Ilhas Malditas

(por Fernando Neeser de Aragão)



1) Sigo os passos do herói sobre a Terra.
Sigo os passos do homem bom.
O teu rastro é bandeira de guerra,
Minha casa, minha lei, minha fé.
Teu amor me arrasta perdida;
Nave solta no imenso mar,
Peleando batalhas e vidas,
Nascida pra te encontrar”.
(Marcus Viana, em “Do Amor e da Guerra”).


Após semanas atravessando o Oceano Índico desde Madagascar, deparamos-nos com uma ilha estranha e desabitada em algum lugar da Indonésia. Como estávamos com as provisões escasseando, desembarcamos em busca de água e comida. Após cerca de meia hora de caminhada mata adentro – durante a qual colhemos frutas daquela ilha –, vimos uma candoia atacar inesperadamente o primeiro imediato James, enrolando-o em seus anéis. Vendo que espadas e balas seriam inúteis e perigosas a tão curta distância, eu dei um salto para a frente, agarrei aquela serpente constritora com ambas as mãos e quebrei o pescoço da danada com meus dentes.

Cuspindo sangue, vi minha tripulação – bem como a Capitã Jane – me olhando impressionadas, sorri e disse:

- Agora, não temos somente frutas para comer.


Após esfolarmos, salgarmos, assarmos e dividirmos igualitariamente os pedaços da cobra entre nossos lobos do mar, seguimos mais adiante terra adentro e, após pegarmos água cristalina de um pequeno rio, nos deparamos com uma estranha construção. Um de nossos corsários cogitou a possibilidade de talvez haver um tesouro ali. Foi o suficiente para inflamar a ambição de minha capitã, e nos dirigimos para lá, com nossas espadas prontas.

Entretanto, ao chegarmos à negra entrada daquele local, um arrepio me percorreu a espinha, sem que eu soubesse por quê. Logo, entrando no local com Jane e nossos piratas, meus olhos gaélicos e treinados para espionar os oceanos em busca de saque, ficaram logo acostumados à penumbra do interior daquela construção.

Por dentro, o local tinha túneis e construções rústicas que pareciam ser de uma era passada. Subimos escadas desgastadas à nossa frente. Ao chegarmos ao alto, nossas narinas foram atacadas por um odor violento, vindo da porta que estava diante de nós – um fedor que se parecia com o dos ratos da beira dos muitos cais onde aportamos e de onde desembarcamos. E, com minha audição aguda, captei sons distantes, semelhantes a fracos gemidos de pedido de socorro.

Sem me preocupar com o perigo, e tomado pelo meu sentimentalismo irlandês, comecei a correr quase inconscientemente na direção daquele grito. Então, atravessando a porta de onde partiram os berros, eu, Jane e nossa tripulação nos deparamos com uma cena de horror. Num enorme salão, semelhante a um anfiteatro, dezenas de indonésios se sentavam para assistirem ao sacrifício de uma bela jovem morena – de feições indianas, apesar de estarmos na Indonésia –, totalmente amarrada sobre um altar. Abaixo daquele anfiteatro, num largo espaço arenoso, avistamos uma cena de loucura e pesadelo ainda pior: acorrentada a uma parede, havia uma bela jovem morena – também de feições indianas, e usando um rasgado e desgastado vestido vermelho – gritando de pavor; e, prestes a saltar em sua direção, um gigantesco rato cinzento cuja altura era superior à minha!!

No entanto, a visão de uma mulher inocente e indefesa em perigo falou mais alto em meu coração do que o indescritível terror que havia tomado conta de mim, e sabendo que eu dispunha de pouco tempo para ajudá-la, saltei sobre aquela abominação da Natureza e lhe acertei um golpe de meu sabre pouco acima de seu olho. Finalmente consciente de minha presença ali, aquele monstro me acertou uma patada, lançando-me a uns cinco metros de distância dele, de modo que bati violentamente minhas costas no muro de pedra que cercava aquela cena dantesca.

Sem me preocupar se minha espinha fora quebrada – o que não chegou a acontecer –, eu me ergui, dolorido, mas pronto para me defender de um novo ataque daquela coisa. Eu só tinha chance para um golpe, se eu quisesse me livrar daquele monstro malcheiroso que agora me encurralava. Assim, segurando firmemente meu sabre, cortei o focinho do bicho, abrindo-lhe outro talho sangrento. Com um frenesi e força nascidos do desespero, acertei um terceiro golpe de espada, desta vez na boca da coisa, e me livrei daquele breve momento em que eu ficara encurralado. Então, a indiana soltou outro grito de pavor, atraindo novamente a atenção da criatura para si. Antes que o enorme rato pudesse investir de novo contra a moça, eu corri tão rápido quanto ele e lhe decepei metade do fétido pescoço peludo, numa curva de morte escarlate.

E, numa furiosa orgia de sangue e morte, continuei enfiando minha espada no corpo moribundo da criatura, várias e várias vezes, retalhando veias e cortando músculos e tendões. Exausto, caí sobre a coisa, ouvindo a voz de Jane gritando meu nome e a da indiana me agradecendo e pedindo para soltá-la, enquanto os sons da batalha ocorrida lá em cima – à qual eu mal presenciara – morriam junto com os indonésios aos quais a tripulação do nosso navio Gaivota matara.

- Estou bem, Jane – ofeguei, enquanto eu me levantava e arrebentava os grilhões que aprisionavam a bela morena, cuja vida eu salvara, ao mesmo tempo em que minha amada caminhava em minha direção. Impulsivamente, a indiana me abraçou o torso, agradecendo-me por ter lhe salvado a vida.

- Terence é meu homem, e não seu! – esbravejou subitamente Jane Williams, falando na língua da moça.

- Desculpa – ela respondeu. – Meu nome é Mathura, e só abracei seu companheiro em agradecimento por ele me salvar. Meu verdadeiro amor está vindo para cá.

Logo, avistamos a outra bela indiana caminhando em direção a Mathura, abraçando-a e beijando-lhe a boca com ardor. Aquela outra jovem, a qual se identificara como Anwesha, fora salva por Jane e nossos corsários de ser sacrificada por aqueles indonésios, no altar de pedra bem acima do gigantesco rato ao qual eu matara. Então, excitado com a cena do beijo entre as duas jovens mulheres, também abracei e beijei minha amada inglesa.

Súbito, um novo horror apareceu naquele mesmo recinto. Todos os corpos dos indonésios mortos se transformaram em esqueletos em questão de segundos – e em questão de segundos, também, todos se ergueram e começaram a caminhar em nossa direção, barrando nosso caminho para a saída. Sem pensar duas vezes, corri até eles de espada na mão e comecei a cortá-los a torto e a direito nas arquibancadas do anfiteatro. Encorajados com meu exemplo, minha amante e minha tripulação também fizeram o mesmo. Como as vidas das duas indianas estavam sob nossa responsabilidade, eu carreguei Mathura sobre os ombros, enquanto um dos piratas mais fortes do Gaivota fazia o mesmo com Anwesha.

Sabendo que era impossível matar quem já estava morto, nós sempre arrebentávamos os esqueletos ambulantes na altura da cintura ou logo abaixo da bacia, despedaçando-lhes as pernas para que não pudessem nos perseguir. Um deles, no entanto, era extremamente habilidoso no manejo da lâmina, e me deu trabalho para lhe deter os golpes. Como se não bastasse, meu sabre ficou preso entre suas costelas e tive de empurrá-lo arquibancadas abaixo com um chute. Tendo conseguido abrir caminho por entre aqueles malditos morto-vivos, disparamos para fora daquele local sinistro, em longa corrida até a praia, onde, para nossa surpresa e alívio, os esqueletos infernais se transformaram em pó sob a luz do sol.


De qualquer sorte, já estávamos suficientemente reabastecidos de água e comida e, pegando nossos botes com as indianas às quais salvamos, nós as levamos em nosso navio, onde, após noites de amor e prazer entre as duas – e, é claro, entre eu e minha amada –, nós as devolvemos à sua terra natal.


2)

Uma tempestade no oceano! A cada vez que os homens se deixam dominar pela presunção, eles começam a crer que são os senhores da imensidão oceânica, e não meros transgressores de seus domínios aquáticos. E, sempre que isso acontece... o mar se enfurece ultrajado!

Parte da Rota dos Piratas havia sido temporariamente bloqueada por patrulhas inglesas, fazendo com que nos aventurássemos no Mar do Caribe. Não contávamos, entretanto, com aquele transtorno...

- Muito bem, bando de frouxos! – gritava Jane, do alto da popa em meio àquele turbilhão de água. – Quero mais ânimo aí embaixo! Por Satã, eu já vi marujos mais dignos “velejando” camelos no Deserto da Arábia! Terence! Se não quiser sentir o gosto da salmoura invadindo sua garganta, mantenha esse cordame bem teso! Diabos; será que eu tenho de fazer tudo sozinha?

- Praga, Jane! – respondi, enquanto segurava bem forte o cordame e as ondas marítimas caíam aos montes sobre mim, deixando minhas roupas ainda mais encharcadas que as de minha companheira. – Fique à vontade para assumir o controle desta corda, se quiser! Eu não faço a menor questão! James! Cheng! Venham me ajudar, inferno!

Um inglês e um chinês correram até onde eu estava. Assim que percebi que o cordame estaria seguro nas mãos daqueles dois homens, tão altos e musculosos quanto eu, corri até o leme.

- Terence! – gritou Jane que, naquele ínterim, havia descido da popa e corrido até a amurada a bombordo.

- O que foi agora?

- Terra à vista!

- Por Satã! – exclamei. As ondas haviam ocultado a presença daquela ilha. No instante seguinte, o nosso navio colidiu contra os rochedos da praia. Entretanto, no exato momento em que o navio Gaivota ameaçava naufragar devido a um enorme rombo na lateral, as enormes vagas e a poderosa ventania simplesmente cessaram, num espaço de tempo que muitos julgariam impossível.

Logo, eu e Jane fomos avaliar os estragos. Nenhum outro, além do rombo. E mesmo este não fora tão ruim quanto poderia ter sido. Seria fácil consertá-lo.

Naquele momento, o cenário ficou bastante tranqüilo e bonito. O mar, até há pouco cinza, ficou verde ao se espatifar calmamente na areia branca; e o céu cor-de-chumbo ficou azul como num sonho.

- Sra. Williams! Lorde Vulmea! – gritou subitamente um de nossos piratas. – Uma nau se aproxima!

- Cheng! – ordenou a inglesa ao segundo imediato. – Minha luneta.

Automaticamente, o chinês a entregou à Capitã Jane. Ela o encaixou num dos olhos.

- Aquele é Pierre Villiers – ela comentou –, um dos mais temidos bucaneiros franceses. Vamos nos esconder nas matas – acrescentou, com um sorriso sinistro nos belos lábios.

Subimos uma elevação até seu alto, cheio de árvores altas e moitas perfumadas, suas fileiras se afastando a ambos os lados. Mal nos escondemos na espessura verde, a embarcação de bucaneiros sanguinários já podia ser vista a olho nu. Pouco depois, em pequenos botes, eles chegaram à praia – assassinos de todas as raças e nações, mas franceses em sua maioria... Renegados de todas as estirpes e capazes de cometer os mais inomináveis crimes. Aparentemente, não notaram o Gaivota – certamente, o casco arrombado os levou a considerá-lo um mero despojo de naufrágio.

Súbito, um de seus piratas caiu com uma bala certeira na testa, disparada pela minha pistola. Em seguida, saímos repentinamente da mata, com brados de guerra em nossos lábios e mais tiros em direção aos bucaneiros.

Nós superávamos aqueles malditos em número, mas eles conheciam aquela ilha melhor do que nós. Apesar disso, eu e Jane nos destacávamos decepando cabeças e braços com giros mortais, abrindo peitos e ventres, e furando fatalmente pescoços, corações, tripas e estômagos com nossos respectivos sabres, enquanto balas zuniam e gritos de vitória e morte ecoavam pela praia. Logo, vários bucaneiros avançavam em minha direção, como chacais tentando abater um enorme javali. Mas foram incansavelmente rechaçados por meu sabre, que rachava crânios, esmagava costelas, e decepava cabeças e membros com impiedosa precisão e velocidade.

Súbito, percebi que Cheng havia tomado um tiro que era dirigido a mim, salvando propositadamente minha vida. Naquele momento, em que eu avançava e lhe vingava a morte, me questionei pela segunda vez em minha vida se lealdade era mesmo questão de raça, como eu pensava anos atrás. Logo depois, o Capitão Villiers apareceu repentinamente diante de mim e, com os dentes arreganhados, partiu para o ataque. Fui ao seu encontro e nossas espadas reluziram à luz do sol, como se fossem membros vivos, extensões dos nossos braços que as empunhavam.

Ferozmente, despejei golpe após golpe contra aquele cão. Após alguns minutos, o delicado equilíbrio da luta pendeu para um dos lados. O francês mordeu os lábios, reconhecendo a possibilidade de derrota, e fez um esforço desesperado para que eu morresse junto com ele. Mas a pura ferocidade do meu ataque era minha melhor defesa, pois não lhe dava tempo para lançar um contra-ataque. O barulho do aço aumentou e as fagulhas saltaram no ar. Tão repentinamente quanto começara, o duelo acabou, com meu sabre abrindo todo o lado esquerdo de Villiers, do ombro até o quadril, num jato de sangue. Súbito, uma pedra atingiu minha nuca – indubitavelmente lançada por uma funda, pois desmaiei no instante seguinte.


3) “Põe-me como um selo sobre o teu coração,
Como um selo sobre os teus braços;
Porque o amor é forte como o Inferno.
Suas centelhas são centelhas de fogo, uma chama divina.
As torrentes não poderiam extinguir o amor,
Nem os rios o poderiam afogar”
(Cântico dos Cânticos, 8:6-7).


Acordei atado a um pilar de pedra, numa construção arruinada. Aquele local sinistro se parecia com um templo lendário de alguma raça há muito desaparecida. Próxima à coluna onde eu estava amarrado, havia outra, desmoronada há aparentemente não muitos anos, juntamente com o teto também quebrado, através do qual se infiltrava o luar prateado. Naquele local, o primeiro imediato Gastón e o segundo imediato Jean Louis discutiam meu destino. Jean Louis e seus seguidores achavam que eu deveria ser morto, enquanto Gastón e sua facção achavam que eu, como assassino do Capitão Villiers, tinha direito, pelas leis da Irmandade Vermelha, de ser o novo líder da tripulação.



Nas entranhas do arruinado templo, a algazarra havia acabado. Fartos de discutir acerca do meu destino, aqueles bucaneiros preferiram fazer uma das coisas que eles fazem melhor: beber até cair. Com os malfeitores entregues a um estupor regado a vinho, os sons de discórdia deram lugar a roncos esbaforidos e rosnados guturais.

Como eu estava amarrado a uma coluna, até mesmo os vigias, que deveriam estar zelando pela segurança do bando, estavam dormindo. Todos, exceto um deles: o cara-de-rato chamado Jean Louis, o qual se aproximava de mim com um punhal na mão e um sorriso nojento em sua cara abjeta.

- Ora, ainda acordado? – ele disse. – Salve, “capitão” Vulmea.

Irritado com sua ironia, cuspi na cara dele. O cão francês riu, limpou minha saliva do rosto e apontou sua faca para mim.

- É bom rezar enquanto pode – disse o infeliz –, pois logo estará morto. Ao contrário dos meus aliados, eu resisti à tentação de beber vinho demais. Quando o dia raiar, todos vão acordar com os crânios latejando e sem nenhuma disposição para debater sua sina... nem mesmo o primeiro imediato Gastón. Será muito fácil convencê-los a cortar seu pescoço. E eu serei o encarregado de sua morte.

Súbito, vi uma sombra furtiva deslizar por entre as colunas, metros atrás do infame Jean, e se aproximar dele.

- Então, é melhor você rezar, cão... para que eu continue amarrado neste pilar.

- Rá! – escarneceu o bucaneiro. – Isso não me preocupa nem um pouco. O velho Jacques atou pessoalmente esses nós, e ele é um...

Súbito, quando a silhueta furtiva se aproximou de Jean, ela tropeçou, na semi-escuridão, numa pedra solta. O cara-de-rato se virou abruptamente para ver do que se tratava, e aproveitei para lhe envolver o pescoço por trás com minhas duas pernas soltas, estrangulando-o até lhe quebrar o pescoço.

Então, a bela forma que se aproximava de mim e de Jean finalmente chegou à luz da lua, que se infiltrava belamente através de um buraco no teto arruinado. Embora já a houvesse reconhecido antes de eu estrangular o bucaneiro até a morte, sorri de satisfação ao revê-la: Jane Williams! A linda, voluptuosa e implacável rainha do meu coração. Nas pontas dos pés, ela ia agilmente se desviando das figuras embriagadas no piso, avançando rapidamente em direção a mim, até me abraçar e beijar longa, feroz e ardorosamente, excitando-me em questão de segundos.


Ela fez uma breve pausa e olhou sorridente para mim. Então falei:

- A adaga, Jane. Pegue a adaga do pirata.

Graciosamente, a inglesa virou as costas e se abaixou, pegando a faca outrora empunhada por Jean, e foi cortando minhas amarras o mais rápido possível. Eram pesadas e espessas – e foram presas por um marujo experiente. Mas, após o que parecia ser uma eternidade, minha amada conseguiu soltar uma de minhas mãos. Uma vez com a direita livre, tomei a adaga de seus dedos, livrei-me dos desconcertantes nós que ainda me atavam o pulso esquerdo, dei a ela a faca como presente, recuperei e embainhei minha espada, arrebatei minha amada nos braços com a rapidez de uma pantera e saímos juntos dali. Embora eu a tivesse ensinado muitas de minhas habilidades ao longo dos sete anos em que navegávamos e pilhávamos, ela ainda não corria tão rápido quanto eu, de modo que chegaríamos mais rápido à praia com ela nos braços, do que correndo juntos.

Logo, quando vi meu caminho barrado por um brutamonte – um dos poucos bucaneiros que não se embriagaram, e que ficara de guarda na praia com outro –, fui tomado pela violenta fúria berserk que sempre me transforma num animal feroz. Com uma praga surda, soltei Jane, arremessei-me contra o gigantesco bucaneiro e, no ímpeto da agressão, o peso de meu corpo fez o francês estatelar-se no solo. Enquanto lutávamos, o cão procurava desembainhar a faca e eu tentava esganá-lo.

Meus dedos recalcaram o brado de socorro que o outro ia soltar; mas, num certo momento, meu antagonista conseguiu puxar a faca, e um instante depois, senti a lâmina penetrar em minha espádua. Mais duas vezes, senti-a em seguida entrar na carne.

Retirando uma das mãos que estrangulavam o francês, tateei com a mesma o chão, em derredor, a procurar algum objeto; e meus dedos, por fim, acharam uma pedra. Segurando-a e erguendo-a sobre a cabeça do adversário, dei nela uma tremenda pancada. Aturdido, relaxaram-se no mesmo instante os músculos do cão bucaneiro. Dei-lhe mais duas pancadas, abrindo-lhe o crânio. Em seguida, pus-me rápido de pé, e corri para onde soara desesperada a voz de Jane. Ela estava quase sendo derrotada pelo outro francês, quando arremessei a pedra na cabeça dele, e ela completou o serviço abrindo a garganta do último antagonista sóbrio e acordado ali presente.

Após embarcamos no navio bucaneiro ali ancorado, deixando os ébrios cães franceses das ruínas entregues à própria sorte com nosso navio avariado, zarpamos dali, com nossa tripulação.


- Como diabos você escapou, mulher? – perguntei a Jane, após sairmos da ilha.

- Acha que Jane Williams esperaria sentada para ser salva? – ela respondeu rindo. – Quando os dois imediatos e suas facções partiram, os dois cães que ficaram aqui no navio estavam mais interessados em contar mentiras, e em tirarem a sorte sobre como massacrariam nossa tripulação aprisionada no porão do navio, do que em tomar conta de mim. Eles também se esqueceram de me revistar por completo, de modo que não viram uma pequena adaga que eu trago sempre escondida sob minhas calças. Com ela, cortei lenta e inexoravelmente as cordas que me prendiam.

“Antes que percebessem o que estava acontecendo, atirei a adaga na jugular de um deles, tirando-lhe o punhal do cinto antes que seu cadáver desabasse ao chão do convés e arremessando-o silenciosamente no pescoço do outro, antes que ele pudesse gritar ou atirar; então, evitando os outros cães franceses que montavam guarda, corri direto até as ruínas, onde imaginei que fosse lhe encontrar, meu doce irlandês”, ela concluiu, com um lindo sorriso.

Então, com apetitosa volúpia, sorri de volta e beijei os lábios da minha linda capitã. As estocadas que eu recebera na praia não foram fatais, de modo que elas em nada afetaram minha vitalidade e virilidade.




A luz da lua cintilava sobre as ondas, enquanto uma brisa forte e revigorante enchia a vela e empurrava o Gaivota para leste, com tal velocidade que a espuma sussurrava ao redor de sua quilha. Descansando na cabine de nosso navio, após enfaixarmos nossos ferimentos e comermos, eu e Jane bebíamos vinho e eu fumava um cachimbo, quando ela me sorriu novamente e tirou minha camisa e calça. Despindo-se da cintura para cima, a dona do meu coração se levantou do leito, ergueu os braços e balançou os seios para mim. Tomado por uma onda arrebatadora de desejo, eu me levantei também e lhe suguei sofregamente as mamas, aspirando e engolindo aquele suor tão salgado e excitante quanto o mar onde navegávamos há tanto tempo.

Logo, ela me deitou novamente em nossa cama, tirou suas botas e calções, e se pôs a sugar meu falo ereto, englobando-o totalmente com sua linda boca a ponto de eu senti-lo na garganta da capitã de meu coração. Logo, nos posicionávamos de maneira a sugar a genitália um do outro – eu lhe explorando o clitóris, e os grandes e pequenos lábios, como uma abelha que explora as pétalas de uma flor –, até explodirmos de prazer num delicioso orgasmo. Em meio ao abandono selvagem do clímax, percebi que ela não tirara a boca do meu falo, nem mesmo após eu ter ejaculado. Logo, enquanto relaxava, percebi que não havia nenhum resto de sêmen sobre meu púbis, como em outras ocasiões, nem no leito – Jane engolira todo o meu esperma!

Aquilo me deixou extasiado, a ponto de eu mantê-la de quatro e lhe penetrar a vagina por trás, bolinando-lhe os alvos e balouçantes seios volumosos com minhas mãos, até termos mais um orgasmo intenso e vibrante.


Enquanto relaxávamos, deitados sobre o leito e olhando para a lua cheia, entrevista pela janela em meio às nuvens que encobriam as estrelas, caímos no sono, percebendo mais uma vez que nosso sentimento um pelo outro não se limitava a uma simples atração física, depois de tanto tempo navegando, lutando e pilhando juntos. Após todos aqueles anos, o sentimento de amor entre eu e minha Jane só fizera aumentar – e adormecemos com este pensamento em nossas mentes e um sorriso em nossos lábios.


FIM



Agradecimentos especiais: Aos howardmaníacos e amigos Ricardo Highlander e Osvaldo Magalhães, de Brasília – DF.

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A Seguir: De Volta a Negari.




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