
'Saiba, ó Príncipe, que entre os anos quando os oceanos tragaram a Atlântida e as reluzentes cidades, e os anos quando se levantaram os Filhos de Aryas, houve uma era inimaginável, repleta de reinos esplendorosos que se espalharam pelo mundo como miríades de estrelas sob o firmamento. Nemédia; Ophir; Brithúnia; Hiperbórea; Zamora, com suas lindas mulheres de negras cabeleiras e torres de mistérios e aranhas; Zíngara, com sua cavalaria; Koth, que fazia fronteira com as terras pastoris de Shem; Stygia, com suas tumbas protegidas pelas sombras; Hirkânia, cujos cavaleiros ostentavam aço, seda e ouro. Não obstante, o mais orgulhoso de todos era Aquilônia, que dominava supremo no delirante oeste. Para lá se dirigiu Conan, o cimério, de cabelos negros, olhos ferozes, espada na mão, um ladrão, um saqueador, um matador, com gigantescas crises de melancolia e não menores fases de alegria, que humilhou sob seus pés os frágeis tronos da terra. Nas veias de Conan corria o sangue da antiga Atlântida, engolida oitocentos anos antes de sua época pelos mares. Ele nasceu num clã que reivindicava uma região a noroeste da Ciméria. Seu avô foi membro de uma tribo do sul que havia fugido de seu próprio povo por causa de um feudo de sangue e, depois de uma longa migração, refugiou-se entre os povos do norte. O próprio Conan nasceu num campo de batalha, durante uma luta entre sua tribo e uma horda de vanires. Não há registros de quando o jovem cimério teve o primeiro contato com a civilização, mas já era um lutador conhecido ao redor das fogueiras do Conselho antes de ter visto quinze invernos. Naquele ano, os cimérios esqueceram seus feudos e se uniram para repelir os gunderlandeses, que haviam forçado sua passagem pela fronteira da Aquilônia, construindo o posto fronteiriço de Venarium e colonizando os pântanos do sul da Ciméria. Conan era um membro da horda uivante, sedenta de sangue, que surgiu das colinas do norte, arremeteu-se com espada e tocha contra a fortaleza e empurrou os aquilônios para além de suas próprias fronteiras. Por ocasião do saque de Venarium, sem ter atingido ainda sua estatura de adulto, Conan já tinha 1,83 metro de altura e pesava 90 quilos. Ele tinha a astúcia e a prontidão do homem da floresta, a resistência férrea do homem das montanhas, o físico hercúleo de seu pai ferreiro e conhecia bem o uso da faca, do machado e da espada'.
Crônicas da Nemédia