Matérias e Entrevistas: Falam os Discípulos do Aço

por Romeu Martins
em 07/10/2004

Rápida conversa com os responsáveis pelo portal brasileiro da Era Hiboriana

Arte da clássica fase de Conan, da época de John BuscemaExiste um endereço que é a referência nacional a tudo o que diga respeito a Conan e a Era Hiboriana: cronicas, também conhecido como Crônicas da Ciméria. Mantido há três anos por Osvaldo Magalhães e mais recentemente em parceria com Alessandro Nunes, que reformulou totalmente o site, o portal antigamente era vizinho d´ O Malaco (o site antecessor do marca Diabo) na HPG. Em seu novo endereço, a home page dedicada ao personagem ganhou contornos profissionais e aumentou o conteúdo aos seus usuários, chamados de Discípulos do Aço entre eles.

Para saber o que esses especialistas em Conan estão achando das novidades a respeito do bárbaro, como sua nova revista e os boatos em torno de um terceiro filme, o Marca Diabo acionou por e-mail o cronista Osvaldo Magalhães e o discípulo Douglas Oliveira Donin. Em suas identidades civis, ambos são bancários e ávidos colecionadores de praticamente tudo o que leva a marca Conan - Donin há 10 anos e Magalhães desde 1987.

Marca Diabo - Quais suas expectativas para essa nova série da Dark Horse?
Douglas Oliveira Donin - Sinceramente... não tenho muitas esperanças. Acho que o tempo do Conan já passou. Aliás, acho que o tempo dos quadrinhos americanos (pelo menos os mainstream) de qualidade já passou. Nessa época de quadrinhos rasos, preocupados apenas com a 'arte' (leia-se: violência gráfica e sensualidade gratuita), acho que nada será mais autêntico a não ser coisas alternativas.
Osvaldo Magalhães - Desde dezembro do ano passado, quando coloquei as mãos em meu Conan malandrão exemplar de Conan: The legend #0, todas as minhas xpectativas foram confirmadas. Embora sucinto, o roteiro de Busiek deu provas da qualidade que vem acompanhando seu trabalho nos últimos anos; e a arte de Nord realmente me impressionou neste primeiro contato com seu estilo. Todavia, embora confiante no talento da dupla e no carisma do personagem, estou meio que 'em cima do muro' sobre esta situação. Afinal, o que realmente vai importar é o retorno financeiro que isso implica lá nos EUA.

MD -O novo roteirista, Kurt Busiek, prometeu ser fiel aos textos originais dos pulps e criticou algumas das adaptações feitas para os quadrinhos do Roy Thomas dizendo que o texto da época era muito prolixo e excessivamente descritivo. Vocês concordam com a crítica?
DOD - Não acho tão fundamentada. Cresci lendo as adaptações de Thomas para as obras de Carter e de Camp, e não as considero ruins. Inclusive, estão acima de qualquer material produzido hoje em dia nos quadrinhos.
OM - Não. Roy Thomas também foi fiel a Howard, ao menos enquanto fez as adaptações dos contos. Por serem adaptações, era praticamente impossível escrever as histórias com poucos recordatórios ou diálogos - e não concordo que tenham sido prolixos, peremptoriamente. Mas esperemos para ver se o próprio Busiek se limitará nas adaptações dos textos e deixará a ação por conta da arte, ou não.

Capa do segundo número da nova série de ConanMD - Qual a opinião de vocês a respeito da arte de Cary Nord e Dave Stewart com esse polêmico recurso de dispensar arte-final tradicional e partir do lápis direto para a colorização? Dá para comparar com material clássico de Buscema/Alcala ou do Windsor-Smith?
DOD - Interessante, muito interessante... mas tenho que superar minha estranheza de ler Conan colorido. Além disso, me parece estranho qualquer Conan que não seja visualmente semelhante ao de John Buscema/Tony de Zuñiga (o ápice da arte de Conan) ou Buscema/Ernie Chan. Questão de costume.
OM - Na minha opinião, as fases artísticas de Conan são bem distintas. Fazer comparações, com qualquer uma das fases ulteriores a Smith e Buscema/Alcala é covardia. Smith foi um inovador e se tornou mestre em seu estilo ainda pouco antes de deixar Conan. Buscema/Alcala é a dupla mais detalhista e realista que já vi. Os desenhos de Buscema são perfeitos e ele não pode ser comparado de maneira alguma. Agora, artistas mais recentes também são excelentes, cada um com seu estilo. Como é o caso de Jim Lee, Mike Deodato e Andy Kubert - além de muitos outros bons desenhistas Marvel/DC/Image. Nord está ganhando seu espaço já há algum tempo, mas sua maior chance está aí. Todavia, se olharmos bem, John Buscema era um mestre tanto em arte para cor como para P&B, e isso não é fácil de se conciliar num mesmo estilo imutável.

Como estão suas expectativas a respeito dos rumores do novo filme do bárbaro, desta vez assinado pelos irmãos Matrix? E dos dois longas anteriores, o que acharam deles?
DOD - Minhas expectativas são bem baixas. Hollywood é Hollywood, e os Irmãos Wachowski demonstraram ser grandes marqueteiros e péssimos roteiristas. Agora, se me dessem um filme do Conan para fazer, sabem como eu faria? Filmaria Conan, o Libertador (ESC 37-40) [N.E.: seqüência de histórias da revista Espada Selvagem de Conan, da editora Abril, que mostram o cimério conquistando o trono a Aquilônia. Uma excelente escolha, diga-se ]. Em preto e branco, como A Lista de Schindler. Com uma cenografia meio antiga, inspirada na impressionista alemã.
OM - Sobre o terceiro filme, já estamos há mais de dois anos nesse clima de expectativa e confesso que estou bastante desanimado quanto a isso. Boatos e mais boatos circulam pela mídia e nada de concreto realmente parece estar acontecendo. Ainda mais agora com Schwarzenegger de fora do projeto, já que o grandão agora é governador da Califórnia. O primeiro filme, Conan, o Bárbaro, foi um primor de produção; bastante avançado para os padrões da época. O segundo, Conan, o Destruidor, não deixa de ter seus méritos, mas caiu em uma tendência um tanto quanto juvenil, se enquadrando no que chamo de filmes de 'sessão da tarde'. Mas ambos são 'cults' e eu não me canso de assisti-los.

Fonte: Marca Diabo (www.marcadiabo.com, por Romeu Martins, em 24/03/2004)

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