De Volta à Ciméria e Asgard

(por Fernando Neeser de Aragão)


1)

Um vanir se esgueira numa floresta. Acostumado a viver e lutar nas planícies nevadas e ensolaradas de sua Nordheim natal, aquela mata cerrada, que faz o dia nublado parecer noite sem lua, não é exatamente um local onde ele se sinta à vontade – principalmente agora, que ele se perdeu do bando. Atravessando uma lagoa, o guerreiro de cabelos vermelhos pára, com os ouvidos atentos. De repente, ele é puxado e derrubado pela mão de um pré-adolescente de cabelos negros, que saíra em busca de frutas para o almoço e que, ao pressentir a presença daquele homem, havia ficado escondido debaixo d’água.

Erguendo-se, o vanir gira seu machado, tentando decepar a cabeça do garoto, mas o jovem cimério se esquiva e, girando a espada, abre de um só golpe a cota-de-malha e o ventre do ruivo, fazendo-o cair agonizante e com os intestinos de fora na rasa água escura, a qual agora se tinge de vermelho. Aquele é o primeiro vanir a quem o jovem Ernan, de 11 anos, mata, de modo que, sorrindo, o garoto lhe decepa a cabeça e corre com ela até sua aldeia, pensando que o ruivo morto viera sozinho.


O ataque começa ao meio-dia, sob uma chuva de flechas vanires, enquanto os cimérios da Tribo do Grande Lago ainda preparam o almoço. Sem perderem tempo, os bárbaros de cabelos negros contra-atacam seus antagonistas vindos de Vanaheim – estes agora sem suas setas mortíferas. Um deles, um homem de cabelos vermelhos e esvoaçantes, dilacera, com seu machado, a garganta de um dos cimérios. Instantaneamente, Conan o vinga, cravando-lhe a espada no peito encouraçado. As armaduras dos vanires são cotas-de-malha, postas sobre peles e couros simples e sem adornos.

Com sua espada presa no osso esterno do vanir, Conan pega o machado de um conterrâneo morto e abre o pescoço de outro ruivo, o qual investia contra ele. Outro cimério agarra um guerreiro de barbas vermelhas por trás e, agarrando-lhe o queixo barbado, abre sua garganta num jato escarlate, mas tem suas costelas e pulmões perfurados por trás, por outro vanir. Este, por sua vez, não vive o suficiente para se gabar, pois recebe, na jugular, uma lança de ponta de bronze, arremessada por uma ciméria.

Enquanto isso, a bela Dúnlaith dá um giro descendente num dos vanires, abrindo-lhe capacete, rosto e arrancando-lhe o olho direito. Brandindo o machado de lado e às cegas, o ruivo derruba a artesã meio inconsciente ao chão, com um giro em sentido horário da arma.

Antes que o vanir se recupere, Mealla, filha da artesã, atinge o ruivo meio cego, abrindo-lhe a cota-de-malha, pele e intestinos num giro sangrento, e fazendo o gigante de Vanaheim tombar agonizante ao chão, enquanto Dúnlaith se levanta e recupera a arma caída. O frêmito do êxtase da batalha toma conta de todos ali presentes.

Transpassada no estômago pela espada de um rival, Iuchra vinga a própria morte, enfiando, com a mão esquerda, seu punhal entre o pescoço e clavícula do seu assassino, e fazendo-o ir ao chão com o sangue lhe escorrendo do pescoço aos borbotões. Enquanto isso, Ealadha talha mortalmente outro vanir, cortando-lhe a cota-de-malha e tronco num golpe diagonal, e abrindo o pescoço de outro, para, no instante seguinte, partir mais outro saqueador ruivo à altura da cintura.

Sem ainda ter visto a avó morrer, Conan recupera a espada e, com ela e o machado, mata outros vanires com giros e estocadas mortais, enquanto sua atual amante Aoibhe talha um vanir na altura das costelas antes que este possa usar a espada contra ela, e parte mais um num sangrento golpe descendente na clavícula, para em seguida transpassar o coração de outro rival de Vanaheim. Enquanto Conan, Rotheactha e Criomnthan abrem o peito de mais três inimigos de barbas ruivas, a velha Cliodna abre o crânio de outro rival de cabelos vermelhos na altura dos olhos, num giro lateral, fazendo espirrar sangue, miolos e as duas órbitas oculares azuis. Com a cabeça do vanir que matara nas mãos, o jovem Ernan entra no campo de batalha, soltando o selvagem grito-de-guerra dos cimérios, e arremessando seu machado certeiro no rosto e cérebro do último ruivo ali presente, cujo capacete caíra, deixando-lhe o crânio vulnerável à lâmina ciméria. A batalha termina tão abruptamente como havia começado.

Ao ver a mãe morta, Criomnthan, assim como o filho ao perder Tassach anos atrás, sente-se envolvido por uma torrente de repulsa. Seu rosto fica subitamente velho e os olhos azuis, cansados. A inexplicável melancolia do cimério cai como uma mortalha sobre sua alma, paralisando-o com uma esmagadora sensação da futilidade dos esforços humanos e da falta de sentido da vida. Sua liderança, prazeres, temores, ambições, e todas as coisas terrenas se revelam subitamente como pó e brinquedos quebrados. As fronteiras da vida murcham e as linhas da existência se fecham ao seu redor, entorpecendo-o. Deixando cair a cabeça leonina em suas poderosas mãos, ele geme em voz alta, com a mente melancólica transportada para o vazio da vida e da falta de sentido da existência.

Então, como ele e a agora menos amarga marceneira Eanbotha haviam feito com Conan anos atrás, seu primeiro filho do sexo masculino e sua bela esposa o tocam e abraçam, fazendo um calor agradável percorrer suas veias, e coisas e acontecimentos assumirem novas dimensões – principalmente, quando vêem Ernan segurando a cabeça de um vanir e descobrem, mais tarde, que o próprio garoto havia matado o ruivo antes de decapitá-lo.

Mesmo assim, Conan decide viajar para Asgard mais uma vez, após se despedir brevemente da família e dos amigos.




2)

Como todos os povos bárbaros, os aesires reverenciam a vida guerreira e vivem em luta contínua contra seus vizinhos vanires, hiperbóreos e cimérios, bem como uns contra os outros em batalhas tribais. E entoam canções, e contam histórias, sobre suas guerras e bravuras. Reconhecido na tribo do falecido Niord, Conan é bem recebido lá, pela bela jovem Eanfled, filha de Horsa, não apenas por já ter sido aliado daqueles aesires, mas por ser amigo deles de longa data. Ildic, mãe de Eanfled, também dá boas-vindas ao jovem de cabelos negros.

À cota-de-malha e roupas de pele – tipicamente aesires – da filha de Horsa, somam-se calças de couro polido e envernizado, ornamentos dourados e um escudo folheado a ouro – tipicamente hiperbóreos, frutos de saques à mais civilizada nação rival de Asgard. Conan a reconhece e vice-versa, apesar do cimério nunca tê-la visto lutar, nem usar aquelas roupas e ornamentos de origem hiperbórea. Sorrindo, o jovem moreno pergunta a Eanfled pelo pai dela.

- Minha tribo foi atacada por uma horda de saqueadores vanires. Refeitos do elemento-surpresa, contra-atacamos e conseguimos expulsar aqueles cães ruivos, após uma longa e exaustiva batalha – ela responde, estranhamente taciturna.

“A fuga havia sido geral e meu pai, ainda louco por sangue, mas cambaleando de cansaço e perda de sangue, caiu sobre um grupo de vanires, os quais, com as costas coladas umas às outras, ainda resistiam aos seus vencedores. O líder deles, de nome Woden, quando viu Horsa, correu furiosamente até ele. Meu pai, cansado demais para deter o golpe do cão ruivo, largou a própria espada e se engalfinhou com ele, lançando-o ao chão. A espada foi arrancada da mão do líder vanir enquanto caíam, e ambos tentaram agarrá-la, mas Horsa pegou o cabo e Woden a lâmina. O meu pai a puxou, passando a lâmina afiada pela mão do vanir e cortando nervos e músculos. E, pondo um joelho sobre o peito de Woden, Horsa enfiou a espada duas vezes no coração dele. Woden, moribundo, puxou uma adaga com a mão esquerda e a enfiou no coração de papai”, conclui Eanfled, com uma lágrima lhe sulcando a bela face. “Meus aesires expulsaram os vanires remanescentes, mas eu soube que aquela horda retornou, sob a liderança de um tal de Thonarr e reforçada por outros daqueles cães ruivos. A morte de papai foi gloriosa, pois ele morreu matando e lutando em batalha, mas queremos vingança, exterminando completamente aquela horda vanir que matou meu pai e alguns de nossos amigos e aliados”.

- Nesse caso, eu não poderia ter vindo em melhor hora, Eanfled! – responde o cimério com um esgar lupino. – Horsa também era meu amigo. Pode contar com minha ajuda! Eu tenho o seguinte plano em mente...

* * *

Amanhece o dia sobre as planícies geladas de Asgard. Uma horda de guerreiros de barba ruiva, sob o comando de Thonarr, avista um grupo de guerreiros de cabelos dourados num dos raros desfiladeiros da região. Ao reconhecer a filha do falecido Horsa, o chefe vanir abre um sorriso perverso por entre as barbas ruivas. Com suas espadas desembainhadas, a horda vanir adentra o desfiladeiro, investindo na direção dos aesires à sua frente. Com aquele inesperado aliado cimério, os loiros de Asgard, embora em menor número, aguardam estoicamente a chegada dos ruivos de Vanaheim. Súbito, uma chuva de flechas cai inesperadamente sobre a vanguarda da horda vanir – apesar do ruivo Thonarr não ser atingido. Desesperado, o líder manda seus homens darem meia-volta e se depara com dezenas de outros guerreiros de barbas loiras, os quais, em número bem maior que os da frente, haviam se postado na entrada do desfiladeiro.

Aproveitando-se do elemento-surpresa, aqueles guerreiros de cabelos dourados da retaguarda atiram suas flechas nos ruivos. Ao mesmo tempo, os aesires que foram usados como isca atacam os guerreiros de barba ruiva por trás, com golpes de espadas e machados, e acompanhados pelo moreno Conan da Ciméria e pela líder-de-guerra aesir Eanfled. Esta alcança primeiro Thonarr e, após um breve entrechocar de espadas, o enorme ruivo aproveita um momento em que a líder loira erra uma estocada, e lhe acerta um murro na face.

Ciente de que a morte da jovem pode quebrar o moral dos guerreiros de Asgard, Thonarr se prepara para decepar a cabeça da semi-consciente filha do falecido Horsa. Contudo, no momento seguinte, o último dos atacantes ruivos é surpreendido por um golpe de espada, que lhe decepa ambas as pernas na altura dos joelhos. Seu urro de dor é bruscamente interrompido por uma estocada fatal nas tripas. Acima do vanir quase morto, avulta um jovem agigantado, de cabelos negros. Em seu último suspiro, o líder amaldiçoa a si mesmo, por ele e sua horda não terem trazido novas flechas ao retornarem a Asgard. Está acabada a vida de Thonarr de Vanaheim, e salva a da aesir Eanfled.

Com um sorriso de alívio e agradecimento, a líder de cabelos dourados se levanta e, apaixonadamente, beija os lábios do cimério que a salvou. Ao mesmo tempo, o clamor de vitória dos aesires chega até os ouvidos do jovem casal. O elmo do falecido Horsa é posto na cabeça de Conan e, entre brados de aclamação dos agigantados homens de barbas douradas, ele se torna líder guerreiro daquela horda de saqueadores loiros e consorte de Eanfled.


Anoitece na tribo de Eanfled. Após um grande banquete em comemoração àquela vitória, os dois novos líderes guerreiros se dirigem à sua tenda. Como todos os cimérios e nordheimeres, Conan beija, não apenas a boca vermelha de Eanfled, mas, despindo-a até a cintura, ao mesmo tempo em que a aesir lhe faz o mesmo, o cimério lhe beija, além dos lábios, os olhos, bochechas, cabelo, pescoço e seios, até fazer Eanfled ofegar de prazer e de um desejo ainda maior. A loira põe a mão na agora desnuda coxa musculosa de Conan e também lhe sente a excitação. Em pouco tempo, a excitada aesir já está sendo abraçada e penetrada pelo cimério, que lhe beija feroz e novamente o busto alvo e firme, de bicos rosados, até ambos explodirem de prazer e desejo num vibrante e intenso orgasmo.

* * *

Toda manhã, uma jovem traz uma tina de água e a coloca diante dos chefes da tribo. Eles lavam as mãos, o rosto e depois os cabelos. Quando Conan e Eanfled terminam, a moça leva o balde de madeira até Ildic, mãe de Eanfled e líder administrativa da tribo – apesar de ser também exímia guerreira como a filha, o falecido marido e os demais homens ali presentes –, e de um para outro, até que cada um na tribo tenha lavado as mãos, rosto e cabelos.

Após o desjejum que se segue à lavagem das mãos, cabelos e rostos, Conan propõe a Eanfled saquearem outra tribo vanir, e a jovem aceita automaticamente com um sorriso nos belos lábios. E, desta vez, a bela Ildic resolve acompanhar a filha e o genro moreno naquela incursão.


3)

Sorrateiros como lobos, os bárbaros de cabelos loiros se aproximam de uma tribo vanir. Ao perceberem que estão sendo cercados, os guerreiros de barbas ruivas – homens com idades entre 15 e 70 anos – mandam suas mulheres esconderem as crianças em suas tendas de pele de cavalo, e se preparam para se defender. Apenas uma mulher vanir, de nome Hildegard, se junta aos guerreiros ruivos para defender a aldeia.

Após uma breve troca de flechas, com baixas de ambos os lados, aesires e vanires se lançam ao ataque, desembainhando suas espadas e correndo uns na direção dos outros, com brados de guerra tão ensurdecedores quanto os de seu líder cimério. Uma lança de Hildegard derruba um dos aesires, com o coração transpassado. Destroçando o escudo de um vanir, Wulfric de Asgard lhe detém o golpe de espada ao segurar o punho do ruivo com a mão direita, e lhe decepa a calota craniana, numa explosão de sangue, miolos e das faíscas do capacete de chifres que não havia protegido suficientemente a cabeça do gigante de barba flamejante.

Outro ruivo investe contra Eanfled e tem sua garganta cortada num giro sangrento da espada da aesir, enquanto a filha de Horsa finalmente se aproxima da guerreira Hildegard, cruzando lâminas com ela. Enquanto isso, golpeando outro vanir com seu escudo, Wulfric lhe decepa o braço da espada e enfia a própria lâmina na garganta do ruivo.

Entre giros e estocadas mortais, e produzirem estrépitos metálicos, espadas e machados vanires e aesires continuam se defrontando. Inicialmente, Eanfled e a jovem líder Hildegard se encontram em pé de igualdade. Com uma cambalhota para trás, a loira se esquiva de um giro fatal da espada e machado da ruiva, e contra-ataca com suas duas lâminas. Mas, tão ágil quanto a aesir, a vanir se esquiva, saltando para trás, e o duelo prossegue acirrado. A filha de Horsa acerta um chute no rosto de Hildegard, sem conseguir afetar as forças da ruiva, cuja resistência se iguala à de Eanfled. Ambas continuam aparando os golpes uma da outra, até que a líder aesir, ao aparar dois giros da lâmina da vanir, lhe acerta uma cabeçada num dos seios encouraçados, enfraquecendo-a por tempo suficiente para decepar a cabeça ruiva de sua antagonista, num jato de sangue.

Embora aqueles vanires sejam veteranos na guerra, oito deles caíram sob a lâmina do líder cimério, pouco antes do duelo entre Eanfled e Hildegard, enquanto o clangor do aço se ergue de forma ensurdecedora. Faíscas voam, quando a espada de Conan colide com seus capacetes e cotas de metal, com a fúria de um furacão.

Dois vanires investem contra a esguia Ildic; esquivando-se do giro descendente do machado do mais adiantado, a mãe de Eanfled decepa a cabeça do ruivo quando a lâmina dele atinge o chão nevado. O segundo, de espada na mão, corre até a aesir de 40 anos, gritando “Morra!” com a espada erguida; mas, antes que ele possa usá-la, Ildic lhe atravessa a garganta musculosa com a espada, fazendo-o cair sobre a neve e se afogar no próprio sangue.

Enquanto isso, Conan salta em direção ao líder ruivo Alaric – o qual, não podendo alcançar a aesir que matara sua companheira, está ansioso para se vingar no companheiro da líder loira –, e os dois golpeiam ao mesmo tempo. A espada do cimério arranca-lhe o elmo da cabeça e, sob o tremendo golpe do vanir, a espada deste e o escudo do jovem líder moreno se despedaçam. Antes que Conan possa golpear de novo, o chefe ruivo larga o cabo quebrado e agarra o cimério como o faria um urso. Conan solta a espada, inútil a tão curta distância e, engalfinhados, ele e Alaric lutam na planície nevada.

Eles estão igualados em força, mas a do vanir flui dele com o sangue de vinte ferimentos. Lutando e ofegando devido ao esforço, eles se balançam, fortemente agarrados, Conan sente as têmporas latejarem e vê grandes veias inchando nas do líder ruivo. De repente, Alaric cede e os dois caem. Nessa luta inexorável, ninguém ousa tentar usar qualquer arma. Mas, enquanto rolam, o cimério sente que os poderosos membros do líder vanir deixam de ser tão férreos e, com uma vulcânica erupção de esforço, Conan se coloca em cima dele e crava profundamente os dedos na garganta musculosa do ruivo. O suor e o sangue nublam a vista do jovem guerreiro moreno, sua respiração ofega, mas ele afunda cada vez mais os dedos. As mãos de Alaric começam a tatear às cegas e, finalmente, com um dilacerante ofego de esforço, Conan torce a cabeça do gigante para o lado, quebrando-lhe o pescoço num estalo seco. A cicatriz, de um arranhão feito pelo vanir no queixo do cimério, fará Conan se lembrar para sempre deste momento glorioso.

Enfim, o clamor da batalha silencia, exceto pelos gemidos e clamores dos feridos e moribundos, ou pelos tilintares que ecoam à medida que saqueadores de cabelos amarelos se apoderam de espadas e armaduras dos ruivos mortos na peleja.

Após os guerreiros vanires terem sido mortos e saqueados, o líder cimério daquela tribo aesir avista, nas entradas das tendas de pele de cavalo, algumas das mulheres ruivas acuadas, oferecendo resistência – como as nordheimeres costumam fazer – e sendo mortas, a muito custo, por Eanfled e seus guerreiros.

Ao ver, contudo, que pelo menos uma delas luta para defender o filho pequeno, Conan grita para os aesires pouparem as vanires que sejam mães – e, é claro, qualquer uma que não ofereça resistência.

- Poupem as crianças e os muito idosos também! – acrescenta o líder moreno daqueles loiros.

- Mas, quando esses pirralhos ruivos crescerem, eles vão querer vingança... – argumenta a filha de Horsa.

- Quando isto acontecer, estaremos prontos para eles! Somos guerreiros de verdade, e não os malditos civilizados do sul e leste – ele responde, concluindo a discussão.

Embora Conan nunca tenha matado mulheres em sua vida, ele só ceifaria a vida de uma, caso sua própria vida estivesse em perigo ao ser atacado por alguém do sexo feminino; ou se uma mulher lhe matasse algum ente querido, ou alguém sob sua proteção. E, como líder, o cimério sabe impor sua vontade e princípios aos seus comandados. Matar pessoas indefesas e inocentes, jamais!

A seguir, ele avista um saqueador de cabelos amarelos violentando uma aldeã de cabeleira vermelha, a qual estava cansada e enfraquecida demais para se defender, e acerta um chute nas costelas do estuprador aesir, fazendo-o cair para o lado sobre a neve; no instante seguinte, o cimério acerta outro chute, nos testículos do violador loiro, e aponta a espada no pescoço do mesmo.

- Quando quiser se divertir, cão – rosna Conan –, corteje uma mulher do seu povo. Se não conseguir nenhuma mulher que lhe queira, use sua mão como diversão! – ele acrescenta, arrancando risadas de seus comandados. – Também não admitirei estupros, enquanto estiver no comando!

Agradecida, a vanir se ergue cambaleante e abraça Conan:

- Oh, cimério... que Ymir derrame suas bênçãos sobre ti! Que os corredores fechados e planícies geladas do Valhalla acolham sua alma nobre, ó jovem senhor...

Aborrecido com aquela conversa religiosa chata, Conan se desvencilha dos braços delgados da ruiva e a manda calar a boca, enquanto dá ordens para os aesires irem embora daquela tribo. Desde que encontrara Atali, anos atrás, o cimério conhece muito bem a verdadeira natureza do Gigante de Gelo, deus dos vanires e aesires.

Naquele momento, Eanfled avista a mãe sorrir e dizer algo a Conan. A líder-de-guerra pensa que sua genitora está elogiando o cimério pelo desempenho como líder guerreiro, mas, na verdade, a guerreira veterana o está propondo ir à tenda e ao leito dela à noite, enquanto o moreno assente, também sorrindo.

* * *

Naquela noite, após ter tido relações sexuais com Eanfled, Conan aproveita que sua parceira está dormindo e se esgueira, como só o membro de um povo ainda mais furtivo que um nordheimer sabe, até a cabana de Ildic. Lá chegando, a mãe de Eanfled o abraça e beija feroz e avidamente, tirando-lhe o casaco de pele, ao mesmo tempo em que o cimério lhe devolve o abraço e beijos ferozes e ardentes, despindo-a até a cintura.

Apesar daqueles bicos rosados serem duros – tanto pelo frio quanto pela excitação da mulher –, os seios volumosos de Ildic são flácidos e mais trêmulos que gelatina. Pela primeira vez em sua vida, Conan percebe que aquilo o excita tanto quanto a firmeza dos seios da filha dela e, suspirando de desejo, beija, suga e morde, tanto as largas aréolas firmes da esguia aesir quarentona, quanto os seios grandes e moles dela, excitando-se mais ainda em sentir aquela flacidez dentro de sua boca. Aquelas mordidas, que causariam dor numa mulher civilizada de busto firme, atiçam ainda mais a libido de Ildic, que retira o falo de Conan de dentro da tanga e monta sobre o membro ereto do cimério, enquanto este continua a lhe sugar vorazmente as belas mamas caídas, e ambos suspiram cada vez mais de prazer e desejo, até explodirem num orgasmo intenso e vibrante, porém silencioso, para que os guerreiros ali acampados, a caminho do leste de Asgard, não desconfiem do que está acontecendo.

Após uma segunda relação sexual com Ildic, o cimério volta à tenda de Eanfled tão sorrateiramente quanto saíra de lá.


4)

Dias depois, já de volta à tribo que ele e Eanfled lideram, Conan acorda ao som de vozes do lado externo da tenda e, após se vestir, sai e vê uma cena até então inusitada para ele.

- Hoje a vergonha se abateu sobre a família de Wulfric. Lorelei, sua esposa, deu à luz um bebê com o braço direito defeituoso – diz um oráculo.

Entre aesires e vanires, costumes imemoriais decretam que apenas os perfeitos devem viver. Assim, Wulfric sai da tenda em direção à fria aurora cinza, carregando o menino nu. A fumaça de sua respiração se coagula em sua barba, e seus pés calçados fazem ranger a crosta congelada. Há gelo sobre o cabo de sua espada e sobre o arco às suas costas, e o ar gelado lhe penetra a roupa de pele e a cota-de-malha sob ela.

Lá fora, sobre a desolação nebulosa um pouco além dos limites da aldeia, ele deita o bebê, cujo corpo se azula no vento que pranteia desde as profundezas escuras que cobrem os horizontes. Ele põe a mão sobre sua espada, e logo, soprado de longe, vem o longo uivo dos grandes lobos cinzas.

Ao ver aquilo tudo, o cimério fica indignado. Nascido e criado numa terra hostil, Conan sabe muito bem o que é lutar pela sobrevivência; mas ser ofertado às presas de um lobo aesir, antes mesmo de respirar, é crueldade demais.

Assim, Conan desembainha sua espada, corre até o primeiro lobo que se aproxima e lhe esfacela o crânio, afugentando assim o restante da alcatéia, a qual o seguia. Wulfric tenta acertar uma flecha nas costas do cimério, mas, com um só golpe de seu machado na mão esquerda, Ildic abre um corte na jugular e no pomo-de-adão de Wulfric, fazendo o sangue lhe espirrar na face, e atraindo para si mesma e Conan o ódio de Lorelei e de todo o restante da tribo.

Enquanto o cimério atira uma lança certeira no pescoço de um aesir que o ataca de espada na mão, Eanfled investe, de espada em punho, contra a própria mãe, mas é atingida por uma flecha no ombro, atirada pela genitora, e por um golpe de machado, dado de lado na cabeça, por Conan. Apesar do ódio da agora desmaiada Eanfled por eles, Ildic e o cimério não têm intenção de matá-la. Tal piedade deles, contudo, não se aplica aos demais aesires. As poucas noites que a bela Ildic havia passado com Conan a levaram a arriscar a própria vida pelo seu guerreiro moreno da Ciméria.

Assim, após pegar o bebê de Lorelei, Ildic foge, junto com Conan, daquela tribo uivante e encolerizada, em direção ao sul.

* * *

Dois dias e duas noites de fuga se passaram. Finalmente, Conan e Ildic chegam a uma caverna numa floresta, na perigosa junção entre as fronteiras de Asgard, Ciméria, Hiperbórea e Reino da Fronteira. Apesar de tudo, a gruta é desabitada, e o casal teve sorte de não encontrar pessoas hostis durante sua fuga – exceto, é claro, aquelas que os perseguiam, e às quais a veterana Ildic e o furtivo Conan despistaram. Lá, eles dormem. A noite é muito fria, e o chão é muito duro, mas os dois bárbaros dormem bem e a primeira luz da manhã os encontra acordados.

Ainda faz frio, e eles permanecem deitados sobre seus mantos de pele, esperando o sol aparecer sobre as montanhas e descongelar as botas, que viraram gelo em cima da rocha onde as haviam deixado. Enquanto esperam, Ildic amamenta o bebê ao qual salvaram (por ter tido outros filhos depois de Eanfled, ela ainda possui leite nos belos seios); depois, ela e Conan bebem cerveja da garrafa que trazem, comem um pouco de carne, cada um toma outro gole de cerveja, e o casal tem outra relação sexual.



Os dois observam a mudança da paisagem à medida que clareia, mas os olhos de Conan, que enxergam ainda melhor que os de um aesir, concentram-se numa linha ao longo do vale ao sul. Como toda a área ainda está na sombra, é difícil dizer, mas parece-lhes que ali o terreno não está coberto de neve.

Após saírem da caverna, os olhos do casal se deparam com um panorama paradisíaco. A neve cessou. Debaixo da crosta branca, flui uma torrente de água cinzenta que corre com uma força tremenda por uma garganta, rolando sobre penhascos e pedras em direção ao oeste. E, por toda parte que olham, há arcas de verde: musgos, capim, arbustos, cardos e flores amarelas e roxas.

Eles finalmente estão no Reino da Fronteira!

De lá, o casal segue para a Britúnia. Ciente de que a bela aesir quarentona é melhor lutadora do que qualquer brituniano – e, conseqüentemente, dispensa a proteção de um homem contra hiborianos –, o cimério segue para a Nemédia, gastando, no caminho, todo o ouro que havia saqueado e se tornando mercenário novamente.

FIM




Agradecimentos especiais: Aos howardmaníacos e amigos Osvaldo Magalhães e Ricardo Medeiros, de Brasília (DF), e Deuce Richardson, dos EUA.

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A seguir: Em Argos.


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