De Volta a Negari

(por Fernando Neeser de Aragão)



Prólogo:


A luz do luar brilhava fracamente, criando névoas prateadas de ilusão em meio às sombras das árvores. No meio da noite na selva africana, eu os ouvia. Eu sabia que eles estavam vindo. Seus passos abafados soavam como o andar pesado de elefantes. Sua respiração silenciosa era como uma tempestade em meus ouvidos.

“Provavelmente dois”, eu pensei. “Certamente não mais do que três”. Eram caçadores habilidosos, para terem encontrado meu rastro na escuridão. Seria errado subestimá-los. O homem que subestima os próprios inimigos, é um homem que logo estará morto. Assim, eu me escondi atrás do grosso tronco de uma das muitas árvores locais, e esperei...

Sim! Eram apenas dois... de uma das tribos do rio, sem dúvida. Tão distantes de outras tribos fluviais, só eles andariam pela floresta tropical, sem temerem emboscadas. Nenhum outro clã os atacava casualmente. Um deles sussurrou meu nome, em seu dialeto gutural, e ouvi o sibilar de duas lanças, arremessadas em direção ao meu esconderijo e cortando apenas o ar, a poucos centímetros de minha pele. Soltei um gorgolejo, fingindo ter sido atingido. Então, os dois se aproximaram cautelosamente da árvore, atrás da qual eu me escondia. Abruptamente saí de lá e os encarei.

- Vulmea – repeti meu nome em meu próprio idioma – não é um porco-espinho, para ficar cheio de lanças.

Minha súbita aparição e minhas palavras, rosnadas numa língua que lhes era desconhecida, criaram o efeito pretendido. Um instante de hesitação, um momento de demora... foi o suficiente para que eu investisse contra os dois, abrindo o peito do primeiro com um giro sangrento de minha espada – um pesado sabre de abordagem – e golpeando o segundo no estômago com uma cabeçada, antes que este último pudesse lançar sua flecha, e cortando-lhe o pescoço antes que o nativo se recompusesse. Eram guerreiros poderosos, mas eu era o pirata Terence Vulmea, da Irlanda – outrora comandante dos navios Cacatua e Gaivota, dentre muitos outros.

Em seguida, mais negros apareceram em meu encalço. Eles deviam estar agachados, esperando à distância atrás dos dois que eu ouvira e matara. Eram muitos para enfrentar no corpo-a-corpo – fosse espada contra lança ou músculo contra músculo. Assim, terminei de esvaziar minha pistola, disparando-a certeira no coração de dois deles e no crânio de um terceiro. Aquilo, contudo, não os intimidou, e eles continuaram atirando suas lanças e azagaias em minha direção, me forçando a continuar correndo mata adentro, na direção oeste. Que me seguissem na noite, se tivessem coragem. Eram homens da selva, sem dúvida – nascidos e criados nas úmidas matas tropicais –, mas eu, apesar de meus cabelos não serem mais negros, ainda era Black Vulmea (assim apelidado, não por ser negro africano, mas pela cor dos cabelos)! E assim, eles rapidamente perderam meu rastro na noite, pois eu havia aprendido com os índios norte-americanos a andar furtivamente pela mata.



1)Fogo, luz dos canhões, dos trovões,
Luz do sangue do rubro céu.
Fogo, luz das paixões, dos rios de vulcões
Que deságuam no coração”.
 (Marcus Viana, em “Do Amor e da Guerra”).


No dia seguinte, eu me encontrava – graças àqueles cães – à beira de um penhasco negro, ao mesmo tempo próximo e distante de outro, da mesma cor. Próximo o bastante para que eu pudesse avistá-lo, e distante demais para que eu pudesse cruzá-lo com um pulo. Tinha uns 12 metros de largura na sua parte mais estreita e, olhando para baixo, meu olhar foi engolido pela escuridão impenetrável, a muitas dezenas de metros, eu sabia. Do outro lado, havia um íngreme planalto, salpicado por matacões.

Que o Diabo amaldiçoe aqueles selvagens que bloqueavam minha rota para leste e norte, e me perseguiam para oeste durante vários dias, antes de desistirem. Do contrário, eu já teria alcançado algum porto pirata em Madagascar – possivelmente longe dos bucaneiros que me perseguiram antes dos negros – e, de lá, eu poderia pegar um bom navio e tripulação, e contornar o sul da África, pilhando a costa oeste deste continente, até alcançar a Europa e, mais tarde, Tortuga.

Por Satã, já fazia anos que eu não ia para os pontos-de-encontro piratas, onde eu e minha querida e saudosa Jane Williams gastávamos nossas pilhagens nas cidades portuárias, onde brilhavam lampiões e fogaréus; onde pessoas alegremente vestidas riam e passeavam pelas calçadas, e onde casas de comércio e balcões escancarados ostentavam suas mercadorias.

Eu conhecera a bela Jane, pouco tempo depois de eu ter poupado a vida do maldito capitão inglês John Wentyard, na costa do Equador – não por piedade àquele carniceiro, mas sim à esposa e filha dele. Após dividir um pequeno tesouro com aquele canalha, eu havia gastado um pouco de minha parte da fortuna, com prostitutas mestiças e bebidas, num ponto-de-encontro de piratas não muito longe daquela costa, e usado o restante da minha metade do colar de ouro e jóias para comprar um novo navio e tripulação. Com eles, naveguei e pilhei até Cabo Horn, e de lá até o Mar Espanhol e a costa leste da América do Norte, onde meu navio naufragou e somente eu sobrevivi. Adentrei a selva e tive que voltar ao litoral, pois me vi perseguido por uma tribo de índios hostis, que vinham do oeste. Chegando à praia, eu havia sido encontrado por ela e sua tripulação. Os índios que me perseguiam foram mortos a tiros e golpes de espada. Jane, líder da tripulação pirata que me achara, havia me oferecido duas opções: ser o amante dela, ou me juntar aos selvagens mortos na praia.

E minha alma irlandesa se agitara dentro de mim. Seria – e foi – emocionante me aventurar com uma jovem tão linda; amar, sorrir, perambular por portos e regiões costeiras e pilhar...

Ela era tão respeitada e temida quanto a também pirata Helen Tavrel; e Jane sempre poupava as vidas dos que se rendiam, só matando quem lhe oferecesse resistência. Os vilarejos que se opunham a ela eram incendiados; os que lhe pagavam o tributo exigido prosperavam como nunca.

Jane Williams, dos longos cabelos negros como a asa de um corvo – assim como os meus eram naquela época –; da pele branca, do corpo curvilíneo e voluptuoso, e dos alvos e balouçantes seios fartos, tinha apenas 39 anos e era muito linda, quando, após nove anos de navegação, amor e pilhagem ao meu lado – em Tortuga e na costa européia, asiática e africana, bem como na famosa Rota dos Piratas –, morreu com um tiro de canhão no peito, durante uma batalha naval contra corsários franceses há mais de 20 anos. Após vingá-la, matei o máximo possível de rivais e mergulhei no mar, até conseguir nadar para um trecho seguro da praia de Tortuga.

Anos depois, com a cabeça a prêmio em Madagascar, fugi para a costa leste da África, a fim de escapar da perseguição de bucaneiros franceses. Sabendo que são poucos os piratas – a serviço de um rei ou fora-da-lei, pirata para mim é pirata – que se aventuravam em terra firme, adentrei a selva local. Eu só não contava com a perseguição dos nativos, a qual me deixou ainda mais distante da costa.

De repente, o assobio de uma flecha, a qual passou a apenas dois centímetros de meu ombro, me interrompeu os devaneios, e uns 50 guerreiros saíram uivando dos penhascos escuros atrás de mim, aos quais eu atravessara ao amanhecer. Os guerreiros aos quais eu matara deviam ter bons amigos entre meus perseguidores. E somente um lutador nato, como eu, conseguiria evitar as estocadas de suas lanças. Minha ação instintiva salvou-me a vida... a grande lâmina do negro mais adiantado – o líder daquela tribo guerreira – me roçou as costelas, quando me inclinei para o lado e devolvi o golpe com uma estocada lampejante, a qual matou um guerreiro que se esbarrou entre eu e o chefe naquele instante. O líder me atacou novamente, mas me esquivei e dei cabo dele, num golpe descendente que lhe partiu clavícula e coração num borbulhar de sangue – o que não intimidou os demais selvagens.

Apesar da superioridade numérica deles, eu compensava bastante a diferença e a grande inferioridade, com minha habilidade e a ferocidade berserk de meu ataque. Fogo do Inferno, já que eles não iam me deixar caminhar de volta à costa, eu navegaria para lá num oceano de sangue nativo! Lanças brilhavam à luz do sol, e eu, desviando uma e me esquivando sob a estocada de outra, acabei perdendo o equilíbrio na beirada daquele abismo, ao me engalfinhar com um guerreiro mais afoito e tão grande quanto eu. Consegui matá-lo com uma facada no pescoço, mas caímos juntos, e desaparecemos silenciosamente dentro das profundezas abaixo. Caí sobre o corpo do negro a quem eu matara, e me espatifei, só o diabo sabe a quantos metros abaixo, perdendo meus sentidos por só o Diabo sabe quanto tempo – tempo este que pareceram eras...

Durante meu desmaio, indistintas memórias ancestrais e vagas memórias raciais se agitaram vagamente nas profundezas de minha alma. Nestas lembranças, eu rugia e retalhava em batalhas sem nome, em terras obscuras e perdidas; enfrentava homens, feras, e invadia civilizações que eram velhas quando o mundo era jovem. Dentre essas lembranças, algumas foram ficando nítidas... Minha memória me transportou para muitíssimo além da minha época, até os mares dourados do sul, onde, sob o sol de raios flamejantes, não havia leis e se vivia uma vida turbulenta. Vi imagens claras das costas onde os manguezais cresciam em abundância e os tambores ressoavam. Lembrei-me também dos combates nos navios, e de seus pisos, encharcados de sangue; a fumaça, as chamas e os gritos de matança... Vi uma cidade gigantesca, com muralhas negras, na qual uma classe aristocrática, de pele marrom e feições aquilinas, governava opressivamente selvagens de cor negra. Foi minha última lembrança, antes que minha consciência retornasse lenta e dolorosamente.



2)

- Em nome dos deuses, o que um homem branco faz aqui? – perguntou, na linguagem gutural das tribos fluviais, uma jovem negra, sentada sobre um trono de marfim, enquanto eu recuperava os sentidos (esta, aliás, foi a primeira frase que ouvi quando acordei).

Era um lugar ao ar livre, pontilhado por um grande aglomerado de choupanas ao estilo das tribos negras do leste da África. Contudo, não deixei de notar, ao recobrar totalmente minha consciência, alguns restos caídos de pedras, rochas e alvenaria que despontavam do chão, aqui e ali, por entre as cabanas e ao redor delas. Certamente havia existido gigantescos penhascos e uma enorme cidade perdida, naquele local ladeado por outros dois penhascos – e, há muito destruídos, foram ocupados por aquele pequeno morro verdejante no qual despertei.

Percebi que os emplumados guerreiros negros, que se enfileiravam nas laterais do trono de marfim, não eram da mesma tribo que me perseguira até o abismo. Então, meu olhar foi atraído para a líder que havia me interrogado, e que agora estava de pé. Ela, apesar de ser menor do que eu, media mais de 1,80m. Suas roupas consistiam apenas num cocar emplumado, braceletes, tornozeleiras e uma cinta com coloridas penas de avestruz. E fui surpreendido por uma estranha e arrebatadora atração física, ao contemplar aqueles desnudos seios gigantescos e trêmulos, cujo comprimento ultrapassava o umbigo da jovem e esguia líder negra, de corpo escultural e com porte de rainha em seu olhar e caminhar.

Se ela vivesse nas colônias portuguesas da África Ocidental, seria certamente adorada pelos nativos locais como deusa das águas, devido àquele busto prodigioso e colossal, o qual fazia o da saudosa Jane Williams parecer pequeno e firme.

- Homens brancos não são bem-vindos aqui, estranho – ela disse, enquanto eu me levantava. – Quem é você, estranho?

- Sou Terence Vulmea, da Irlanda – respondi. – Onde estou? – perguntei em seguida, com meus pulsos amarrados e cercado por guerreiros negros, que me apontavam suas lanças, e por aldeões curiosos, que me observavam de longe.

- Você está sobre os penhascos e ruínas de Negari, outrora governados pela maligna Nakari e agora governados por mim, a rainha Mwanawa... e destruídos há cem anos por um homem da sua cor. Mas Nakari era uma idiota, que tinha o sonho tolo de conquistar o mundo. Nós nos contentamos em ter algumas tribos aliadas, as quais nos ajudam a defender a nossa, e vice-versa – disse a bela líder seminua. – Não somos mais ambiciosos do que a vida nos permite e exige; este local é nosso domínio e reino, e isto é o suficiente. E homens brancos não são bem-vindos aqui, porque, se um branco destruiu sozinho toda uma cidade, outro branco pode fazer o mesmo com nossa tribo – ela concluiu.

- Não vim fazer mal algum a vocês – respondi, com o olhar fixo na beleza daquela jovem, como se, apesar de seu tom ameaçador, nada mais existisse além da beleza selvagem e exuberante da líder.

- Rá! Muitos escravistas árabes e europeus também disseram o mesmo que você a outras tribos negras! – Mwanawa respondeu, sarcástica.

- As tribos fluviais do leste estão ameaçando este reino – respondi espertamente, no intuito de ser poupado.

- Aquelas tribos estão em paz conosco, seu branco idiota! – respondeu a jovem líder. – Eles devem estar lhe perseguindo, e não a nós. Além disso, eles devem ter lhe dado como morto, depois que você caiu no abismo.

Súbito, um velho xamã – o qual ficara o tempo todo em transe, ao lado do trono da jovem negra – abriu os olhos, caminhou em direção à líder e sussurrou algo no ouvido da bela Mwanawa. Ela pareceu concordar, e logo mudou radicalmente de idéia:

- Vamos poupá-lo, para que possa nos ajudar a deter uma outra invasão, que vem do oeste. Desamarrem-no e vistam-no adequadamente, como cabe a um guerreiro.

Fiquei surpreso com aquela atitude, embora eu estivesse certo de que a mudança de planos da líder tivesse algo a ver com o que o xamã lhe sussurrara. Depois, aquele mesmo xamã me explicou que Negari fora destruída por um terremoto, e que eu não constituía nenhum risco àquela tribo, pois eles não eram malignos como os extintos negaris. E fiquei ainda mais surpreso e intrigado, ao saber que fora ele quem havia mandado poupar minha vida, quando fui encontrado, inconsciente, sobre a saliência na qual eu caíra.

* * *

Fui despido de minhas esfarrapadas vestes de pirata, e vestido com uma tanga de pele de leopardo, um cocar com plumas de avestruz, bem como tornozeleiras no lugar de minhas botas rasgadas e quase inúteis. Ao usar aquele cocar e tanga, fui tomado por uma estranha sensação de familiaridade, a qual, de alguma forma, se somou às vagas memórias que eu havia tido durante minha inconsciência.


3)

Quando o ataque começou, este foi tão súbito que não houve tempo para postarmos arqueiros nas laterais do desfiladeiro onde ficava a tribo de Mwanawa. Mas havia sentinelas nas mesmas, para vigiarem em caso de algum ataque traiçoeiro pelos flancos. Pelo menos, pude organizar uma espécie de falange cuneiforme na entrada do largo desfiladeiro onde ficava a tribo. Mandamos flechas até eles, arrasando a primeira fileira.

O primeiro nativo que sobrevivera à chuva de flechas estocou sua lança em minha direção, mas, com meu sabre, decepei a haste da mesma e, rindo ferozmente, avancei como uma tempestade e o decapitei num giro sangrento de minha lâmina. Continuei meu serviço sangrento, abrindo um peito de ébano com o machado em minha mão esquerda e estripando outro inimigo com meu sabre. Negros aliados e inimigos meus se engalfinhavam, esfaqueando e estrangulando uns aos outros. Avistei a linda Mwanawa se esquivando de um machado inimigo para, no instante seguinte, enfiar a lança no coração do que havia tentado matá-la. Sorri admirado. A habilidade daquela líder alta era tão grande quanto sua beleza, e era tão nata quanto a minha.

Enquanto eu continuava desmembrando e abrindo peitos, pescoços e barrigas de atacantes emplumados e quase nus, um deles saltou uivando em minha direção. Eu o parti em dois, na altura do umbigo com um golpe do meu sabre. Isso permitiu que outros dois se engalfinhassem comigo por trás – um me agarrou o pescoço e o outro, meu braço esquerdo.

Este último esfaqueou meu braço, fazendo com que eu largasse o machado de pedra, ao mesmo tempo em que girei, para a frente e por cima de meu ombro, o que havia me agarrado o pescoço e o matei com um golpe de sabre que lhe arrebentou o cocar, crânio e miolos numa explosão sangrenta. O que havia esfaqueado meu braço me acertou outra navalhada – quase no pulso – e, furioso, eu lhe agarrei o pescoço e o decepei, num giro vermelho e mortífero do meu sabre entre seu peito e barriga, ao mesmo tempo em que outro guerreiro de ébano investia contra mim.

O aço da ponta de sua lança sibilou em direção ao meu peito. Ergui meu sabre, e a lança retiniu contra ele quando a desviei. No mesmo instante, o gigantesco negro me acertou o queixo, com seu escudo de madeira dura, reforçado com couro endurecido. Contudo, embora a agilidade de jaguar daquele homem fosse tão grande quanto a minha, meus reflexos eram mais rápidos e, no instante seguinte, lhe acertei, como contra-golpe, um chute nos testículos, antes que ele pudesse usar novamente sua lança. Enquanto ele se curvava de dor, decepei-lhe a cabeça num giro sangrento.

Num vislumbre, avistei um guerreiro aliado receber um golpe de lança no peito, ao mesmo tempo em que vingava a própria morte, atravessando a própria lança entre o pescoço e queixo de seu algoz.

Os corpos caídos e mutilados dos guerreiros, mortos ou moribundos, da tribo invasora eram impiedosamente pisoteados pelos seus matadores. Um aliado meu, o qual desarmara seu rival – e vice-versa –, o encheu de murros no rosto e, erguendo-o acima da própria cabeça, lançou-o contra um sólido pedaço quebrado e caído do que havia sido uma das negras colunas de Negari, espatifando-lhe o cocar e crânio numa explosão sangrenta de miolos.

No breve escurecer do pôr-do-sol tropical, o Astro-Rei já estava desaparecendo atrás das árvores, e as sombras se alongavam. Então, enquanto a batalha continuava, sob a liderança de Mwanawa, me deparei, já meio cansado, com o líder da tribo rival. Naquele meio tempo, a falange que eu organizara havia se desfeito, e cada guerreiro lutava em duelo contra seu respectivo inimigo.  O manto de pele de leopardo do chefe tribal inimigo estava despedaçado e reduzido a pequenos farrapos. Mas sua altura e musculatura faziam seus mais altos guerreiros parecerem homens de estatura média, e sobrepujavam grandemente a compleição física dos demais. Sobre sua cabeleira crespa, um anel de marfim, segurando longas plumas de avestruz, formava seu cocar; e plumas coloridas lhe adornavam os braços e pernas, além de lhe servirem de tanga.

Era ágil como um tigre, como pude perceber na primeira estocada de sua lança. Mas eu, apesar dos meus 64 anos, também era, e me esquivei como um relâmpago – os piratas a quem eu comandara sempre comparavam minha rapidez com a dos raios de uma tempestade. Por várias vezes, ele arremetia sua lança de ponta de ferro em minha direção. Eu já estava ficando cansado e mal conseguia evitá-la, mas eu sempre me esquivava – às vezes pulando para um lado, e às vezes usando meu sabre para desviar sua lança. Com seu escudo destruído por contínuos golpes ao longo da batalha que precedera nosso duelo, ele só dispunha de uma lança, tanto como arma, quanto como defesa – e ele estivera tão ocupado, matando guerreiros da tribo aliada a mim, que não havia tido tempo de pegar outro escudo.

Durante o duelo, nossos músculos se emaranhavam e enroscavam, devido aos nossos esforços de ataque e defesa. Por fim, um de meus muitos golpes de espada conseguiu cortar-lhe a lança em dois. Furioso, ele urrou e arremessou a metade sem ponta de sua arma em minha direção. Enquanto eu me esquivava, o líder acertou um poderoso chute entre minhas pernas. Meu poder gaélico de recuperação não foi suficiente para impedir que o gigante negro travasse suas mãos enormes em meu pescoço, antes que eu me refizesse do golpe. Em meio às névoas vermelhas da asfixia, pude vislumbrar, mais do que ver, o sorriso maligno daquele líder, o qual me estrangulava. Reuni todas as minhas forças e travei minhas mãos em seu sólido pescoço, na tentativa de estrangulá-lo antes de morrer. Agora a idade – eterna mãe da experiência – estava pela primeira vez contra mim, aliada ao cansaço daquela tremenda batalha.

Súbito, vi o sorriso do enorme líder se transformar numa expressão de dor e surpresa. Vi seus olhos se arregalarem e, logo acima deles, seu cocar e cabeça se desfazerem, numa explosão de sangue e miolos, precedida pelo som de um tiro – tudo na mesma fração de segundo. Em meio à crescente escuridão que me cercava, vi o líder negro desabar como um boi abatido, e pude avistar uma linda forma feminina, alta, negra e esguia, erguer um fumegante mosquete, antes que as trevas da inconsciência me dominassem totalmente outra vez.



4) Foi há tanto tempo, tão longe daqui
Que esqueci até mesmo o nome pelo qual os homens me chamavam.
O machado e a lança de ponta em sílex são como um sonho,
E caçadas e guerras, sombras. Lembro-me
Apenas da quietude daquela terra severa,
Das nuvens empilhadas sobre as colinas,
Do esmaecer das florestas eternas.
Ciméria, terra da Noite e das Trevas.
Oh, alma minha, nascida das colinas encobertas,
De nuvens e ventos e fantasmas afugentados do sol,
Quantas mortes servirão para romper, afinal,
A herança que me envolve em tristes
Vestes de fantasmas? Busco meu coração e encontro
Ciméria, terra da Noite e Trevas”.
(Robert E. Howard, em “Ciméria”/ 1932).


A princípio, manifestara-se a escuridão do mais absoluto vazio, com os ventos gelados do espaço cósmico soprando sobre ela. Depois, formas vagas, monstruosas e fugidias, envoltas num panorama obscuro no meio da vastidão do nada, como se a escuridão estivesse assumindo forma material. Os ventos sopraram e formaram um remoinho, uma pirâmide giratória de escuridão urrante. Do meio dela, cresceram a Forma e a Dimensão. De repente, como nuvens que se dispersam, a escuridão se afastou para os lados e uma enorme cidade de pedra verde-escura apareceu à margem de um rio largo, que fluía por uma planície ilimitada. Através desta cidade, moviam-se seres de estranha aparência.

Forjados no molde da humanidade, eles claramente não eram homens. Eram alados e de proporções heróicas; não eram um ramo da misteriosa haste da evolução que havia culminado no homem, mas a flor madura de uma árvore alienígena, separada e distante do ramo humano. Além de terem asas, sua única semelhança física com o homem poderia ser comparada com a semelhança entre o homem, plenamente desenvolvido, e os grandes macacos. Em seu desenvolvimento espiritual, estético e intelectual, eram superiores ao homem, do mesmo modo que o homem é superior aos gorilas. Mas, no momento em que haviam construído sua colossal cidade, os ancestrais primitivos do homem ainda não tinham emergido do lodo dos mares primordiais.

Eram criaturas mortais, como todas as coisas feitas de carne e ossos. Viviam, amavam e morriam, embora a média de duração da vida individual fosse enorme. Então, depois de incontáveis milhões de anos, a Mudança começou. Todo o quadro tremia e oscilava, como um retrato atirado ao vento. Sobre a cidade e a terra, as eras fluíam como ondas sobre uma praia, e cada onda trazia alterações. Em algum ponto do planeta, os centros magnéticos foram deslocados. As grandes geleiras e os campos nevados foram retirando-se para os novos pólos.

O curso do grande rio foi alterado. Planícies se transformaram em pântanos que fediam a vida réptil. Nos pontos onde haviam se formado férteis campinas, florestas se ergueram, transformando-se em selvas úmidas. As eras de mutação também tinham afetado os habitantes das cidades. Eles não migraram para terras virgens. Razões inexplicáveis para a humanidade os haviam mantido nas primitivas cidades, e no seu destino final. E, enquanto aquela terra antes rica e poderosa afundava cada vez mais na lama negra da selva sem sol, o povo da cidade também mergulhava no caos da vida desordeira da floresta. Convulsões terríveis sacudiram a terra; as noites foram avermelhadas por vulcões em erupção que formavam, nos horizontes, rubros pilares de lava incandescente.

Depois de um terremoto que derrubou as muralhas externas e as torres mais altas da cidade, fazendo o rio correr negro durante vários dias, com uma substância letal escapando das profundezas subterrâneas, uma pavorosa mudança química se tornou aparente nas águas que as pessoas haviam bebido durante incontáveis milênios.

Muitos que beberam dela haviam encontrado a morte; e, naqueles que sobreviveram, a bebida causou mudanças sutis, graduais e horrendas. Ao se adaptarem às novas condições, eles haviam afundado muito do seu nível original. Mas as águas letais os transformaram ainda mais horrivelmente, de uma geração para outra geração ainda mais bestial. Aqueles que tinham sido deuses alados, haviam se tornado demônios com asas, com tudo o que restava dos vastos conhecimentos dos seus ancestrais sendo distorcido e pervertido para caminhos horríveis. Assim como haviam alcançado um nível muito mais elevado do que a humanidade poderia sonhar, também acabaram mergulhando mais fundo do que jamais poderia ser visto nos mais loucos pesadelos humanos. Morriam depressa, por causa do canibalismo e de horríveis batalhas, travadas na escuridão da selva à meia-noite. E por fim, em meio às ruínas cobertas de líquen de sua cidade, uma única criatura se ocultava: uma decadente e horrível perversão da natureza.

Súbito, vi a mim mesmo, aparentando uns 20 e poucos anos de idade – embora com um aspecto um pouco diferente de quando eu era jovem, e vestindo uma longa cota-de-malha negra, como há muito não se via na Terra – e perambulando pela enorme cidade que outrora se erguia naquelas ruínas e penhascos desmoronados (onde eu lutara recentemente), ao lado de um guerreiro amigo, de pele negra, o qual era traficante de marfim, ouro em pó e escravos; enfrentando um rei de pele marrom, lutando contra seus lacaios e sendo resgatado por uma linda pirata seminua de pele branca, a qual comandava piratas negros ao meu lado. Foi nesse instante que percebi, pela primeira vez, que estava sonhando. Até aquele momento, eu não tinha tido consciência de minha existência como indivíduo. Mas, ao ver a mim mesmo caminhando sobre o convés do há muito desaparecido navio Tigresa, reconheci tanto minha existência quanto o sonho ao qual vivia, embora eu não tivesse ainda despertado.

E, não apenas tive consciência de mim mesmo como indivíduo, como também percebi um parentesco com aquele guerreiro pré-gaélico de malha negra... Parentesco? Não! Mais do que isso: uma unidade! Também vi, muitos meses depois, aquela tripulação morta às margens de um rio venenoso e, pouco depois, a líder da mesma, enforcada, pelo horrendo demônio alado com o qual eu sonhara, no mastro do navio que comandávamos. Eu a vinguei, com a inacreditável ajuda da própria alma desencarnada dela.

Então, vi outra coisa que me deixou perplexo... Vi o espírito dela, após me ajudar na vingança, reencarnar várias vezes, como mestiça de negros, semitas e arianos, para, milênios depois, adentrar o útero de uma recém-engravidada descendente mestiça de negros, judeus e europeus. E vi nascer, dessa mesma mulher (da família Williams), uma bela menina branca de cabelos e olhos escuros – desde pequena, uma excelente nadadora, espadachim e marinheira. Eu a vi crescer e se tornar ninguém menos que minha amada Jane! Então, eu a vi morrer de novo, com o tiro de canhão no peito. Por Satã e Crom! Quantas vezes terei de morrer e renascer, para superar e esquecer estas e outras perdas, tão numerosas e terríveis?!?

Então, meu pensamento e lembranças vagaram de volta à esquecida era, na qual eu havia liderado os corsários negros, e pensei: se eles, num passado longínquo, haviam seguido uma líder branca, nada os impedia de obedecerem a uma mulher da mesma cor deles. Então, percebi que a jovem Mwanawa era reencarnação de ninguém menos que Jane Williams e... Bêlit!! Bêlit, o primeiro grande amor de minha vida como Conan da Ciméria – sim, era este o meu nome quando conheci a líder pirata dos corsários negros há muitas eras! Vi a forma espiritual de Jane saindo de seu corpo e, pouco depois, adentrando o útero de outra mulher – uma recém-engravidada nativa da parte centro-leste da África (mais precisamente numa das tribos fluviais a oeste daqui). Ela nasceu, cresceu e se tornou a maior guerreira a oeste destas ruínas, e desenvolveu aquele maravilhoso busto gigantesco que me excitou e excita!

Enquanto isso, eu também havia reencarnado, como Conan dos Salteadores, um guerreiro gaélico que enfrentou os Filhos da Noite na Caverna de Dagon, no litoral da antiga Inglaterra; e também fui o taciturno e melancólico guerreiro proscrito Turlogh, do clã dos O’Brien, que enfrentara dinamarqueses em Dublin, e muçulmanos na costa noroeste da África, ao lado do saxão Athelstane e do espanhol Don Roderigo. Então, eu finalmente despertei e visualizei, um a um, os poderosos guerreiros negros que serviam a Mwanawa, e reconheci alguns deles como reencarnações de guerreiros cor-de-ébano aos quais eu comandara eons atrás...



5) “Depressa, rapaz! Ela está lá, te esperando!
Levará muito tempo para me tirarem de você.
Não há absolutamente nada que 100 homens ou mais possam fazer.
Abençoei as chuvas que caem na África!”.
(Toto, em “Africa”/ 1982).


À medida que eu acordava, e os vitoriosos guerreiros negros da rainha tribal se aproximavam de mim com sorrisos de gratidão, eu lhes retribuía os sorrisos e me dirigia a cada um deles, por nomes que eles haviam usado há muitos milhares de anos.

- Modibo... Laranga... Yemba... Ajonga... Menkaga... Yasunga... Bamunda... N’Gora... Kolinga! – falei, reconhecendo, em cada um deles, as reencarnações dos corsários negros e dos guerreiros bamulas, aos quais eu havia liderado numa era passada. E, me dirigindo ao xamã, eu também o reconheci e chamei pelo nome que ele usara há muitas encarnações anteriores: – N’Yaga!

Então, olhei para a bela Mwanawa, que se erguia sobre mim, sem o cocar, usando um lindo colar de estilo europeu – provavelmente espólio de mal-sucedidos escravistas europeus que ali passaram –, e com seus enormes e cheios cabelos crespos se sobressaindo quase tanto quanto o busto gigantesco, enquanto o xamã e os guerreiros se retiravam, um a um, do quarto na choupana onde eu me deitava, com meu corpo recém-lavado, sobre o leito da líder. Ela, por sua vez, já havia limpado o sangue do próprio corpo, mas não o suor. Aquilo me excitou mais ainda. Finalmente, a sós comigo, Mwanawa se dirigiu a mim, sorridente e com um olhar de desejo:

- Eu vi você chamar meus guerreiros e o xamã por nomes que não são os deles... Mas o xamã me explicou quem você foi, quem eu fui e quem todos nós fomos. Quanto àqueles malditos cães sem mãe que nos atacaram, os poucos sobreviventes fugiram com o rabo entre as pernas, depois que o chefe deles morreu.

Eu sorri e agradeci a ela por ter salvado minha vida, ao despedaçar a cabeça do líder rival, com aquele tiro de mosquete.

- Como seus olhos azuis são intensos e vulcânicos, Vulmea! – ela continuou, agora ofegando de desejo. – Como sua aparência é totalmente estranha... diferente até dos poucos europeus que já vi por aqui... e você tem o porte de um rei. Não sou bonita? – ela sorriu.

- Mais linda que a aurora correndo nua sobre a terra – eu sorri, também ofegante de desejo.

Diante de minhas palavras, ela dançou, girando como um redemoinho do deserto, saltando como uma labareda impossível de apagar, como o desejo da criação e o ímpeto da morte. Sua dança era um redemoinho de fogo, vento, paixão e todas as forças elementais. De todos os fundamentos básicos e primordiais, ela absorvia os princípios fundamentais e os combinava num movimento giratório. Ela estreitava o universo ao significado de uma ponta de adaga, e seus pés ágeis e corpo tremeluzente entrelaçavam os labirintos daquele Pensamento central. Sua dança aturdia, exaltava, enlouquecia e hipnotizava.

Enquanto rodopiava e girava, ela era a Essência elemental; uma e parte de todos os impulsos poderosos, e poderes ativos ou adormecidos – o sol, a lua, as estrelas, a cega ascensão de raízes ocultas até a luz, o fogo da fornalha, as faíscas da forja, a respiração do cervo novo, as garras da águia. Mwanawa dançava, e sua dança era Tempo e Eternidade, o anseio da Criação e o anseio da Morte; nascimento e dissolução em um só, idade e infância combinadas. Sua dança não era muito diferente de quando ela era Jane Williams – mas era bem mais selvagem.

De repente, com um grito tão selvagem quanto a dança que acabara de interromper, ela disse:

- Jamais fui abraçada por um homem! Nenhum homem, branco ou negro, pode dizer que foi presenteado com meus lábios ou com meu amor! Sempre me mantive imaculada para o homem que eu sabia que iria encontrar um dia.

Então, mais suada do que nunca, ela me abraçou apaixonadamente, pressionando seus lindos lábios grossos, quentes e macios contra os meus. Eu ainda estava deitado, e ela se curvou sobre mim, pondo as enormes aréolas de seus seios gigantescos em minha boca. Suguei, um a um, aqueles imensos bicos negros e, excitado com o balanço flácido de seu busto e com o forte cheiro de suor a lhe exalar do mesmo e das peludas axilas, suguei sofregamente cada centímetro quadrado de suas mamas e sovacos. Ela, já tomada pelo desejo urgente em suas entranhas – e sentindo o meu nas minhas –, pôs meu falo ereto para fora de minha tanga e, totalmente nua, montou sobre ele. Seu único gemido de dor foi no breve momento em que seu hímen se rompeu sobre meu pênis. Depois disso, após vários minutos se contorcendo e suspirando de prazer sobre mim, enquanto eu lhe sugava os gigantescos seios balouçantes e ela os batia em meu rosto, tivemos juntos um orgasmo intenso e vibrante, como se o êxtase de prazer unisse nossos corpos, almas e corações em um único ser!


Minutos após o orgasmo, ela se dirigiu a mim, enquanto descansávamos:

- Seja meu rei, meu Amra!

- Serei até o fim de meus dias, minha Bêlit! – sorri, radiante com a proposta e chamando-a pelo nome que ela usara numa de suas mais importantes vidas anteriores, como Mwanawa havia feito comigo.

Então, fizemos amor novamente e, após aquele segundo enlace, Mwanawa me ofereceu um cachimbo para fumar. Aceitei sem hesitar. Vinho e cachimbo eram meus vícios prediletos.

* * *


Hoje, rio de mim mesmo ao me lembrar como eu, há muitos milênios, enjoava facilmente daquelas lindas mulheres de cabelos crespos, narizes largos, lábios grossos e quente pele cor-de-ébano – como, por exemplo, na minha época longínqua de chefe-de-guerra dos bamulas.

Quando eu, mesmo como Vulmea, era jovem, ia de contra meus princípios “trair homens brancos para os selvagens”. Mas aqueles negros, aos quais liderei até o fim de meus dias, eram meus amigos desde eras incalculáveis; e a bela Mwanawa era minha companheira definitiva, minha esposa e dona do meu coração – isso sem falar que minha longa vida de pirata me ensinara que dignidade e honra (ou a falta delas) independe da cor ou do grau de “civilização”.

A linda Mwanawa me fez superar, não apenas a perda de Jane Williams, a qual retornara na forma da linda negra, mas todas as perdas que sofri em vidas passadas – pois aquela bela líder tribal conquistou meu coração, preenchendo o vazio deixado mais de 20 anos antes – e há muitas eras também – pela sua morte como líder pirata.

Perdi completamente a vontade de retornar a Tortuga, à Rota dos Piratas e à Europa, onde minha cabeça estava a prêmio. E aquela selva tropical já não era mais “apodrecida” ao meu olfato. Muito pelo contrário, eu sempre enchia prazerosamente meus pulmões com o cheiro de almíscar daquela selva – a partir daquele momento, tão perfumada quanto o mar onde eu navegara no passado! Durante as longas décadas seguintes, ajudei aquela tribo a repelir ataques esporádicos, não apenas de outras tribos, mas também de alguns grupos de escravistas europeus e árabes.

Eu, outrora um forasteiro naquelas ruínas, me casei com a bela Mwanawa – reencarnação das piratas Bêlit e Jane, às quais amei (e vice-versa) no passado –, e governei aquela tribo durante as últimas décadas de minha vida. Aquela linda negra mudou minha vida, e nela gerei uma linda mestiça de olhos verdes, a quem batizei como Bêlit Vulmea. Minha amada deu à luz a criança que nunca pôde gerar comigo, por ter sido estéril, tanto como Bêlit quanto como Jane Williams. E, apesar da minha idade avançada, só morri dali a quatro décadas, nos braços quentes e aconchegantes de Mwanawa e ouvindo o choro de nosso primeiro – e recém-nascido – bisneto.

E, desde então, nos reencontramos e fomos amantes em muitas outras encarnações.


FIM




Agradecimentos especiais: Aos amigos e howadmaníacos Osvaldo Magalhães, de Brasília – DF; Miguel Martins (1973-2014), de Paris, e Mark Singleton e Deuce Richardson, dos EUA.




A seguir: A Sombra no Poço (fragmento/sinopse) – por Robert E. Howard.





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