Um Novíssimo Recomeço... Os Tambores de Tombalku (sinopse)



Um Novíssimo Recomeço... Os Tambores de Tombalku (sinopse)

(por Robert E. Howard)



Amalric, filho de um nobre da grande casa de Valerus, do oeste da Aquilônia, parou numa fonte cercada de palmeiras, na desolada vastidão do deserto que fica ao sul da Stygia, com dois companheiros, membros da tribo bandoleira de Ghanata, uma raça negra misturada com sangue shemita.

Os ghanatas com Amalric se chamavam Gobir e Saidu. Bem ao escurecer, quando eles se preparavam para comer sua refeição frugal, de tâmaras secas, o terceiro membro da tribo se aproximou – Tilutan, um gigante negro, famoso por sua ferocidade e sua habilidade com a espada. Trazia na sela uma jovem branca inconsciente, à qual encontrara caindo de exaustão e sede no deserto lá fora, enquanto ele caçava o raro antílope do deserto. Ele deitou a garota ao lado da fonte e começou a reanimá-la.

Gobir e Saidu observavam Amalric, esperando que ele tentasse socorrê-la, mas ele fingiu indiferença, e perguntou a eles quem tomaria a garota depois que Tilutan se cansasse dela. Aquilo deu início a uma discussão, e ele jogou ao chão um par de dados, dizendo a eles para apostarem por ela. Quando se agacharam sobre os dados, ele puxou a espada e quase decepou a cabeça de Gobir. Instantaneamente Saidu o atacou, Tilutan deixou a jovem cair e correu até ele, puxando sua terrível cimitarra. Amalric girou, fazendo Saidu receber a estocada ao invés dele próprio, e, arremessando o homem ferido nos braços de Tilutan, se engalfinhou com o gigante. Tilutan levou Amalric até o chão, e o estava estrangulando; e o lançou para baixo e se levantou para procurar sua espada e decepar-lhe a cabeça. Mas, quando correu até ele, seu cinto se desenrolou, ele tropeçou e caiu sobre este. Sua espada lhe voou da mão, Amalric a ergueu e lhe partiu o crânio. Em seguida, ele cambaleou e caiu inconsciente. Recuperou os sentidos com a garota lhe salpicando com água. Ele percebeu que ela falava uma linguagem semelhante ao Kothiano, e eles puderam entender um ao outro. Ela disse que seu nome era Lissa; ela era uma bela jovem, com suave pele branca, olhos violetas e escuro cabelo ondulado. Sua inocência envergonhou o feroz e jovem soldado da fortuna, e ele renunciou à sua intenção de violentá-la. Ela achou que ele tivesse lutado contra seus companheiros meramente para salvá-la, e ele não a desiludiu. Ela disse que era uma habitante da cidade de Gazal, não muito distante a oeste. Havia fugido de Gazal a pé, seu suprimento de água havia acabado, e ela havia desmaiado exatamente quando foi encontrada por Tilutan. Amalric a colocou sobre um camelo, enquanto ele montava um cavalo – os outros animais haviam escapado e disparado deserto adentro durante a luta – e, ao amanhecer, se aproximaram de Gazal. Amalric ficou assombrado ao perceber que a cidade era um aglomerado de ruínas, exceto por uma torre na parte sudeste. Quando ele falou dela, Lissa ficou pálida e o implorou que não falasse nela. Ele notou que o povo era uma raça sonhadora e bondosa, sem senso prático, muito dada a poesia e sonhos. Não havia muitos deles, e eram uma raça moribunda. Eles haviam chegado ao deserto e construído a cidade sobre um oásis há muito tempo – uma raça culta e sábia, que não era dada à guerra. Nunca foram atacados por nenhuma das ferozes e brutais tribos nômades, porque esta gente olhava para Gazal com pavor supersticioso, e adoravam a coisa que espreitava na torre a sudeste. Amalric contou sua história a Lissa – de que ele havia sido um soldado no exército de Argos, sob o comando do príncipe zíngaro Zapayo da Kova, o qual descera a costa kushita em navios, desembarcou no sul da Stygia e buscou invadir o reino daquela direção enquanto os exércitos de Koth invadiam do norte. Mas Koth havia traiçoeiramente feito as pazes com a Stygia, e o exército do sul foi emboscado. Descobriram que sua fuga para o mar fora removida, e tentaram abrir caminho para leste, na esperança de alcançarem as terras dos shemitas. Mas o exército foi exterminado no deserto. Amalric havia fugido com seu camarada Conan, um gigante cimério, mas eles foram atacados por um bando de cavaleiros selvagens de pele marrom, com aparência e roupas estranhas, e Conan foi derrubado. Amalric escapou sob o manto da noite e perambulou pelo deserto, passando fome e sede, até terminar na companhia dos três abutres de Ghanata. Ele falou da irrealidade da cidade de Gazal, e Lissa contou a ele sobre seu desejo infantil, e até apaixonado, de escapar daquele lugar estagnado e ver alguma coisa do mundo. Ela se entregou a ele tão naturalmente quanto uma criança; e, quando estavam deitados juntos, num leito coberto de seda, num quarto iluminado só pela luz das estrelas, eles ouviram gritos horríveis, vindos de uma construção vizinha. Amalric estava prestes a investigar, mas Lissa se agarrou a ele, trêmula, e lhe contou o segredo da torre solitária. Ali morava um monstro sobrenatural, o qual ocasionalmente descia para a cidade e devorava um dos habitantes. O que era a coisa, Lissa não sabia. Mas ela falou de morcegos voando da torre ao anoitecer e retornando antes do amanhecer, e dos gritos lastimosos de vítimas levadas para o alto da misteriosa torre. Amalric ficou amedrontado, e reconheceu a coisa como uma divindade misteriosa, adorada por certos cultos entre as tribos negras.

Ele insistiu com Lissa para fugir com ele antes do amanhecer – os habitantes de Gazal haviam há tanto tempo perdido sua iniciativa, que ficaram indefesos, incapazes de lutar ou fugir (como homens hipnotizados, o que o jovem aquiloniano acreditou ser o caso). Ele foi preparar suas montarias e, ao retornar, ouviu Lissa soltar um grito medonho. Ele correu até a câmara e a encontrou vazia. Certo de que ela fora capturada pelo monstro, ele correu até a torre, subindo uma escada, e se encontrou num aposento mais alto, no qual encontrou um homem branco, de estranha beleza. Lembrando-se de um antigo encantamento, repetido para ele por um velho sacerdote kushita de um culto rival, ele o repetiu, amarrando o demônio à forma humana. Seguiu-se uma luta terrível, na qual ele enfiou a espada no coração da criatura. Ao morrer, gritou horrivelmente por vingança, e foi respondida por vozes vindas do ar. Então, Amalric fugiu horrorizado. Ele encontrou Lissa ao pé da escada. Ela fora amedrontada por um vislumbre da criatura arrastando sua presa humana através dos corredores, havia fugido em pânico desenfreado e se escondido.

Percebendo que seu amado tinha ido até a torre para procurá-la, ela chegara para compartilhar o destino dele. Ele a abraçou rapidamente, e a levou para onde havia deixado as montarias. Amanhecia quando saíram da cidade, ela a camelo e ele a cavalo. Olhando para trás, em direção à cidade perdida, na qual não havia nenhum animal, viram sete cavaleiros saindo – homens com túnicas pretas, em esqueléticos cavalos negros – e os seguindo. Foram tomados de pânico, pois sabiam que aqueles não eram cavaleiros humanos. O dia inteiro, eles impeliram impiedosamente suas montarias para oeste, em direção à costa distante. Não acharam água, e o cavalo ficou exausto logo antes do pôr-do-sol. O tempo todo, as figuras negras haviam seguido implacáveis e, quando escureceu, elas começaram a se aproximar rapidamente. Amalric sabia que eram criaturas vampirescas, convocadas do abismo pelo grito de morte do monstro na torre. Quando a escuridão aumentou, os perseguidores estavam quase sobre eles. Uma sombra em forma de morcego ocultou a lua, e os fugitivos puderam sentir o cheiro de cripta de seus perseguidores. Súbito, o cavalo tropeçou e caiu, e os demônios se aproximaram. Lissa soltou um grito agudo.

Logo, veio um rufar de cascos de cavalo, uma voz borrascosa rugiu, e os demônios foram removidos pelo impetuoso ataque de um bando de cavaleiros. O líder destes desmontou e se inclinou sobre os jovens exaustos; e, quando a lua apareceu, ele praguejou numa voz familiar. Era Conan, o cimério. Foi montado acampamento e foi dada comida e bebida aos fugitivos. Os companheiros do cimério eram os homens marrons de aparência selvagem, que haviam atacado a ele e Amalric. Eram os cavaleiros de Tombalku – aquela semi-lendária cidade do deserto, cujos reis haviam subjugado as tribos do deserto do sudoeste e as raças negras das estepes. Conan contou a ele que fora derrubado inconsciente, e carregado à cidade distante para ser exibido aos reis de Tombalku.

Havia sempre dois destes reis, embora um deles, quase sempre, fosse apenas um chefe nominal. Levado diante da presença dos reis, ele foi condenado à morte por tortura, e exigiu que lhe dessem bebida alcoólica e amaldiçoou sem rodeios os reis. Além disso, um deles acordou interessado. Era um enorme negro gordo, enquanto o outro era um homem magro e de pele marrom, chamado Zehbeh. O negro olhou fixamente para Conan e o cumprimentou pelo nome de Amra, o Leão. O nome do negro era Sakumbe, e ele era um aventureiro da Costa Oeste, o qual havia se unido a Conan quando o último era um corsário a assolar a costa. Ele se tornara um dos reis de Tombalku, em parte devido ao apoio da população negra, em parte devido às maquinações de um sacerdote fanático, Askia, o qual havia subido ao poder acima do sacerdote de Zehbeh, Daura.

Ele havia instantaneamente libertado Conan, e o elevado à alta posição de general de todos os cavaleiros – havendo casualmente envenenado o então titular Kordofo. Em Tombalku, havia várias facções – Zehbeh e seus sacerdotes marrons; os parentes de Kordofo, que odiavam tanto Zehbeh quanto Sakumbe, e Sakumbe e seus partidários, dos quais o mais poderoso era o próprio Conan. Tudo isto, Conan contou a Amalric e, no dia seguinte, cavalgaram em direção a Tombalku. Conan havia cavalgado para expulsar ladrões ghanatas daquela região. Em três dias alcançaram Tombalku, uma estranha cidade fantástica, localizada nas areias do deserto, junto a um oásis de muitas nascentes. Era uma cidade de várias línguas. A classe dominante, os fundadores da cidade, era uma raça guerreira e marrom, descendente dos aphakis, uma tribo shemita que abriu caminho deserto adentro vários séculos antes, e se misturou com as raças negras. As tribos vassalas incluíam os tibus – uma raça do deserto, de sangue negro e stígio misturados –, e os Bagirmi, Mandingo, Dongola, Bornu e outras tribos negras das pastagens ao sul. Chegaram a Tombalku a tempo de testemunharem a horrível execução de Daura, o sacerdote aphaki, por Askia. Os aphakis estavam furiosos, porém indefesos, contra a resistência determinada de seus súditos negros, aos quais haviam ensinado as artes da guerra.

Sakumbe, outrora um homem de extraordinária coragem, vitalidade e política, havia se degenerado numa massa montanhosa de gordura, sem se importar com nada, exceto mulheres e vinho. Conan jogou dados com ele, se embriagou com ele e sugeriu que eliminassem Zehbeh por inteiro. O cimério queria ser ele mesmo um rei de Tombalku. Desse modo, Askia foi convencido a denunciar Zehbeh e, na guerra civil resultante, os aphakis foram derrotados, e Zehbeh fugiu da cidade com seus cavaleiros. Conan se sentou ao lado de Sakumbe, mas, apesar de seus melhores esforços, percebeu que o negro era o verdadeiro governante da cidade, devido ao domínio deste sobre as raças negras.

Nesse meio tempo, Askia suspeitou de Amalric, e finalmente o denunciou como assassino do deus adorado pelo culto do qual era sacerdote, e exigiu que ele e a garota fossem entregues à tortura. Conan recusou, e Sakumbe, completamente dominado pelo cimério, o fez recuar. Em seguida, Askia se voltou para Sakumbe, e o destruiu através de uma magia terrível.

Conan, percebendo que com Sakumbe assassinado, os negros iriam despedaçar a ele e aos seus amigos, chamou por Amalric em voz alta, e abriu caminho através dos guerreiros desnorteados. Enquanto os amigos se esforçavam para alcançar os muros externos, Zehbeh e seus aphakis atacaram a cidade e, num selvagem holocausto de sangue e fogo, Tombalku foi quase destruída. Conan, Lissa e Amalric escaparam.




Tradução e adaptação: Fernando Neeser de Aragão


Fonte: http://www.vb-tech.co.za/ebooks/Howard%20Robert%20E%20-%20Conan%2002%20-%20The%20Bloody%20Crown%20of%20Conan%20-%20FF.txt


Veja também:


Os Tambores de Tombalku (fragmento/sinopse)


Os Reis de Tombalku

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