De Volta às Estepes

(por Fernando Neeser de Aragão)



1)

- A chuva caía torrencialmente e, em meio a enchentes que transformavam montanhas, planícies e florestas em lamaçais, os turanianos avançavam inflexíveis – o estalajadeiro conta a um homem que se senta ao seu lado, na taverna. – Afogavam-se nas agora turbulentas nascentes do Rio Ilbars, nas montanhas a leste daqui, e perdiam grandes quantidades de armas e suprimentos, quando barcos afundavam; pontes cediam e carroças atolavam. Mas seguiam em frente, impelidos pela vontade implacável de seu líder Yavuz Khan e devastando as terras como um vendaval que precede a tempestade.

“Os céus ardiam em vermelho e os gritos das vítimas chacinadas chegavam indistintos aos nossos ouvidos, carregados pelo vento”, prossegue o taverneiro. “Por vezes, podiam-se discernir as aglomerações escuras e infestantes dos cruéis cavaleiros. Diante dos invasores hirkanianos, a estrada era coalhada por fugitivos lastimosos; atrás deles, o caminho se estendia vermelho e silencioso, coberto por corpos mutilados que já não gritavam mais.

“Em meio ao caos infernal que se desencadeara, cinco mil desafortunados não-combatentes – velhos, mulheres e crianças – foram impiedosamente deixados à própria sorte do lado de fora dos portões desta cidade. Seus gritos, quando os turanianos caíram sobre eles, enlouqueceram as pessoas que haviam ficado dentro das nossas muralhas. Aqueles demônios em aço, seda e ouro chegavam aos milhares, galgando as encostas e lançando-se contra nossa cidade em grupos desordenados, como abutres em volta de um animal moribundo. Meia hora depois, não restava um zamoriano vivo do lado de fora dos portões de Dakhelet, exceto nossas mais belas mulheres, escravizadas pelos cães de Turan”.

O ouvinte, um cimério de emaranhada cabeleira negra e vulcânicos olhos azuis, termina sua bebida. Até recentemente um líder zuagir, ele havia deixado os desertos do sul e leste para tentar vender sua espada a oeste, atravessando as estepes turanianas e indo parar naquela cidade de Zamora, próxima a uma cadeia de montanhas que constitui a fronteira leste daquele país.

- Eu vi tudo isso enquanto vinha para cá, taverneiro – ele diz, com um olhar sombrio. Seu ódio pelos turanianos remonta a quase 10 anos, quando perdeu uma parceira e vários amigos num ataque frustrado a Khorusun, só fez aumentar com o massacre dos Companheiros Livres, anos depois, e, mais recentemente, depois do massacre de seus zuagires. – E lutarei para defender sua cidade.

- O que você quer em troca, Conan? Temos tão pouco ouro, que o vinho está praticamente se tornando nossa moeda!

Ele abre um sorriso e responde:

- Aceitarei um barril de vinho como pagamento – e, voltando o sorriso para uma das prostitutas dali, enquanto acaba de comer: –, além de uma das mulheres desta estalagem.

- Feito! – responde o taverneiro, ao perceber que a zamoriana sorri para Conan com o mesmo desejo no olhar, e ao ver o cimério deixar as três moedas de ouro sobre a mesa, pouco antes de subir com a jovem a um dos quartos locais.

* * *

No dia seguinte, do alto das muralhas, Conan olha para baixo, em direção à massa de rostos morenos e aquilinos de dentes arreganhados, que irrompem escadas acima, com olhos injetados como os de cães raivosos e lâminas que reluzem como o sol sobre a água. Firmando os pés, com as pernas afastadas, ele ergue a grande espada zuagir, que desce num movimento cortante. De queixo erguido, seus vulcânicos olhos azuis cintilam. Sua lâmina afunda em elmos e crânios, atravessando escudos erguidos e malhas de aço. Homens caem das escadas, os dedos sem força escorregando dos degraus ensangüentados.

Mas eles entram aos borbotões pela brecha de cada lado do cimério. Um clamor horrível anuncia que os turanianos conseguiram um ponto de apoio na muralha. Porém, homem algum ousa abandonar seu posto para ir até o local ameaçado. Parece, aos aturdidos defensores, que a cidade zamoriana de Dakhelet se encontra envolvida por um cintilante mar revolto, cujas ondas se quebram cada vez mais alto ao redor das muralhas. Recuando para evitar ser cercado, Conan, com seus olhos ainda ardendo como uma fogueira azulada, grunhe e golpeia à direita e esquerda. Há vários turanianos caídos aos seus pés; sua cimitarra larga ressoa em meio a uma floresta de iatagãs dançantes. Esquivando-se do golpe de uma delas, ele revida, perfurando o coração de mais um adorador de Tarim. O sangue jorra sobre suas mãos, e Conan arranca a espada do corpo do turaniano. A seguir, com um longo urro, a figura ensangüentada e ameaçadora do cimério volta a brandir sua enorme lâmina, colidindo contra os curvos iatagãs turanianos e golpeando numa velocidade à qual os olhos não conseguem acompanhar; sua espada é um borrão de fogo azulado e os inimigos tombam como trigo maduro diante da ceifadora. Forçados irresistivelmente a recuar, os turanianos vacilam na beira da muralha, mas acabam saltando para as escadas, ou caindo aos gritos no espaço que se abre sob seus pés. Pragas saem sem parar dos lábios finos de Conan, que ri loucamente enquanto a espada corta os soldados de Turan e o sangue jorra da beira da muralha.

Por todos os lados, os turanianos recuam, enquanto os zamorianos, ajoelhados atrás das ameias, atiram de volta com seus arcos. Em outras partes dos muros da cidade, animados pelo gigante cimério cuja ira supera a de um leão ferido, os zamorianos brandem ensandecidamente suas espadas, lanças e machados, transformando as muralhas da cidade num matadouro, semeado de turanianos decepados, mutilados, ensangüentados e mortos. Os sobreviventes recuam atordoados e em desordem, só assumindo certa formação militar quando o maligno e cruel general Yavuz Khan assume a liderança deles, e retorna frustrado para leste, levando como troféus apenas as cabeças dos zamorianos mortos, bem como as poucas zamorianas que conseguira escravizar, para vendê-las nos mercados turanianos.

Aclamado pelo povo da cidade fronteiriça de Dakhelet, Conan passa mais uma noite com a zamoriana que ele conhecera antes do frustrado cerco de turanianos, bebe vinho e come à vontade, e ainda parte dali com uma bolsa cheia de moedas de ouro, dada a ele pelo agradecido povo local.


2)

Ali, da sela de seu cavalo, seu olhar percorre os quatro pontos cardeais e não encontra obstáculo. São léguas e léguas de estepes. Mas ele sabe que, não muito longe, fica o Rio Zaporoska, que corre desde suas nascentes no leste de Koth, até desembocar no Mar de Vilayet. Para aquele rio e estepes, fogem os soldados desertores, os perseguidos da lei, os contrabandistas, os párias, os bandidos, os homens falidos, escravos foragidos, soldados desertores e outros foras-da-lei. As estepes são livres; nunca foram domadas. Anos após a primeira chegada daquele cavaleiro, aquele território ainda desafia o poder turaniano, com a mesma força de meio século atrás, quando homens de muitos crimes e países – alguns nascidos nas estepes, e outros refugiados de reinos do oeste – começaram a povoar as estepes amplas e selvagens, não seguindo outra lei, a não ser seu próprio código peculiar. São os kozakis – um povo capaz de desafiar até mesmo o Grande Monarca Yezdigerd de Turan, irmão do falecido Yildiz, a quem o atual rei envenenara para lhe tomar o trono.

Conan olha para os ermos, de um lado a outro. Então, ele se sobressalta. Além da vegetação ao redor do rio, irrompem quatro figuras, às quais seus olhos agudos reconhecem como cavaleiros, correndo em sua direção – um deles à frente dos outros. Conan segura com a mão as rédeas de um belíssimo cavalo zamoriano, ganhado em Dakhelet em troca de seu cavalo zuagir. Agora, ele cavalga suavemente, batendo de leve a espada embainhada, e se dirige a um esparso agrupamento de árvores, que se encontra próximo. Ele não acredita que os cavaleiros a chegarem venham para atacá-lo – a atitude deles o faz acreditar que os três de trás perseguem o quarto.

Aproximam-se rapidamente, e logo Conan vê que sua suposição está correta. O homem da frente oscila na sela, e um braço pende flácido. Ele guia seu cavalo com a outra mão e segura uma espada quebrada entre os dentes. É alto e jovem, e cavalga como o vento, sua emaranhada cabeleira amarela esvoaçando à brisa. Mas os perseguidores se aproximam rapidamente. São tão altos quanto o perseguido, e montam em cavalos puro-sangue. Enquanto se aproximam do esconderijo do cimério, Conan vê que eles são escuros, vestem malha de aço, usam turbantes e vestes de seda, e elmos dourados. Seguram iatagãs e, sobre suas camisas, está estampada a figura do Lobo Branco de Turan.

O pensamento de Conan fica pronto em um instante. A desavença não é com ele; mas lá longe, três turanianos armados caçam um guerreiro ferido, o qual é certamente um kozak. Um ódio instintivo lhe queima dentro do peito. Desde a tentativa fracassada de tomar Khorusun, e o extermínio dos Companheiros Livres e zuagires, o ódio de Conan pelos turanianos é quase tão grande quanto o que o cimério sente pelos pictos, vanires e hiperbóreos.

Agora, o jovem de cabelos amarelos atravessa trovejante o esparso arvoredo, e o perseguidor mais próximo está quase ao seu lado. Uma cimitarra erguida brilha numa mão escura, e um grito feroz de triunfo se ergue aos céus – para ser transformado num arquejo de surpresa, quando uma figura inesperada sai rapidamente das árvores.

Como uma flecha lançada por uma atiradeira, o grande cavalo zamoriano se espatifa com tudo contra a montaria do turaniano. Não houve tempo para virar o cavalo e evitar o impacto. Atacando pelo lado, o cavalo de Conan lança o puro-sangue de cabeça para baixo, atirando o montador ao chão, onde seu elmo lhe cai da cabeça e um fustigante casco de cavalo faz seus miolos espirrarem.

Conan conduz o cavalo ao redor, para enfrentar o ataque dos turanianos remanescentes, que uivam como lobos assombrados e raivosos, mas eles o atacam de ambos os lados. O cimério apressa a montaria para encontrar o mais próximo, antes que o outro possa alcançá-lo pelo outro lado. A cimitarra curva zurze em direção à cabeça de Conan, mas o bárbaro, guiando o cavalo com os joelhos, apara a lâmina com seu escudo e ataca quase simultaneamente. O enorme gume afiado, no centro do grande broquel, atravessa o turbante e divide o crânio sob ele. Enquanto o turaniano despenca de sua sela, Conan gira para trás pra desviar a cimitarra que já paira sobre ele. O jovem loiro tinha visto a luta e avança para ajudar seu salvador, mas a mesma está terminada antes que ele possa alcançá-lo.

O turaniano remanescente ataca pelo lado esquerdo de Conan, uivando e brandindo a lâmina feito um louco, acreditando que o cimério não conseguirá alcançá-lo com a espada vermelha sem virar o cavalo ou passar a arma para a mão esquerda. Mas, enquanto ele se lança açoitando, o jovem loiro vê um truque de batalha do qual nunca ouvira falar. Conan se ergue em seus estribos, se retorce na sela e inverte o procedimento usual. Ele apara a lâmina sibilante com a espada e ataca com o escudo. O uivo de triunfo do turaniano se torna um medonho gorgolejo, quando a ponta no centro do escudo rasga-lhe a veia jugular. O sangue inunda o escudo de Conan, e o turaniano cambaleia à terra, onde morre, agarrando a barba manchada de vermelho.

Conan se vira para ver o jovem ferido, conduzindo o cavalo para perto.

- Agradeço-lhe, irmão, seja você quem for – diz o loiro. – Estes cães teriam levado minha cabeça para Yavuz Khan, se não fosse por você. Quatro deles me perseguiam entre os juncos do rio. Matei um... pelos deuses, ele nunca mais perseguirá meu povo. Mas eles despedaçaram minha espada, quebraram meu braço e eu tive que fugir. Diga-me seu nome, para que possamos ser irmãos.

- Sou Conan, um cimério – responde o bárbaro. – Vim de Zamora e agora estou perambulando pelas estepes, em busca dos kozakis.

- Eu sou Somakeld – diz o jovem –, e meu povo são os kozakis, moradores das estepes. Meu clã está acampado logo além da linha do céu, lá longe. Venha comigo e deixe o Povo Livre lhe dar as boas-vindas.

- Percebi isso quando vi suas vestes zaporoskanas, Somakeld – sorri Conan. – Mas primeiro, me deixe ver este braço.

Embora o jovem tenha rido do arranhão, como chamou. Conan, habilidoso em cuidar de ferimentos, encaixa o osso quebrado e enfaixa o profundo corte de sabre tão bem quanto pode, com lama e teias-de-aranha, tiradas das árvores raquíticas. Somakeld não solta nenhum resmungo de queixa e, quando o serviço fica pronto, agradece ao cimério com silenciosa cortesia. Depois, cavalgam em direção ao acampamento kozak.

- Como sabe falar minha língua? – perguntou o rapaz.

- Perambulei durante meses por entre as estepes turanianas, em outras ocasiões – responde Conan –, quando andei ao lado dos Companheiros Livres.


É noite num dos acampamentos do Povo Livre. O último comentário de Conan a Somakeld fez com que o jovem o reconhecesse; e agora, todos aclamam o retorno do homem que havia matado, alguns anos atrás, o infame turaniano Shah Amurath. Mas, nunca tendo sido antes um líder kozak, Conan descobre que é necessário unificar cinco ou mais bandos para se tornar um hetman das estepes. O cimério prontamente aceita o desafio, o qual consiste em ficar no centro de uma enorme roda de madeira com seis raios, com um líder kozak armado em cada raio e o desafiante sozinho, postado no eixo. O bárbaro nunca foi de esperar, e assim ele investe contra o primeiro, abrindo-lhe o crânio até o pescoço, num giro descendente de sua espada.

Em seguida, ele salta para o outro raio, esquivando-se de um giro de sabre que teria lhe decepado a cabeça, acertando um chute nos testículos do pretenso assassino e lhe decepando a perna esquerda, num enorme jato de sangue sobre a madeira do círculo. Tal desafio seria muito difícil para um homem comum, mas não para aquele bárbaro, cuja força, agilidade, habilidade espadachim e resistência eram quase uma lenda, desde Nordheim até os Reinos Negros. Derrubando um terceiro com um giro fatal da cimitarra nas tripas, Conan sai do eixo e se dirige a um dos raios da roda, onde apenas um homem pode se aproximar a partir do centro.

A furiosa independência dos bandos kozakis os impede de traçar uma estratégia conjunta – afinal, algum deles poderia correr facilmente pela curva externa da roda, para um ataque simultâneo. Mas o kozak mais adiantado ataca o cimério pela frente; assim sendo, por que os outros dois se contentariam com uma investida covarde por trás? Deste modo, Conan agarra o mais adiantado pelo pescoço, atravessa-lhe o coração com a espada e arremessa seu cadáver em direção aos outros dois que vinham após – tudo isso, no intervalo de um batimento cardíaco –, derrubando-os da enorme roda. Os dois sobreviventes se rendem, e Conan, conhecendo as regras do jogo, poupa suas vidas. Logo, o cimério se dirige aos zaporoskanos ali presentes:

- E então, kozakis? Estão prontos para me aceitar como hetman, ou preciso derrotar mais de vocês?

Os dois sobreviventes são os primeiros a sorrirem e aclamarem o cimério. Em seguida, uma celebração espontânea tem início, e Conan toma parte nela, comendo, bebendo, conversando, cantando e rindo com os homens dos seis bandos – agora unificados sob sua liderança – do Povo Livre, enquanto os cadáveres dos líderes são enterrados e o líder que perdera a perna recebe os devidos cuidados médicos, para não morrer por hemorragia.

* * *

- Por que vamos libertar aqueles escravos, chefe? – pergunta o coríntio Zitlos a Conan, do alto de uma elevação, onde avistam uma caravana de turanianos carregando escravos.

- Quanto mais gente lutando ao nosso lado, mais fortes nos tornaremos – responde o hetman, desembainhando a cimitarra.

A um comando do cimério, o qual abaixa a espada erguida, flechas certeiras são disparadas contra a caravana de escravistas, perfurando peitos, crânios, rostos, costas, pescoços e barrigas dos turanianos. Eles tentam revidar, mas não conseguem acertar o que não vêem. Logo, o hetman cimério desce até o vale com seus kozakis a cavalo, acertando turanianos a torto e a direito, e fazendo jorrar sangue, miolos e tripas a cada golpe mortífero de sua cimitarra.

Cavaleiros soberbos, os kozakis são capazes de passar longos períodos de tempo sobre suas selas. Graças a esse talento, têm a mobilidade necessária para empregar suas táticas de guerrilha. Suas montarias foram criadas a partir de cavalos roubados dos turanianos, quando não foram compradas dos zuagires – cujos cavalos são, por sinal, os melhores da era Hiboriana.

Ao se esquivar de um giro de sabre e perfurar o coração de um escravista, Conan solta a espada do peito deste, ao empurrar o moribundo com a sola de sua bota na barriga. A luta é breve. Os turanianos, em seus elmos dourados e cotas-de-malha feitas de aço, lutam como lobos, mas não são páreos para a fúria de tigre dos membros do Povo Livre. Enquanto Kitrus talha as costas de um turaniano que tentara matar Zitlos, Conan se esquiva da última flecha de outro guerreiro de Turan e investe até ele, decepando-lhe a cabeça antes que o turaniano possa usar sua recém-desembainhada espada.

Somakeld segura o punho de um turaniano encouraçado e lhe abre a garganta num giro sangrento. Ao mesmo tempo, Conan abre o ventre do último turaniano que sobrara – um dos soldados que guardavam as chaves –, fazendo-o cair moribundo, com as tripas de fora e o sangue jorrando sobre a terra. No golpe seguinte, o hetman cimério abre uma das jaulas de madeira, na qual belas escravas nuas e seminuas – da Britúnia, de Zamora, Shem, Stygia e Kush – estavam presas.

Depois, todas as jaulas foram abertas, os grilhões dos escravos foram quebrados por espadas ou abertos com as chaves, e os espólios dos escravistas divididos entre kozakis e ex-escravos. Os homens se integram à horda kozak, e as mulheres se tornam companheiras, tanto dos ex-escravos quanto dos salteadores de roupas coloridas que as libertaram. Duas ex-escravas – uma brituniana e uma zamoriana – abraçam e beijam o cimério, e ele as leva em seu cavalo – uma à frente de si, e outra na garupa – até o acampamento kozak. As curvas dos corpos das duas beldades excitam o bárbaro de roupas coloridas, bem como o forte odor de suor das duas mulheres.

* * *

É festa no acampamento kozak, ao qual os membros daquele bando do Povo Livre retornam. Gargalhadas e canções picantes ecoam pelo local. Um boi inteiro foi assado na fogueira, sua carne destrinchada, e todos comem e bebem à vontade.

Enquanto isso, na tenda do hetman, Conan, a zamoriana, de nome Simza e a brituniana, de nome Alba – que já haviam comido e bebido no acampamento –, começam a se despir. Alba beija os lábios de Conan, enquanto Simza se ajoelha e suga o falo ereto do cimério, bem como os testículos do mesmo, demonstrando toda a habilidade que suas conterrâneas têm de excitar um homem na cama. Logo, o líder kozak está sugando alternadamente os seios ainda suados de ambas, para, pouco depois, penetrar a vagina de Alba ao mesmo tempo em que suga a vulva de Simza. Percebendo que, assim como ela, a brituniana acaba de ter um orgasmo, Simza tira o falo de Conan da vagina de Alba e o põe na boca, onde ele ejacula abundantemente.

E antes que a zamoriana termine de receber todo o sêmen de Conan, Alba retira o pênis do cimério da boca de Simza, de modo que os dois últimos jatos de esperma do hetman atingem os olhos azuis da loira. Logo, a zamoriana sorri e engole o esperma do bárbaro, lhe beijando os testículos ao mesmo tempo em que a brituniana, com os olhos ardendo em contato com o sêmen de Conan – e incrivelmente excitada ao sentir tal ardência –, lhe beija a glande e diz “Obrigada!”, também com um sorriso nos lábios.


3)

Dias depois, o acampamento kozak é invadido por turanianos liderados por ninguém menos que Yavuz Khan, o qual fora mandado para lá sob ordens diretas do Rei Yezdigerd de Turan. O cavaleiro ao lado de Yavuz é tão alto quanto Conan, embora menos musculoso. Seus ombros são largos, e sua estrutura é dura como aço e flexível como ossos de baleia. Sua barba negra e curta não lhe disfarça totalmente a saliência agressiva do queixo magro, e seus olhos cinzentos, frios e penetrantes como uma espada, brilham sob o elmo dourado.

Conan o reconhece imediatamente: Olgerd Vladislav!

- Então, finalmente nos reencontramos, cimério! – gargalha Olgerd. – Quando lhe salvei daquela cruz, nunca imaginei que acharia um sobrevivente dos Companheiros Livres, a quem delatei. De qualquer modo, uma de suas cadelas, que se gabava de ser “A Rainha do Mar Azul de Vilayet”, já não vive mais, bárbaro – ele acrescenta, apontando uma cabeça pendurada pelos cabelos ao cinto. Chocado, Conan a reconhece: Olívia de Ophir!

O hiperbóreo proscrito investe contra o cimério, brandindo seu iatagã turaniano com a mão esquerda. Conan apara o golpe de Olgerd Vladislav com sua cimitarra kozak. Ambos estão loucos de ódio um pelo outro – Olgerd, por ter sido deposto, tempos atrás, pelo cimério, da liderança dos zuagires; e Conan, por finalmente saber que aquele zaporoskano adotivo havia sido o delator dos Companheiros Livres para Shah Amurath, além de ter visto e reconhecido a cabeça de sua ex-companheira Olívia, pendurada pelo cabelo, no cinto do infame Vladislav. Conan maneja sua lâmina mais habilmente que o hiperbóreo proscrito, mas o ex-líder dos kozakis e zuagires se esquiva de um giro mortal e tenta estocar o ventre do bárbaro. Ele também se esquiva para um lado e cruza espadas novamente com o assassino de Olívia, derrubando-o do cavalo e ele próprio saltando de sua montaria para enfrentar Olgerd a pé.

Tomado por fúria insana, o bárbaro investe contra o hiperbóreo, mas escorrega numa poça d’água daquele local. Olgerd dá um golpe descendente, tentando decepar o cimério, mas este rola no chão com uma agilidade impressionante e, erguendo-se de um pulo, ataca novamente – desta vez, abrindo o crânio de Vladislav num mortífero giro descendente, numa explosão de faíscas, sangue e miolos. No momento seguinte, a cimitarra do cimério atinge várias vezes o já inerte corpo flexível e encouraçado do traidor, cortando-o em inúmeros pedaços.

Quase esquecido que Olgerd Vladislav já morreu, Conan está tão possesso de ódio, que mal sente quando Yavuz Khan lhe corta o ombro esquerdo com um golpe do iatagã. Mesmo ferido e sangrando, o cimério gira e contra-ataca o turaniano. O bárbaro está quase derrubando-o do cavalo e vencendo-o, quando tropeça num cadáver turaniano atrás de si. Yavuz Khan agarra uma lança e está prestes a dar o golpe fatal, quando subitamente gorgoleja, espirrando sangue pela boca, antes de cair morto sobre o cimério. Uma estocada fatal do sabre de Somakeld nas costas do líder turaniano havia salvado a vida do líder kozak. Contudo, no momento seguinte, o jovem loiro é morto por uma flecha turaniana nas costas. Zitlos o vinga, rachando o crânio do assassino de Somakeld.

Mas a morte de Yavuz Khan e Olgerd Vladislav quebrou o moral dos invasores. Brandindo sua espada em movimentos rápidos e mortais, o implacável cimério inunda o solo de sangue, como um selvagem espírito assassino que até o inferno teria medo de acolher. Ele já não luta mais com técnica ou estilo, mas cada golpe é fatal... uma explosão da mais primitiva fúria animal... indomada pela civilização, desprovida de escrúpulos éticos, acentuada pelas mortes de Somakeld e Olívia, e inabalável até para o medo. Nenhum dos kozakis, a rechaçarem o ataque dos turanianos sem líder naquele acampamento, tem a ferocidade brutal e devastadora de Conan em combate contra os adoradores de Tarim.

Apenas dois turanianos remanescentes percebem que sua única chance é tentar fugir do bárbaro possesso de ódio. Só um deles logra êxito; o outro morre com as costas transpassadas pela espada do cimério, caindo do cavalo sobre o chão encharcado de sangue. O único sobrevivente, enquanto isso, sussurra uma apavorada prece a Tarim e Erlik, cavalgando rumo à salvação. A batalha terminou. Enquanto todos os kozakis dali aclamam o seu líder, este é abraçado pela zamoriana Simza, bem como por uma stígia e uma kushita. O cimério mal sente o abraço das três, devido à gigantesca melancolia que o acomete, agora que sabe da morte de Olivia. Apesar da ophiriana tê-lo, juntamente com Ivanos e o restante dos piratas aos quais comandara no Mar de Vilayet, traído e abandonado há três anos, o bárbaro guardava e guarda boas lembranças dos vários meses em que navegou com aquela ex-princesa e ex-escrava, a quem ele tornara Rainha do Mar Azul.


Após a vitória, todos os kozakis festejam à noite. Os kozakis mortos – dentre eles, o jovem Somakeld – foram enterrados ou cremados. A cabeça da falecida pirata Olívia foi cremada a mando de Conan, em memória aos bons momentos que ela e o atual hetman haviam passado juntos no Vilayet. Já as cabeças mutiladas e ensangüentadas dos infames Yavuz Khan e Olgerd Vladislav foram fincadas nas paliçadas do acampamento, como advertência aos turanianos que tentassem atacar aquele local novamente, enquanto seus corpos foram dados de comida aos abutres e a outros predadores dos pântanos e das estepes. Agora, durante as festividades feitas em comemoração à derrota dos turanianos de Yavuz Khan e seu aliado hiperbóreo, o líder cimério – agora bem menos melancólico do que horas atrás – finalmente comemora sua dupla vingança, fazendo sexo em sua tenda com Simza, Alba, bem como com a stígia de nome Kebechet, a qual o abraçara horas antes, juntamente com a kushita, a qual também participa da relação grupal – seu pequeno harém, ao qual se somarão mais tarde outras mulheres.

FIM


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Agradecimentos especiais: Ao howardmanícaco Fred Blosser, e ao howardmaníaco e amigo Deuce Richardson.

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A seguir: O Ocaso de um Povo Livre.




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