Por Robert E. Howard,
Originalmente publicado em setembro/ 1933
O deserto reluzia sob as ondas de calor. Conan, o cimério, olhou a seu redor e contemplou o enorme ermo; logo, passou involuntariamente o dorso da mão por seus lábios escurecidos. Estava de pé sobre a areia, como uma estátua de bronze, aparentemente imune ao sol abrasador, embora só vestisse uma tanga de seda, presa por um largo cinturão com fivela de ouro, do qual pendiam um sabre e uma adaga de lâmina larga. Em seus músculos e pernas havia marcas de ferimentos mal-cicatrizados.
A seus pés descansava uma garota abraçada a seus joelhos, sobre os quais apoiava sua cabeleira loira. Sua pele branca contrastava com as pernas bronzeadas de Conan. A jovem vestia uma túnica de seda, decotada e sem mangas, e usava um cinturão que dava ainda mais relevo a seu corpo formoso.
Conan mexeu a cabeça, piscando. O forte brilho do sol quase o cegava. Apanhou um pequeno cantil de seu cinto e o agitou para confirmar se ainda restava água.
A garota se mexeu, inquieta, e disse, em tom de mágoa:
- Oh, Conan, morreremos aqui! Tenho muita sede!
O cimério grunhiu algo ininteligível, olhando a seu redor, com atitude lúgubre. Adiantou a mandíbula, e seus olhos azuis arderam com um brilho selvagem sob a rebelde cabeleira negra, como se o deserto fosse um inimigo palpável.
Logo inclinou-se e aproximou o cantil dos lábios da jovem.
- Beba água até que eu lhe diga, Natala. – ordenou.
A garota bebeu em grandes goles, mas Conan não a conteve. Só quando o cantil ficou vazio, ela se deu conta de que Conan lhe havia permitido beber a pouca água que restava. Lágrimas chegaram aos seus olhos.
- Oh, Conan! – exclamou, retorcendo as mãos – Por que me deixou beber toda a água? Eu não sabia... e agora não resta nada pra você!
- Cala a boca! – ordenou o cimério – Não desperdice suas forças chorando. – Ergueu-se e arremessou o cantil para longe.
- Por que fez isso? – perguntou a garota.
Conan não respondeu. Permaneceu imóvel, com os dedos crispados sobre a empunhadura do sabre. Não olhava a jovem. Seus olhos ferozes pareciam perfurar a misteriosa bruma de cor púrpura, que se via à distância.
Dotado de um selvagem amor à vida e do instinto de conservação dos bárbaros, Conan da Ciméria sabia, no entanto, que naquele momento havia chegado ao fim de seu caminho. Ainda não havia alcançado o limite de sua resistência, mas tinha consciência de que outro dia naquele deserto interminável, sob aquele sol terrível, acabaria com ele.
Quanto à garota, já havia sofrido bastante. Seria muito melhor um rápido golpe de sabre do que a tremenda agonia que lhe esperava. Por enquanto, a sede da jovem estava saciada. Seria falsa compaixão deixá-la sofrer, até que o delírio e a morte lhe proporcionassem o desejado alívio. Lentamente desembainhou o sabre.
De repente se deteve, e todos os músculos de seu corpo puseram-se em tensão. À distância, ao sul, algo resplandecia entre as terríveis ondas de calor.
A princípio, pensou que se tratasse de uma miragem, que zombava dele naquele maldito deserto. Fazendo sombra sobre os olhos com uma das mãos, distinguiu torres e minaretes rodeados por muralhas brancas. Natala havia deixado de chorar. Pôs-se de joelhos com dificuldade, e logo seguiu o olhar do cimério.
- É uma cidade, Conan? – murmurou, assustada demais para ter esperanças – Ou só uma miragem?
O bárbaro permaneceu em silêncio durante uns segundos. Logo, fechou e abriu os olhos várias vezes.
Depois, olhou em outra direção e voltou seus olhos para a cidade.
Esta continuava no mesmo lugar.
- Só o diabo sabe. – disse, com um grunhido – Bom, de qualquer maneira, vale a pena testar.
Embainhou a espada. Se inclinou e levantou Natala nos braços, como se fosse uma criança. A garota recusou debilmente.
- Não desperdice suas forças dessa maneira, Conan. – disse – Eu posso caminhar.
- O terreno é muito mais rochoso aqui. – explicou o cimério – Suas sandálias logo se romperiam. Além do mais, se temos de chegar à cidade, devemos fazê-lo rapidamente. Assim, consigo caminhar mais depressa.
A possibilidade de continuar vivendo havia injetado novas forças nos membros de aço do cimério. Começou a caminhar sobre a abrasadora areia, como se acabasse de começar a jornada. Conan, bárbaro entre os bárbaros, tinha uma resistência física a toda prova, que lhe permitia sobreviver em condições que acabariam com qualquer homem civilizado.
Ele e a jovem eram os únicos sobreviventes do exército do príncipe Almuric, aquela horda que, seguindo o derrotado príncipe de Koth, varria as terras de Shem como uma terrível tormenta de areia e inundava de sangue as fronteiras da Stygia. Os stígios o seguiam de perto, e ao atravessar o reino negro de Kush, encontrou-se com o caminho bloqueado. Sua única alternativa era entrar no perigoso deserto. Conan se dirigiu então para o sul, até que, de repente, topou com o deserto. Os corpos de seus homens – mercenários, proscritos e todo tipo de delinqüentes – jaziam destroçados ao longo das terras altas de Koth, até as dunas do deserto.
Depois daquele massacre final, quando os stígios e os kushitas atacaram os homens encurralados que ainda estavam de pé, Conan conseguiu fugir com a garota, montado num camelo. O único caminho possível era o deserto do sul. E assim haviam penetrado naquela imensa e abrasadora desolação.
A jovem era uma brituniana que Conan havia encontrado no mercado de escravos de uma arrasada cidade shemita, da qual se apropriou. Não havia dúvida de que sua nova situação era melhor que a de qualquer mulher de um harém shemita e, conseqüentemente, aceitou-a, agradecida. Depois, compartilhou as aventuras das hordas de Almuric.
Avançaram durante dias pelo deserto, perseguidos pelos cavaleiros stígios. Logo, ao cessar a perseguição, Conan e a garota não se atreveram a recuar. Continuaram avançando e buscando água, até que o camelo morreu. Depois seguiram a pé. Nos últimos dias, seus sofrimentos haviam sido atrozes. Conan protegeu Natala de tudo o que pôde. A vida dura do acampamento havia desenvolvido na jovem uma força superior à de uma mulher comum. Mas mesmo assim, a garota não estava muito longe do esgotamento total.
O sol golpeava com força a cabeça de Conan. Sentia ameaças de cansaço e náuseas, mas apertou os dentes e continuou caminhando. Estava convencido de que a cidade era uma realidade, e não uma ilusão. No entanto, não tinha a menor idéia do que encontrariam ali. Os habitantes podiam mostrar-se hostis. Pelo menos, ali havia possibilidade de luta, e isso era tudo o que Conan podia pedir.
O sol estava a ponto de esconder-se, quando chegaram diante da enorme porta e se sentiram protegidos à sua sombra. Conan deixou Natala de pé sobre a areia e relaxou os músculos de seus doloridos braços. Por cima deles, viam torres de uns dez metros de altura, construídas com um material delicado e esverdeado, quase como cristal. Conan olhou os parapeitos, temendo o pior, mas não viu ninguém. Gritou e bateu com impaciência à porta, com o cabo da espada, mas só lhe responderam uns ecos zombeteiros. Natala aproximou-se mais de Conan, atemorizada pelo silêncio. A porta se abriu sozinha e o cimério recuou, desembainhando a espada. Natala abafou um grito.
- Oh, Conan, veja!
No interior, próximo à porta, havia um corpo humano estendido no chão. Conan o observou fixamente e logo olhou em todas as direções. Então, viu uma grande extensão de terreno, semelhante a um pátio, rodeada pelas arcadas das casas, que estavam construídas com o mesmo material esverdeado das muralhas. Estes edifícios eram altos e impressionantes, e estavam coroados por brilhantes cúpulas e minaretes. Ali não havia sinais de vida. No centro do pátio havia um poço. Sua presença estimulou Conan, que tinha a boca pregada devido à fina poeira do deserto. Pegou Natala pelo pulso e fechou a porta.
- Está morto? – perguntou Natala, apontando o homem que se encontrava estendido junto à porta. O corpo do indivíduo era grande e forte, de pele amarelada e olhos ligeiramente rasgados. Diferia do tipo hiboriano. Usava sandálias com correias amarradas às panturrilhas e vestia uma túnica de seda vermelha. De seu cinto pendia uma espada com uma bainha de tecido bordado a ouro. Conan o tocou e percebeu que estava frio. O corpo não apresentava o menor sinal de vida.
- Não tem um só ferimento. – resmungou o cimério – Mas está tão morto quanto Almuric, atravessado por quarenta flechas stígias. Em nome de Crom! Vamos ao poço. Se houver água nele, beberemos, com ou sem mortos.
No poço havia água, mas não podiam beber. O nível da água estava a uns quinze metros de profundidade, e não tinham como tirá-la. Conan rosnou uma maldição ao ver o líquido que estava fora de seu alcance, e começou a buscar algum meio de obtê-lo. Então, ouviu o grito de Natala e virou-se.
Nesse momento, o homem que aparentemente estava morto lançou-se sobre ele. Seus olhos brilhavam com pura vida e sua espada curta cintilava na mão. Conan proferiu outra maldição, mas não perdeu tempo fazendo conjecturas. Enfrentou o perigoso atacante com um formidável golpe de seu sabre, que atravessou-lhe a carne e os ossos. O corpo cambaleou e depois caiu pesadamente ao chão.
Conan o examinou, murmurando pra si. Logo disse:
- Este indivíduo não está mais morto agora do que há alguns minutos. Em que casa de loucos a gente se meteu?
Natala, que havia tapado os olhos com as mãos, mas que olhava por entre os dedos, exclamou:
- Oh, Conan! O povo desta cidade não irá nos matar por isso?
- Bom. – grunhiu Conan – Este indivíduo teria nos matado, se eu não lhe arrancasse a cabeça.
O cimério olhou para as arcadas que abriam suas bocas escuras, das verdes muralhas que haviam sobre eles. Não viu nenhum movimento, nem ouviu o menor ruído.
- Não creio que alguém nos tenha visto. – murmurou – Esconderei isto...
Levantou o cadáver pelo cinturão com uma das mãos; com a outra, pegou a cabeça pelos cabelos e levou ambas as partes do corpo até o poço.
- Já que não podemos beber desta água... – resmungou vingativamente o cimério – Não deixarei que mais ninguém desfrute dela. Maldito poço!
Levantou o corpo até a beirada e o deixou cair dentro do poço, atirando a cabeça em seguida. Do fundo, chegou o ruído do cadáver ao cair na água.
- Tem sangue nas pedras. – sussurrou Natala.
- E haverá mais, a menos que encontre logo água. – respondeu o cimério, cuja paciência estava chegando ao limite.
A garota quase havia se esquecido da sede e da fome, devido ao medo, mas Conan não.
- Entraremos por uma dessas portas. – disse – Certamente, encontraremos alguém.
- Oh, Conan! – exclamou a jovem, comprimindo-se fortemente contra ele – Tenho medo! Esta é uma cidade de fantasmas e de mortos! Voltemos ao deserto! Será melhor morrer lá do que passar por todos estes horrores!
- Iremos ao deserto quando nos expulsarem daqui. – respondeu o cimério com um grunhido – Em algum lugar desta cidade existe água, e vou achar nem que tenha de matar todos os homens que morem nela.
- Mas... e se ressuscitarem?
- Então voltarei a matá-los até que não ressuscitem mais!
Olhou ao seu redor e acrescentou subitamente:
- Vamos! Aquela porta ali é tão adequada quanto qualquer outra. Venha atrás de mim, mas não corra, a menos que eu lhe diga.
A jovem assentiu com a cabeça, e o seguiu tão de perto que tropeçou nos calcanhares do bárbaro, o qual ficou furioso. Acabava de cair o crepúsculo, que encheu a cidade de numerosas sombras de cor púrpura. Atravessaram a soleira da porta e se encontraram numa ampla moradia, cujas paredes estavam cobertas de tapetes bordados com estranhos desenhos. O chão, as paredes e o teto baixo eram feitos com pedra de cor verde brilhante e os muros estavam decorados com frisos dourados. O chão estava coberto de almofadas de veludo e seda. Havia várias portas que levavam a outras moradias. Conan e a garota passaram por outras habitações, quase iguais à primeira. Não viram ninguém, mas o cimério grunhiu, desconfiando de algo.
- Alguém esteve aqui há muito pouco tempo. Este divã ainda está morno pelo contato com o corpo humano. Essa almofada de seda tem marcas de quadris e há um leve perfume no ar.
A atmosfera do lugar era fantástica e estranha..., parecia irreal. Entrar naquele palácio silencioso era como afundar num sono causado pelo ópio. Conan e a jovem evitaram alguns salões sem iluminação. Outros estavam iluminados por uma luz tênue que parecia proceder das jóias incrustadas nas paredes, as quais formavam estranhos desenhos. De repente, quando entravam numa daquelas habitações, Natala soltou um grito e agarrou seu companheiro pelo braço. Conan praguejou em voz alta e deu meia-volta, procurando um inimigo. Espantou-se em não ver ninguém ali.
- O que está acontecendo? Se voltar a me agarrar assim pelo braço, te arranco a pele. Por que gritou?
- Veja isso.
Conan grunhiu. Sobre uma mesa de ébano polido, havia uns recipientes dourados que, aparentemente, continham comida e bebida. A moradia estava deserta.
- Bom, seja quem for que ia usufruir tudo isto, já pode procurar outro lugar para desfrutar a noite.
- Podemos comer isso, Conan? – arriscou a jovem nervosamente – Alguém poderia chegar e...
- Lir an mannanam mac lir! – rugiu Conan, pegando a jovem pela nuca e obrigando-a a sentar-se numa cadeira dourada, situada numa extremidade da mesa – Estamos mortos de fome e ousa fazer objeções! Coma!
O cimério se sentou ao outro extremo e pegou uma jarra de jade verde, a qual esvaziou de um gole. Continha um líquido semelhante ao vinho, de sabor estranho, porém agradável, desconhecido para ele, embora para sua garganta ressecada fosse como néctar. Uma vez saciada sua sede, atacou com prazer a comida que tinha adiante. O sabor desta também lhe era estranho. Havia frutas exóticas e carnes desconhecidas. Os pratos eram de um feitio delicioso, e as facas e garfos eram de ouro. Conan ignorou os talheres, comeu com as mãos e destrinchou a carne com os dentes. Os modos do cimério eram bastante rudes. Sua civilizada companheira comia com mais elegância, mas com o mesmo prazer. Conan imaginou que a comida pudesse estar envenenada, mas essa idéia não diminuiu seu apetite. Preferia morrer envenenado a perecer de fome.
Uma vez satisfeito o seu apetite, Conan se jogou pra trás em sua cadeira, soltando um profundo suspiro de alívio. A julgar por aquela comida recente, era óbvio que havia seres humanos na silenciosa cidade, e talvez um inimigo escondido em cada esquina.
Mas Conan não sentia o menor temor diante de tal idéia, já que tinha uma enorme confiança em sua habilidade para lutar. Começou a sentir-se sonolento e pensou em começar a descansar um pouco sobre um divã.
Natala já não tinha fome nem sede, mas não sentia vontade de dormir. Seus olhos maravilhosos miravam timidamente em direção às portas, fronteiras do desconhecido. O silêncio e o mistério do estranho lugar incomodavam-na. A moradia parecia maior e a mesa, muito mais longa que a princípio, e teve a sensação de que estava demasiadamente longe de seu protetor. Levantou-se rapidamente, se aproximou dele e sentou-se em seus joelhos. Logo voltou a olhar inquietamente para as portas arcadas. Algumas delas estavam iluminadas e outras não, mas seus olhos se fixaram mais intensamente nas que estavam às escuras.
- Já comemos, bebemos e descansamos. – disse a garota – Vamos embora daqui, Conan. Tenho a sensação de que isto é o inferno.
- Bem, mas até agora ninguém nos fez mal. – respondeu o cimério.
Naquele exato momento, um ranger sinistro fez com que dessem meia volta. Afastou a jovem de seus joelhos e se pôs em pé, com a rapidez de uma pantera, desembainhando o sabre e olhando para a porta, de onde partira o ruído. Este não se repetiu. Conan avançou sigilosamente, e Natala o seguiu, atemorizada. Sabia que o cimério farejava o perigo. Com a cabeça afundada entre os ombros gigantescos, Conan caminhou agachado, como um tigre à espreita. Não fazia mais ruído que um felino avançando para sua presa.
Se deteve na soleira da porta. Natala ia atrás dele, olhando pra todas as direções. A habitação não estava iluminada, mas a escuridão não era absoluta, devido à luz que havia às suas costas, e que inclusive iluminava, ainda que timidamente, uma outra moradia. E nesta habitação havia um homem estendido sobre um estrado. A luz tênue lhes permitiu ver que se tratava de um indivíduo muito parecido ao que tinham visto na porta exterior, com a diferença que suas roupas eram mais luxuosas e estavam adornadas com jóias que brilhavam com um estranho fulgor.
Estaria morto ou simplesmente dormindo? Mais uma vez, ouviu-se o mesmo ruído sinistro de antes, como se uma mão tivesse empurrado alguma cortina. Conan recuou e passou um braço por cima dos ombros de Natala. Logo tapou-lhe a boca com a mão, a tempo de impedir que a jovem soltasse um grito.
De onde estavam, não viam o estrado, mas puderam perceber uma estranha sombra, projetada sobre a parede que havia atrás. Logo viram outra sombra destacada contra a parede. O cabelo de Conan se arrepiou. Aquela sombra fantástica era absolutamente disforme. Não lembrava de ter visto jamais semelhante reflexo de nenhum homem ou animal. Estava consumido pela curiosidade e, no entanto, o instinto lhe fez permanecer imóvel. Ouviu o rápido ofego de Natala, que fitava a cena com os olhos arregalados. Nenhum outro som interrompia o tenso silêncio. A enorme sombra cobriu a que projetava o estrado sobre a parede. Por um instante, quase toda a parede desapareceu na escuridão. Logo, a sombra foi desaparecendo lentamente e, mais uma vez, o estrado se projetou nitidamente contra o painel. Mas o homem adormecido já não estava ali.
Um histérico gorjeio surgiu da garganta de Natala. Conan sacudiu-a energicamente. No entanto, o cimério sentiu que o sangue lhe gelava nas veias. Não temia os inimigos humanos, nem tinha medo de nada que pudesse entender, por mais espantoso que fosse. Mas aquilo ultrapassava todos os limites.
Entretanto, a curiosidade logo prevaleceu sobre sua preocupação, e voltou a entrar na habitação iluminada, disposto a qualquer coisa. Olhou em direção à outra moradia e viu que estava vazia. O estrado estava no mesmo lugar, mas ali não havia nenhum ser humano. Só uma gota de sangue, que parecia uma gema intensamente vermelha, sobre o cobertor de seda. Natala a viu e soltou um grito. Desta vez, Conan não a recriminou. O cimério sentiu a mão gelada de horror. Sobre aquele estrado, há alguns momentos, havia um homem. Alguém entrara na habitação e o levara.
Conan não entendia o que estava acontecendo, mas uma aura de horror sobrenatural pairava sobre aquelas moradias mal-iluminadas.
Estava disposto a ir embora. Tomou Natala pela mão e deu meia-volta. De repente hesitou. De algum lugar das habitações que haviam atravessado, chegou um ruído de passos. Um pé humano, descalço ou com um leve calçado, havia produzido aquele som, e Conan, com a cautela de um lobo, recuou rapidamente pra um lado. Achou que poderia voltar facilmente ao pátio exterior e, inclusive, evitar a moradia da qual partira aquele estranho som.
Todavia, mal haviam cruzado a primeira habitação, quando de repente lhes chamou a atenção um tapete de seda. Diante de um quarto, cuja entrada estava coberta por uma cortina, havia um homem de pé, olhando-os fixamente.
Era exatamente igual aos outros que tinha visto antes. Era alto e corpulento, vestia roupas de cor azul e usava um cinto adornado com pedras preciosas. Em seus olhos de âmbar não se refletia nem surpresa nem hostilidade. Tratava-se simplesmente do olhar onírico de um comedor de lótus. Tampouco desembainhou a espada que pendia-lhe do cinto. Depois de um momento de tensão, falou com tom sonhador, distante, numa língua que Conan não entendia.
Conan disse algo em Stígio, e o desconhecido lhe respondeu na mesma língua.
- Quem é?
- Sou Conan da Ciméria. – respondeu o bárbaro – Esta é Natala, da Britúnia. Que cidade é esta?
O homem não respondeu. Seu olhar sensual e sonhador se fixou em Natala, e disse:
- Esta é a visão mais estranha que jamais tive! Oh, garota de cabelos dourados! De que terra de sonhos você vem? De Andana, Tothra ou Kuth do cinturão de estrelas?
- Que loucura é esta? – vociferou o cimério rispidamente, não gostando das palavras e das maneiras do homem.
O desconhecido não lhe prestou a menor atenção.
- Tenho sonhado com as belezas mais extraordinárias... – murmurou – Com formosas mulheres de cabelos negros como a noite e olhos cheios de mistério. Mas sua pele é branca como o leite e seus olhos, claros como a aurora. Tens o frescor e a doçura do mel! Venha ao meu divã, garota dos sonhos.
O homem avançou em direção à jovem, com a mão estendida, mas Conan afastou-a com uma força que teria fraturado o braço de qualquer um. O desconhecido recuou, com os olhos entreabertos, friccionando a mão dolorida.
- Que rebelião de fantasmas é esta? – murmurou – Bárbaro, ordeno-lhe que se vá...! Desapareça! Suma! Vai-te daqui!
- Te farei sumir a cabeça! – exclamou Conan, furioso, empunhando seu sabre – São estas as boas-vindas que dá aos forasteiros? Por Crom! Encharcarei de sangue todos estes tapetes!
As fantasias desapareceram dos olhos do desconhecido, dando lugar a um olhar de assombro.
- Thog! – exclamou em voz alta – Você é real! De onde vem? Quem é você? O que faz em Xuthal?
- Viemos do deserto. – respondeu Conan com um grunhido – Entramos na cidade ao entardecer, mortos de fome. Encontramos uma mesa servida para alguém e comemos. Não tenho dinheiro para pagar a comida. Em meu país, não negam alimentos a um homem faminto, mas vocês, civilizados, sempre desejam cobrar tudo, se você for como todos os que conheci até agora. Não fizemos mal a ninguém, e já íamos embora daqui. Por Crom! Não me agrada nada este lugar, onde os mortos ressuscitam e os adormecidos desaparecem nas sombras!
O homem sobressaltou-se diante das últimas palavras de Conan, e seu rosto amarelado ficou lívido.
- O que disse? Sombras?
- Bem. – respondeu cuidadosamente o cimério – Sombras... ou o que quer que seja isso que leva um homem adormecido, de seu estrado, e só deixa em seu lugar uma gota de sangue.
- Você o viu?
O homem tremia como uma folha. O tom de sua voz ficou mais agudo. Então, Conan disse:
- Não vi mais do que um homem adormecido sobre um estrado, e depois uma sombra que o levou misteriosamente.
O efeito destas últimas palavras foi aterrorizante. O homem virou-se com uma gritaria espantosa e saiu correndo da habitação. Conan olhou-o surpreso, com a testa franzida. A jovem agarrou-se, trêmula, a seu braço. Não viam o homem que fugia, mas continuavam ouvindo seus terríveis gritos à distância, cujo eco repetiam as demais moradias. De repente ouviu-se um grito mais forte que os demais, e a seguir reinou o silêncio.
- Por Crom! – exclamou o cimério, enxugando o suor que pingava-lhe da testa com uma mão ligeiramente trêmula – Esta é uma cidade de loucos! Vamos embora daqui, antes que nos encontremos com outro demente!
- É um pesadelo! – gemeu Natala – Estamos mortos e condenados! Morremos no deserto e estamos no inferno. Somos espíritos sem corpo... Oh!
A jovem queixou-se da forte palmada que Conan acabava de dar-lhe.
- Você não é nenhum espírito, se grita desse jeito. – disse, sorrindo, o cimério, que freqüentemente dava mostras de humor nos momentos mais inoportunos. Logo acrescentou:
- Estamos vivos, embora não por muito tempo, se continuarmos nesta casa de loucos. Vamos!
Atravessaram uma habitação e se deteram. Algo ou alguém se aproximava. Voltaram-se para a soleira de onde vinham os ruídos, à espera do desconhecido. Então, apareceu uma figura na porta. Conan praguejou entre dentes, enquanto seu fino olfato percebia o mesmo perfume que havia farejado antes. Natala abriu a boca, assombrada.
Ali estava uma mulher que olhava-os, surpresa. Era alta, esbelta, tinha o corpo de uma deusa e vestia uma túnica bordada com pedras preciosas. Uma cascata de cabelos negros como a noite fazia destacar a brancura de seu corpo ebúrneo. Os olhos escuros, de longos cílios, tinham um extraordinário mistério sensual. Conan conteve a respiração diante de tal beleza, e Natala mirou-a com os olhos arregalados. O cimério jamais tinha visto uma mulher como aquela. Seus traços eram stígios, mas sua pele não. Seus braços e pernas pareciam de alabastro.
Mas quando falou, com tom profundo, rico e musical, o fez em Stígio:
- Quem é você? O que faz em Xuthal? Quem é esta jovem?
- E você, quem é? – perguntou por sua vez Conan, o qual não gostava que lhe fizessem perguntas.
- Sou Thalis, a stígia. – ela respondeu – Deve estar louco para se atrever a vir aqui.
- Creio que estou. – disse o cimério com um grunhido – Por Crom, se eu tivesse juízo, estaria longe, porque aqui estão todos loucos! Viemos do deserto, famintos e sedentos, e nos encontramos com um homem morto, que logo tentou me apunhalar pelas costas. Entramos num palácio rico e luxuoso, aparentemente desabitado. Encontramos uma mesa bem servida, mas sem comensais. Depois vimos uma sombra que devorou um homem adormecido...
Conan notou que o rosto da mulher mudava de cor ao ouvir suas últimas palavras. Logo acrescentou:
- E então...?
- Então, o quê? – perguntou a mulher, dominando-se perfeitamente.
- Eu esperava que saísse correndo e berrando como uma selvagem. Foi o que fez o homem ao qual falei da sombra.
A mulher encolheu os ombros.
- Então, esses foram os gritos que escutei. Cada homem tem seu destino marcado e é inútil gritar feito um rato. Quando Thog me desejar, virá buscar-me.
- Quem é Thog? – perguntou Conan, com desconfiança. A mulher o olhou, examinando-o de cima a baixo de tal maneira que fez Natala corar.
- Sente-se nesse divã e eu lhe direi. Mas primeiro diga-me seus nomes.
- Eu sou Conan, o cimério, e esta é Natala, da Britúnia. Somos refugiados de um exército derrotado nas fronteiras de Kush. E não desejo me sentar de costas para as sombras.
A mulher sentou no divã com uma risada musical, e estendeu-se delicadamente com um abandono felino.
- Fique calmo. – murmurou – Se Thog lhe quiser, te levará consigo, esteja onde estiver. O homem que mencionou, o que saiu correndo e gritando... Não o ouviu soltar uma terrível gritaria e logo calar de repente? Em seu frenesi, deve ter encontrado sua própria morte, uma morte da qual desejava fugir. Nenhum homem pode escapar a seu destino.
Conan grunhiu e sentou na borda do divã, com o sabre cruzado sobre os joelhos e olhando a seu redor com desconfiança. Natala sentou-se a seu lado e se encolheu em seus braços. Olhava aquela estranha mulher com receio e ressentimento. Se sentia pequena e insignificante diante daquela extraordinária beleza. Não se equivocou, ao avaliar os olhares ávidos que os enormes olhos negros dela lançavam ao gigantesco cimério.
- Que lugar é este e quem são estas pessoas?
- Esta cidade chama-se Xuthal. É muito antiga. Foi construída num oásis que os fundadores de Xuthal encontraram em seu constante vagar por estas terras. Chegaram do leste há tanto tempo, que nem mesmo seus descendentes lembram quando foi.
- Certamente não haverá muitos. Estes palácios parecem vazios.
- Não. Há muito mais gente do que supõe. A cidade é, na verdade, um enorme palácio. Todos os edifícios estão dentro de uma muralha e se comunicam uns com os outros. Você poderia caminhar através destas habitações, durante horas, sem ver ninguém. Mas há momentos nos quais pode encontrar centenas de pessoas.
- Como se explica isto? – inquiriu Conan.
- Esta gente dorme durante a maior parte do tempo. O sono é, para eles, tão importante e tão real quanto sua vida de vigília. Ouviu falar alguma vez do lótus negro? Cresce em alguns lugares da cidade. Eles o têm cultivado durante anos e conseguiram que seu suco, ao invés de causar a morte, proporcionasse sonhos agradáveis e fantásticos. O povo passa a maior parte do tempo sonhando. Suas vidas são vagas, imprevisíveis e carecem de objetivo. Sonham, acordam, bebem, amam, comem e voltam a sonhar. Raramente terminam o que começam, porque imediatamente voltam a submergir no sono do lótus negro. A comida que encontrou... certamente era de algum homem que a preparou quando estava acordado, porque tinha fome. Logo esqueceu-a e voltou a dormir.
- Onde conseguem sua comida? – perguntou Conan – Não vi campos nem vinhedos fora da cidade. Por acaso há hortos e estábulos dentro destes muros?
A mulher negou com um movimento da cabeça.
- Fabricam seus próprios alimentos com matérias primas. Quando não estão drogados, são todos grandes cientistas. Seus antepassados foram verdadeiros gênios e, embora a raça tenha caído escrava de suas próprias paixões, ainda prevalecem alguns de seus extraordinários conhecimentos. Ainda não se perguntou como conseguem estas luzes? Pois são jóias fundidas com rádio. Esfrega-se o polegar para fazê-las brilhar e volta-se a esfregar, em sentido contrário, para apagá-las. Este é só um exemplo de sua sabedoria. No entanto, esqueceram muitas coisas. Têm muito pouco interesse em permanecerem acordados.
- Então o homem que estava na porta...
- Com certeza, dormia profundamente. Os sonhadores do lótus estão como mortos. Carecem de todo movimento. É impossível detectar neles o menor sinal de vida. O espírito abandonou o corpo e vaga com plena satisfação por outros mundos exóticos. O homem da entrada era um bom exemplo da irresponsabilidade desta gente. Estava de guarda na porta, já que o costume exige a presença de uma sentinela, ainda mais que nunca tenha vindo nenhum inimigo, do deserto. Em outros lugares da cidade, encontrará outros guardiões dormindo tão profundamente quanto o que viu na entrada.
Conan guardou silêncio por um momento. Logo perguntou:
- Onde estão todos agora?
- Espalhados por diversos lugares da cidade. Estendidos em divãs, sobre camas, em alcovas com almofadas, sobre estrados cobertos de peles, mas todos eles estão submersos no sono profundo do lótus negro.
Conan sentiu um arrepio. Naquele momento, lembrou algo mais.
- E aquela coisa... aquela sombra que atravessou as moradias e levou o homem do estrado?
Um ligeiro tremor agitou os membros graciosos da mulher, antes dela responder:
- Trata-se de Thog, o Ancião, o deus de Xuthal, que vive na cúpula subterrânea do centro da cidade. Sempre viveu em Xuthal. Ninguém sabe se chegou com os antigos fundadores, ou se já estava aqui quando a cidade foi construída. Mas o povo de Xuthal o adora. Quase sempre dorme sob a cidade, mas, às vezes, espaçadamente, sente fome, e então vaga pelos corredores secretos e pelas habitações mal-iluminadas, buscando uma presa. Portanto, ninguém está seguro.
Natala gemeu de horror e envolveu o pescoço de Conan com os braços, como se tentasse impedir que a separassem de seu protetor.
- Por Crom! – exclamou o cimério, assombrado – Quer dizer que toda esta gente dorme tranqüila, apesar da ameaça que constitui esse demônio?
- Só em algumas ocasiões ele sente fome. – respondeu a mulher. Um deus deve receber sacrifícios. Na Stygia, quando eu era menina, o povo vivia sob a sombra de um sacerdote. Ninguém sabia quando seria arrastado para o altar. Então, que diferença há entre ser vítima dos deuses por intermédio de um sacerdote, ou que o próprio deus venha em busca de sua presa?
- Em meu povo não existe esse costume... – disse Conan – e tampouco no de Natala. Os hiborianos não sacrificam seres humanos a seu deus Mitra e, quanto a meu povo, por Crom, gostaria de ver um sacerdote arrastando um cimério ao altar. Se derramaria muito sangue, mas não de acordo com os desejos do sacerdote.
- Você é um bárbaro. – disse Thalis, rindo – Thog é muito velho e muito terrível.
- Estes indivíduos devem ser tontos ou heróis... – murmurou Conan – para se lançarem a sonhar seus sonhos imbecis, sabendo que podem despertar no ventre desse deus.
A mulher voltou a rir.
- Não conhecem outra coisa. Desde há muitas gerações, Thog tem se alimentado deles. Esta é uma das razões pelas quais seu número reduziu-se, de vários milhares a umas poucas centenas. Se extinguirão dentro de umas poucas gerações, e Thog terá que sair pelo mundo, em busca de novas presas, ou regressar às trevas das quais veio há séculos.
“Sabem que estão condenados... – acrescentou – mas seu fatalismo lhes impede de opor resistência ou fugir. Nem uma só pessoa desta geração saiu destas muralhas. Há um oásis a um dia de marcha até o sul... Eu o vi nos antigos mapas que seus antepassados desenharam sobre pergaminhos..., mas desde há três gerações, nenhum homem de Xuthal o visitou, nem tampouco se esforçaram em explorar os campos férteis, que mostram os mapas, a outro dia de caminho desde o oásis. Trata-se de uma raça em vias de extinção, submersa em sonhos provocados pelo lótus, enquanto suas horas de vigília são estimuladas pelo vinho dourado que cura ferimentos, prolonga a existência e dá força aos libertinos.
“No entanto... – prosseguiu – todos eles procuram se agarrar à vida e temem ao deus que adoram. Se agora mesmo estivessem acordados e soubessem que Thog anda por aqui, sairiam correndo desesperados”.
- Oh, Conan! – exclamou Natala – Vamos sair logo daqui!
- Tudo a seu tempo, garota. – murmurou Conan, fincando os olhos nas pernas esbeltas da mulher – E o que faz uma stígia aqui?
- Vim quando era muito jovem. – respondeu Thalis calmamente, enquanto se estendia sobre o divã de veludo e cruzava as mãos sobre a nuca – Sou filha de um rei, e não uma mulher comum, como pôde notar pela cor de minha pele, que é tão branca quanto a dessa jovem que está com você. Fui raptada por um príncipe rebelde, que foi até o sul com um exército de arqueiros, para conquistar novas terras. Ele e seus guerreiros pereceram no deserto, mas, antes de morrer, um deles me colocou sobre um camelo e caminhou a meu lado até não poder mais, e caiu morto. O animal vagou de um lado a outro e finalmente perdi a consciência, devido à sede e à fome, até que despertei, algum tempo depois, nesta cidade. Me disseram... – acrescentou a jovem – que haviam me visto ao amanhecer, das muralhas, sem sentidos, próxima ao camelo morto. Me ajudaram a recuperar as forças com o vinho dourado. Só o fato de tratar-se de uma mulher os estimulou a aventurarem-se tão longe das muralhas. Claro que se interessavam pelas mulheres, especialmente os homens. Já que eu não sabia falar seu idioma, aprenderam o meu. Têm uma enorme capacidade intelectual, e entenderam minha língua muito antes que eu a deles. Mas se sentiam muito mais atraídos por mim do que por meu idioma. Tenho sido e sou a única coisa pela qual alguns destes homens esquecem seus sonhos de lótus por algum espaço de tempo.
A mulher pôs-se a rir, fixando seu olhar provocante em Conan.
- Naturalmente, as demais mulheres têm ciúmes de mim. – continuou dizendo, com tranqüilidade – A seu modo e com sua pele amarelada, são bastante atraentes, mas tão sonhadoras e inseguras quanto os homens, e a estes eu agrado não por minha beleza, mas por minha realidade. Eu não sou um sonho! Embora algumas vezes, eu tenha estado sob o efeito do lótus, sou uma mulher normal, com emoções e desejos terrenos.
“Creio que seja melhor que corte o pescoço desta jovem com sua espada, antes que os homens de Xuthal acordem e raptem-na. Do contrário, a farão passar por coisas com as quais jamais sonhou. É uma garota fraca demais para suportar tudo o que tenho agüentado. Sou filha de Lúxur e, antes de completar quinze anos, me conduziram aos templos de Derketo, a deusa escura, para ser iniciada nos mistérios. E não é que meus primeiros anos aqui tenham sido isentos de novos prazeres! Os homens e as mulheres de Xuthal possuem, nesse terreno, conhecimentos que as sacerdotisas de Derketo ignoram. Só vivem para seus prazeres sensuais. Sonhando ou despertos, suas vidas estão cheias de êxtases exóticos, muito além da compreensão do resto dos homens”.
- Malditos degenerados! – exclamou Conan.
- É questão de opiniões. – respondeu Thalis, com ironia.
- Bom... – murmurou o cimério – Creio que estamos perdendo tempo. Vejo que este não é um lugar adequado para simples mortais. Iremos embora, antes que seus degenerados acordem ou Thog nos devore. Suspeito que o deserto seja um lugar muito mais acolhedor.
Natala, cujo sangue fervia em suas veias diante das últimas palavras de Thalis, assentiu com um movimento da cabeça. Falava mal o Stígio, mas o entendia perfeitamente. Conan ficou de pé e ajudou a jovem a fazer o mesmo.
- Se nos mostrar o caminho mais curto para sair da cidade... – disse – Sairemos agora mesmo.
No entanto, seus olhos não se afastaram dos esbeltos membros ebúrneos da stígia.
A mulher o percebeu e sorriu enigmaticamente, ao pôr-se de pé como uma gata preguiçosa.
- Siga-me. – sussurrou, certa de que o olhar do gigantesco cimério continuava fixo em seu corpo.
Não tomou o caminho pelo qual haviam chegado, mas antes que Conan suspeitasse de algo, a mulher se deteve numa ampla moradia, em cujo centro havia uma pequena fonte, sobre um chão de marfim.
- Não quer lavar seu rosto, menina? – perguntou a Natala – Está cheio de poeira, assim como seus cabelos.
Natala corou de ódio e ressentimento diante da malícia das palavras da stígia, mas mesmo assim aceitou a sugestão, se perguntando se o sol e a poeira do deserto haviam maltratado sua pele, da qual todas as mulheres de sua raça cuidavam em especial. Se ajoelhou junto à fonte, jogou pra trás seus cabelos, abaixou a túnica até a cintura e começou a lavar, não apenas o rosto, mas também seus braços e ombros brancos.
- Por Crom! – exclamou Conan – As mulheres param pra pensar em sua beleza, mesmo que o próprio diabo esteja pisando em seus calcanhares. Se apresse, garota! Estará cheia de pó outra vez, antes que a gente saia da cidade. Thalis, eu lhe agradeceria muito se nos oferecesse um pouco de comida e bebida.
Como resposta, Thalis apertou-se contra seu corpo e passou seu braço branco pelos ombros bronzeados. Conan notou imediatamente o perfume dos cabelos da mulher.
- Por que partir para o deserto? – disse Thalis, em voz baixa – Fique aqui! Lhe ensinarei como se vive em Xuthal. Lhe protegerei. Lhe amarei! És um homem de verdade. Estou farta desses idiotas que sonham e acordam, e logo voltam a dormir outra vez. Desejo a paixão limpa e forte de um homem da terra. O fogo de seus olhos me faz bater forte o coração e o contato de seu braço de ferro me enlouquece. Fique aqui! Te farei rei de Xuthal! Lhe ensinarei todos os antigos mistérios e os mais exóticos caminhos do prazer. Eu...
A mulher lhe havia envolvido o pescoço com ambos os braços e colocado-se na ponta dos pés, para apertar seu corpo vibrante contra o de Conan. Ao olhar por cima do ombro da mulher, o cimério viu Natala e notou que a garota, ao jogar para trás os cabelos molhados, parou para olhá-lo, e abriu a boca e olhos num gesto de profundo assombro. Conan murmurou algo ininteligível e se desfez de Thalis, afastando-a com a mão. A jovem olhou a garota brituniana e sorriu enigmaticamente, enquanto parecia estar assentindo de maneira misteriosa com um movimento de sua esplêndida cabeça.
Natala se ergueu e ajustou a túnica. Seus olhos brilhavam de indignação e em seu rosto refletia-se uma expressão de dor. Conan praguejou entre dentes. Não era mais monógamo que qualquer aventureiro, mas nele havia uma decência inata que compunha a melhor proteção para Natala.
Thalis não insistiu mais. Sinalizou-lhes com a mão para que seguissem-na, logo se virou e atravessou a moradia. Deteve-se perto da parede coberta de tapetes. Enquanto a olhava, Conan perguntou-se se não estaria ouvindo os sons produzidos pelo monstro que passeava furtivamente pelo palácio. O cimério sentiu um calafrio diante dessa possibilidade.
- O que está escutando? – quis saber Conan.
- Estou olhando aquela porta. – respondeu Thalis, apontando com a mão para o outro lado.
Conan deu meia-volta com a espada na mão, mas não viu nada. Imediatamente, ouviu um ruído às suas costas e girou sobre seus calcanhares. Thalis e Natala haviam desaparecido. Neste exato momento, o tapete caía de novo sobre a parede, como se alguém tivesse levantado-o um segundo antes. Enquanto o cimério examinava a parede, assombrado, do outro lado do muro ouviu-se o grito abafado da garota brituniana.
Quando Conan se voltou para olhar pra porta que Thalis apontava, Natala encontrava-se exatamente atrás dele e ao lado da stígia. No exato momento em que o cimério deu-lhes as costas, Thalis cobriu, com uma mão, a boca de Natala, com a rapidez de uma pantera, abafando o grito da garota. Simultaneamente, o outro braço da stígia circundou a estreita cintura da jovem e empurrou-a contra a parede, que cedeu quando um ombro de Thalis pressionou a mesma. Uma parte do muro girou para dentro, e Thalis escapou com a prisioneira através de uma abertura do tapete, no momento em que Conan se voltava.
Ao fechar-se a porta secreta, reinou a mais absoluta escuridão. Thalis deteve-se por um momento, para tatear um painel e passar uma tranca, e quando afastou a mão da boca de Natala, a brituniana começou a gritar com todas suas forças. A gargalhada de Thalis foi como mel envenenado na escuridão.
- Grite o quanto quiser, pequena estúpida. A única coisa que vai conseguir é encurtar sua vida.
Natala guardou silêncio. Todo seu corpo tremia.
- Por que fez isto? – perguntou – O que pretende?
- Percorreremos uma curta distância através deste corredor e deixarei-lhe ali, para alguém que virá lhe buscar cedo ou tarde.
- Oohhh! – soluçou Natala, aterrorizada – Por que quer me fazer mal? Eu não lhe fiz nada!
- Desejo o seu guerreiro. E você se interpõe em meu caminho. Ele me deseja; eu o li em seus olhos. Se não fosse por você, ele teria aceitado ficar e ser meu rei. Quando você desaparecer, ele me seguirá.
- Ele lhe cortará o pescoço. – assegurou Natala com convicção, já que conhecia Conan melhor do que Thalis.
- Veremos. – acrescentou a stígia, com a confiança que lhe proporcionava seu poder sobre os homens – De qualquer maneira, você nunca saberá se ele está me cortando o pescoço ou me beijando, porque será a esposa do habitante das trevas. Venha!
Natala, aterrorizada, lutou como uma selvagem, mas de nada lhe adiantou. Com uma força que ela jamais imaginara numa mulher, Thalis carregou-a pelo escuro corredor como se ela fosse uma menina. Natala não voltou a gritar, porque lembrava das sinistras palavras da stígia. Os únicos sons que se ouviam eram seu desesperado ofego e a suave risada lasciva de Thalis. Então, a mão da brituniana agarrou algo na escuridão... Era o cabo de uma adaga que destacava-se do cinturão de Thalis, cheio de pedras preciosas incrustadas. Natala desembainhou a arma e atacou cegamente, com todas as forças de que era capaz naqueles momentos.
Da garganta de Thalis surgiu um grito de dor e fúria. Recuou alguns passos e Natala se libertou de seus braços, caindo sobre o liso chão de pedra. Ficou de pé, correu até a parede mais próxima e ficou ali, tremendo. Não via Thalis, mas a ouvia.
Evidentemente, a stígia não estava morta. Praguejava sem parar, e sua fúria era tão terrível que Natala sentiu que o sangue gelava-lhe nas veias.
- Onde está, pequeno diabo? – perguntou Thalis, ofegando – Deixe eu pôr minhas mãos em você de novo e lhe...
A brituniana estremeceu de pavor, diante da descrição do mal que sua rival pensava em fazer-lhe. A linguagem da stígia envergonharia o cidadão mais vulgar da Aquilônia.
Natala ouviu que a stígia andava tateando na escuridão e, a seguir, acendeu uma luz. Evidentemente, o medo que Thalis poderia sentir naquele escuro corredor, permanecia afogado pela cólera. A luz vinha de uma das gemas com rádio que adornavam os muros de Xuthal. Thalis havia friccionado uma delas e, nesse momento, a stígia estava iluminada por seu resplendor avermelhado, diferente da luz que as demais tinham. Apertava um lado com a mão e o sangue escorria entre seus dedos. Mas, apesar disso, não parecia debilitada. Era evidente que não estava gravemente ferida. Seus olhos relampejavam furiosamente. A pouca valentia que restava em Natala desapareceu, quando viu a stígia de pé sob aquele estranho brilho, com seu belo rosto deformado por um ódio verdadeiramente infernal. Thalis avançou com passo de pantera, sacudindo com impaciência o sangue de seus dedos. Natala viu que não havia ferido gravemente sua rival. A lâmina de aço havia escorregado pelo cinturão com jóias de Thalis, e, portanto, arranhou superficialmente sua pele, o suficiente para aumentar ainda mais a cólera da stígia.
- Me dá essa adaga, estúpida! – resmungou, avançando em direção à jovem assustada.
Natala sabia que era preciso lutar enquanto pudesse fazê-lo, mas se sentia absolutamente incapaz de reunir as forças e a coragem necessárias. Sua falta de espírito combativo, a escuridão, a violência e o horror de sua aventura haviam deixado-a indefesa física e mentalmente. Thalis arrancou a adaga de suas mãos e arremessou-a para um lado com um gesto depreciativo.
- Pequena vadia! – murmurou entre dentes, esbofeteando furiosamente a jovem – Antes de arrastar-lhe pelo corredor para atirar-lhe à goela de Thog, lhe farei sangrar um pouco! Ousaste me ferir! Pagará caro por sua audácia!
Thalis agarrou a jovem pelos cabelos e arrastou-a através do corredor, até a beirada do círculo de luz. Na parede, havia um grosso anel de metal situado à altura da cabeça. Dele, pendia uma grossa corda de seda. Como num pesadelo, Natala sentiu que lhe arrancavam a túnica e, um segundo depois, Thalis atava seus pulsos ao anel da parede, do qual ficou pendurada, completamente nua. Seus pés apenas tocavam o chão. Natala virou a cabeça e viu que Thalis retirava da parede um chicote com jóias no cabo. Estava formado por sete grossas cordas de seda, redondas e muito mais duras que o couro.
Thalis lançou um grito de vingança, enquanto levantava o braço, e Natala soltou um alarido quando o chicote golpeou seus quadris. A jovem retorceu-se desesperadamente, com a impressão de que, em poucos segundos, seu corpo ia ficar completamente despedaçado. Cada chicotada arrancava gritos de angústia de seus lábios.
Quando Natala girou sua cabeça para suplicar a Thalis que se apiedasse dela, algo congelou seus gritos na garganta. A dor deu lugar a um tremendo horror que refletiu-se em seus belos olhos.
Surpreendida pela expressão de seu rosto, Thalis deteve sua mão levantada e deu meia-volta com a agilidade de um felino. Tarde demais! Um grito terrível surgiu de seus lábios, quando cambaleou para trás, levantando os braços. Natala a viu durante um segundo; era uma silhueta branca, presa do pânico, destacada contra uma enorme massa negra que lançava-se contra ela. Logo a figura branca deixou de tocar o chão com os pés, a sombra recuou com ela, e Natala ficou sozinha no círculo de tênue luz, meio desmaiada de horror. Das sombras negras, chegaram até ela uns sons incompreensíveis que gelaram-lhe o sangue. Ouviu a voz de Thalis suplicando desesperadamente, mas ninguém respondeu. Não se ouvia outro som além da voz aterrorizada da stígia, que de repente explodiu em gritarias de dor, e depois em gargalhadas histéricas misturadas com soluços. Depois de alguns segundos, Natala ouviu um ofego convulsivo. Logo, cessaram os ruídos e reinou um terrível silêncio no corredor secreto.
Natala sentiu náuseas, devido ao horror, e fez um esforço para voltar a olhar para o local por onde havia desaparecido a sombra negra de Thalis. Não viu nada, mas teve a sensação de um perigo latente, de uma ameaça que não acabava de compreender. Lutou contra a histeria que começava a se apoderar dela. A dor de seus pulsos feridos e de seu corpo ficou relegada diante da proximidade da ameaça, que não só punha em perigo seu corpo, mas também sua alma.
Aguçou a vista para ver além do círculo de luz, com todos os nervos tensos por medo do que pudesse acontecer. Abafou um grito. A escuridão estava tomando forma. Algo enorme e avultado surgia do negro vazio. Viu uma cabeça disforme e gigantesca que entrava no círculo luminoso. Ao menos era o que isso pareceu a Natala, embora não fosse a cabeça de um ser normal. Viu um enorme rosto, semelhante ao de um sapo, cujos traços eram tão imprecisos quanto os de um espectro visto num pesadelo. Viu umas grandes luzes que poderiam ser uns olhos que piscavam e olhavam-na, e então a jovem tremeu diante da luxúria cósmica que refletia-se neles. Não conseguia ver o corpo da criatura. Sua silhueta parecia alterar-se e esfumaçar-se sutilmente, cada vez que o olhava. No entanto, a substância da qual era feito parecia ser bastante sólida. Não havia nada de nebuloso nem fantasmagórico nele.
Quando chegou mais perto dela, Natala não pôde ver se arrastava-se, caminhava ou flutuava no ar. Sua maneira de locomover-se era incompreensível para ela. E, quando saiu completamente das sombras, Natala ainda não estava totalmente certa do quê se tratava. A luz da pedra não o iluminava como poderia tê-lo feito com uma criatura normal, pois por mais impossível que parecesse, aquele ser era imune à luz. Seus traços continuavam sendo escuros e indefinidos, apesar de ter parado tão perto dela, que ela quase poderia tocá-lo. Só o enorme rosto de sapo parecia ter certa claridade. O restante era um borrão, uma sombra negra à qual a luz normal não iluminaria nem dissiparia.
Natala pensou que havia enlouquecido, pois não podia dizer se aquela coisa olhava-a de cima ou de baixo. Era incapaz de distinguir se o repugnante rosto contemplava-a das sombras que haviam a seus pés, ou a observava de uma enorme altura. Mas se sua visão havia convencido-a de que, fossem quais fossem suas características, era feito de substância sólida, seu tato confirmou esse fato. Um membro, que parecia um escuro tentáculo, deslizou ao redor de seu corpo e Natala gritou quando sentiu esse contato em sua carne nua. Não era frio nem quente, nem áspero nem liso. Jamais uma coisa semelhante havia tocado-a. E, naquele instante, soube que, fosse qual fosse a forma de vida que aquilo representava, não se tratava de um animal.
Começou a gritar sem controle, enquanto o monstro lançava-se sobre ela, como se quisesse arrancá-la brutalmente de suas ataduras. E então algo soou sobre suas cabeças, e uma forma humana cruzou o ar, caindo sobre o chão de pedra.
Quando Conan deu meia-volta, percebeu que o tapete voltava ao seu lugar e ouviu o abafado grito de Natala. Então lançou-se contra a parede, rugindo como um leão. Ao recuar, devido ao poderoso impacto, o qual teria fraturado os ossos de um homem normal, arrancou o tapete, deixando à mostra o que parecia ser uma parede lisa. Dominado por uma fúria terrível, levantou o pesado sabre para golpear o mármore, mas então outro ruído fê-lo girar sobre seus calcanhares.
Diante dele, havia um grupo de indivíduos amarelados, com túnicas azuis e espadas curtas na mão. Ao voltar-se, os homens lançaram-se sobre ele, proferindo gritos hostis. Enlouquecido pelo desaparecimento da garota, o bárbaro contra-atacou.
Ao saltar para a frente, sentiu uma terrível sede de sangue, e então o primeiro atacante, cuja espada saltou pelos ares ao se chocar com seu sabre, caiu pesadamente ao chão. Conan deteve um braço que descia sobre ele, e a mão que segurava a outra espada voou longe, espirrando sangue. Mas o cimério não se detinha, nem vacilava. Com outro movimento de pantera acuada, evitou o ataque de dois homens, e a espada de um deles, ao errar o alvo, afundou no peito de outro.
Das outras gargantas, surgiu um brado de surpresa, e então Conan se permitiu soltar uma gargalhada ao derrubar outro dos homens de Xuthal, que rolou pelo chão com as entranhas de fora.
Os guerreiros de Xuthal uivavam como lobos enlouquecidos. Pouco habituados à luta, eram ridiculamente lentos e desajeitados em comparação ao bárbaro, cujos movimentos eram de uma rapidez só possível para alguém perfeitamente treinado para a batalha. Os homens tropeçavam entre si e atacavam rápido demais ou com lentidão excessiva, e dessa forma os golpes se perdiam no ar.
No entanto, e apesar de seus evidentes defeitos, os homens de Xuthal não careciam de valentia. O cercavam gritando e atacando, e surgiam mais e mais indivíduos das portas vizinhas, despertados pelo clamor da batalha.
Conan, sangrando por um ferimento que tinha na fronte, esvaziou o espaço por um momento com um giro mortal do sabre, e logo deu uma rápida olhada ao seu redor, buscando uma saída. Nesse momento, viu que o tapete que havia numa das paredes tinha sido empurrado, e deixava à mostra uma escada estreita. Nesta última encontrava-se um homem luxuosamente ornamentado, piscando preguiçosamente, como se acabasse de despertar. A visão e a ação de Conan foram simultâneas.
Saltou como um tigre por cima do círculo fechado de espadas, sem que o tocassem, e logo correu para a escada com os demais homens atrás dele. Três deles defrontaram-se com ele nos primeiros degraus de mármore, e Conan atacou-os com a fúria de um leão. Houve um momento em que as lâminas relampejaram como raios numa tempestade de verão.
Logo, o grupo se desfez e Conan subiu a toda velocidade pela escada. Os demais homens perseguiram-no, saltando por cima de três corpos que se retorciam no chão.
Quando Conan subia pela escada de mármore, o homem que se encontrava na parte superior desta parecia despertar completamente de seu estupor e desembainhou uma espada, que resplandeceu com um brilho frio sob a luz de rádio. Estendeu a lâmina para baixo, mas Conan evitou-a rapidamente, e a ponta roçou-lhe as costas. O cimério ergueu-se imediatamente e golpeou com seu sabre para cima, como um açougueiro, ao mesmo tempo em que se apoiava com toda a poderosa força de seus ombros.
O golpe foi tão terrível, que o ato de enfiar a arma até o cabo no ventre do inimigo não deteve Conan. Esbarrou na parede oposta, enquanto o individuo da escada, com o corpo quase partido em dois, rolava pelos degraus abaixo, arrastando vários homens consigo.
Conan se apoiou, atordoado, contra a parede durante um momento, e os fitou. Logo, empunhando o sabre ensangüentado, entrou numa habitação vazia. Atrás dele, a horda gritava com tanta fúria e horror, que Conan imediatamente achou que tinha matado algum homem importante, talvez o rei daquela fantástica cidade.
Correu às cegas, sem direção. Tentava desesperadamente encontrar Natala, já que estava certo de que a garota precisava urgentemente de ajuda. Mas naquele momento, perseguido pelos guerreiros de Xuthal, a única coisa que podia fazer era correr, confiando à sorte a possibilidade de evitá-los e de encontrar a jovem. Entre aquelas moradias mal-iluminadas, logo perdeu todo senso de orientação, e não chegou a ser estranho ele entrar numa habitação na qual, no mesmo instante, seus inimigos também entravam.
Ao verem-no, gritaram vingativamente e lançaram-se contra ele. Conan soltou um grunhido e deu meia-volta para fugir na outra direção, pelo mesmo caminho que havia percorrido antes. Pelo menos, era isso o que ele pretendia. Mas quando entrou numa moradia ocupada, se deu conta do seu equívoco. Todas as habitações que havia atravessado depois de subir as escadas, estavam vazias. Naquela última, havia alguém que, ao vê-lo entrar, pôs-se de pé, gritando.
Conan viu uma mulher de pele amarelada, coberta de jóias, que o fitava com os olhos arregalados. A mulher estendeu a mão rapidamente e puxou uma grossa corda de seda que pendia da parede. O chão cedeu sob os pés de Conan, e nem sequer seu formidável instinto pôde livrá-lo de cair na negra boca que se abriu sob ele.
Conan caiu como um gato sobre seus pés e uma mão, e apoiou instintivamente a outra no cabo de seu sabre. Um grito familiar chegou até seus ouvidos, quando deu meia-volta como um lince encurralado que mostra seus dentes numa atitude ameaçadora. Conan, olhando por baixo de sua longa cabeleira, viu o corpo branco de Natala, que se retorcia no meio do abraço lascivo de uma forma negra de pesadelo, que só podia ter nascido nas próprias fossas do inferno.
Em outras circunstâncias, ver aquela monstruosidade teria gelado o sangue nas veias de Conan. Mas, ao ver sua amiga naquela situação dramática, sentiu que a violência o cegava e atacou o monstro. Este soltou a garota para cuidar de seu atacante. O enlouquecido sabre de Conan cortou o ar com a velocidade de um raio e atravessou o enorme vulto negro, aquela massa estranhamente viscosa, para depois golpear o chão de pedra, do qual arrancou um miríade de faíscas. Conan caiu de joelhos ao solo, pelo impacto do golpe. Não havia encontrado a resistência que esperava. Quando se ergueu, o monstro já estava sobre ele.
Erguia-se sobre sua cabeça como uma nuvem negra e viscosa. Parecia flutuar a seu redor em fios quase líquidos, envolvendo-o e afogando-o. O sabre golpeou uma e outra vez, e Conan sentiu o contato de um líquido espesso semelhante ao sangue. Mesmo assim, sua fúria não cessou.
Conan não tinha certeza se estava enfrentando os braços do monstro, ou se estava enfiando a arma em seu corpo. O gigantesco cimério saiu expelido de um lado a outro pela violência do combate, com a impressão de que não estava lutando com um só ser vivo, mas contra um exército. Aquela coisa mordia, arranhava, esmagava e golpeava, tudo ao mesmo tempo. Sentiu que uns dentes e umas unhas longas cravavam-se em sua carne. Parecia-lhe que uns tentáculos, como cabos de aço, apertavam-lhe os membros e tronco e, o que era pior ainda, que uma espécie de chicote, formado por escorpiões, caía vez ou outra sobre seus ombros e seu peito, arrancando-lhe a pele e enchendo suas veias com um veneno que era como fogo líquido.
Os dois haviam rolado para fora do círculo de luz. O cimério lutava na mais profunda escuridão. Em um momento de luta, cravou os dentes na substância flácida de seu oponente, como uma fera, enojando-se quando a substância esgueirou-se como uma borracha viva entre suas mandíbulas de aço.
Em meio ao turbilhão da batalha, os dois rolaram de um lado a outro do corredor, cada vez mais distante. O cérebro de Conan nublou-se pelo tormento que estava recebendo, e sua respiração ficou difícil. De repente, por cima de sua cabeça, viu um rosto semelhante ao de um sapo, iluminado por uma tênue luz, que parecia partir do mesmo. Lançando um grito que era na verdade uma maldição, Conan saltou e atacou com todas as suas forças. O sabre afundou, até o cabo, em algum lugar debaixo daquele rosto espantoso, talvez no pescoço, e imediatamente um tremor convulsivo agitou a massa negra que envolvia o cimério. Com um estalo vulcânico de contrações e expansões, a coisa cambaleou, recuou e rolou com fantástica velocidade pelo corredor. Conan o perseguiu, sem deixar de atacar, invencível, apertando-se contra o monstro, como um cão-de-caça, sem soltar o punho do sabre, que não conseguia arrancar da massa viscosa.
Naquele momento, a coisa brilhou com um resplendor fosforescente que cegou Conan, ao mesmo tempo em que sentia a enorme massa separar-se dele, deixando seu sabre livre. A arma e a mão que a sustentava golpearam no vazio pela última vez. O corpo brilhante do monstro caiu como um meteoro e Conan, completamente aturdido, notou que se encontrava na beirada de um poço, de abertura muito larga, com superfície escorregadia. O cimério ficou apoiado sobre este durante um momento, observando como a coisa brilhante desaparecia no fundo, até tocar uma superfície resplandecente que, durante um segundo, pareceu ascender quase até a superfície do próprio poço. Conan olhou pela última vez para o negro abismo, no qual reinava o mais absoluto silêncio.
Lutando em vão para livrar-se de suas amarras de seda, Natala tentou perfurar a escuridão com seus olhos, bem além do círculo de luz que a rodeava. Sua língua parecia estar pregada ao céu da boca. Viu que Conan desaparecia nas sombras, numa luta mortal com o demônio desconhecido, e os únicos sons que chegaram a seus ouvidos tinham sido os terríveis ofegos do bárbaro, o impacto dos corpos que lutavam e os selvagens golpes, dados na escuridão. De repente, tudo parou; Natala balançava-se em suas amarras, quase inconsciente.
O ruído de uns passos tiraram-na de sua apatia, e ela viu Conan, que surgia da penumbra. A jovem reconheceu sua própria voz, num grito que se repetiu a cem ecos ao longo do túnel. Era difícil ver o castigo físico que o cimério havia recebido. A cada passo, ele pingava sangue. Seu rosto estava esfolado e ferido como se tivesse sido golpeado por uma clava. Seus lábios estavam reduzidos a polpa, e o sangue escorria por seu rosto de um ferimento no couro cabeludo. Havia cortes profundos nas coxas, panturrilhas e braços; grandes contusões eram visíveis nos membros e corpo, resultantes de impactos contra o chão de pedra. Mas os ombros, as costas e os músculos peitorais eram os que mais haviam sofrido. A carne estava marcada, inchada e lacerada, a pele pendia desses ferimentos, como se tivesse sido açoitada por chicotes de arame.
- Oh, Conan! – soluçou a jovem – O que aconteceu?
O cimério não tinha forças nem para falar, mas seus lábios feridos esboçaram um leve sorriso, ao aproximar-se da garota. Seu peito peludo, brilhante de suor e sangue, ofegava intensamente. Levantou os braços com grande esforço e cortou as cordas que mantinham a jovem amarrada na parede. Logo, caiu de costas sobre esta, com as trêmulas pernas separadas, que já não o sustentavam por mais tempo. A jovem ergueu-se de onde havia caído e o abraçou, soluçando histericamente.
- Oh, Conan, você está gravemente ferido! Oh! O que faremos?
- Não se pode lutar contra um demônio dos infernos e sair-se bem da luta. – disse o cimério, ofegando.
- Aonde está? – sussurrou Natala – Você o matou?
- Não sei. Caiu num poço. Estava feito em pedaços sanguinolentos, mas não posso assegurar que o aço o tenha matado.
- Oh, suas costas!
- Ele me deu uma infinidade de chicotadas com um de seus tentáculos. – disse Conan, praguejando entre dentes ao se mover – Cortava como se fosse um arame e queimava como veneno. Mas o que mais me feriu foi a força com que me esmagou. Era pior que uma serpente píton. Parece que tenho metade das tripas fora do lugar
- O que faremos?
Conan olhou para ela. O alçapão do teto estava fechado. Nenhum ruído chegava até eles.
- Não podemos voltar pela porta secreta. – murmurou o cimério – Aquela moradia está cheia de homens mortos, e certamente haverá guerreiros vigiando ali. Devem ter acreditado que meu destino estava selado quando caí por este alçapão, pois do contrário teriam me seguido até aqui. Agora, pegue esta gema com rádio da parede... Quando vim para cá, vi algumas arcadas que davam passagem a outros túneis. Entraremos pelo primeiro que virmos. Talvez conduza a alguma cavidade exterior ou ao ar livre. Temos que nos guiar ao acaso. Não podemos apodrecer aqui dentro.
Natala obedeceu e Conan, sustentando o pequeno ponto de luz na mão esquerda e o sabre ensangüentado na direita, começou a caminhar pelo corredor. O fez lenta e rigidamente, já que a única coisa que o mantinha de pé era sua vitalidade animal. Em seus olhos injetados de sangue havia uma expressão vazia. Natala viu que o cimério passava a língua, de vez em quando, pelos lábios feridos. Sabia que seus sofrimentos eram terríveis. Mas Conan, com o estoicismo próprio dos bárbaros, não proferiu uma só queixa.
No momento seguinte, a tênue luz iluminou uma arcada negra, e Conan adentrou um novo túnel. Natala estremeceu diante da idéia do que podia esperá-los ali, mas a luz pôs em relevo a presença de um túnel quase igual ao que haviam deixado.
A jovem não tinha a menor idéia do caminho que haviam percorrido, até chegar a uma porta de pedra com tranca dourada.
Duvidosa, olhou para Conan. O bárbaro cambaleava e a luz, instável em suas mãos, produzia sombras fantásticas nas paredes e no chão.
- Abra essa porta, garota. – murmurou com voz cansada – Os homens de Xuthal estarão nos esperando, e não vou decepcioná-los. Por Crom, que esta cidade jamais viu um sacrifício como o que verão agora!
Natala se deu conta de que o cimério começava a delirar. Do outro lado da porta, não se ouvia nenhum ruído. A jovem pegou a gema de rádio das mãos de Conan, correu a tranca e abriu a porta. Viu a parte posterior de um tapete e o afastou para olhar para o interior da moradia, prendendo a respiração. A habitação estava deserta e no centro se via uma fonte.
A mão de Conan caiu pesadamente sobre um de seus ombros.
- Afaste-se, garota. – murmurou – Agora vem a festa das espadas.
- Não há ninguém aqui. Mas tem água...
- Sim, eu ouço o ruído. – respondeu o cimério, umedecendo os ressecados lábios com a língua – Beberemos antes de morrer.
Parecia estar cego. Natala tomou-lhe a mão e o guiou com cuidado, caminhando nas pontas dos pés e esperando ver, a qualquer momento sob as arcadas, muitos homens de pele amarelada.
- Beba enquanto eu vigio. – disse Conan em voz baixa.
- Não, não estou com sede. Estenda-se junto à fonte, para eu lavar suas feridas.
- Onde estão as espadas de Xuthal?
Conan passava constantemente o antebraço pelos olhos, como que tentando clarear a visão.
- Não ouço nada. Está tudo em silêncio.
Conan se ajoelhou junto à fonte, afundou o rosto na extensa vasilha de cristal e bebeu como jamais havia feito em toda a sua vida. Quando levantou a cabeça, seus olhos tinham uma expressão mais normal. O cimério estendeu-se no chão, como a jovem lhe havia sugerido, embora sem soltar o sabre que segurava na mão nem afastar seus olhos das arcadas. Natala lavou a pele dilacerada de Conan, e logo enfaixou-lhe os ferimentos mais profundos, aproveitando para isso uma cortina de seda.
Ao terminar sua tarefa, Natala gelou de surpresa. Sob uns tapetes que cobriam parcialmente a entrada de uma alcova, acabava de ver uma mão de pele amarelada.
Sem dizer nada a Conan, a jovem se levantou e cruzou calmamente a moradia, segurando com força a empunhadura da adaga do cimério. O coração batia-lhe aceleradamente, quando afastou a cortina com enorme cuidado. Sobre o estrado dormia uma jovem nua de pele amarelada, aparentemente morta. Junto à sua mão, uma jarra de jade quase cheia de um estranho líquido do elixir descrito por Thalis, o qual proporcionava vigor e vitalidade à degenerada Xuthal. Se inclinou sobre o corpo da jovem e apoderou-se da jarra, enquanto apoiava a ponta de sua adaga sobre o peito da garota. Mas esta não acordou.
Natala vacilou. Achou que seria muito melhor matar aquela jovem e eliminar, assim, o perigo de que despertasse e gritasse. Mas não se decidia em afundar o punhal do cimério naquele peito imóvel.
Por fim, fechou a cortina e voltou pra junto de Conan.
Se inclinou sobre ele e apoiou a borda da jarra em seus lábios. O cimério bebeu, a princípio mecanicamente, e depois com avidez. Diante do assombro de Natala, Conan sentou-se e tomou-lhe a jarra das mãos. Quando levantou o rosto, o cimério tinha os olhos claros e uma expressão normal. Grande parte do enorme cansaço físico havia desaparecido de seu rosto, sua voz era firme e já não delirava.
- Por Crom! Onde conseguiu isto?
A garota apontou com a mão e respondeu:
- Naquela alcova, onde há uma jovem amarela dormindo.
Mais uma vez, Conan bebeu o líquido dourado.
- Por Crom! – exclamou, exalando um profundo suspiro – Sinto que, por minhas veias, corre nova vida e uma força semelhante ao fogo. Deve ser o elixir da vida!
Pôs-se de pé e recolheu seu sabre do chão.
- Será melhor voltarmos ao corredor. – sugeriu Natala, nervosamente – Se ficarmos muito tempo aqui, nos descobrirão. Podemos nos esconder ali, até que seus ferimentos se curem...
- Eu não! – gritou o cimério – Não somos ratos que se escondem no escuro. Agora mesmo, deixaremos esta cidade endemoninhada e não permitiremos que ninguém nos detenha.
- Mas seus ferimentos...! – queixou-se a jovem.
- Não os sinto. Possa ser que este elixir tenha me proporcionado uma força falsa, mas lhe juro que não sinto dor nem fraqueza.
Com súbita determinação, Conan cruzou a moradia e se dirigiu a uma janela que a jovem não tinha visto. Natala olhou para fora por cima do ombro do cimério. Uma brisa fresca agitou-lhe uns cachos que caíam-lhe sobre a fronte. Mais acima, via-se o firmamento, que parecia de veludo negro semeado de estrelas. Sob eles, estendia-se o que parecia ser o deserto.
- Thalis disse que a cidade era um enorme palácio. – murmurou Conan – Evidentemente, algumas das moradias estão construídas como torres nas muralhas. Esta é uma delas. O acaso nos guiou bem.
- O que quer dizer? – perguntou Natala, olhando apreensivamente por cima de seu ombro.
- Há uma jarra de cristal sobre essa mesa de marfim. Encha-a de água e amarre uma tira de seda ao seu pescoço, para fazer uma alça, enquanto eu rasgo este outro tapete.
A jovem obedeceu sem fazer nenhum comentário e, quando terminou sua tarefa, viu que Conan unia rapidamente longas tiras de seda para fazer uma corda grossa, da qual ele amarrou uma das pontas a um pé da enorme mesa de marfim.
- Provaremos de novo no deserto. – disse Conan – Thalis falou de um oásis, que havia a um dia de marcha para o sul, e de pradarias verdes. Se chegarmos a esse oásis, poderemos descansar até que meus ferimentos se curem. Este vinho é magia pura. Há pouco, eu estava quase morto, e agora estou preparado para qualquer coisa. Aqui resta seda suficiente para lhe fazer um vestido.
Natala havia esquecido sua nudez. O fato em si não preocupava-a em absoluto, mas sua pele delicada precisava de proteção contra o sol do deserto. Enquanto a jovem prendia um pedaço de seda ao corpo, Conan deu meia-volta e, com um gesto desdenhoso, arrancou as frágeis barras de ouro da janela. Conan envolveu a cintura de Natala com a ponta solta da grossa corda e mandou que ela segurasse a mesma com ambas as mãos. Então, subiu-a até a janela e fê-la descer os dez metros que separavam-nos do solo. Uma vez em terra, Natala libertou-se da corda, a qual Conan recolheu. Depois, pegou as jarras de água e vinho para enviá-las à jovem e desceu rapidamente.
Quando o cimério chegou a seu lado, Natala soltou um suspiro de alívio. Permaneceram imóveis, ao pé da grande muralha, durante uns instantes, com as estrelas pálidas sobre suas cabeças e o deserto nu diante deles. Natala ignorava os perigos que ainda lhe esperavam, mas estava contente em encontrar-se fora daquela cidade irreal e fantasmagórica.
- Talvez encontrem a corda. – grunhiu Conan, carregando as jarras sobre o ombro, que encolheu ligeiramente quando elas tocaram-lhe os ferimentos – Podem até nos perseguir, mas a julgar pelo que Thalis disse, eu duvido. Por aqui, se vai até o sul. Portanto, em algum lugar nessa direção, está o oásis. Vamos!
Tomando a mão da jovem com uma cortesia pouco habitual a ele, Conan começou a caminhar sobre a areia, ajustando seu passo ao ritmo curto e breve da garota. Não voltou a olhar a silenciosa cidade, que permanecia às suas costas, sumida no sonho.
- Conan... – murmurou Natala, finalmente – Quando você voltou pelo corredor, depois de lutar com o monstro... viu Thalis?
Conan negou com a cabeça e disse:
- O corredor estava muito escuro, mas também vazio.
Natala estremeceu.
- Ela me torturou..., mas lamento por ela.
- Foi uma calorosa recepção a que nos deram nessa maldita cidade. – rosnou Conan, recuperando seu bom-humor natural – Bom, eles recordarão de nossa visita durante muito tempo. Há sangue para limpar durante dias e, se seu deus não morreu, certamente estará mais ferido que eu. Depois de tudo, nos saímos bem. Temos vinho e água, e também boas possibilidades de chegar a uma nação habitável, embora eu pareça ter passado pela pedra de um moinho e você também...
- Foi tudo culpa sua. – interrompeu Natala – Se você não tivesse olhado tanto e com tanta admiração para aquela stígia vadia...
- Por Crom e todos os seus demônios! – exclamou Conan – Mesmo que os oceanos inundem a terra, as mulheres encontrarão tempo para sentirem ciúmes. Por acaso, eu pedi àquela stígia que se apaixonasse por mim? E, por fim, ela era humana!
Fontes: http://www.ebooket.net/ e Conan O Cimério, Vol 2 (Ed. Conrad).
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