Malayu, Além dos Pântanos dos Mortos

(por Al Harron)


“Ele viajou para Khitai, Hirkânia e para regiões menos conhecidas ao norte desta última e ao sul da primeira”
(Carta de Robert E. Howard a P. S. Miller).

Muitos lemurianos fugiram para a costa leste do Continente Thuriano, a qual permanecia relativamente intocada. Foram escravizados ali pela antiga raça que já morava no lugar, e a história deles, durante milhares de anos, é uma história de brutal servidão. [...] No Leste distante, separados do resto do mundo pelo surgimento de gigantescas montanhas, e pela formação de cadeias de lagos extensos, os lemurianos estão labutando como escravos de seus antigos senhores. [...]
No extremo Leste, os lemurianos, rebaixados até quase o plano animalesco pela brutalidade da escravidão, insurgiram-se e destruíram seus senhores. São selvagens, espreitando entre as ruínas de uma civilização estranha”
(A Era Hiboriana).


Ao sul de Khitai, fica a terra proibida conhecida como os Pântanos dos Mortos, e os reinos pouco conhecidos de descendência lemuriana. A antiga raça, derrotada pelos lemurianos, pode ter desaparecido, mas suas cidades e cidadelas estão ocupadas por seus usurpadores. O mais poderoso destes é Malayu, um reino de feiticeiros misteriosos e perigosos o bastante para sua rival Khitai.

O povo misterioso que escravizou os lemurianos é quase desconhecido: quem quer que sejam, são indubitavelmente poderosos, pois os herdeiros daquela terrível civilização são os reinos de Bal-Sagoth, Khemu e Stygia. Após o cataclismo, a civilização foi dispersa por todo o mundo. Um dos remanescentes daquela civilização estava situado na grande massa de terra, além dos Pântanos dos Mortos, um lugar amaldiçoado onde os supersticiosos lemurianos tinham medo de se aventurar. Sem a Atlântida como capital, a civilização fundou um novo reino: Malayu. Os feiticeiros de Malayu eram realmente poderosos: nos primeiros séculos após a fundação do reino lemuriano de Khitai, Malayu pôs seus olhos nos usurpadores de seus aliados imperiais. Se não fosse a sabedoria de Yag-Kosha, que ensinou aos khitaianos a antiga e poderosa magia para combater os feiticeiros de Malayu, Khitai poderia ter sido aniquilada. A Antiga Kosala também provou ser poderosa demais para ser subjugada, com sua extraordinária feitiçaria baseada em tecnologia tornando-os inatacáveis; com Khitai e Kosala emergindo como poderosas nações de magia, Malayu teve que mudar da ofensiva para a defensiva, até a Antiga Kosala e Khitai se unirem para humilhar Malayu, transformando-a, de um grande poder do leste a uma nota de pé de página.

Com Malayu aparentemente reduzida a um estado sem poder, a Antiga Kosala e Khitai entraram numa Guerra Fria de Feitiçaria, com nenhuma das nações querendo dar o primeiro ataque. Este, no entanto, foi dificilmente um conflito sem sangue: as nações-satélites de ambos os governos eram manipuladas em guerras de procuração, para desmembrarem o comércio, a economia e o crescimento. Durante todo este tempo, Malayu trabalhou secretamente com Kosala e Khitai, colocando cada nação uma contra a outra, e envolvendo outros poderes, como Vendhya, Ghanara e as tribos hirkanianas na intriga. Através de uma obra-prima de maquinação sutil, Malayu pôs em execução a destruição da Antiga Kosala, ao auxiliar as tribos de Ghanara a invadir e usurpar aquele velho reino, empurrando o povo antigo para oeste, com planos de fixar os conquistadores tribais como vassalos. Contudo, os chefes tribais tinham seus próprios planos, e estavam trabalhando secretamente com conspiradores kosalanos e khitaianos proscritos, para aprenderem a magia e feitiçaria da Antiga Kosala. Deste modo, ao invés de um rei-fantoche, os malayus haviam, inadvertidamente, acabado de substituir sua antiga inimiga por uma nova, com a influência mágica dos mestres orientais incutida pela vitalidade da genética bárbara. Para sorte de Malayu, os novos senhores de Kosala eram gananciosos, empreendendo batalhas em todo o leste – eles foram frustrados por uma coalizão dos Reinos Dourados, deixando-os feridos, mas ainda sendo um poder maior.

A Nova Kosala, desse modo, está numa Guerra Fria de feitiçaria com Khitai, nenhum lado querendo fazer o primeiro ataque, e cautelosa em mover suas ambições para outro lugar. Esta, no entanto, não é uma ação sem sangue, quando uma série de guerras substitutas entre as tribos de Ghanara, da Hirkânia, do Ghulistão e das Montanhas Himelianas lutaram por interesses kosalanos e khitaianos perseguidos no leste e, até agora, escaramuças e conflitos avermelham a terra. Até mesmo nações distantes, como os Reinos Negros, são afetadas pelas ações das duas potências. Mesmo a oportunista Malayu ficou envolvida em assuntos internacionais novamente – desta vez, mais cautelosa. Até o momento, Malayu ainda parecia não se interessar, pelas nações do leste, nem ameaçá-las – uma façanha que os malayuris querem sustentar até chegar a hora.

Malayu é uma nação misteriosa e muito difícil de achar; somente alguns poucos eruditos conhecem seu atual paradeiro, e as pessoas comuns parecem contentes em considerá-la extinta, ou até mítica. Todavia, a evidência para algum tipo de presença ao sul de Khitai existe: galés de formato misterioso podem ser vistas ao longo das costas do Oceano Oriental, com carga desconhecida nos porões, dirigidas por mãos invisíveis, as quais nunca desembarcam em porto algum, exceto os evitados ancoradouros dos Pântanos dos Mortos.


Tradução: Fernando Neeser de Aragão.



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