Carta de Robert E. Howard para Fansworth Wright (6 de maio de 1935)

Prezado Sr. Wright

Eu sempre odiei escrever cartas como esta, mas uma terrível necessidade me força a isto.

Em resumo, é um apelo por dinheiro.

Não é nenhuma novidade para mim, precisar de dinheiro, mas as presentes circunstâncias são diferentes daquelas em que geralmente me encontrei no passado.

Minhas despesas nos últimos meses têm sido enormes. Minha mãe foi forçada a retirar sua bexiga, numa séria cirurgia, especialmente para uma mulher com a sua idade e seu estado de saúde.

Ela esteve quase inválida por anos. Ficou internada num hospital em Temple por um mês, onde, durante esse tempo, fiquei com ela e não tive condições de escrever nada durante este tempo. Mas para um desconto com o profissional nas despesas da cirurgia, meu pai sendo um médico, não sei como conseguimos arcar com tamanhas despesas.

Elas foram muito grandes, considerando as despesas do hospital, enfermeiras especiais, etc, e minhas próprias despesas, embora eu as tenha cortado tanto quanto pude, ficando no quarto mais barato que encontrei e pulando refeições com tanta regularidade que cheguei a perder 15 libras naquele mês. Ficamos em casa por mais de um mês, mas minha mãe ainda está longe de se recuperar.

Um abscesso se desenvolveu na ferida da operação, o que requereu sua internação por muitos dias num hospital em Colemam, e é ainda necessário levá-la lá, numa distância de umas trinta milhas, a cada poucos dias para que sua ferida sare e limpe, e meu pai não tem como facilitar isto. Enquanto isto, as despesas vão indo, naturalmente, para nós que fomos forçados a contratar uma mulher para cozinhar e fazer os serviços de casa que estou impossibilitado. Se minha mãe vai se recuperar ou não, possivelmente vai depender do tipo de cuidados e atenção que eu possa lhe dar, e do mesmo modo, do dinheiro que eu possa ganhar.

Isto me traz um problema nas mãos. Por algum tempo eu recebi um cheque com regularidade a cada mês de Weird Tales – meio cheque, é verdade, mas praticando uma rígida economia eu consegui me administrar e não me afogar; mas isso eu só consegui fazer, não pelo valor do cheque , mas pela sua regularidade. Eu vim a depender deles e a esperar por eles, como eu expliquei. Porém, este mês, justamente num momento que eu preciso tão desesperadamente de dinheiro, eu não recebi o cheque. De algum modo, de alguma maneira, minha família e eu temos lutado por isso, mas se vocês cortarem meu cheque mensal agora, eu não sei, em nome de Deus, o que fazer.

O custo de vida aumentou; esta parte do país tem sofrido amargamente com secas e tempestades. Meu pai é um ancião e a maioria de seus pacientes são miseráveis carentes e necessitados que raramente têm alguma coisa, além de produtos de fazenda para pagá-lo. Este ano talvez, nem isso tenhamos. Miséria não é novidade para mim. Tenho uma crosta atormentada toda minha vida. Mas as privações que sofri no passado são apenas cafés pequenos ao que me acontecerá, se houver a descontinuidade de meus cheques mensais da Weird Tales.

Eu não acho que minha solicitação seja insensata. Como você sabe, faz seis meses desde que O Povo do Círculo Negro (a história pela qual o cheque agora me faz falta) apareceu em Weird Tales. Weird Tales deve-me mais que oitocentos dólares por histórias já publicadas e que deveriam ser pagas por publicação – suficiente para pagar todas minhas dívidas e me pôr em equilíbrio novamente, se eu puder recebê-lo de uma vez só. Talvez isto seja impossível. Eu não quero ser insensato. Eu sei que os tempos estão difíceis para todos. Mas eu não acho que esteja sendo insensato em lhe pedir para enviar-me meu cheque mensalmente até a conta seja acertada. Honestamente, neste ritmo que estamos indo, eu serei um velho antes de receber meu pagamento! E minha necessidade pelo dinheiro agora é urgente.

Claro, eu vendo para outras revistas de tempos em tempos, mas essas vendas são incertas. Comercializar regularmente requisita muito tempo e esforço, e por anos, a maior parte de meu tempo e esforço tem sido devotado a histórias que escrevi para a Weird Tales. Eu cresci nas revistas, pra dizer a verdade, e isto tem sido na maior parte de minha vida meus pés e minhas mãos. Mas para um homem pobre, o dinheiro que ele faz é o sangue de sua vida, e depois, quando escrevo sobre as aventuras de Conan, tenho que lutar contra uma reflexão desanimadora que, se a história é aceita, isto levou anos antes de eu ser pago por ela.

Este é o estado de meu caso, falando na única maneira que sei, que é ser franco. Eu confio que minha franqueza não tenha gerado ofensas. Necessidade me leva a isto. Um cheque mensal da Weird Tales, pode muito bem significar para mim a diferença entre uma vida que seja ao menos suportável – e só Deus sabe como.


Cordialmente,


Robert E. Howard




Tradução: Doutora Marisa Queiroz, psicóloga no Rio de Janeiro.

Fonte: http://en.wikisource.org/wiki/May_6,_1935,_to_Farnsworth_Wright
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