(por Fernando Neeser de
Aragão)
Livremente inspirado num
roteiro de Steve Block, e apresentando personagens e conceitos de Robert E.
Howard.
Introdução:
Não tendo conseguido
conciliar seus afghulis, Conan fez uma breve visita à distante Península de
Yamal e cavalgou de volta às estepes, para pilhar novamente as fronteiras turanianas
com os kozakis. Ele entrou para um dos bandos como integrante, mas não
conseguiu assumir a liderança, pois, após algum tempo vivendo do saque nas estepes,
um furioso ataque de turanianos àquele grupo não muito grande de saqueadores,
ao qual o cimério pertencia, obrigou o bárbaro a fugir para oeste. Acompanhado
de alguns sobreviventes kozakis, Conan da Ciméria se alistou – pela segunda vez
em sua vida – como soldado mercenário, no exército do príncipe rebelde Almuric
de Koth. Mas Almuric foi derrotado pelo Rei Strabonus de Koth e empurrado para
o sul, com seu exército, em direção a Shem. Conan estava com aquela horda louca
e heterogênea – de mercenários, marginais, homens arruinados e foras-da-lei –,
quando fugiram para o sul, através das cidades-estado shemitas, atacando cidades
e fazendo novos inimigos, mas sempre empurrados pelos vingativos kothianos, e
nunca tendo tempo de pararem, descansarem ou se reorganizarem.
É dia numa dessas
cidades-estado, a cidade shemita de Nippur. Conan, usando uma armadura amassada
por diversas batalhas recentes contra kothianos e shemitas, cavalga por uma rua
escaldada de sol, acompanhado por vários outros soldados, também a cavalo. Eles
e seus cavalos estão empoeirados e com marcas de batalhas, suas armaduras
amassadas e ensangüentadas. Construções de pedra – lojas e residências – se
alinham na rua. Transeuntes de pele morena e narizes aquilinos olham
furtivamente, e com ressentimento reprimido, para os cavaleiros.
- É uma pena que Nippur
tenha se rendido tão rapidamente. – diz Zothanus, de Khorshemish, um dos
soldados amigos de Conan, cavalgando ao lado do cimério – Agora, Almuric nos
proibiu de pilhá-la e saqueá-la.
- Bem, eu acho que eles
cooperarão melhor, se expressarmos gentilmente nossas exigências. – responde
Conan – Ainda bem que aqui é Nippur, e não Nippr, onde enfrentaríamos
uma terrível resistência por parte dos asshuri. – o cimério acrescenta,
gargalhando e se lembrando daqueles mercenários shemitas, aos quais enfrentara
no passado, comandados por Natohk, e mais tarde por Constantius.
Eles passam pelo Mercado
de Escravos, onde uma transação está em andamento. Um
vendedor de escravos está tentando fazer uma venda para um gordo nobre shemita;
o objeto da transação é uma jovem loira, de olhos verdes, corpo esbelto e
curvilíneo. Ela tenta reprimir seu medo e repulsa, enquanto o nobre lhe cutuca
as carnes para lhes testar a firmeza.
- Ela pode cozinhar e
lavar, e poderá ser um ótimo acréscimo ao seu harém! – diz o escravista – E
olhe para o cabelo dela! – ele acrescenta, empolgado e sorridente.
- Minhas outras
concubinas vão gostar de ter uma escrava estrangeira na casa, para fazer um
pouco do trabalho delas. – responde o nobre.
A loira estremece e se
encolhe. Conan franze a testa e esporeia seu cavalo até o local onde o trio se
encontra. Demonstrando falso entusiasmo jovial, o cimério se dirige ao
vendedor:
- Vendida! Eu a levarei.
- Estou pronto para
oferecer 20 peças de ouro por ela. – retruca o nobre, com ar de indignação.
- E eu estou pronto para
poupar sua vida, se você sair daqui e não me trouxer qualquer problema. –
responde o bárbaro, com a mão no cabo da espada, e um sorriso largo e duro em
seu rosto moreno e cicatrizado.
O nobre, com a discrição
lhe sobrepujando a raiva, recua e parte dali, com uma expressão de assombro no
rosto. O escravista, no entanto, está furioso com a perda de sua propriedade e
de uma venda lucrativa. Seus olhos negros brilham ferozes, ele abre a boca por
entre as barbas preto-azuladas e se prepara para protestar.
- Não ponha minha
generosidade à prova, escravista! – diz Conan, ainda com a mão na espada e
dirigindo um duro olhar feroz ao vendedor de escravos. Este fecha a boca e
ofega de raiva e frustração.
O cimério, então, se
curva de sua sela, envolve o torso da jovem num dos braços musculosos e se
endireita, erguendo a loira até a sela do cavalo, diante de si próprio. Ela
respira ofegante e olha ao redor, olha para o escravista e para Conan, e então
decide que sua situação melhorou, e se acalma.
Conan se junta novamente
a Zothanus na rua, e eles prosseguem em sua direção original, deixando o
vendedor de escravos olhando ferozmente atrás deles.
- Gentil? – pergunta
Zothanus, com expressão divertida.
- Eu fui gentil!
– responde Conan – E você viu como eles colaboraram? – E, virando-se para a
bela loira à sua frente: – E você, garota, qual o seu nome?
- Natala da Britúnia. –
ela responde, cabisbaixa.
- E eu sou Conan da
Ciméria.
* * *
Anoitece em
Nippur. O quarto escuro está iluminado por apenas uma vela.
Conan está sentado na beirada da cama; e, seminu, ele delicadamente tira a
roupa de Natala. A atitude da jovem é submissa, mas não é a de uma mulher
infeliz, como fora durante seu longo tempo de cativeiro, partilhando o leito
com amos extremamente rudes e violentos. Assim, ajoelhada diante do cimério,
Natala mira os olhos azuis do bárbaro, ao mesmo tempo em que lhe suga o falo
ereto. Pouco depois, a ex-escrava brituniana – sem deixar de olhar nos olhos de
Conan – já está com o nariz encostado nos pêlos pubianos do cimério, e com os
olhos avermelhados de tanto se engasgar com a glande do bárbaro dentro da
garganta.
A sucção cada vez maior arranca gemidos de prazer do fundo
da garganta do mercenário, e bastante espuma da boca da loira, fazendo cair
saliva sobre os seios nus de Natala. Ao olhar para baixo, e ver os olhos verdes
da brituniana lacrimejando ao forte contato da glande na garganta, o cimério
enlouquece de desejo e, erguendo Natala sobre o leito, Conan a deita na cama e
beija-lhe ferozmente o rosto, olhos, boca, pescoço, seios, umbigo e vulva,
fazendo a jovem ofegar de desejo. Poucos minutos depois, contorcendo-se de
prazer sob o corpo musculoso do bárbaro, a brituniana tem um intenso orgasmo,
quase ao mesmo tempo em que
Conan.
De tão satisfeita – pois, pela primeira vez, um homem a
levara ao orgasmo –, Natala usa o próprio falo do cimério como travesseiro.
Surpresa, ela olha para Conan e sorri espantada, ao ver que a genitália do seu
bárbaro está tão ereta e latejante quanto no início da relação sexual. O
mercenário sorri maliciosamente e enfia profundamente o pênis na boca delicada
da brituniana, fazendo-a não apenas sugar-lhe o membro ereto, mas também
salivar sobre este e se engasgar com a glande do cimério garganta adentro –
como ela havia feito minutos antes.
Durante aquela relação oral, o mercenário bárbaro, que
estava deitado, se apóia sobre os próprios joelhos no leito, sem parar, por um
momento sequer, de enfiar todo o seu membro ereto dentro da boca espumante da
brituniana, como se a garganta da jovem fosse uma vagina.
Conan ejacula com a glande dentro da garganta de Natala,
levado, não apenas pelo prazer da sucção, mas também excitado em ver, mais uma
vez, os olhos da brituniana se avermelharem. Ela tosse o esperma, deixando-o
pendurado na base do pênis – a poucos centímetros dos testículos – do bárbaro
que geme de prazer. A jovem não deixa o sêmen pingar, pois o pega com a boca e
engole, sentindo todo o esperma descer queimando pela garganta. Após isto, a
brituniana lambe os testículos de Conan e, abrindo um sorriso no rosto coberto
de saliva, beija a glande do bárbaro, dizendo “Obrigada!” ao cimério.
Esta não é a primeira vez em que uma brituniana faz isso com
Conan. A traiçoeira Célia e a falecida Alba faziam o mesmo gesto, de beijar-lhe
a glande e agradecer. Aquilo deixa o bárbaro satisfeitíssimo. “Se algum dia eu
for rei”, Conan devaneia, enquanto beija a boca ainda manchada de espuma de
Natala, pouco antes dela deitar a cabeça loira no peito peludo do cimério, “vou
incluir, além de zamorianas e hirkanianas, britunianas em meu harém”.
* * *
O dia amanhece. O
Príncipe Almuric organiza uma conferência no salão de um palácio desapropriado
daquela cidade. A sala tem paredes emplastradas e pintadas com afrescos,
descrevendo batalhas e feitos heróicos, no típico estilo shemita. Parece cara e
suntuosa, mas a fina mobília encontra-se empurrada contra as paredes, e o chão
está alastrado por apetrechos militares e detritos à toa.
O Príncipe Almuric é um
jovem de aspecto aristocrático, mas também tem aparência cansada e assolada, e
está de pé, com seus oficiais, ao redor de uma mesa, com um mapa de pergaminho
em seu centro. Conan está entre os oficiais. Todos – até mesmo Almuric – estão usando
armaduras e roupas amassadas, empoeiradas e manchadas, embora a de Almuric
outrora fosse de alta qualidade, com um belíssimo peitoral prateado, típico das
armaduras kothianas. Estão todos examinando o mapa, cujas beiradas curvas estão
fincadas à mesa com facas. Um dos oficiais de Almuric bate de leve num ponto do
mapa, com sua adaga. Em tom sério e solene, ele se dirige ao príncipe:
- O Exército Real estará
aqui amanhã, Alteza.
- Reúna as tropas que se
encontram nas tavernas, ou onde quer que estejam. Partiremos antes do
amanhecer. – responde Almuric resignado, porém decidido.
- Para onde iremos? –
pergunta o oficial.
- Nossa boa acolhida em
Shem está desgastada. Teremos que continuar indo para o sul, atravessar alguma
parte rasa do Rio Styx e nos aventurarmos na Stygia.
Há uma desaprovação
geral, porém silenciosa, por parte dos oficiais. Suas chances na Stygia – onde
estrangeiros só são bem-vindos durante o dia, e ainda assim, como comerciantes
– são realmente sombrias. Eles começam a arrumar seus apetrechos e abandonar a
sala.
* * *
Na manhã seguinte, num
quarto desarrumado, Conan e Natala estão apressadamente embrulhando roupas e
apetrechos – basicamente apenas jogando materiais dentro de sacos e trouxas.
Eles não trocam uma só
palavra, mas ambos sabem que as coisas dificilmente serão melhores na Stygia.
Em Shem, pelo menos, eles tinham uma chance, por este não ser um reino
unificado, mas várias cidades-estado independentes e rivais, as quais têm prazer
em ver alguém arruinar suas vizinhas. Mas é por isso que o exército real
kothiano consegue segui-los para onde quer que eles vão: ninguém quer detê-los.
A Stygia, por sua vez, é um reino unificado e poderoso. Para os stígios,
entretanto, um exército fugitivo – assim como qualquer outro estrangeiro que
não entre lá com propósitos comerciais – é como se fosse um grupo de
bandoleiros.
O cimério só não
abandona Almuric por ter comprometido sua espada a favor dele, e devido à sua
amizade pelo mercenário – tão kothiano quanto o príncipe – Zothanus. E Natala sabe
que aquele bárbaro tem seus códigos de honra e jamais os abandonaria, mesmo se
tudo se voltasse contra eles. As chances de Almuric são limitadas: ou lutar e
resistir contra os kothianos, e serem varridos do mapa; ou continuarem fugindo,
e talvez terem sorte.
Conan percebe que, após pôr
dois vestidos no corpo, Natala pretende levar outros consigo.
- Esqueça esses
vestidos! – o cimério diz bruscamente – Não precisaremos deles. Você fica ótima
com eles, mas gosto mais de sua pele que dos vestidos, e pretendo mantê-la
intacta. – ele acrescenta, sorrindo – O único meio de sobreviver é se movendo rapidamente.
Portanto, leve apenas estes dois que você já está usando no corpo; precisamos
nos mexer!
Por um instante, a
brituniana – embora não demonstrasse – ficou chateada em ter que se contentar
somente com a roupa do corpo; mas logo ela fica feliz, ao notar a preocupação
daquele bárbaro com o bem-estar dela. Sua família vive na Britúnia, mas ela
fora raptada por turanianos e vendida como escrava em Sultanapur para outro
escravista, o qual por sua vez a vendeu para um terceiro, e este último para o
dono anterior dela, em
Nippur. Natala sabia que, naquele momento, não havia chance
alguma para que ela voltasse à sua terra natal, devido ao vingativo exército
kothiano que havia entre ela e a Britúnia. Mas, apesar da situação angustiante,
a jovem loira sabe que sua condição agora é bem melhor do que a de uma mulher
hiboriana num harém shemita – onde ela iria parar, caso Conan não a adquirisse
–, no qual ela seria uma escrava das próprias escravas.
Poucas horas depois,
Conan está cavalgando com Natala diante dele na sela; eles galopam loucamente
para o sul, atravessando uma parte rasa da grande curva de noventa graus do Rio
Styx. O cavalo deles está carregado com uma série de bagagens. Ao seu redor, se
encontram os cavaleiros de Almuric, também galopando loucamente. Atrás deles,
no capim que marca a margem norte-leste do Styx, a pesada cavalaria kothiana diminui
a marcha e recua, para assistir em segurança o exército de Almuric fugir para
dentro da Stygia. Alguns deles estão, assim como Conan, dividindo suas selas
com mulheres – shemitas e de outras nacionalidades, tiradas do Mercado de
Escravos de Nippur.
No dia seguinte, aquele
exército empoeirado continua atravessando a planície deserta da Stygia. Alguns
haviam pegado água do Styx e guardado em seus cantis. Sob ordens de Almuric,
toda a água do exército é distribuída igualmente entre os mercenários. Quase
não há vinho; o pouco que resta é consumido com moderação, para que a
embriaguez de um ou mais soldados não traga problemas àquele exército.
De repente, um grito
ecoa por aquela planície – não um único grito, mas um clamor, seguido pelo som
de milhares de cavalos e carros. Antes mesmo de Almuric gritar suas ordens, os
esfarrapados guerreiros mercenários já se posicionam, rapidamente colocando os
capacetes e pegando as armas.
À primeira vista, os
fugitivos hiborianos parecem ver um mar reluzente de bronze e ouro, onde pontas
de aço brilham como mil estrelas. Então, ao chegar mais perto do exército
derrotado, se vêem longas linhas organizadas, flamejantes sob o sol. Na frente,
há uma longa fileira de carros, puxados por grandes cavalos stígios com plumas
na cabeça, resfolegando e empinando, agitados. Os guerreiros nos carros são
homens altos e imberbes, de pele marrom e narizes aquilinos, com elmos de
bronze adornados com o símbolo de uma lua crescente, dando suporte a uma bola
dourada. Em suas mãos, há pesados arcos, de poder evidente.
Tanto Conan quanto
Almuric percebem que aqueles stígios não são arqueiros comuns, mas nobres do
sul, acostumados a derrubar leões com suas flechas. Embora já houvesse corpos
de mercenários hiborianos, desde os planaltos de Koth até as planícies de Shem,
ainda há 30 mil homens sob o comando de Almuric. Mas, mesmo estando em maioria,
eles não são páreos para aqueles tipos de arqueiros.
Desse modo, o príncipe
kothiano – que, apesar de ser um homem corajoso, é um guerreiro prático – dá
ordens para que seu exército continue fugindo, a todo galope, para o sul. Uma
chuva de flechas e azagaias se precipita sobre os mercenários, matando dezenas
na retaguarda. Novas setas são disparadas em seguida – uma delas atingindo fatalmente
a nuca de Zothanus de Khorshemish. Furioso com a morte de um de seus melhores amigos,
Conan da Ciméria vira o tronco para trás sobre o cavalo e acerta várias flechas
nos arqueiros.
Em meio àquela fuga
desesperada no deserto, sob a mira de flechas e azagaias – e, principalmente,
com tanta poeira levantada pelas patas dos galopantes cavalos hiborianos e
stígios –, nem mesmo os olhos de águia do bárbaro sabem lhe dizer se a morte de
Zothanus fora vingada; mas, ao perceber que as flechas acabaram, o cimério
deduz ter matado algumas dezenas de stígios. E, provavelmente devido à morte
dos guerreiros da vanguarda do exército stígio, este tem seu moral bastante
reduzido e cessa a perseguição. Já no exército de Almuric, as perdas foram de
mil homens.
* * *
Dias depois, um Conan
empoeirado, usando armadura amassada e dilacerada, chega a pé a um vilarejo
stígio igualmente poeirento, acompanhado por uma Natala também empoeirada e a
pé, com o vestido externo meio rasgado. O bárbaro discute com um aldeão stígio.
Ao lado do cimério se encontra seu cavalo, empoeirado, exausto e com a cabeça
pendente. Os cavaleiros de Almuric, também empoeirados e exaustos, aguardam a
pouca distância de Conan. Alguns deles também têm mulheres consigo – uma delas,
uma ex-escrava stígia, roubada do próprio dono, após a travessia do Rio Styx.
Dos 30 mil homens de
Almuric que adentraram a Stygia, cinco mil morreram em batalhas ocorridas
durante e após a perseguição – nas quais a armadura do cimério havia sido
danificada –, e 15 mil pela praga negra que rolou sobre eles como um vento
vindo do sul. A praga negra não é uma peste comum. Ela se oculta em tumbas
stígias, e só é trazida à vida por feiticeiros. É tão rápida e mortífera quanto
o ataque de uma víbora. O corpo da vítima fica púrpura e, logo depois, negro e,
em poucos minutos, ela cai moribunda, e o cheiro de putrefação já lhe está nas
próprias narinas, antes mesmo que a morte lhe arranque a alma do corpo
apodrecido.
Atrás da aldeia stígia,
há um cercado com vários camelos dentro dele. Finalmente, o dono dos camelos e
o bárbaro chegam a um acordo. Conan dá algumas moedas ao stígio, este as
embolsa, tira um camelo do curral e entrega as rédeas para o cimério; em
seguida, esse mesmo stígio agarra as rédeas do cavalo que o bárbaro lhe
oferecera.
* * *
Dias – e mais uma
batalha, com inúmeras flechas stígias – se passaram, deixando centenas onde
antes ainda havia milhares. Caminhando penosamente pelo deserto, Conan guia o
camelo pelas rédeas, com Natala sobre a corcova do animal. A brituniana, mais
uma vez, se indaga se – e quando – aquele tormento terminará. Metade dos esfarrapados
sobreviventes do exército de Almuric, a cercarem o bárbaro, está a pé; a outra
metade está a cavalo. De repente, um dos soldados grita e aponta para a
retaguarda, onde quatro esquadras de bigas stígias se aproximam rapidamente.
Almuric e todos os soldados que têm montarias – inclusive Conan – montam e se
afastam imediatamente a galope – mas sem deixarem de pegar o máximo possível de
soldados desmontados.
Os que foram deixados
para trás são facilmente mortos pelos stígios que se aproximam aos milhares,
deixando Almuric com a consciência pesada. Mas os stígios não param e
prosseguem, perseguindo os sobreviventes durante horas. As únicas sobreviventes
do sexo feminino são agora Natala e a misteriosa ex-escrava stígia, a qual
esboça um sorriso enigmático em seu rosto escuro.
Passadas algumas horas
de perseguição, todos os mercenários avistam, sob um sol escaldante, guerreiros
selvagens, vindos do sul. São homens desnudos, de pele negra, cabelos crespos e
revoltos soltos ao vento, montados sem selas nem rédeas sobre cavalos
semi-selvagens. Estão todos armados com martelos de aço e lanças. São
guerreiros de Kush, o mais setentrional dos Reinos Negros, localizado em prados
e savanas a oeste daquele deserto, e ao sudoeste da Stygia. Naquele momento, os
mercenários percebem que estão atravessando reinos bem ao sul da Stygia.
E, entre aquelas
centenas de selvagens guerreiros de pele negra, o cimério avista uma dúzia de
outros guerreiros a cavalo. A pele daqueles homens é menos escura que a dos
kushitas, os narizes são aduncos, eles vestem roupas esfarrapadas de seda e brandem
cimitarras ao invés de lanças e martelos. Pelas descrições já ouvidas por
Conan, aqueles parecem ser os temíveis ghanatas – negros mestiços que vivem do
sul da Stygia até o Deserto Meridional. Finalmente cansado de fugir, Almuric,
com seu exército cercado por lanceiros kushitas e arqueiros stígios, dá ordens
para uma batalha final pela sobrevivência – ou por uma morte gloriosa e
honrada, de arma em punho.
Assim, encurralados por guerreiros negros e marrons, os
sobreviventes da horda hiboriana heterogênea de Almuric resistem o máximo
possível, lutando desesperadamente por suas vidas sob o comando do príncipe
kothiano, a quem seguiam desde a terra natal deste último. O primeiro stígio a
investir contra o cimério rodopia no ar, com o maxilar e crânio despedaçados
por um poderoso golpe da lâmina de Conan. Logo, outro guerreiro daquele país, juntamente
com um lanceiro kushita – o qual errara sua lança endereçada a Conan – e um
espadachim ghanata estão quase em cima do bárbaro. O mais próximo deles – o
stígio – recebe um mortífero talho de espada e cai sobre a areia, se estrebuchando
com os intestinos de fora. O adversário seguinte – o kushita – morre antes mesmo
de cair ao chão, com a jugular esfaqueada pelo mercenário bárbaro. O ghanata,
por sua vez, tenta surpreender o cimério pelas costas, mas uma cotovelada de
Conan na boca de seu estômago faz com que ele se curve sobre a sela de seu
cavalo, com ânsias de vômito, pouco antes de ter a cabeça decepada por um giro
fatal da espada do mercenário de olhos azuis.
De repente, as flechas e
lanças param de chover sobre o destroçado exército. No instante seguinte, a
ex-escrava stígia desce da garupa do cavalo de seu amante kothiano e, com um
salto, derruba Natala do camelo onde ela estava montada com Conan. O cimério
está tão ocupado, matando os uivantes guerreiros stígios e negros que o atacam,
que não tem tempo de ajudar sua amada brituniana.
Esta, por sua vez, se vê
aterrorizada e debatendo-se em vão, diante de sua situação desesperadora,
quando a jovem ex-escrava de pele marrom lhe aperta impiedosamente a garganta
branca.
- Foi graças a mim que
os feiticeiros da Stygia trouxeram a praga negra para seu exército, tirando-a
das tumbas stígias nas quais ela se esconde! – diz a stígia, com expressão
ensandecida e de júbilo, enquanto continua a estrangular Natala. – Enquanto
estávamos na Stygia, eu fui o elo através do qual metade deste maldito
exército adoeceu. Seu homem nem viu quando lhe derrubei do camelo... Quando ele
lhe ver morta, não desconfiará que fui eu quem te matei; e terei o bárbaro de
olhos azuis só para mim...
Súbito, uma enorme mão
bronzeada agarra rudemente os cabelos da pretensa assassina, curvando-lhe a
cabeça para trás e cortando-lhe a garganta num único e sangrento golpe de seu
sabre. Respirando convulsivamente o ar que lhe fora roubado, a aliviada
brituniana olha para cima e vê seu salvador, Conan da Ciméria, deixar cair ao
solo empoeirado o cadáver da aprendiz de feiticeira stígia. Aquele bárbaro
normalmente não mata mulheres, mas a vida de uma protegida sua corria perigo –
sem falar nas 15 mil vidas perdidas, graças à feitiçaria latente daquela
stígia, através da qual a bruxaria de feiticeiros stígios caiu sobre aquele
exército, no qual Conan tinha vários amigos.
De repente, as flechas
voltam a chover às centenas sobre o destroçado exército mercenário. Quarenta
delas atingem mortalmente Almuric – quase todas em órgãos vitais do príncipe de
Koth. Vendo Almuric morto, e o território atrás deles infestado de inimigos,
Conan abre um caminho sangrento com sua espada e, juntamente com Natala, monta
desesperadamente no camelo, fugindo dali com a garota. Seu único caminho livre
agora é o deserto do sul. E é naquele território perigoso que o cimério e a
brituniana se lançam.
* * *
Durante dias, Conan e
Natala fugiram pelo deserto, tão perseguidos pelos cavaleiros stígios que,
quando os despistaram, não ousaram retornar. Embora ainda houvesse sobrado água
para mais alguns dias no vasto Deserto Meridional – situado entre Kush, Darfar
e a Stygia –, Conan e Natala não deixaram de procurar mais, ainda que em vão. Em sua mente, Conan
compara tudo o que ocorreu, desde as terras altas de Koth até ali, a uma grande
torrente, diminuindo gradativamente enquanto descia para o sul, para finalmente
secar nas areias do deserto.
Neste momento, é noite,
e o camelo deles se encontra deitado dentro do sotavento de uma duna; Conan e
Natala estão agachados entre o camelo e a duna. Nuvens de areia passam voando
por eles, obscurecendo a luz das estrelas.
- Oh, Conan! O que será
de nós? – pergunta Natala, preocupada.
- Na verdade, isto é boa
sorte para nós. A tempestade de areia irá apagar nossas pegadas, e nos esconder
dos kushitas e stígios... se é que ainda há algum deles atrás de nós.
Natala geme e esconde a
cabeça nos próprios braços.
O dia amanhece naquele
deserto. Conan e Natala saem de dentro de um montículo de areia. A armadura de
Conan está praticamente caindo dele. A roupa externa de Natala está reduzida a
farrapos, revelando uma túnica curta de seda, decotada e sem mangas, presa à
cintura – túnica esta que mais enfatiza do que oculta a forma esguia da loira.
Onde o camelo estava, há outro montículo de areia.
Desanimados, eles
desenterram o camelo e o encontram morto.
- O que faremos agora,
Conan? – ela pergunta, desesperada.
Por um momento, o
bárbaro fica estóico; em seguida, ele abre um sorriso reanimado e feroz.
- Destrincharemos o
camelo e faremos um banquete.
A brituniana não
consegue acreditar no que acabou de ouvir:
- Um banquete?!
- Não conseguiremos
carregar toda a carne conosco. O peso de nossos cantis já é suficientemente
grande para nós. Portanto, comeremos o máximo que pudermos, e depois
prosseguiremos.
Sem perder o sorriso, o
cimério puxa sua faca e se inclina sobre o camelo.
Epílogo:
Depois
seguiram a pé. Nos dias seguintes, os sofrimentos de Natala haviam sido
atrozes. Conan protegeu a brituniana de tudo o que pôde. A vida dura do
acampamento havia desenvolvido na jovem força e resistência superiores às de
uma mulher comum. Mas mesmo assim, a garota não estava muito longe do
esgotamento total.
Quando
a água havia terminado, eles acabaram topando com a milenar Xuthal, a
Adormecida, uma cidade fantasma de pessoas semelhantes a zumbis, e seu
"deus" monstruoso, Thog. Thalis, uma mulher stígia que vivia em
Xuthal, interessou-se pelo cimério e tentou oferecer Natala a Thog. Todavia,
Thalis foi morta pelo monstro, e este pelo bárbaro. A seguir, Conan e Natala foram
embora da cidade perdida (A Sombra no Palácio da Morte/ http://cronicasdacimeria.blogspot.com/2007/07/xuthal-do-crepsculo.html / Xuthal do Crepúsculo/ Conan O
Cimério, Vol. 2, Ed. Conrad).
Após
se refugiarem num oásis ao sul – do qual Thalis lhes havia falado –, o cimério
e a brituniana viajaram para o norte, onde Conan devolveu Natala à sua Britúnia
natal. A seguir, viajando para oeste rumo a Argos, o bárbaro se uniu aos
temíveis piratas barachos e ficou com eles por algum tempo. Conseguindo se
safar de uma situação complicada, num encontro entre os piratas de Tortage, ele
descobriu que a alternativa para não ter uma garganta cortada era nadar para o
Mar Ocidental. E lançou-se a isso com a mais completa autoconfiança.
FIM
A seguir: O Poço Macabro - Por Robert E. Howard.