Espadas na Gunderlândia

Introdução:

O conto a seguir é seqüência imediata de “Abutres sobre Albiona” (disponível neste site e feito pelo webmaster Osvaldo Magalhães), e se passa pouco antes dos eventos narrados em “O Ídolo Caído” (ESC 139). Em sua apócrifa Cronologia na CS 14, Fred Blosser foi reticente com relação ao destino final de Sonja. Todavia, existem dois itens importantes a respeito da personagem de Robert E. Howard:

Na ESC 62, a Sonya de Rogatino (ali chamada “Sonja de Rogatino”), apresenta-se, dizendo: “Como minha ancestral, Sonja da Hirkânia, também sofri atrocidades nas mãos de um bando de soldados”. Qual poderia ser, então, o único guerreiro na Era Hiboriana, capaz de quebrar o voto da ruiva hirkaniana, e tornar-se o ancestral de Sonya de Rogatino?

Outro detalhe é que os hirkanianos, segundo Howard, foram ancestrais dos “mongóis, hunos, tártaros e turcos” (Anais da História Hiboriana, cap. 6, ESC 18). Todos estes longínquos descendentes dos lemurianos tinham pele morena, olhos oblíquos (uns mais e outros menos) e cabelos negros. Portanto, é mais provável que a ruiva Sonja (como Roy Thomas propôs em ESCOR 2 e, ao contrário do que desmentiu em CB 10) fosse descendente dos “Favorecidos” (ESCOR 2), irmã legítima da falecida Zora (ESCOR 2/ CB 8 e 10) e, portanto, filha adotiva do hirkaniano Ivor.

No início do conto que segue, faço ligeiras referências à ex-rainha Marala, de Ophir (ESC 27), e ao capitão Garus (idem), bem como a eventos da SAM 22 e ESCOR 6 – além, é claro, de fechar um círculo repetitivo criado em 1972 por Roy Thomas (e que este nunca se preocupou em encerrar). O líder Sthagronny e a exótica Janara foram criados por mim, não havendo, portanto, quaisquer referências a estes últimos na saga de Conan.








Conan e Sonja – Espadas na Gunderlândia
(por Fernando Neeser de Aragão)


A neve cobre as florestas que se iniciam naquela montanhosa região aquiloniana, a norte do rio Shirki. Sobre ela, cavalgava sem pressa um casal que, há poucos dias, lutara pela ex-rainha Marala, de Ophir – hoje uma nobre dos arredores de Tarântia, a capital do reino hiboriano mais poderoso do ocidente: a Aquilônia. O homem a cavalo tem a pele morena, olhos azuis e longos cabelos negros; seu corpo musculoso, de quase dois metros de altura, estava resguardado por um longo manto de pele grossa, sobre um colete e um par de perneiras – ambos de cota-de-malha –, uma tanga de couro macio e um par de botas, feitas com couro endurecido e anti-derrapante. Uma espada e uma adaga pendiam, uma de cada lado, de seu cinto.

A mulher que cavalgava a seu lado usava roupas e armas semelhantes – exceto pelo par de delicadas luvas de couro e pela ausência de perneiras de malha metálica. Ela era ruiva, de quase 1m80, pele clara e olhos verdes. Embora beirasse os quarenta anos, como o homem ao seu lado, seu voluptuoso corpo ainda tinha as curvas firmes, como as de uma jovem de vinte.

Mesmo que o belo casal, açoitado pelo vento gélido que tanto lhes agradava, não usasse nenhuma daquelas roupas e armas, o simples porte deles já os identificaria como guerreiros. A recompensa, obtida por terem ajudado Marala na capital da Aquilônia, já fora gasta nas cidades de Tanasul e Galparan, desde que o moreno cimério reencontrara o velho amigo Garus, em Tarântia, e o apresentara à sua amiga ruiva da Hirkânia. Depois de muita bebida e de alegres conversas com o capitão Garus, o casal partiu de Tarântia.

Agora, enquanto cavalgam, o moreno, de nome Conan, comenta alegremente com a ruiva sobre as belas aquilonianas de cabelos loiros, em Galparan, as quais faziam o cimério lembrar-se da guerreira aquiloniana Valéria, com quem singrara os mares, nos tempos de baracho, e as selvas, anos depois que deixara de ser bucaneiro.

- Outra pirata vadia, como Bêlit? – pergunta a ruiva, debochadamente.

Conan se aborrece com tal comentário sobre aquela digna guerreira loira e pára o cavalo.

- Pois fique sabendo, sua porca hirkaniana, que nem ela nem Bêlit se entregavam a qualquer um! Além do mais, Valéria me contou ter lhe conhecido no Mar Vilayet, quando ainda era criança; e ela sempre falou bem de você, sua filha de um poltrão perneta! – explode o bárbaro.

- Como ousa me chamar de porca? E como ousa ofender a memória de meu pai, seu bastardo cimério?!! – grita a ruiva, de nome Sonja, com os olhos esmeraldas faiscando de ódio e fúria. No segundo seguinte, sem o menor aviso, a hirkaniana desembainha, e ao mesmo tempo brande, sua espada em direção ao pescoço do cimério. Por puro reflexo, Conan se esquiva, perdendo apenas uma mecha do cabelo, ao invés da cabeça, enquanto, a um só tempo, ele desembainha sua longa espada azulada, com a qual apara uma segunda arremetida da ruiva.

Os dois cruzam espadas por cerca de um minuto, até que ambas as lâminas se entrelaçam. Nesse momento, valendo-se do próprio peso – duas vezes o da hirkaniana –, o cimério derruba a ruiva do seu cavalo, ao mesmo tempo em que cai da própria montaria. Ao atingirem a grama nevada, os dois guerreiros rolam, cada um para um lado, e levantam-se, de espada em punho, um encarando o outro, com suas guardas fechadas. Conan, então, abre a própria guarda, a fim de atrair o ataque da guerreira, que, apenas três metros à sua frente, investe contra o bárbaro.

A fúria inflama os olhos verdes da última guerreira dos Favorecidos – a “Destruidora Pálida”, como Sonja era conhecida entre eles –, enquanto ela brande sua longa espada contra a do bárbaro que falara mal de seu pai adotivo. Conan repele seu ataque, girando a própria espada em vários círculos e mostrando à ruiva por quê ele raramente precisa de escudo. Mas a hirkaniana é ágil e, numa cambalhota, se esquiva dos contra-golpes do cimério, para, em seguida atacá-lo com a mesma fúria e agilidade do início do combate.

Todavia, no momento seguinte, uma lança corta o ar e se finca aos pés do casal de guerreiros, seguida por mais três, uma após a outra, cercando-os. Então, a floresta nevada é invadida por vários guerreiros armados com lanças apontadas para o casal. São todos do sexo masculino e, como todos os nativos da Gunderlândia – descendentes puros dos primeiros hiborianos –, eram altos e fortes, com pele clara, cabelos castanhos e olhos cinzas. Todos vestiam roupas de pele e as pontas de suas lanças eram de ferro, assim como as lâminas das espadas e machados que levavam à cintura.

O mais velho dentre eles – um homem de seus cinqüenta anos, mas ainda forte e apto para a guerra – tomou a palavra.

- O que esse sujeito está dizendo? – pergunta a ruiva, com a fúria atenuada pelo surgimento de um inimigo comum.

- Que nós somos seus prisioneiros e devemos segui-los. – responde o cimério – E acho melhor fazermos isso, pois eles são muitos... E veja! Alguns estavam escondidos nas copas das árvores e, somente agora, estão descendo ao chão.

Sonja era uma guerreira tão experiente quanto Conan, e terminou concordando. Ela deixou cair a espada, mas o líder gunderlandês olhou para a hirkaniana e disse outra coisa que esta não conseguiu entender.

- Ele está pedindo para você apanhar sua espada. – diz Conan.

- O que diabos estes bárbaros querem, em nome de Erlik? – pergunta a guerreira.

- Só saberemos ao chegar à aldeia deles. – responde Conan, relevando o tom pejorativo, dado por Sonja, à palavra “bárbaros” e tentando esquecer o que a ruiva dissera sobre Valéria e Bêlit.


* * *

Ainda cercado – mas não amarrado –, o casal chega à aldeia. Embora ainda seja inverno, alguns homens estão seminus – à exceção dos idosos – e as mulheres, apesar das longas saias, usam apenas pequenos corpetes de pele para cobrirem os seios. Como os primeiros hiborianos, eles eram acostumados a climas frios.

Embora aqueles provincianos – os quais nunca se consideraram realmente aquilonianos – fossem rudes, suas choupanas eram menos toscas que a de outros bárbaros, como os vanires, aesires, cimérios e pictos, se assemelhando muito às que Conan conhecera, há 16 anos, na cidade de Sfanol, no Reino da Fronteira. Mas, o que mais chamou a atenção do casal de guerreiros foi a presença de uma escrava – belíssima, por sinal – que, em nada, parecia com o povo daquela aldeia, para o qual ela trabalhava; aliás, ela não lembrava nenhuma raça que eles conhecessem: era clara e ruiva, como Sonja, mas as maçãs do rosto salientes e os olhos rasgados tornavam-na quase idêntica a uma khitaiana; seus lábios rubros eram grossos como os de uma negra kushita e os olhos eram violetas!

Após alguns instantes de surpresa, Sonja se vê incomodada pelo constante barulho daqueles aldeões, num idioma que ela desconhece, e reclama com Conan:

- Estes selvagens podiam falar, ao menos, um pouco de Aquiloniano...

Como resposta à sua reclamação, o líder senta-se num trono de madeira no meio daquela enorme aldeia, e esta silencia. Então, com frases truncadas em Aquiloniano, o chefe bárbaro se dirige a Conan e Sonja:

- Moreno e ruiva... bons guerreiros. Moreno e ruiva lutar até um morrer. Se não lutar... morre os dois! E quem ganhar... ajuda tribo a ficar livre de Aquilônia.

Sem muita escolha – mas, ao mesmo tempo, inflamado por outras motivações, movidas a ódio e a desejo –, o cimério brande sua espada contra Sonja, cortando apenas o ar, enquanto ela se esquiva e, com extrema força e agilidade, começa a cruzar espadas com o único homem no mundo capaz de igualar-se a ela na agilidade, velocidade e esgrima. A luta então se prolonga por cinco minutos... dez... meia hora! Pouco a pouco, todavia, a espada de Sonja começa a pesar-lhe no punho, o que não ocorre com Conan, cujo tamanho e força superam os da ruiva. Então, quando o guerreiro moreno do norte está prestes a desarmá-la, a hirkaniana apela para um chute nos testículos de Conan.

Irada pela situação e pelas ofensas, Sonja, já esquecida da longa amizade com o cimério, prepara-se para decepar o pescoço deste, que ainda curva-se de dor. Mas, o poder de recuperação do gigante da Ciméria é assustador; e, assim, ele detêm o golpe da ruiva com a própria espada.

- É isto... o que você chama de “uma luta justa”, Sonja? – diz Conan, se endireitando e girando a espada em novos e desnorteantes círculos, desta vez em forma de “8”, deixando a surpresa ruiva desorientada. Aproveitando-se deste breve instante de hesitação, o bárbaro moreno deixa a fatigada guerreira desarmada com um golpe de sua espada na base da lâmina da dela, ao mesmo tempo em que, numa rasteira, derruba-a ao chão de grama e neve, e põe seu pé direito sobre o ventre de Sonja, apontando-lhe a lâmina azulada na garganta. A hirkaniana caída puxa o punhal no cinto, mas numa rapidez cegante, Conan lança-o para longe dela com sua própria arma e torna a lhe apontar a espada no pescoço. Então, ele acrescenta, sorrindo: – É isto o que eu chamo de luta justa, Sonja.

Nisto, o tumulto aumenta entre os aldeões – com exceção da escrava –, e então, no idioma gunderlandês, o chefe, de nome Sthagronny, ordena a Conan que mate a ruiva, enquanto dois lanceiros cercam o moreno, a fim de que ele cumpra a ordem.

- Mate-me, se é isto que quer, seu cimério sujo e bajulador! – cospe Sonja, com os olhos esmeraldas ainda brilhando de fúria – Mas não pense que vou implorar, seu canalha!

- Haaayyy-Iaaaaahhh! – grita Conan, num acesso de fúria, decepando as lanças e cabeças dos lanceiros próximos, num sangrento giro de duas voltas. Ao mesmo tempo, Sonja apanha sua espada e punhal caídos e levanta-se, abrindo, num só golpe da lâmina longa, os ventres de outros dois homens que tentaram vará-la, e guardando a curta na bainha, logo depois. A aldeia transforma-se num pandemônio, enquanto a bela cativa tenta fugir. Ao ver um aldeão tentando matar a estranha jovem por isso, Conan, mesmo ocupado, lança sua adaga no pescoço do pretenso assassino, permitindo à escrava escapar, floresta adentro.

Com as costas coladas às de Sonja, o cimério vê um membro daquela horda uivante investir contra ele, de espada e machado em punho. Com três rápidos golpes de sua pesada espada, o moreno reduz o rosto daquele gunderlandês a uma massa amorfa de ossos, carne e sangue. A hirkaniana, por sua vez, crava sua longa espada no pescoço de um outro lanceiro que a ataca, fazendo-o cair ao chão, onde se estrebucha, afogado no próprio sangue. Enquanto isso, o bárbaro da Ciméria derruba outro bárbaro da Gunderlândia, talhando-lhe o tronco num largo e profundo corte diagonal, o qual rompe coração, costelas e tripas num enorme jato vermelho. Após três golfadas de sangue pela boca e nariz, aquele gunderlandês enrijece para sempre no chão nevado.

Ao mesmo tempo, com um brado sanguinário, o terrível Sthagronny, chefe daquela tribo, avança em direção a Sonja, com um enorme machado de ferro erguido acima da própria cabeça. Sua própria velocidade o condena, fazendo mais de meio metro da lâmina, empunhada pela ruiva hirkaniana, penetrar-lhe a boca do estômago. Todavia, a horda selvagem está tão sedenta de sangue, que nem percebe a morte de seu líder, o que obriga Conan e Sonja a abrirem caminho até seus cavalos, fazendo jorrar sangue, quebrar ossos, e rasgarem carnes e vísceras. Apesar da selvageria e ferocidade daquela tribo, os nativos da Gunderlândia não possuem a mesma habilidade de luta do moreno cimério e da ruiva hirkaniana; e as armas de ferro dos gunderlandeses não são páreo para as espadas de aço temperado daquele casal guerreiro.

Enquanto montam, uma jovem de cabelos castanhos, companheira de Sthagronny, percebe que ele está morto, grita uma maldição e atira uma adaga em direção ao pescoço de Conan, que encontra-se de costas para ela. Mas, tanto pelo instinto bárbaro do cimério, quanto pela falta de boa mira da jovem viúva, o gigante moreno se esquiva, enquanto Sonja saca o próprio punhal e lança-o, fatal e certeiro, no coração da pretensa matadora de Conan.

Então, dirigindo seus cavalos para o norte, o casal guerreiro cavalga em direção aos bosques, deixando para trás os brados encolerizados da aldeia enfurecida.

* * *

Por precaução, Conan achou melhor atravessar a fronteira da Ciméria, onde, numa floresta verde-escura salpicada de neve, ele e Sonja vêem restos carbonizados de muros e construções de pedra e madeira, avultando na noite.

- A partir daqui, nenhum gunderlandês ou aquiloniano ousará nos seguir. Estas são as ruínas de Venarium, Sonja. – diz Conan, desmontando.

- Venarium? A fortaleza aquiloniana que você contou ter ajudado a destruir, quando tinha 15 anos? – pergunta a ruiva, também descendo da montaria e começando a armar uma barraca, ao ver as nuvens carregando no céu.

- Sim. Na verdade, Venarium foi construída pelos aquilonianos, com a ajuda dos gunderlandeses. Queriam dominar a Ciméria, mas se deram mal, graças aos meus conterrâneos. Foi onde lutei a minha primeira batalha... e pode ser o local da nossa primeira noite de amor. – ele responde, enquanto sorri e acende rapidamente uma fogueira.

- O quê? – retruca Sonja, indignada.

- Esqueceu do seu juramento? – indaga Conan, terminando de armar a barraca, ao mesmo tempo em que a chuva começa a cair e a ruiva adentra a tenda.

Suspirando profundamente, Sonja lembra-se do seu juramento à Deusa Vermelha, há mais de duas décadas: entregar-se somente ao homem que a derrotasse numa luta justa.

Contrariada, a ruiva hirkaniana deita-se sobre a pele estendida na relva, com os braços abertos e as pernas afastadas.

- Possua-me, chacal cimério... – grunhiu Sonja – Mas não espere que eu goste disso.

Conan sorri. Desde que iniciara a vida sexual, com a sacerdotisa Ursla, ele não era homem de ir “direto ao assunto”. Ao mesmo tempo, ele se recorda que havia recusado a ruiva, há mais de 12 anos, em Shem, quando ela agira com tão pouco calor quanto neste momento. Mas ele agora não está, como na época, revoltado pela morte de nenhuma mulher amada.

Devagar, então, o cimério desata as correias de couro que prendem a abertura frontal do colete de malha da guerreira, abrindo-o e acariciando-lhe o seio direito com a mão, ao mesmo tempo em que beija-lhe a boca rósea e molhada pela chuva. Pouco depois, a outra mão desliza pelo torneado ventre até a parte inferior da tanga de couro de Sonja, acariciando-lhe a basta mata ruiva pubiana. Então, os suspiros da hirkaniana, inicialmente de indignação, transformam-se aos poucos em suspiros de desejo. Ela já havia trocado um longo e delicioso beijo com um adolescente, há vários anos, em Zingara, bem como com um aventureiro de nome Tusan, naquele mesmo país. Mas nenhum deles chegou ao ponto de lhe atiçar a libido de tal modo, com tamanha intensidade.

Então, o bárbaro sente uma umidade quente, por entre os pêlos que massageia carinhosamente com sua mão calejada, e arranca as próprias roupas para, em seguida, sugar os seios alvos e suados da ruiva. Sua mão não deixa de acariciar a guerreira por dentro da tanga, exceto quando, um minuto depois, é substituída pela língua áspera do cimério.

- Oh, Conan! – ofega a ruiva, contorcendo-se de prazer – Há anos que eu... sonhava com isto... Oh...!

Percebendo que Sonja sentia-se à vontade, o bárbaro, lentamente, postou-se sobre ela e, pouco a pouco, arremeteu o musculoso corpo de bronze sobre a bela e alva hirkaniana, que, embora beirando os quarenta anos, nunca sentira tanto prazer na vida. Próxima ao casal guerreiro, a fogueira crepitava, aquecendo-os da fria chuva ciméria de inverno, que caía do lado de fora da tenda, e abafando os suspiros, gemidos e longos atritos dos corpos desnudos do maior casal guerreiro da Era Hiboriana. Conan era um amante experiente – tinha mais de vinte anos de vida sexual ativa –, enquanto Sonja nunca sentira tanta libido e prazer carnal. Assim, quando o cimério se deixa, finalmente, levar pelo êxtase de prazer e desejo, a ruiva já havia tido dois orgasmos.

* * *

Após uma longa noite de partilhas de prazeres naquelas ruínas na floresta, Sonja acorda de seu breve sono, ainda cansada, mas bastante satisfeita e, pela primeira vez na vida, realizada com um homem. Com um brilho ardente de seus olhos azuis, o bárbaro devolve o sorriso da ruiva.

Enquanto preparam o desjejum, o desnudo casal de guerreiros ouve uma voz feminina chamar pelos dois, ao repetir constantemente as palavras “moreno” e “ruiva”. Ao saírem da tenda e contemplarem o céu ainda cinza, eles avistam a estranha garota que Conan havia salvado na aldeia onde duelaram. Sonja, pela primeira vez, se pega com um sentimento de ciúme. A ruiva nunca sentira tal coisa por homem algum... mas, ela também nunca imaginara que um dia iria experimentar o sexo de uma forma tão prazerosa! Percebendo o olhar da hirkaniana que se veste – tanto por ter saído do quente lençol grosso de pele, quanto pela aproximação de uma estranha –, a outra ruiva dirige-se a ela, falando o idioma Aquiloniano, com um sotaque tão indefinível quanto sua raça:

- Desculpe, olhos-verdes... só vim agradecer ao seu companheiro por salvar minha vida. – diz a jovem, desconcertada.

Sonja sorri, lembrando de si mesma, antes do fatídico Juramento:

- Tudo bem, minha jovem... Meu nome é Sonja, da Hirkânia. Este é Conan, da Ciméria. E você, de onde vem? Qual o seu nome?

- Me chamo Janara. Nasci na Nemédia, mas meus pais eram os últimos descendentes de um povo pré-Thuriano. Depois que perdi meus pais, numa guerra entre Nemédia e Aquilônia, fui parar no harém do rei Numedides. Mas me recusei a ir para a cama com aquele degenerado, e ele, então, me deu a Sthagronny, como presente de amigo. Só que eu era muito maltratada na aldeia, sobretudo por aquele líder bruto. Por isso, resolvi fugir durante aquela confusão de dias atrás. Depois que o cimério me salvou, peguei o único cavalo da aldeia, pertencente ao falecido chefe, e fugi. Mas, a montaria morreu antes que eu lhes alcançasse.

- É... – diz Sonja, com um sorriso irônico – Parece que, apesar de tudo, seu falecido dono pretendia declarar guerra ao rei desse país. Mas, deixa pra lá! – e acrescentou: – Mas você não veio até aqui só pra agradecer a Conan, foi?

- É que... fiquei só. Não tenho mais... pra onde ir.

- Tenha calma, garota, tenha calma. – responde a hirkaniana, abraçando ternamente a garota de cabelos tão vermelhos quanto os dela – Se quiser seguir conosco, fique à vontade.

O cimério – que acabara de vestir-se – disfarça o brilho fugaz de desejo no olhar, ao ver aquela bela jovem, de rasgados olhos violetas e rubros lábios grossos. Ele não quer desconcertar, nem desmotivar uma garota que resolveu confiar neles o próprio destino. Além disso, a madrugada fora agradabilíssima a ele...

- Venha partilhar o nosso desjejum! Onde comem dois, comem três. – acrescenta Sonja, com um sorriso alegre e contagiante.

* * *

Após comerem e desmontarem a barraca, o cimério pergunta à hirkaniana para onde ela pretende ir.

- A Vanaheim, Conan. Pretendo trabalhar lá como mercenária, na aldeia marítima de Lireigh. Apesar do meu sotaque, poucos diriam que não sou vanir! – responde Sonja, sorridente e animada – E você? Vem comigo?

- Acho que não. Pensei em lhe acompanhar até chegarmos à minha tribo natal, a caminho do seu destino... mas acho que vou tentar o serviço mercenário, num local mais próximo, como o Reino da Fronteira.

Sonja, então, se amaldiçoa intimamente por se sentir desapontada com a decisão de Conan. Ela sabia que ele raramente se apegava, por muito tempo, a uma companhia feminina. Mas, os inéditos e prazerosos êxtases que experimentara, horas atrás, nos braços daquele cimério, aumentaram-lhe o vínculo e apego a ele, alimentados por quase vinte anos de amizade com o bárbaro.

- Sonja, eu... – diz Conan, desconcertado ao perceber o desapontamento da hirkaniana.

- Não precisa se desculpar, cimério... eu sei! – responde Sonja, se esforçando para os olhos verdes não marejarem. Com um esforço tão grande quanto o de uma batalha, ela consegue colocar a razão acima da emoção. Se as lágrimas tiverem que vir, que venham depois. Além do mais, o duelo na Gunderlândia fora justo e ela não perdeu nem um pouco da habilidade guerreira, da qual precisaria em Vanaheim e, provavelmente, na Ciméria.

Então, enquanto montam seus respectivos cavalos, o bárbaro sugere à ruiva um beijo de despedida, mas ela se recusa. Melhor assim, pensa o cimério. Sonja pergunta a Janara se ela pretende acompanhá-la até Vanaheim.

- Com toda a gratidão e respeito, e com sua permissão, milady Sonja, eu seguirei com Conan, pois ele salvou minha vida. – responde a bela jovem, último membro de uma raça esquecida.

- Tudo bem, Janara. – responde a hirkaniana, último membro da raça dos Favorecidos, com um sorriso quase materno, enquanto a última ruiva pré-Thuriana sobe na garupa do cavalo de Conan. Muito sortudo esse cimério, pensa Sonja, se pegando outra vez com sentimentos de inveja e de ciúmes, atenuados somente pela amizade que se formou entre ela e a ex-escrava, de lilases olhos rasgados. A hirkaniana, apesar de tudo, confiava no cimério. Sabia, como ninguém, que, quando se cansasse da exótica jovem – ou vice-versa –, ele a deixaria na companhia de um amigo – ou amiga – de confiança, para que cuidasse bem dela.

O que ninguém sabia, entretanto, é que dali a algumas horas, um zigoto se formaria no útero da guerreira hirkaniana. Nove meses depois, em Vanaheim, um garoto semi-cimério nasceria e, ao crescer, se tornaria o maior espadachim e pirata daquela nação bárbara costeira. Seus descendentes ruivos, mais de quinhentos anos depois, seriam empurrados ao sul, por glaciações, e alguns deles se instalariam nas estepes a noroeste do Vilayet. Vários milênios depois, nasceria, na região russa de Rogatino, uma nova guerreira ruiva, irmã da imperatriz Roxalena, e que lutaria no fatídico Cerco de Viena, batizada com nome semelhante ao de sua longínqua ancestral hirkaniana, de cabelos igualmente vermelhos. Mas isto... é uma outra história.
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