajes sumários – aos quais ela própria rasgara e jogara fora – de garota para sacrifícios ao Deus-Aranha, Druuna sai do beco, caminha diretamente pela praça até o portão e sorri para os guardas:

- Olá, rapazes. Noite agradável, não?

Eles, contudo, lhe barram o caminho, cruzando as lanças que seguram.

- Prostitutas não têm permissão para deixarem Yezud após o pôr-do-sol! – responde um deles.

Com dois murros, Druuna nocauteia ambos os guardas e lhes toma as chaves.

- Por Bel, Conan! – sussurra o shumiriano. – Como conseguiram capturá-la?

- Quando a salvei das aranhas gigantes, percebi um coágulo de sangue seco na nuca da jovem – esclarece Conan, com um sorriso de orgulho diante da cena que acabava de ver, ao mesmo tempo em que Druuna balança as chaves para os dois ladrões. – A própria Druuna me informou que a magia deles só funciona em homens...

Enquanto a garota abre os portões de Yezud, Conan e seu veterano companheiro ladrão correm para dar cobertura à jovem, matando os demais guardas, os quais tentam inutilmente deter o trio. Ao saírem, o cimério e o shumiriano roubam dois cavalos (típicos espécimes zamorianos, belos, de cores variadas e com longos pêlos entre os joelhos e cascos), e fogem da cidade – Conan e Druuna numa de suas montarias e o shemita noutra. A lua cheia é a única testemunha a acompanhar a fuga de ambos para Shadizar. Apesar de ser chamada “A Maldita”, Shadizar parece melhor do que Yezud, onde seu degenerado rei, Milosh, acredita que o Deus-Aranha protege a cidade se for alimentado diariamente com carne humana – e que, enquanto aquelas malditas aranhas gigantes viverem, ele terá (na opinião dele, é claro) um reinado seguro e um povo próspero. Diante dos ladrões e da garota, o ar puro do campo lhes limpa das narinas a imundície de uma cidade decadente.

* * *

Chegando a Shadizar, Conan observa casualmente uma das moedas usadas por Mosiah. Suas beiradas estão gastas, e a inscrição quase apagada – embora num de seus lados esteja cunhada a face de um homem barbado e inescrutável, com uma beleza calma e inumana.

- Esta moeda não me parece zamoriana, Mosiah – diz Conan.

- É acheroniana, Conan – responde o shumiriano. – Foi cunhada num império lendário a oeste daqui... um império que dizem ter sido destruído por hiborianos bárbaros há muitos séculos.

O cimério dá de ombros. Ele se recorda da saudosa Nedaxe ter mencionado tal lenda, há três anos, na cidade aquiloniana de Shamar. Deixando o assunto de lado, eles adentram ainda mais a cidade, cujos habitantes são, como Druuna e todos os zamorianos, descendentes dos pré-cataclísmicos zhemris com refugiados dagonianos.

Belas mulheres morenas, de abundantes cabeleiras negras, andam pelas ruas de Shadizar, com seus vestidos decotados de saias coloridas, acompanhadas por seus maridos, os quais usam lenços e cintos dourados de seda, camisas de cetim azul e mangas compridas, e longas calças largas, também de seda. Sobre os cintos de seda daqueles nobres zamorianos, há um cinturão de couro do qual pende um ou mais sabres, embainhados no quadril esquerdo, ou em ambos.

Mas, quando faz calor, a maioria das zamorianas nada nuas nos rios, mesmo sob os palácios, e andam com vestidos curtos de seda – se forem ricas – ou de algodão – se não forem. Mas, quando começam a suar e o tecido lhes adere à pele, é como se andassem nuas.

Conan, Druuna e Mosiah chegam ao quarteirão de leilões públicos da cidade. As prostitutas de lábios grossos, ali presentes, são muito bonitas, mas toda a beleza delas desaparece aos olhos de Conan da Ciméria e de Mosiah de Shumir, quando estes as vêem rindo das garotas que estão sendo despidas para serem vendidas como escravas. Não é à toa, pensa Conan, que este local seja também chamado de “Cidade da Perversão”. Nada pode ser mais degradante para aquele cimério do que a escravidão, e principalmente aqueles que dela riem, como aquelas mulheres de taverna.

Desinteressados e pouco à vontade com as cenas dos leilões, os três procuram um local para matar a sede.



Horas mais tarde, quando a lua se ergue acima do palacete de um administrador mercantil, Conan, sua recém-adquirida amante Druuna e seu amigo Mosiah nocauteiam, com golpes dos cabos de suas espadas, os três guardas que faziam a ronda ali, escalam furtivamente as paredes do local – o cimério sozinho, e o shemita e a yezudita (esta última agora armada com a shasqa cherkessiana, que o bárbaro lhe dera dias atrás) na corda de Conan – e, chegando a uma das janelas, entram furtivamente numa câmara cheia de riquezas e levam o máximo possível de moedas de ouro, fugindo do local da mesma forma como entraram.

Nos dias seguintes, o trio pratica novos roubos na cidade à noite e, apesar dos lucros obtidos, o cimério começa a se entediar com este retorno à vida de ladrão.

* * *

Amanhece mais um dia em Shadizar. Uma bela mulher, de lenço dourado na cabeça, espartilho vermelho e longa saia azul, endireita as costas com um suspiro, flexionando os ombros para aliviar a câimbra de seus músculos. Jogando o pano do balcão ensaboado dentro do balde, ela olha ao redor da sala ainda vazia.

As sombras diminuem à medida que o meio-dia se aproxima. A Taverna de Jivin logo estará aberta para os clientes. A jovem garçonete de lenço dourado olha em volta, e sorri de satisfação. As mesas estão limpas e lustradas. Tudo o que ela tem de fazer é varrer o chão. Após a jovem empurrar os bancos de madeira para os lados e varrer rapidamente a sala inteira, aparecem os três primeiros clientes. Ela sorri ao reconhecer o mais alto deles.

- Conan! – exclama a yezudita. – Conan, o cimério.

O bárbaro sorri ao reconhecer a garçonete Jaelle, a yezudita a quem conhecera na cidade de Zamora, há dois anos, e os olhos do cimério faíscam de desejo. Ele apresenta Mosiah e Druuna para a bela garçonete, enquanto os bolsos, recheados de ouro, do cimério, de Druuna e do shumiriano tilintam, e o dono do estabelecimento aparece, vindo da cozinha.

- Hoje vai ser mais um dia revigorante para os negócios – sorri Jaelle, com os olhos negros faiscando de desejo para o cimério e a outra yezudita.

Mosiah se senta a uma das mesas, pede vinho, enquanto Conan, Druuna e Jaelle se dirigem a um dos quartos da taverna, indicado pelo estalajadeiro Jivin.

* * *

“Me esquenta com o vapor da boca, e a fenda mela,
Imprensando minha coxa na coxa que é dela.
Dobra os joelhos e implora o meu líquido.
Me quer, me quer, me quer,
E quer ver meu nervo rígido”.
(Ana Carolina)

Montada sobre o falo ereto de Conan a penetrá-la, Jaelle tem seu ânus lambido por Druuna. Suspirando em êxtase de prazer e com um sorriso libidinoso nos lábios, Jaelle bate levemente os seios volumosos no rosto cicatrizado do cimério. Excitado, o bárbaro os suga novamente, a deita sobre o leito e continua a adentrá-la, ao mesmo tempo em que Druuna monta no rosto da conterrânea yezudita, fazendo-a sugar-lhe a vagina, enquanto os seios médios da guerreira são sugados por Conan.

Minutos depois, o cimério ejacula dentro da vagina pulsante de Jaelle, a qual também tem um orgasmo quase ao mesmo tempo em que o bárbaro e Druuna – e esta, por sua vez, chega ao êxtase do prazer, graças à língua de Jaelle em sua vagina e clitóris, e à de Conan em seus seios.

A seguir, Jaelle fica de quatro para o cimério e abre as nádegas para ele. Ainda excitado e com sua inesgotável libido de bárbaro, Conan lambe, suga e penetra o ânus dela, ao mesmo tempo em que Druuna suga, por baixo, a vagina de Jaelle, alternando a boca ali e nos volumosos seios balouçantes da parceira. Após mais alguns minutos, Conan e Jaelle têm outro intenso orgasmo. Sem perder tempo, Druuna – que estava sugando a vagina da conterrânea durante o orgasmo desta e do cimério – espera o sêmen escorrer do ânus de Jaelle para dentro de sua boca. Erguendo-se de joelhos, Druuna encara os vulcânicos olhos azuis do bárbaro, e lhe gargareja e engole o esperma. Extasiado, Conan deita Druuna sobre o leito e lhe penetra a vagina, enquanto ela suga os seios de Jaelle. Pouco depois, em seu terceiro orgasmo, é o cimério quem suga o busto avantajado de Jaelle, enquanto, tendo mudado de posição, Druuna se contorce de êxtase de prazer sobre o corpo musculoso do montanhês.


Enquanto isso, do lado de fora do quarto, Mosiah vê, num canto da taverna, uma mulher bêbada e nua dançar e rir com três homens. Cambaleando, ela sai do círculo. Eles a seguem. Um deles a curva para a frente, penetrando-lhe a vagina por trás, enquanto os outros dois se ajoelham e lhe sugam, cada um, um seio. Logo, um dos que lhe sugavam os seios põe seu falo na boca da moça e a faz sugá-lo até ejacular na boca. Sorrindo para ele, ela engole todo o esperma, enquanto o outro que lhe sugava o seio se masturba, até ejacular em todo o rosto da jovem, ao mesmo tempo em que o homem que a penetrava também tem um orgasmo.

Mosiah abre um sorriso, e está prestes a entrar naquela orgia. Súbito, Conan sai do quarto, abraçado às duas zamorianas e sorri para o shemita:

- Olá, caro amigo! Faça bom proveito com essas três beldades. – O bárbaro aponta para Druuna, Jaelle e a mulher que se divertia com os três homens. – Partirei daqui e voltarei à Ciméria! – ele acrescenta, entediado com a falta de guerras e serviço mercenário em Zamora.

Mosiah sorri de volta para o cimério, mal acreditando nas palavras de Conan, o qual se retira daquele recinto com um sorriso de satisfação. Esses bárbaros têm atitudes um tanto imprevisíveis, pensa o ladrão, ainda mais feliz com sua mudança de sorte.


FIM




Agradecimentos especiais: Aos howardmaníacos e amigos Deuce Richardson, dos EUA, e Ricardo Tavares Medeiros, de Brasília (DF).





A seguir: De Volta à Ciméria e Asgard.


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