Um Novíssimo Recomeço... A Caminho do Império
(por Fernando Neeser de Aragão)
Prólogo:
Na neblina fria da manhã, as ruas de Tarantia apinhavam-se de gente observando os soldados que saíam pelo portão sul. O exército, afinal, punha-se em movimento. Lá estavam os cavaleiros reluzentes em ricas armaduras de aço, com plumas coloridas esvoaçando sobre os capacetes. Os cavalos, equipados com selas de couro, seda e estribos de ouro, agitavam o pescoço imponente enquanto acertavam o passo. A luz ainda tênue do sol da manhã cintilava em pontas de lanças, que se erguiam como uma floresta sobre o batalhão, com as flâmulas agitadas à brisa. Cada cavaleiro levava consigo um presente simbólico de uma mulher – uma luva, um lenço ou uma rosa –, preso ao elmo ou ao cinto.
Aqueles eram os Dragões Negros, 300 homens fortes conduzidos pelo velho General Pallantides. Eram homens de muitas raças e muitos crimes: hiperbóreos altos e magros, com ossos grandes, fala lenta e natureza violenta; gunderlandeses de cabelos claros, das colinas do noroeste; arrogantes coríntios renegados; zíngaros morenos, igualmente renegados, de bigodes negros e temperamento explosivo, dentre outros; eles compunham a guarda pessoal do Rei Conan. Eram seguidos pelos bossonianos, das fronteiras ocidentais, homens fortemente constituídos, de estatura mediana e resolutos, em gorros de aço e proteções de ferro para as cabeças. Sua principal arma era o arco, capaz de atirar uma seta a uma distância de 400 metros. Havia 4000 desses homens.
Logo atrás, vinham os lanceiros da Gunderlândia. Eram a melhor infantaria do mundo, com uma tradição que lhes deixava com o moral inabalável. Os reis da Aquilônia há muito conheciam o valor da infantaria inquebrável; eram em número de 5000. Eram homens de constituição firme, com cabelos amarelos de corte reto em capacetes de aço, couraças de cota-de-malha e caneleiras polidas. Usavam espadas e adagas nos cintos – homens de cabelos dourados, com pele clara e olhos de aço.
Os mercenários vinham atrás – mais de mil homens a cavalo, e cinco mil lanceiros. Os animais altos pareciam tão rudes e selvagens quanto seus cavaleiros. Havia um aspecto sombrio de profissionalismo nesses especialistas em matança, veteranos de campanhas sangrentas. Vestidos em armadura da cabeça aos pés, usavam elmos sem visor sobre o barrete de malha. Seus escudos não tinham adornos, as longas lanças não portavam flâmulas. De suas selas pendiam achas ou clavas de aço, e cada homem trazia junto ao corpo uma espada larga. Os lanceiros mercenários estavam armados mais ou menos da mesma maneira, embora levassem piques em vez das lanças de cavalaria.
Fechando o cortejo, vinha um homem alto, a cavalo, de ombros poderosos e corpo meio musculoso, de ombros largos. Estava totalmente vestido em armadura negra, com os leões reais da Aquilônia bordados a ouro sobre a rica jaqueta que lhe cobria a malha metálica, e um capacete com gorro metálico cobria parte da sua cabeleira grisalha de corte reto; mas a grande espada ao seu lado lhe parecia mais natural que suas vestimentas. Sua testa era baixa e larga, e seus olhos de um azul vulcânico que ardia como se com algum fogo interno. Seu rosto moreno, cicatrizado e quase sinistro era o de um guerreiro, e sob sua armadura, escondiam-se as linhas firmes e perigosas de seus membros. A ambos os lados do rei cimério, cavalgavam seus dois filhos herdeiros. Sua presença fez a população, sempre respeitosa com a realeza, tirar os chapéus e aclamar vivamente.
Atrás do longo cortejo, fecharam-se as portas maciças de Tarantia. Cabeças ansiosas espiavam por sobre as muralhas. Os cidadãos sabiam ser os espectadores de uma partida para vida ou para a morte. Se o exército fosse vencido, o futuro da Aquilônia seria escrito em sangue. Nas hordas zíngaras que atacaram Poitain, ao sudoeste, misericórdia era uma qualidade desconhecida.
As colunas marcharam o dia inteiro, através de planícies verdes cortadas pelo Rio Khorotas. O terreno começava a se elevar lentamente. À frente deles, erguia-se uma cadeia de colinas baixas, seguindo em uma faixa ininterrupta de leste a oeste. Ao longo do dias seguintes, cavalgaram e marcharam por cidades que pulsavam em vida noturna, diante de miríades de luzes, casas de senhores próximas ao Rio Khorotas e pomares férteis. Ao longo desses dias de marcha, os exércitos reais ganhavam adesões de vários jovens, dispostos a invadirem Zingara.
Os exércitos passaram pelas margens de cidades à noite, sobre as quais palpitavam o reflexo de inúmeras luzes; altivas mansões à beira do rio e férteis campinas frutíferas.
Então, finalmente, as montanhas azuis de Poitain ergueram-se diante deles, camada sobre camada, como trincheiras dos deuses, e o grande rio, desviando-se daqueles penhascos em forma de torre, fluía trovejante pelo curso das colinas, com ondas rápidas e espumantes.
Mesmo nos finais de tarde, o Astro-Rei continuava tão radiante quanto ao nascer naquele claro céu azul, banhando os já brilhantes rios e lagos, bem como os vastos campos amarelos daquela província de belas e ricas planícies, separada do restante da Aquilônia pelas enormes e já transpostas montanhas azuis. E assim o era, pois a região de Poitain, no sudoeste daquele país, era a mais bela província da Aquilônia, famosa pelas planícies extensas, pelos jardins de rosas, e onde até mesmo os pântanos eram banhados pelo sol.
* * *
As forças aquilonianas estavam posicionadas, formando longas linhas de lanceiros e cavaleiros em aço brilhante. Ao verem a figura gigante do Rei Conan, em armadura negra, subir na sela do cavalo, com a bandeira da Aquilônia – um leão dourado sobre fundo preto – e a de Poitain – um leopardo escarlate – ondulando acima dele, um clamor de estremecer o solo emergiu do exército.
As tropas aquilonianas assumiram a formação padrão. A parte mais poderosa ao centro, composta por cavaleiros fortemente armados. Nas alas, como se fossem asas, havia destacamentos menores de homens a cavalo e pelotões de guerreiros montados, apoiados por lanceiros e arqueiros. Os últimos eram os bossonianos das fronteiras ocidentais – homens de estatura mediana e constituição forte, trajando jaquetas de couro e elmos de ferro.
O exército zíngaro, encabeçado pelo Rei Galbrello, vinha em formação similar, e as duas forças se moveram em direção ao rio – as alas um pouco à frente das tropas centrais. No meio do exército de Zingara, esvoaçava a bandeira dourada daquele país. Os exércitos marchavam ao mesmo tempo. Soaram as trombetas. O amanhecer resplandecia como fogo sobre capacetes, morions e armas pontiagudas; e faria com que o Rio Alimane se tornasse verdadeiramente escarlate, antes do final do dia.
Os zíngaros chegaram ao rio. Flechas voavam entre as armaduras, como nuvens de tormenta que escondiam o sol. Os bossonianos, acima do barulho das trombetas e do retinir do aço, lançavam seus gritos, enquanto puxavam e soltavam seus arcos em perfeita sincronia. Os arqueiros inimigos procuravam manter os bossonianos ocupados, enquanto os cavaleiros zíngaros atravessavam o rio. Os bancos não tinham grande declive, o que facilitava o galope pela beirada da água. Os cavaleiros avançavam e combatiam em meio aos salgueiros. As setas aquilonianas encontravam todas as brechas na armada zíngara.
Cavalos e homens caíam, debatendo-se e contorcendo na água. Ela não era profunda, nem a correnteza era rápida, mas os homens se afogavam, arrastados para o fundo por suas armaduras e pisoteados pelos cavalos frenéticos. Agora os cavaleiros da Aquilônia iam à frente. Eles cavalgavam pelo riacho e confrontavam os guerreiros de Zingara. A água formava redemoinhos, bem na altura do peito dos cavalos, e o som de espada contra espada era ensurdecedor.
As asas se fecharam. Os lanceiros lutavam na correnteza e, atrás deles, os arqueiros continuavam seus disparos. Os arbustos estavam completamente destruídos, e os bossonianos curvavam seus arcos para derrubar as fileiras da retaguarda. O pelotão central dos zíngaros não conseguia avançar um passo, e suas asas eram empurradas para fora do riacho.
Ao longo do dia quente e interminável, a batalha era retumbante. A planície estremecia a cada seqüência de ataque e contra-ataque, ante o assobio das flechas, com o choque dos escudos se rasgando e lanças fragmentadas. Mas a armada da Aquilônia mantinha o controle. Como uma muralha de ferro, o esquadrão aquiloniano tomava a margem esquerda do Alimane e os zíngaros recuavam, fugindo pelo rio.
Em meio à loucura da batalha, o Conde Trocero abriu a testa de um zíngaro, ao mesmo tempo em que Prospero fez o mesmo com o peito de outro – um dos poucos que não fugiram dos exércitos liderados por Conan.
A impetuosidade do ataque dos exércitos de Conan foi irresistível. Flechas, lançadas pelos balestreiros desmoralizados, lhes resvalavam nos escudos e nos elmos inclinados. Com as plumas e flâmulas esvoaçando atrás deles, e suas lanças abaixadas, eles arrasaram as linhas ondulantes de piqueiros e rugiram para o outro lado do Rio Alimane como uma onda.
Um guerreiro abriu um corte no peito de Conan, mas ele reagiu lhe enfiando a espada, até o cabo, no estômago, perfurando-lhe a coluna vertebral até a ponta ensangüentada da lâmina se lhe sobressair pelas costas. A seguir, cercado por quatro zíngaros, o cimério pulou sobre eles, quebrando as espadas de três num só giro, para, no giro seguinte, lhes abrir os intestinos. Ferido num dos ombros pelo quarto antagonista, o velho rei da Aquilônia reagiu, decepando a cabeça de quem o feriu, num giro sangrento.
Enquanto isso, a Princesa Pandora da Aquilônia partia a cabeça de um último zíngaro que investia contra ela, esquivava-se do machado que zuniu perto de sua cabeça, desentranhando quem o portava, e apunhalou pelas costas um terceiro, o qual investia contra um de seus conterrâneos.
Da garganta estreita do vale mais alto, atrás dos bossonianos, vinha um cavaleiro a toda velocidade, rodopiando, ao redor da cabeça, algo que reluzia ao sol. De forma arrojada, ele desceu correndo as inclinações, através das fileiras dos gunderlandeses, os quais lançaram um rugido do fundo de suas gargantas e bateram ruidosamente suas lanças e escudos, como o trovão nas colinas. Nos terraços entre os exércitos, o cavalo encharcado de suor empinava e saltava, e seu feroz montador gritava e brandia a coisa em suas mãos, como um desvairado.
Era o resto rasgado de uma bandeira dourada, e o sol lançava raios ofuscantes naqueles farrapos – era a bandeira de Zingara! A espada do Príncipe Cruaidh da Aquilônia havia traçado um poderoso arco descendente, quebrando o crânio, o esterno e a espinha do Rei de Zingara. Este caíra para trás, dividido em dois como se tivesse sido atingido por um raio.
Após a batalha, Conan se banhou e curou seus ferimentos, e então viu uma mulher do seu harém (a qual o rei cimério trouxera da Aquilônia), derramando a água de um balde nos cabelos negros, e fez amor com ela.
Parte do exército zíngaro vencido foi integrada aos exércitos aquilonianos. E parte dos sacerdotes, altos funcionários, generais e artistas da elite zíngara foi deportada, enquanto tropas aquilonianas se aquartelaram por toda Zingara, para melhor controle do território anexado, enquanto sacerdotes, altos funcionários, generais e artistas da elite aquiloniana substituíam os que haviam sido deportados.
Agora sob domínio hiboriano e governada por um parente distante do falecido rei zíngaro, o qual fora nomeado por Conan, Kordava se tornou ainda maior do que antes. O Príncipe Cruaidh foi enviado de volta para Poitain, mas não sem antes ser presenteado com a mais bela mulher do harém do falecido rei de Zingara – uma linda matrona morena de 40 anos. E, embora o príncipe semi-bárbaro não soubesse, seu pai pretendia presenteá-lo, no futuro, com o trono de Zingara, quando o garoto ficasse adulto – e a ex-mulher do harém seria a futura rainha daquele mesmo país.
1) A Batalha do Ocaso
Os argoseanos haviam marchado um dia inteiro desde a cidade de Kyros, para lançarem uma invasão final contra Poitain. Aproveitando-se da notícia recente da conquista de Zingara — feita pelo velho Rei Conan da Aquilônia, e seus filhos e herdeiros, os príncipes e extremamente hábeis guerreiros Cruaidh e Pandora —, o Rei Petrus de Argos resolveu comandar pessoalmente um ataque a Poitain pelo leste, vez que o povo dali ainda deveria estar se recuperando da dura batalha pela conquista do reino dos zíngaros.
Logo, sem nenhum sinal de aviso, uma trombeta soou acima do ruído da batalha. O som de um tropel distante se ergueu acima do clamor das hostes argoseanas. Ao norte daquela planície de Argos, onde o exército marchava para Poitain, havia fileiras de colinas baixas e verdejantes, espalhando-se para norte e oeste, como enormes escadarias. Então, descendo inesperadamente por aquelas colinas, como uma espuma soprada pela tempestade, um regimento de cavalaria correu a toda velocidade pelas encostas, em direção às pastagens, com o sol brilhando atrás dele como colunas de aço em movimento. Avançaram até ficarem totalmente à vista cavaleiros em armadura, com a grande bandeira do leão da Aquilônia flutuando sobre eles.
Daquele enorme exército aquiloniano, partiu um grande brado de guerra, que tomou os céus. Por um instante, o Rei de Argos hesitou, surpreso em saber que a força principal da Aquilônia já se encontrava na fronteira oriental de Poitain — e que, muito provavelmente, Conan e sua primogênita deveriam estar à frente daquele exército, já que o jovem príncipe Cruaidh, de 16 anos, havia ficado em Zingara por algum tempo, aprendendo um pouco mais sobre guerras e conquistas (e para, de lá, ir até Poitain, para ajudar a deter as invasões ophirianas).
Filho da guerreira Islene e do ferreiro Donal, o rei cimério nascera num campo de batalha, durante uma luta entre sua tribo e uma horda de invasores vanires. O país que seu clã considerava seu, e por onde vagueara, ficava a noroeste da Ciméria, mas Conan era de sangue misturado, embora fosse um cimério puro. Seu avô havia sido membro de uma tribo do sul que havia fugido de seu próprio povo, por causa de um feudo de sangue, e, depois de longas andanças, finalmente se abrigara entre os povos do norte. Na juventude, antes de sua fuga, o avô havia tomado parte em muitos assaltos dentro das nações hiborianas, e talvez fossem as histórias que contava a Conan menino sobre aquelas terras mais suaves que despertaram nele um desejo de vê-las. Após sua primeira grande batalha, aos 15 anos, em Venarium, ele viajara bastante, não só antes de ser rei, mas também depois: Nordheim, reinos hiborianos, Reinos Negros e regiões desconhecidas ao sul deles, Stygia, Shem, Reinos Dourados, Khitai e Hirkânia, e mesmo às regiões menos conhecidas ao norte da Hirkânia e ao sul de Khitai. Ele até havia visitado um continente sem nome, no hemisfério oeste, e vagueou entre as ilhas adjacentes, anos antes de se tornar rei da Aquilônia.
— Ataquem! — bradou o Rei Petrus de Argos. — Esse cão cimério conquistou Zingara, semanas atrás, mas ainda somos mais fortes e mais numerosos! À carga! Esmaguem esses cães! Ainda vamos celebrar a vitória nas ruínas de Poitain esta noite!
Enquanto isso, as hostes opositoras haviam desembocado na planície. Junto à cavalaria, surgiu o que parecia ser um segundo exército de guerrilha, com cavalos fortes e velozes. Os cavaleiros desmontaram e formaram suas fileiras a pé — impassíveis arqueiros bossonianos e fortes lanceiros da Gunderlândia, de cachos dourados e castanho-claros esvoaçantes para fora dos elmos de metal.
Milhares de cavaleiros seguiam o Rei Conan da Aquilônia e sua implacável e belicosa herdeira, de 20 anos de idade, cabelos tão negros quanto os dos pais e olhos cinzentos como os de suas avós paterna e materna. O corpo principal dos cavaleiros consistia em cavaleiros poitainianos, liderados por Prospero — agora um homem de meia-idade —, no lugar de Trocero, que agora defendia Poitain de uma invasão vinda de Ophir. Os soldados mercenários profissionais restantes, seguidores dos poitainianos, bossonianos e gunderlandeses, formavam sua infantaria. Essas fileiras marchavam agora de forma ordenada: primeiro, os arqueiros; depois, os lanceiros, e, atrás deles, os cavaleiros, em marcha lenta.
Contra eles, o General Titus enviou suas formações, e seu exército avançou como um oceano de aço brilhante. Primeiro marcharam os arqueiros shemitas, depois os arqueiros argoseanos, e em seguida os cavaleiros do Rei Petrus. A intenção de Titus era óbvia: usar seus soldados para varrer a infantaria de Conan, e assim abrir caminho para a poderosa carga de sua cavalaria pesada.
Os shemitas começaram a disparar a 450 metros, e flechas voaram como granizo entre os dois exércitos, escurecendo o sol. Os arqueiros ocidentais, treinados por mil anos de um impiedoso estado de guerra contra os selvagens pictos, avançavam impassíveis, fechando suas fileiras à medida que seus camaradas tombavam. Eles eram em número muito maior, e os arcos shemitas tinham mais alcance. Porém, em precisão, os bossonianos se equiparavam aos seus inimigos e equilibravam sua grande perícia no arco com seu moral mais elevado e a excelência de suas armaduras. Quando chegaram ao alcance, soltaram as flechas, e os shemitas tombaram em fileiras inteiras. Os guerreiros de barbas preto-azuladas — tão descendentes dos pré-Cataclísmicos zhemris quanto seus primos de Zamora —, com suas leves cotas de malha, não conseguiam suportar o tormento da mesma forma que os bossonianos, com suas armaduras pesadas. As tropas se dispersaram, jogando fora seus arcos, e a fuga desordenou as fileiras de lanceiros argoseanos atrás deles.
Sem o apoio dos arqueiros, soldados tombavam às centenas sob as flechas dos bossonianos. Se avançassem loucamente para travar uma luta corpo-a-corpo, encontravam a força dos lanceiros gunderlandeses, cuja terra natal, no extremo norte da Aquilônia, ficava a um dia a cavalo das fronteiras da Ciméria, do outro lado da Fronteira Bossoniana. Nascidos e criados para a batalha, eles tinham o mais puro sangue hiboriano. Os lanceiros argoseanos, pasmos com suas baixas para a batalha, foram despedaçados e se retiraram desordenadamente.
Petrus reagiu furiosamente quando viu sua infantaria rechaçada, e ordenou um ataque geral. Titus foi contra, apontando que os bossonianos se reagrupavam em boa ordem à frente da cavalaria aquiloniana, que permanecera imóvel em suas montarias durante a batalha. O general aconselhou uma retirada temporária, para atrair aqueles cavaleiros para longe da cobertura dos arqueiros. Porém, Petrus estava enlouquecido de ódio. Olhou para as longas e prateadas colunas de sua cavalaria, conferiu a quantidade de figuras em armadura perto dele e ordenou que Petrus comandasse o ataque.
O general encomendou sua alma a Mitra e mandou soar a trombeta. Com um rugido trovejante, a floresta de lanças avançou, e os soldados marcharam pela planície, ganhando impulso com o movimento. O terreno estremeceu sob a avalanche dos cascos dos cavalos.
Os esquadrões fenderam as fracas fileiras de lanceiros, derrubando igualmente amigos e inimigos, mas foram abocanhados por uma chuva de flechas bossonianas. Eles atravessaram ruidosamente a planície, cavalgando em formação com os cavaleiros. Mais cem passos, e eles estariam entre os bossonianos, para ceifar suas fileiras como trigo. Porém, homens de carne e osso jamais poderiam suportar a chuva mortal que sibilava entre eles e dilacerava suas formações. Ombro a ombro e com os pés afastados, os arqueiros retesavam os arcos e disparavam como um só homem, ao som de gritos curtos e graves.
Toda a primeira fileira de cavalaria se dispersou. Sobre corpos de cavalos e cavaleiros, seus companheiros cambaleavam e tombavam. Petrus gritava um comando, Titus outro. Enquanto aquela formação se dispersava em confusão, as trombetas de Conan soavam. Pelas brechas abertas pelos arqueiros em suas colunas, passou a terrível carga da cavalaria aquiloniana.
As duas forças se encontraram com um choque semelhante ao de um terremoto. Os desorganizados esquadrões invasores não podiam suportar aquela cunha de aço sólido e lanças em riste, que avançava como uma trovoada contra eles. As longas lanças dos atacantes cortavam as frentes inimigas em pedaços, e no coração dessa formação cavalgavam os cavaleiros de Poitain, brandindo suas terríveis espadas com as duas mãos.
O choque e o clangor do aço eram como um milhão de marretas contra um número igual de bigornas. Prospero, que havia se afastado dos poitainianos aos quais liderava, tombou, morrendo sob os cascos de cavalos em tropel, sua omoplata fendida pela espada de duas mãos de Titus — ironicamente, da mesma forma que o cavaleiro de Poitain havia matado o Rei Amalrus de Ophir, há mais de 20 anos. Mas Pandora vingou Prospero, esmagando o capacete e o crânio de Titus com sua espada, quase tão enorme quanto a que seu pai manuseava. O número superior das forças invasoras havia engolfado os cavaleiros de Conan, mas ao encontrarem aquela cunha compacta, que cortava cada vez mais fundo na formação dos inimigos, os cavaleiros de Argos giravam e brandiam golpes a esmo, sem poder impedir aquela ofensiva.
Arqueiros e lanceiros que lutavam no outro lado da planície, separados da infantaria argoseana, chegaram à periferia da batalha disparando suas flechas à queima-roupa, correndo para rasgar as cilhas e os ventres dos cavalos com suas facas e atacando os cavaleiros com suas longas lanças.
Na ponta da cunha de aço, Conan emitia seu grito bárbaro de batalha e brandia sua grande espada em arcos cintilantes, que ignoravam elmos de aço e cotas de malha, decepando cabeças à altura do pescoço e até do queixo, e abrindo peitos até o esterno em golpes diagonais, além de perfurar crânios na altura dos olhos. Ventres eram abertos em explosões sangrentas de tripas sobre o solo, peitos eram perfurados e calotas cranianas voavam, numa chuva de faíscas, sangue e miolos.
O cimério cavalgou em linha reta através dos ruidosos inimigos, e os cavaleiros de Argos se fechavam atrás dele, isolando-o de seus guerreiros. Conan atacava com a velocidade de um relâmpago, rompendo as fileiras somente com sua força e velocidade, até que chegou a Petrus, lívido em meio à sua guarda palaciana. Agora a batalha estava para ser decidida, porque Petrus estava em maior número, tendo chances de colher a vitória do colo dos deuses.
Mas ele gritou ao ver seu arquiinimigo a um braço de distância, e atacou de maneira selvagem com sua espada, tirando uma faísca do elmo de Conan. O cimério cambaleou, mas reagiu, e sua lâmina de um metro e meio de comprimento decepou a cabeça do Rei de Argos num giro escarlate, seu corpo decapitado tombando da sela já transformado num rígido cadáver. Um grande brado se ergueu das hostes, que hesitaram e recuaram. As forças acéfalas de Poitain, agora comandadas pela Princesa Pandora, lutaram desesperadamente, abriram caminho até o Rei Conan e a grande bandeira de Argos tombou.
Então, atrás dos confusos e chocados invasores, os mercenários de Conan correram, devastando as tendas dos atacantes, derrubando barracas, queimando pavilhões e destruindo catapultas e torres de assédio, enquanto Pandora saltava, do seu cavalo, sobre o pescoço de um fugitivo argoseano, quebrando-lhe as vértebras cervicais com um estalo seco, e arrebentava os dentes e o maxilar de outro com socos, antes de matá-lo com um chute no crânio. Argoseanos tinham suas espadas quebradas e eram transpassados nas costas por espadas aquilonianas, por lanças gunderlandesas e por certeiras flechas bossonianas, enquanto abutres voavam pacientemente à espera do momento em que pudessem se banquetear.
Somente dois mercenários, enlouquecidos de ódio pela derrota, não fugiram. Um deles, um gigantesco argoseano investiu contra o Rei Conan, matando a montaria galopante do bárbaro com um único giro sangrento de sua espada no pescoço do animal. O cimério caiu ao chão e sua espada voou longe. Então, o musculoso argoseano se curvou sobre o rei bárbaro e começou a estrangulá-lo. Em meio às névoas da asfixia, Conan encontrou uma lança quebrada no chão e enfiou a ponta afiada na barriga do mercenário, perfurando-lhe o estômago e pulmão direito numa estocada sangrenta.
Enquanto isso, o outro mercenário avançou contra Pandora, tentando cortá-la ao meio com um giro lateral de sua espada. Ela se esquivou, saltando para o alto e acertando um chute no rosto daquele argoseano restante. Ele cambaleou, enquanto Pandora lhe decepou a mão num círculo escarlate, para, no instante seguinte, decepar-lhe a cabeça. Todo o resto do cintilante exército invasor recuou em fuga, e os furiosos vencedores os abatiam enquanto corriam. O caminho para a cidade portuária de Messantia, capital de Argos, estava livre para o sexagenário Rei Conan e seu exército aquiloniano.
Entretanto, a noite estava chegando, e o vitorioso exército da Aquilônia precisava descansar, curar seus ferimentos e sepultar seus mortos. Conan não cremou o corpo do velho amigo Prospero, porque os poitainianos faziam questão de enterrá-lo em sua província natal. Assim, após curarem os ferimentos, cremarem os mortos e comerem, todos se recolheram às suas respectivas tendas e fogueiras para dormirem.
Mas, na tenda do rei cimério, aguardava-lhe, deitada em seu leito, uma das mulheres preferidas de seu harém — uma linda hirkaniana seminua de 45 anos, e (assim como a brituniana Natala, a zíngara Sancha e algumas zamorianas) uma das poucas que Conan não descartara de seu serralho após ter se casado com a falecida Zenóbia. Embora aquela mulher de harém fosse grisalha, morena, de olhos amendoados e com rosto redondo, a cor escura daqueles olhos fazia o cimério se lembrar de sua saudosa rainha. Aquelas guerras de conquista, nas quais o rei bárbaro mergulhara por questões de, no mínimo, auto-preservação, serviram-lhe como um meio de tentar superar o horrível assassinato da mãe de sua filha Pandora, há 15 anos, e para lhe afogar as mágoas causadas pela grande perda trágica que o cimério sofrera.
Então, a hirkaniana — cujo corpo imenso era ao mesmo tempo lindo e hipnotizante, e cujo nome era Chassa —, sorriu para Conan, fazendo-o se esquecer das lúgubres meditações (bem como da lembrança da morte de Prospero naquela tarde), e estirou os braços acima da cabeça, espreguiçando-se e fazendo seus seios grandes, longos e pendentes se esparramarem até os bicos marrons tocarem no leito real de peles.
Excitado, o bárbaro de 65 anos sorriu, se despiu completamente e se dirigiu até ela, beijando-lhe a boca e lhe sugando os volumosos seios balouçantes, bem como o forte odor de suor deles, enquanto tirava a tanga da linda morena e lhe arremetia vigorosamente o pênis na vagina úmida, quente e acolhedora. Após um intenso orgasmo recíproco, o velho rei cimério a sodomizou, enquanto ela, de quatro, balançava os seios para os lados. Mais excitado ainda, o cimério os ergueu para os lados do tronco da mulher e lhe sugou os bicos, quase ao mesmo tempo em que friccionava a vulva da hirkaniana, até ela alcançar outro orgasmo. Logo em seguida, pressentindo o próprio êxtase de prazer, Conan tirou seu falo do ânus da mulher e lhe ejaculou dentro da boca. Após isso, ela olhou e sorriu de boca aberta para o bárbaro e, gargarejando-lhe o sêmen, engoliu todo o esperma do rei cimério, deixando-o ainda mais excitado e pronto para outra relação sexual.
2) A Princesa Khamela
A estrada para Messantia estava livre. Toscas carroças puxadas por bois circulavam na estrada, e homens de marrons e musculosos braços nus trabalhavam nos pomares e nos campos que sorriam sob os galhos das árvores que ladeavam o caminho. Homens idosos em residências diante de estalagens, sob longos galhos de carvalho, olhavam temerosos para o exército aquiloniano — afinal, poucos sabiam que Conan jurou matar qualquer um que ousasse atacar inocentes.
O exército aquiloniano entrou facilmente na cidade, misturando-se com a multidão que entrava e saía constantemente daquele importante centro comercial. Não havia muralhas ao redor de Messantia; o mar e seus barcos protegiam aquela grande cidade comercial do sul.
Era noite quando Conan — agora imperador — cavalgou pelas ruas próximas ao palácio, as quais davam vista para o porto. Ao final destas ruas, ele pôde avistar os desembarcadouros, os mastros e as velas das embarcações, e sentiu de longe, após tantos anos, o cheiro salino do mar; pôde ouvir o ruído dos aparelhos e do madeiramento dos cascos. Mais de uma vez, o impulso do aventureiro tomou conta do seu coração. Mas o senso de responsabilidade, e a necessidade de manter a Aquilônia a salvo de ataques de outros reinos, falaram mais alto — além disso, a glória que o cimério almejava era ainda maior que as anteriores ao seu reinado.
Khamela, princesa de Argos e filha do Rei Petrus, não ficara triste com a morte do pai, vez que era maltratada por ele. Ela tinha um belo rosto oval, com lábios pintados de violeta, olhos ardentes de cor verde, e seu corpo moreno (herança de sua mãe kothiana, da qual herdara a cor e o nome) era ao mesmo tempo delicado e voluptuoso, com quadris largos e arredondados numa cintura esguia. Seus abundantes cabelos negros lhe desciam em longos cachos pelo pescoço. No entanto, quem herdara o trono de Argos fora seu igualmente truculento tio Gormius, irmão do falecido Petrus.
Homens gritavam e sangue se derramava na sala do trono do Palácio Real de Messantia. Tão rápidos quanto o ataque do cimério, dois homens bloquearam-lhe o caminho com espadas desembainhadas, antes que ele pudesse alcançar o atual rei de Argos. O guarda de rosto cicatrizado caiu com o crânio aberto, antes que pudesse erguer a arma, e Conan, recebendo a lâmina de outro no escudo, atacou novamente como um relâmpago, e sua larga espada aquiloniana adentrou cota-de-malha, costelas e coluna.
A sala do trono estava num tumulto terrível. Homens empunhavam suas armas e pressionavam de todos os lados; e, no meio, o Rei Conan, a Princesa Pandora, o General Pallantides e parte do exército aquiloniano rugiam raivosa e terrivelmente. O idoso cimério era, em sua loucura, como um tigre ferido. Seu movimento medonho era um borrão de velocidade, uma explosão de força dinâmica. Mal o soldado caíra, o cimério saltou sobre seu corpo encolhido até o Rei Gormius, que havia puxado a espada e se erguia furioso. Mas uma nova investida de soldados se precipitou entre eles. Espadas se ergueram e caíram, enquanto a espada aquiloniana relampejava entre eles como os raios de uma tempestade de verão. A cada lado, pela frente e por trás, guerreiros se dirigiam a ele e morriam transpassados ou decepados.
Enquanto isso, de um lado, um general investiu contra a princesa aquiloniana, brandindo uma espada com ambas as mãos; do outro, um outro soldado da guarda atacou Pandora com uma lança. A Princesa da Aquilônia se abaixou, evitando a espada, e golpeou duas vezes — para a frente e para trás. O general caiu, ferido no joelho, e o outro soldado da guarda morreu de pé, quando o impulso da volta afundou a ponta da espada em seu crânio, pouco antes do general argoseano ter seu ventre aberto numa explosão de sangue e tripas, por um terceiro giro da espada da princesa semi-bárbara. Pandora se ergueu, lançando seu escudo no rosto de um espadachim que a atacou pela frente. A ponta no centro do escudo fez um estrago medonho em suas feições, um segundo antes da princesa aquiloniana lhe decepar a cabeça num giro sangrento. Enquanto isso, Conan girou como um gato, para proteger as costas, e sentiu a sombra da Morte avultar sobre ele. Pelo canto do olho, ele viu outro guarda argoseano brandindo sua grande espada com ambas as mãos, e então, a espada sibilante de Pandora golpeou o homem acima dos olhos, abrindo-lhe a testa até o capacete. O homem caiu morto ao chão, com o rosto escorrendo sangue e miolos.
E, mesmo naquele instante, os homens uivavam. Um enorme soldado, com o machado erguido, avançou contra Pallantides, que lhe arrebentou o crânio, antes de ver que uma flecha bossoniana perfurava o pescoço deste. A sala do trono parecia cheia de deslizantes raios de luz, que zumbiam como abelhas e traziam morte veloz em seu zumbido. Conan olhou de relance, e de forma aparentemente casual, em direção à grande porta, no outro extremo do salão de mármore. Seus lanceiros gunderlandeses, de cabelos dourados; seus Dragões Negros, e seus atarracados arqueiros bossonianos irrompiam através dela. Traziam mais espadas e lanças, além de arcos. Agora, a curta distância, os arqueiros da distante Bossônia lançavam suas flechas à queima-roupa e os soldados argoseanos caíam como trigo cortado.
Graças à Princesa Khamela, que estava cansada dos maus-tratos do tio, Conan e seus homens haviam descoberto uma passagem secreta para dentro da cidade, e mandaram um de seus soldados como batedor. Este havia se deparado com um túnel escuro, que parecia interminável e que, provavelmente, era usado para fugas de reis. Logo depois, ele chegara ali e havia voltado, contando ao cimério o que tinha visto. Ciente disso, o imperador bárbaro mandara a elite de seus exércitos para lá, a fim de fazerem um ataque-surpresa.
Agora, uma onda vermelha de combate varria a sala do trono; uma tempestade de luta que manchou o chão com um lago vermelho. Havia menos aquilonianos do que argoseanos, mas, na surpresa do ataque, a primeira onda de flechas havia igualado as diferenças; e agora, na luta corpo-a-corpo, os aquilonianos não se mostravam nada inferiores a seus inimigos. Aturdidos pela surpresa, os argoseanos ainda assim lutaram com toda a sua ferocidade. Mas a fúria dos atacantes se igualava à sua coragem e, naquele salão, Conan, Pandora e Pallantides rasgavam e cortavam com um furor que tornava a fúria e a coragem igualmente fúteis.
A tormenta da batalha sacudia o vasto salão de granito e mármore. A sala do trono se tornou um matadouro, onde homens escorregavam em poças de sangue, e escorregando, morriam. Cabeças rolavam, com os dentes arreganhados, de ombros afundados. Lanças gunderlandesas transpassavam o peito encouraçado dos atarracados soldados argoseanos. Miolos eram espalhados e coagulavam nas espadas, nos machados e nas lanças loucamente brandidos. Adagas eram arremetidas para o alto, rasgando ventres e derramando entranhas sobre o chão. O estrondo e o clangor do aço se erguiam ensurdecedores. Nenhuma trégua era dada ou pedida. Um aquiloniano ferido havia puxado para baixo um dos guardas argoseanos, e o estrangulava tenazmente, indiferente à adaga que sua vítima lhe afundava várias vezes no corpo.
Quem ficasse atento a gritos de medo ou pedidos de clemência, não ouviria nenhum: homens morriam retalhando e arranhando; seus últimos suspiros, um soluço de fúria, ou um rosnado de ódio insaciável. Logo, Pandora cruzou espadas com um dos argoseanos — atarracado como a maioria, mas de largura e grossura gigantescas, com nós salientes de músculos, que se empilhavam em seus braços morenos, e em seus ombros enormes. O impacto entre as lâminas foi tão violento, que a espada da princesa se quebrou, ao mesmo tempo em que a do soldado voou longe.
Um cronista hiboriano contaria sobre como Pandora enfrentou aquele homem, numa combinação de habilidade de luta e técnica ágil, que venceram sua força bruta. Mas o fato é que a inteligência teve pouca participação naquela luta. Ela não a ajudaria mais do que a um homem sob o verdadeiro aperto de um gorila. Quanto à habilidade artificial, aquele argoseano teria rasgado um lutador comum, membro a membro. A ciência desenvolvida pelos homens não teria conseguido resistir sozinha à velocidade cegante, ferocidade de tigre e força esmagadora que se escondiam nos músculos terríveis daquele soldado.
Era como lutar com um animal selvagem, e ela o enfrentou de seu próprio jeito. Lutou com o enorme argoseano como lutam os homens selvagens e os grandes macacos. Peito a peito, músculo se esforçando contra músculo, punho de ferro se espatifando contra crânio duro, joelho golpeando virilha, dente cortando carne vigorosa, arrancando, rasgando, esmagando. Ambos esqueceram da existência de armas brancas caídas no chão; deviam ter rolado sobre elas meia-dúzia de vezes. Cada um deles só estava ciente de um único desejo, uma urgência cega e escarlate de matar com as mãos nuas, de dilacerar, rasgar, de contundir e pisar, até o outro se tornar uma massa imóvel de carne sangrenta e ossos estilhados.
Pandora não sabia por quanto tempo lutaram; o tempo se tornou uma eternidade injetada de sangue. Os dedos de Pandora eram como garras de ferro, que rasgam a carne e contundem os ossos sob ela. A cabeça da princesa estava girando, por causa dos impactos contra o chão duro, e da dor em seu lado. Ela sabia que, pelo menos, uma costela estava quebrada. Seu corpo inteiro era uma dor solidificada e uma combustão de articulações torcidas e tendões deslocados. A armadura da jovem estava amassada, encharcada pelo sangue que escorria de uma orelha que lhe havia ficado pendurada na cabeça. Mas, se ela estava recebendo um castigo terrível, ela o estava dando também.
Conan, Pallantides e os soldados aquilonianos estavam ocupados demais para ajudarem a princesa.
Numa nuvem vermelha, a filha de Conan viu aqueles dentes brancos lampejarem no esgar de esforço agonizado, e aqueles olhos se revirando de uma máscara de sangue. Ela lhe havia espancado o rosto, além de qualquer semelhança humana; dos olhos à cintura, a pele morena do argoseano estava bordada de escarlate. O suor os enlodava, e seus dedos escorregavam ao agarrarem. Retorcendo-se meio livre do aperto dilacerador, ela pôs cada nó contraído de músculo do seu corpo por trás do seu punho, que esmagou como uma marreta o maxilar do soldado. Houve um quebrar de osso e um gemido involuntário; sangue esguichou e o maxilar quebrado ficou pendente. Uma espuma sangrenta lhe cobria os lábios afrouxados. Então, pela primeira vez, aqueles dedos rascantes vacilaram; a princesa sentiu aquele corpo grande, que se contraía contra o dela, ceder e amolecer. E, com um soluço bestial de ferocidade deleitada decaindo de seus lábios amassados, os dedos de Pandora finalmente lhe alcançaram a garganta.
Ele caiu de costas, com a Princesa da Aquilônia sobre seu peito. Suas mãos vacilantes se agarravam nos pulsos da jovem, cada vez mais fracamente. E ela o estrangulava lentamente, sem nenhum truque de luta, mas com pura força bruta, curvando-lhe a cabeça cada vez mais para trás entre seus ombros, até o pescoço grosso quebrar como um galho podre. A princesa teria caído e desabado inconsciente, se não fosse por sua enorme vitalidade e energia, herdadas do pai.
Enquanto isso, outro argoseano rastejava moribundo, graças a um giro da espada de Conan, o qual lhe cortara todo o pulmão esquerdo, de cima a baixo, abrindo-lhe a omoplata e lhe cortando todas as costelas. Ato seguido, o cimério abriu a jugular de outro rival com a espada ensangüentada, ao mesmo tempo em que perfurava a carótida de mais outro com o punhal do próprio antagonista que o atacara. A lâmina de sua espada, além de ser tão letal e mortífera quanto ele próprio, era longa o bastante para evitar que quaisquer rivais se aproximassem demais do bárbaro.
Ombro a ombro, lutaram o Rei de Argos e o capitão da guarda. Pandora, ferida, mas tomada pelo calor do combate, havia pegado a primeira arma que encontrou no chão e ficara de costas para a parede, e um homem caía a cada movimento de sua enorme espada, empunhada com as duas mãos. Agora Conan chegava como uma onda, evitando, com uma ágil contorção da parte superior do corpo, o golpe maciço de outro soldado da guarda real. Agora, a superioridade da espada aquiloniana, de 1,5 metro de lâmina, foi novamente provada, pois antes que outro argoseano pudesse mover sua arma pesada, a enorme espada do velho Conan desceu como o ataque de uma cobra, e o hiboriano cambaleou quando o fio abriu a couraça e as costelas sob esta. Outro ataque, e ele caiu, com o sangue lhe esguichando da jugular.
Agora, ninguém bloqueava o caminho de Conan até Gormius, exceto o capitão, e mesmo enquanto o cimério saltava em direção à dupla de retalhadores, alguém ficou à sua frente. Pandora se adiantou, deslizando como uma sombra sob o talho da espada do mesmo, e sua própria lâmina golpeou para cima, sob a malha, perfurando o coração do capitão. O Rei de Argos enfrentou Conan sozinho. Gormius não era nenhum covarde: ele até riu com pura alegria de combate enquanto golpeava. Mas não havia sorriso no rosto de Conan da Ciméria; apenas uma ira desvairada, que lhe contorcia os lábios e transformava seus olhos em carvões de fogo azul.
No primeiro rodopio de aço, a espada de Gormius quebrou. O rei saltou como um tigre em direção ao imperador, golpeando com os restos da lâmina. Conan riu ferozmente, enquanto a lâmina quebrada cortava-lhe o rosto; e, no mesmo instante, ele cortou o pé esquerdo do Rei de Argos. Este caiu de joelhos, com um pesado estrondo e o rei cimério brandiu sua espada, num arco sibilante que partiu o argoseano do ombro ao osso do peito. Outro golpe decepou a cabeça do Rei Gormius, num jato sangrento.
* * *
Naquela noite, Conan, Pallantides, seus soldados e oficiais sobreviventes — e principalmente Pandora, a qual havia perdido uma das orelhas, além de ter quebrado uma costela — lavaram, curaram e enfaixaram seus ferimentos, e foram dormir — desta vez, nos aposentos do Palácio Real de Messantia, ao invés do acampamento —, enquanto alguns soldados da Gunderlândia, da Bossônia e principalmente Dragões Negros, montavam guarda. Em seus aposentos, o velho cimério foi visitado pela bela, perfumada e agradecida Princesa Khamela de Argos.
Seus seios morenos e trêmulos de desejo, a cabeça perdida entre a chuva de cabelos negros, os lábios arquejantes e o corpo todo palpitante, eram a languidez do desalinho, quando o corpo mais se enchia de beleza. Os lábios de Conan apertaram os de Khamela. Ele a beijou ferozmente — uma ferocidade que excitava as mulheres, ao invés de machucá-las. A boca de Khamela era macia e seus lábios violetas se moldavam aos do bárbaro. O hálito quente um do outro excitava tanto o imperador cimério quanto a princesa.
Enquanto Conan beijava Khamela ferozmente, o sangue fervia sob a pele da jovem, ardendo-lhe nos lábios, e a respiração de ambos assumia um ofegar louco. Os dedos dela se trançavam no cabelo do cimério, puxando-o até ela. Logo em seguida, Conan lhe desatou as roupas de veludo, apalpando-lhe os seios de aréolas marrom-escuras, e em seguida os largando e sugando avidamente, enquanto penetrava a vagina de Khamela, até, no seu êxtase máximo, a atual Rainha de Argos arranhar as costas e pernas do cimério, pouco antes de sentir a calidez úmida de Conan lhe jorrar nas entranhas palpitantes.
3) Braco de Tortage
O Rei Conan nomeara um primo do falecido Rei de Argos, para se casar com Khamela — agora recém-engravidada pelo velho cimério — e ser o rei-fantoche daquela única nação hiboriana portuária, agora sob o comando da Aquilônia. O túnel, pelo qual parte dos soldados de Conan havia invadido o Palácio Real de Messantia, havia sido vedado, para evitar invasões indesejadas. A hirkaniana Chassa, por sua vez, foi enviada de volta a Tarantia, pois a próxima missão era arriscada até mesmo para uma mulher tão protegida quanto ela. Agora, Conan se encontrava na proa de um navio aquiloniano, em companhia do General Pallantides. Eles seguiam em direção às Ilhas Barachas, para consolidar a conquista de Argos. Era como se, apesar de ser um rei e de encabeçar uma campanha imperial, ele fosse mais uma vez o altivo Amra, o temível pirata dos mares traiçoeiros do mundo ocidental.
* * *
Alguns dias depois, ao alcançarem uma das Ilhas Barachas, um navio daquela ilha se emparelhou com um dos navios do cimério.
Em giros sangrentos e quase tão precisos quanto os de Conan, Pandora — agora totalmente recuperada dos ferimentos e contusões que recebera em Messantia — abriu o crânio do comandante Galt, de um navio das Ilhas Barachas, e desarmou um dos barachos, para, em seguida, lhe abrir o abdome, num esguichar de sangue e tripas pelo convés de madeira; e, logo depois, deteve o punho da espada de um terceiro, enfiando-lhe a lâmina na boca do estômago, numa estocada ascendente que fez a ponta da espada da princesa atingir o coração do pirata. Mesmo com seu comandante morto, os barachos daquele navio não perderam seu moral, e continuaram resistindo aos aquilonianos e ao seu soberano cimério. Enquanto isso, Conan decapitava dois num só giro da espada, abria o peito de outro e os ventres de outros dois. Um terceiro brandiu sua espada contra o cimério, mas ele se esquivou e lhe decepou a mão, abrindo-lhe, em seguida, o crânio. De ambos os lados do confronto, homens caíam com peitos perfurados, cabeças decepadas, intestinos abertos e jugulares cortadas.
Enquanto o rei cimério decepava a mão armada de outro dos piratas barachos, abrindo-lhe o crânio em seguida com um murro descendente, Pandora, temporariamente desarmada, também arrebentava com um soco o crânio de outro argoseano, fazendo-o morrer de traumatismo, com uma fissura na calota craniana e as narinas escorrendo sangue. Os aquilonianos eram todos bons lutadores, mas Pandora se destacava entre eles, com sua fúria semi-bárbara. Conan, por sua vez, parecia uma força da Natureza, como um furacão inevitável e implacável, espalhando morte e destruição! Em suas veias, corria o sangue de uma matilha de lobos; em seu cérebro, escondiam-se as profundezas meditativas das noites do norte; seu coração pulsava com o fogo de florestas em chamas.
Logo, toda a temerária tripulação inimiga havia sido massacrada, enquanto outros galeões aquilonianos se aproximavam do de Conan, juntando-se ao navio do cimério em seu caminho às Ilhas Barachas.
Os piratas das Ilhas Barachas, um pequeno arquipélago próximo à costa sudoeste de Zingara, vinham pilhando o povo do continente por mais de um século. Os piratas se espalharam numa longa linha, que cobria parcialmente as extremidades da praia oeste, e avançaram cautelosamente, soltando as setas à medida que chegavam. Uma de suas armas era o arco, e sua arte de atirar com arco e flecha era superior à dos zíngaros. Mas não eram páreos para os bossonianos. Os arqueiros da Bossônia, treinados por mil anos de guerra impiedosa com os selvagens pictos, avançaram impassíveis, fechando suas fileiras enquanto seus camaradas caíam.
Após os bossonianos vencerem os barachos na troca de flechas, foi a vez da infantaria e cavalaria aquilonianas, juntamente com os gunderlandeses, partirem para o ataque. Naquela embriaguez de luta, alguns soldados não sabiam sequer quando os barachos morriam, e não sabiam que era a morte que finalmente havia amolecido os tendões de ferro dos corpos sob eles. Erguendo-se com a fúria assassina de sua raça semi-bárbara, gunderlandeses enfiavam aturdidamente suas lanças com pontas de aço, e seus pés calçados em ferro, sobre peitos e cabeças de piratas caídos no chão, até ossos quebrarem, e sangue e miolos esguicharem sob eles, antes de perceberem que seus adversários já estavam mortos.
Então, depois de uns cem metros de subida, Conan pôde ver nitidamente um clarão nas árvores adiante — um brilho que não era amarelo nem verde. Ele acelerou o passo furtivamente, como todo cimério, e chegou à fonte de luz, ao passar por cima da última franja de samambaia. A campina era redonda, enorme e cheia de flores silvestres — violeta, amarelas e delicadamente brancas. O sol estava a pino, enchendo o círculo de uma névoa de luz cor de manteiga.
Subitamente, um pássaro voou em sentido contrário ao dos exércitos, fazendo-os apertar firmemente os cabos das espadas. Então, dez guerreiros barachos a cavalo apareceram repentinamente naquela clareira. Os barachos eram famosos por seu furioso e temerário estilo de batalha, mas eram tão cautelosos quanto furiosos, e não pretendiam desperdiçar sua força em vão, em ataques diretos contra os aquilonianos, o que fez com que aquele destacamento de piratas usasse, naquele momento, a técnica guerrilheira de emboscar.
Aquele pequeno grupo de reconhecimento foi cercado, mas Conan da Ciméria foi o primeiro a agir, puxando sua adaga do cinto e lançando-a na testa de um dos montadores, fazendo-o cair morto do alto do cavalo.
Com um grito selvagem, que parecia evocar todos os deuses sombrios da terra natal de seu pai, Pandora puxou seus punhais e fez, com outros três cavaleiros, o mesmo que o cimério fizera com o primeiro. Pallantides, por sua vez, igualmente indisposto a perder sua espada, esquivou-se da lança de um dos montadores e arremessou a sua no coração de mais um dos barachos. Com um grito estridente, este caiu morto.
Com suas respectivas espadas, Conan e Pandora fizeram, com mais dois piratas a cavalo, o mesmo que Pallantides havia feito com o uso da lança (Pandora não dispunha mais de uma adaga, e o cimério perdera a sua). Os outros três, mais por sorte do que por habilidade, conseguiram fugir. Então, Conan, juntamente com sua filha e seu general, montaram em três das montarias sem cavaleiro.
Havia um argoseano, por nome Livius — filho do há muito falecido Hakon, a quem Conan conhecera quando comandava o navio Pelicano —, que possuía uma propriedade naquela ilha mais setentrional das Barachas. Todo navio — baracho ou não — que passasse por aquela parte das ilhas, era obrigado a pagar um tributo àquele jovem, tão tirano quanto o pai.
Então, usando de um mesmo ardil com o qual invadira Khauran, há mais de quatro décadas à frente dos zuagires, Conan conseguiu atrair para o lado de fora os exércitos do atual dono da propriedade, o qual só descobriu tarde demais a manobra do cimério: as supostas catapultas e torres de assédio eram meras estruturas pintadas à distância, feitas para enganar os guardas de Livius, o qual oprimia aquela ilha.
Chuvas de flechas com pontas de aço caíram impiedosamente sobre os guerreiros da moradia do filho de Hakon. Após isto, começou o combate corpo-a-corpo. Apesar das baixas causadas ao exército do cimério, os argoseanos não resistiam às armas de aço aquiloniano, empunhadas por Conan, Pandora e Pallantides — bem como por todo o exército que viera acudir aquela ilha.
Os argoseanos que caíam vivos ao chão eram impiedosamente pisoteados pelos cavalos, montados por metade do exército do bárbaro. Relinchos, gritos de dor, ódio, triunfo e medo, se mesclavam ao inconfundível som de metal afundando em armaduras, carne, vísceras e ossos. Corpos, cabeças, membros, entranhas e miolos se misturavam, imóveis, ao chão.
No entanto, flechas continuavam chovendo de dentro da moradia. Mas os arqueiros bossonianos voltaram a disparar, uma vez após outra e sem interrupção, suas flechas no exército rival até chegarem aos muros, nos quais os poucos arqueiros da moradia foram impiedosamente flechados pelos homens da Bossônia, até aqueles muros do local ficarem totalmente sem defesa.
Muitas pessoas fugiam ante a chegada de Conan. Após uma breve luta sangrenta, no salão de Livius, outros aquilonianos deixaram um dos navios imperiais na praia — os demais haviam ficado em compasso de espera, para o caso de outros barachos (fossem ou não dos outros navios do dono da moradia) atacarem os demais galeões da Aquilônia — e subiram a colina para atacar, bradando seus gritos de batalha. Os guerreiros na casa lutaram bravamente, mas os exércitos imperiais estavam em maioria e invadiram as muralhas do lugar como um enxame.
Ao mesmo tempo, outros deles destroçavam os postigos e atiravam flechas no interior do salão, abatendo alguns. Livius e sua gente correram em direção à porta, e se encontraram frente a frente com os aquilonianos. Estes conseguiram matar vários deles, enquanto o proprietário fugia até o salão; mas, pouco depois, ficaram envolvidos numa luta corpo-a-corpo, tanto dentro quanto fora da casa.
Setas se cravavam em testas, pescoços, peitos e abdomens barachos, enquanto o sangue espirrava como água, e cabeças e membros rolavam pelo chão. Corpos eram cortados ao meio, na altura da cintura, em explosões sangrentas de tripas e outras vísceras. Em pouco tempo, os moradores daquela propriedade eram prisioneiros ou tinham escapado. E um bom número deles estava morto, incluindo seu dono.
Bem naquele momento, uma linda mulher de 50 anos e olhos violetas, a irmã do falecido Livius, entrou correndo no salão. A bela mulher era oprimida pelo irmão, o qual a forçara a se casar com um de seus guerreiros, o qual agora, graças a Mitra, estava morto. E graças a Conan, ela se tornou a nova — e muitíssimo mais justa — dona daquele local.
* * *
Por fim, após ter conquistado quase todas as Ilhas Barachas, Conan chegou à ilha baracha de Tortage, e se deparou com as hordas de um pirata argoseano, por nome Braco. Era um homem alto e musculoso, de cabeça raspada e barba pontiaguda, que buscava vingança pela morte de seu pai, o pirata baracho Strom, cujo navio, o Mão Vermelha, o cimério havia tomado há muitos anos — apesar do falecido pirata loiro ter sido morto por pictos, e não por Conan —; além, é claro, de oferecer resistência baracha aos exércitos aquilonianos que invadiam Tortage. A chegada do imperador bárbaro parecia ter sido a resposta às preces de Braco, o qual sempre sonhara com sua vingança cega.
Enquanto o rei cimério e seus exércitos enfrentavam os barachos nas ruas de Tortage, outras lutas aconteciam nas tavernas daquela ilha. Numa delas, a Princesa Pandora saltou sobre uma mesa, acertando mortalmente, com um chute, o rosto de um argoseano que havia acabado de tentar lhe decepar as pernas num giro de espada. Outro deles saltou atrás dela e lhe esfaqueou o braço encouraçado; mas isso o fez se aproximar demais da Princesa da Aquilônia, a qual lhe acertou o rosto com a nuca blindada e, em seguida, girou e lhe decepou a cabeça num arco sangrento de sua lâmina já vermelha.
Mas ela não lutava sozinha. Com fúria homicida, o idoso Pallantides decepava membros e cabeças dos partidários de Braco, empilhando corpos e pedaços de corpos naquele recinto, onde o sangue se derramava sobre o chão já costumeiramente manchado de cerveja e vinho. Tanto ele quanto Pandora sentiam na língua o gosto da loucura, fluindo por eles como ondas de puro poder, enquanto lutavam e matavam. O taverneiro e as prostitutas, assustados, se protegiam agachados atrás do balcão, enquanto a batalha trovejava na taverna e fora dela.
Lá fora, homens matavam e morriam desordenadamente, tanto entre os barachos aliados de Braco, quanto entre os que haviam se aliado aos exércitos aquilonianos, bem como entre estes últimos. Um gunderlandês estrangulava até a morte um argoseano que lhe enfiara a espada no coração; outro aquiloniano — um dos poucos poitainianos ali presentes — abria cabeças e pescoços de guerreiros barachos, em giros sangrentos, enquanto Conan, com sua enorme espada, abria a jugular de um pirata, ao mesmo tempo em que esfacelava o maxilar de outro com um chute de seu encouraçado pé esquerdo. Um guerreiro aquiloniano moribundo e caído ao chão, ao ser atacado por um baracho que pretendia acabar de matá-lo, arremessou-lhe mortalmente a espada no coração, antes de morrer. Outros dois barachos investiram contra o idoso cimério, mas este, quase tão ágil quanto em sua juventude, esquivou-se do duplo ataque e decepou a cabeça de um, ao mesmo tempo em que enfiava seu punhal entre o queixo e o pescoço do outro. Era quase uma luta mortal de lobos raivosos, cegos, ofegantes e impiedosos. A luta avançava e recuava, nas tavernas, ruas e praias; lâminas zunindo e afundando em carne, sangue esguichando e pés pisando o chão, onde poças vermelhas se formavam.
— Seu filho de uma cadela imunda! — gritou o cimério, furioso, finalmente avistando o líder argoseano e investindo contra ele. Embora o pirata lutasse bem, seu escudo quase não lhe bastava para aparar a espada do bárbaro, recuando aos primeiros golpes. Quando um último giro cortou o escudo do argoseano em dois, derrubando-o ao chão, este desembainhou o punhal que trazia na cintura e o arremessou contra Conan. Este o rebateu com seu escudo, o que deu tempo para que Braco se levantasse e agarrasse uma maça com corrente, caída ao chão.
— Então, você domina a defesa khitanesa com escudo, assassino? — disse o argoseano, ainda mais furioso que Conan. — Ora, muito bem... Vamos fazer um verdadeiro teste de suas habilidades de defesas orientais. Afinal, bárbaro, o escudo é apenas um apetrecho de defesa, e nada mais.
Desta vez eram os golpes do ágil, musculoso e hábil Braco que fizeram Conan recuar, até a maça do baracho lhe despedaçar o escudo, acuando o imperador bárbaro contra a parede externa de uma das casas daquela ilha.
— Você gritou “Crom” agora há pouco, cimério. Este é seu deus? Então, por que não cai de joelhos e pede a ele que o salve?
O cimério contra-atacou Braco, atingindo-lhe o maxilar com o que lhe restava do escudo e enfiou a espada no peito do argoseano, até a lâmina se projetar pelas costas do pirata.
— Crom só ajuda aqueles que se ajudam, cão. E, às vezes, nem esses — Conan respondeu, cuspindo no rosto de Braco, depois que este caiu moribundo ao chão, numa poça de sangue cada vez maior.
* * *
Conan, Pandora, Pallantides e parte dos exércitos aquilonianos (a outra parte ficou no acampamento, vigiando os navios) comemoraram a conquista de Tortage — a qual consolidara a de todas as Ilhas Barachas —, numa das tavernas locais, tendo, no entanto, o cuidado de comer e beber com moderação.
Sobre uma das mesas daquele local, dançavam algumas prostitutas. Uma delas, uma jovem morena zíngara, bastante suada de tanto dançar, tirou a parte superior de seus trajes sumários, começou a sorrir para o imperador cimério e, sem interromper sua dança, quase tão sensual quanto a de uma zamoriana, desceu da mesa sem deixar de encarar Conan, para quem ela sorria tão sensualmente quanto dançava, e tirou o restante dos trajes escassos, ficando totalmente nua. Após beijar a boca de outra prostituta, a qual se sentava não muito longe do cimério, ela sorriu novamente para o bárbaro, esfregou as nádegas nuas nos joelhos dele e exclamou:
— Viva o Imperador Conan e a Princesa Pandora! Eles, que navegaram até aqui, com seus exércitos, para nos livrar da tirania de Braco.
E todos na taverna gritaram euforicamente, em aclamação ao imperador cimério, e à sua filha e exércitos aquilonianos, enquanto Conan levava aquela mesma prostituta para um dos quartos dali.
Enquanto o velho Conan sugava avidamente os seios firmes e morenos da jovem zíngara, cujo cheiro era uma mistura de vestígios de perfume barato com bastante suor, ela cavalgava selvagemente o membro ereto do Imperador da Aquilônia, arrancando suspiros de prazer, tanto dele quanto de si mesma. Abaixando o corpo, ela deixou o cimério lhe sugar um pouco mais os seios.
Em seguida, colocando Conan ajoelhado atrás dela, a morena se apoiou nas próprias mãos e joelhos, e o fez penetrá-la no ânus. E, gemendo cada vez mais alto de dor e de prazer, ela estremeceu num grande orgasmo, tão arrebatador que, por alguns segundos, a zíngara ficou com a cabeça baixa e a enorme cabeleira negra caída sobre seu lindo rosto, ao mesmo tempo em que o imperador bárbaro lhe ejaculava reto adentro, extasiado como sempre com a capacidade que as zíngaras tinham (assim como as poitainianas, britunianas, hirkanianas e, principalmente, zamorianas), de equilibrar dor e prazer nas suas relações anais.
Então, após este orgasmo recíproco, a zíngara abocanhou vorazmente o falo ainda ereto de Conan e o sugou avidamente, até o idoso cimério ejacular mais uma vez, agora nos longos cabelos negros da prostituta, a qual abaixara a cabeça no exato momento do jato seminal, com este intuito. Após o bárbaro tomar banho e pagá-la, ela saiu do quarto logo depois do cimério, e sem lavar o suor do corpo nem o sêmen no cabelo. Um dos freqüentadores da taverna, um pirata argoseano que fazia sempre questão de ser o segundo — e, se possível, o último — homem a ir para a cama com uma mulher, ficou excitado ao ver aquela cabeleira negra toda manchada de esperma, bem como ao saber que o suor da zíngara se misturara ao de outro homem. E, trocando um sorriso com a aquela prostituta morena — a qual lhe conhecia os gostos e fantasias sexuais —, ele a beijou e levou para o mesmo quarto onde ela tivera relações sexuais com Conan.
Para sorte do cimério, um dos Dragões Negros era messântio e havia sido pirata nas Ilhas Barachas, antes de se alistar no exército aquiloniano. E, assim, Conan o nomeou líder, não apenas de Tortage, mas de todas aquelas ilhas. Sob seu governo, os barachos, a partir de agora, só teriam permissão para saquear os portos e navios de Shem e da Stygia, bem como a Kush, Costa Negra e a costa das Terras Pictas, não podendo mais atacar a costa, nem os navios, das nações agora governadas e protegidas pela Aquilônia.
Alguns jovens guerreiros — bem como alguns veteranos —, tanto de Tortage quanto das demais Ilhas Barachas, ofereceram-se para integrar o agora imperial exército aquiloniano. Daqueles voluntários, metade passou a integrar os exércitos da Aquilônia, enquanto a outra metade permaneceu nas ilhas, a fim de ajudarem a manter o domínio aquiloniano nas Barachas.
4) O Trono de Ophir
Os ophirianos haviam atacado novamente Poitain, massacrando algumas aldeias na fronteira, e agora sangue exigia sangue. Após alguns dias de descanso em Messantia, Conan e seus exércitos cavalgaram e marcharam até Tellia, capital do reino de Ophir, onde o Príncipe Cruaidh e parte do exército poitainiano, enviado pelo Conde Trocero, aguardavam, juntamente com parte do exército real de Shamar — cidade do sudeste aquiloniano, próxima ao Rio Tybor, na fronteira com Ophir.
Das ameias da cidade, catapultas lançavam pedras incendiárias, e flechas eram atiradas do alto das muralhas de Tellia. Uma delas atingiu em cheio o líder do exército gunderlandês; mas, apesar das baixas causadas, elas não detinham o exército imperial de Conan — exército este que respondia da mesma forma à tentativa de resistência por parte dos ophirianos, também lançando pedras incendiárias e flechas aos soldados que defendiam a capital de Ophir. Enquanto isso, Pallantides continuava atiçando seus Dragões Negros contra as hostes ophirianas.
Lanças atiradas pelos guerreiros ophirianos desde os muros de Tellia eram agarradas, em pleno ar, por gunderlandeses — bem como por Conan, Cruaidh e Pandora —, e arremessadas mortiferamente de volta a quem as havia lançado. Catapultas aquilonianas continuavam lançando impiedosamente suas pedras incendiárias sobre os muros de Tellia, enquanto o Príncipe Cruaidh, à frente dos poitainianos, empurrava inexoravelmente manteletes em direção aos portões da cidade. Conan seguia atrás do filho e à frente de sua formação de cunha — ele e todos os seus soldados com os escudos devidamente erguidos, enquanto os poitainianos usavam um poderoso aríete nos portões da capital de Ophir.
Quando o exército de Conan tentou arrombar os portões de Tellia, mercadores, vendedoras, costureiras, lavadeiras, artesãos, e até prostitutas e mendigos, incitados pelo imperador bárbaro que adentrava a cidade, aderiram à causa de Conan, ajudando-o a matar as sentinelas restantes do portão e descendo a ponte levadiça aos guerreiros aquilonianos, além de os ajudarem a atacar as propriedades dos partidários do Rei Amaltheles, matando os aliados do tirano, com armas improvisadas ou tiradas de partidários mortos do Rei de Ophir, e prendendo os poucos que se rendiam à horda imperial de libertadores.
Mercadores furavam os olhos de soldados ophirianos, ao agarrarem-nos por trás em chaves de braço; vendedores decepavam narizes dos partidários de Amaltheles, com as espadas que vendiam no mercado, antes de os matarem; lavadeiras acertavam outros, com bestas tomadas de soldados mortos, e artesãos, prostitutas e mendigos decepavam cabeças de outros partidários do Rei de Ophir, já mortos e caídos no chão.
O fato do ainda vivo irmão de Amalrus ter declarado independência da parte ocidental do reino, pouco antes da invasão aquiloniana, havia enfraquecido o Rei Amaltheles. Assim, após aquele breve cerco, Conan e seus exércitos conseguiram invadir a capital do reino. Arcos ophirianos e seus arqueiros eram decepados, antes mesmo que pudessem flechar os aquilonianos.
Com o apoio dos Dragões Negros, bem como dos bossonianos, gunderlandeses e poitainianos, os exércitos de Conan eram tão numerosos que nem mesmo as flechas cuspidas por balestras, nem o piche derramado dos portões do Palácio Real de Tellia, haviam conseguido detê-los. Girando sua espada, Conan decepou o pescoço de um ophiriano, enquanto o Príncipe Cruaidh abria os intestinos de outro, e os bossonianos ali presentes agora davam cabo de qualquer arqueiro ou besteiro que lançasse, ou tentasse lançar, suas flechas no exército de Conan. Habilmente, Pandora decepava, um a um, os legalistas que apareciam à sua frente — enquanto Pallantides abria o tórax de um e decepava o pescoço de outro em seu avanço para dentro do Palácio Real de Tellia, acompanhado por Pandora, e seguindo Cruaidh e Conan.
Enquanto isso, do lado de fora e em outras áreas da cidade, guerreiros da infantaria aquiloniana se esquivavam de giros das espadas dos cavaleiros ophirianos, decepando-lhes mãos e braços, e lhes abrindo fatalmente estômagos e intestinos em seus contragolpes. Jugulares eram esfaqueadas e crânios eram abertos, em ambos os lados daquela batalha, enquanto Conan, já dentro do palácio, matava partidários de Amaltheles, com golpes de espada e até com chutes fatais. Mas os ophirianos civis — fossem homens, mulheres, idosos ou crianças — eram poupados, como sempre. Enquanto isso, como já havia acontecido em Zingara, Argos e Ilhas Barachas, militares aquilonianos soltavam prisioneiros políticos de Ophir — novos aliados para as forças do imperador cimério da Aquilônia.
A fúria berserk trovejava nas veias de Cruaidh, enquanto respingos de sangue formavam uma nuvem vermelha ao seu redor. Sim, ali aquele filho de Conan era, tal qual o pai e a irmã, um leão entre hienas. Cada golpe de sua espada era como uma patada de garras afiadas dilacerando os inimigos. Ele girava, estocava, saltava e rugia, com os olhos azuis faiscando no êxtase da batalha e os lábios contraídos para trás, num esgar de fúria.
Um dos ophirianos que tentava matá-lo teve o braço e a cabeça decepados num único giro de Cruaidh; outro tentou agarrá-lo por trás, enquanto mais um investia contra o jovem, mas este esfaqueou a coxa do que o agarrara e acertou um chute no peito do que investira contra ele. Antes que ambos investissem novamente contra o irmão de Pandora, ele, num único giro, abriu a jugular do que o agarrara e perfurou o coração do que fora chutado no peito.
Súbito, um mercenário musculoso e alto, de quase dois metros de altura, a serviço do Rei Amaltheles, investiu contra Cruaidh, e este se viu num duelo acirrado contra aquele gigante. Em dado momento, ele conseguiu derrubar o garoto ao chão, com uma rasteira, e o príncipe aquiloniano por pouco não se esquivou de um golpe descendente da espada de seu antagonista. No instante seguinte, o filho guerreiro de Conan decepou o pé do mercenário e, erguendo-se, abriu mais da metade do pescoço grosso do gigante, o qual caiu ao chão com a cabeça ensangüentada e quase decepada.
Aquele príncipe adolescente da Aquilônia era uma máquina de matar, que deixava em seu rastro pedaços de membros decepados, sangue, miolos, tripas e angustiantes gritos de agonia, que soavam como um hino de morte aos seus ouvidos semi-bárbaros. Um último ophiriano, que tentou matar o Príncipe da Aquilônia, recebeu deste um golpe que lhe arrancou a calota craniana, na altura dos olhos, num espirrar de sangue e miolos sobre o chão do palácio. Então, juntamente com o pai, a irmã e Pallantides, Cruaidh correu até a sala do trono.
— Vamos! — gritou o Rei de Ophir naquele salão, aos seus guardas. — Nenhum estrangeiro vai pôr o traseiro no meu trono!
Cada vez mais, na sala do trono, irrompiam furiosamente os guerreiros aquilonianos e se erguiam o entrechocar do aço, uivos de morte e os trovejantes gritos de guerra dos exércitos da Aquilônia e de Ophir. Não morriam sozinhos. Os gritos de ódio e triunfo dos partidários de Conan mesclavam-se a outros, de medo e dor. Diante do cimério, o salão fervia de homens combatendo. Chamas de várias tochas iluminavam a cena frenética, como se fossem a luz do dia.
Mesmo tendo perdido seu escudo durante a batalha, Conan era um inimigo tão implacável quanto o Rei Amaltheles de Ophir, filho do falecido Rei Amalrus, e que lutava tão bem quanto o cimério. Dois argoseanos atacaram Conan — um de cada lado — e o bárbaro se defendeu do rival à esquerda com sua adaga, esfaqueando-lhe o crânio ao mesmo tempo em que abria as tripas do que investira à direita. Um terceiro atacou o cimério com um machado nas mãos. O bárbaro lhe aparou o golpe, de tal modo que ambas as armas voaram para longe. Então, tão veloz quanto Conan, aquele soldado se aproveitou que a adaga do cimério ficara cravada no crânio do outro argoseano, para agarrar as costelas do bárbaro, no que foi imitado por este. Súbito, ele começou a ouvir o som de costelas quebrando e abriu um sorriso de triunfo para Conan — para, no momento seguinte, descobrir que eram as costelas dele, e não as do bárbaro que se quebravam, juntamente com caixa torácica e coluna, perfurando-lhe mortalmente os órgãos vitais.
Em seguida, largando o cadáver esmagado e reavendo sua espada e punhal, o cimério se esquivou do tiro de uma balestra inimiga, cuja flecha se cravou mortalmente em outro argoseano, para em seguida arremessar seu punhal, tão velozmente quanto a flecha, na jugular do besteiro. Logo, o agora Imperador da Aquilônia investiu contra o Rei de Ophir, em dois golpes furiosos contra seu escudo. Defendendo-se, Amaltheles brandiu sua espada contra Conan, cruzando lâminas com o imperador bárbaro. No instante seguinte, o monarca ophiriano deu um giro horizontal de sua espada para baixo, tentando, sem sucesso, decepar as pernas do cimério. Este chutou para longe a lâmina do Rei de Ophir, mas mesmo assim, Amaltheles lhe acertou o rosto com um golpe de seu escudo.
Agarrando o pescoço do velho Conan por trás, Amaltheles começou a estrangulá-lo, ao mesmo tempo em que o desarmou, com um forte aperto dos dedos da outra mão no pulso do bárbaro. Mas, com toda a sua força, o cimério o lançou para a frente, por cima do ombro, e ambos rolaram pelo chão de granito. Amaltheles acertou dois murros no rosto do imperador cimério, e este aproveitou o fato do Rei de Ophir estar por cima dele e lançou as pernas por trás, ao redor do pescoço do monarca, e o estrangulou tenazmente com os pés, até lhe quebrar o pescoço num estalo seco.
Mas alguns guerreiros ophirianos — dispostos, não somente a vingar o rei, mas a lhe herdarem o trono, por serem seus parentes — não fugiram. Conan recuperou sua espada e, com o escudo recém-pegado de um soldado morto, golpeou um daqueles homens a investirem contra ele, para, em seguida, defender-se de uma flecha com aquele mesmo broquel, e logo depois, cruzar espadas com o arqueiro e lhe abrir a jugular, num giro sangrento de sua longa espada de lâmina azulada. O que fora derrubado pelo escudo do cimério investiu contra ele. O Rei da Aquilônia lhe deteve o primeiro ataque, aparando-lhe espada com espada, e o segundo detendo-lhe a lâmina com seu escudo. No ato seguinte, o idoso imperador lhe rasgou cota-de-malha, costelas e vísceras num único giro sangrento.
Um segundo depois, outro ophiriano lhe cravou um punhal no ombro direito, mas Conan o lançou ao chão e, tirando a faca no ombro, a arremessou no peito encouraçado do homem. Uma machadada na espádua esquerda fez o velho Conan cambalear, mas, virando-se, o grisalho cimério deteve outro golpe do machado daquele último ophiriano com o escudo, e lhe decepou a cabeça num abundante espirrar de sangue.
Um terceiro tentou matá-lo com um giro descendente da espada, mas o Imperador da Aquilônia lhe deteve o golpe, num jato de sangue que arrancou a mão do ophiriano, no qual Conan enfiou a espada entre o pescoço e o queixo, com tamanha força que a ponta da lâmina se projetou pela parte superior da cabeça de seu pretenso assassino. Outro tentou flechá-lo, mas, mesmo ferido, o idoso bárbaro o deteve, arremessando-lhe mortalmente na testa um machado encontrado ao acaso. No instante seguinte, um ophiriano, que exultava após ter decapitado um aquiloniano, teve seu pulmão esquerdo e coração perfurados por uma lança arremessada pelo já enfraquecido Imperador Conan.
Naquele meio tempo, um primo distante do falecido Rei de Ophir investiu contra Pandora, enquanto Conan estava ocupado. Ela lhe aparou o golpe de espada e ambos cruzaram lâminas por alguns segundos. Era um adversário tão difícil para ela quanto Amaltheles havia sido para seu pai. Com um salto, ele se esquivou de um giro mortal, dado pela Princesa da Aquilônia, voltou a atacá-la e ambos continuaram cruzando espadas.
Num momento em que a filha de Conan se aproximou demais do príncipe ophiriano, este a derrubou ao chão com um soco, no intuito de matá-la enquanto ela estivesse caída. Mas, como um relâmpago, Pandora se levantou e ambos voltaram a cruzar espadas, sem conseguirem penetrar na defesa um do outro, até que ela lhe agarrou o pulso e chutou a perna. Sem demonstrar dor, ele girou a espada para decepar a jovem, mas a princesa se esquivou e, agachando-se, abriu-lhe a outra perna com sua lâmina manchada de sangue ophiriano. A agilidade e o equilíbrio do príncipe se atenuaram com o golpe recebido, e Pandora, erguendo-se como um raio, decepou-lhe a cabeça num único giro sangrento.
Ao mesmo tempo, Conan avistou um guerreiro ophiriano, o qual cavalgava a toda brida em sua direção. No momento seguinte, o cimério decepou, de um só golpe, as patas dianteiras da montaria de seu antagonista, derrubando-o ao chão. O enorme ophiriano se ergueu de um pulo, despiu-se do manto e, de espada na mão, investiu contra o imperador bárbaro, o qual o recebeu já na ofensiva, mais do que na defensiva — como Conan sempre fazia. Após algumas colisões entre lâminas, o cimério se defendeu de um dos golpes, com o uso do bracelete em seu pulso esquerdo, e acertou uma cotovelada no hiboriano. Este, contudo, se esquivou de um giro de espada do bárbaro, o qual só vez lhe resvalar no peitoral da armadura.
No golpe seguinte, contudo, o imperador lhe decepou o lóbulo da orelha. Furioso, o guerreiro civilizado acertou um soco no rosto de Conan e o desarmou. Recuperando-se, o cimério também desarmou o ophiriano e igualmente lhe acertou um murro no rosto. Aquele homem, tão resistente quanto o bárbaro, era muito difícil de ser derrubado! O velho Conan lhe acertou outro murro no rosto, mas este agarrou o bárbaro pela cintura e o espatifou contra uns barris próximos, acertando-lhe seis murros no rosto bronzeado e cicatrizado. Quando o ophiriano — agora tão desarmado quanto Conan — puxou uma faca, para atacar o debilitado cimério, este se defendeu usando o antebraço esquerdo — o qual foi perfurado pela lâmina descendente. Ato seguido, o soldado travou a mão direita no pescoço de Conan e começou a estrangulá-lo.
Os soldados aquilonianos ainda estavam muito ocupados, dando conta dos inimigos restantes, para ajudar seu imperador. Quando o atordoado e debilitado Conan sentiu uma névoa vermelha lhe surgir na mente, ele contra-atacou, com uma joelhada nos testículos do guerreiro, e, torcendo o antebraço do seu rival — bem como o próprio antebraço —, enfiou aquela mesma adaga no coração do antagonista, e em seguida, arrancou-a, tanto do corpo já sem vida do soldado quanto de si mesmo.
Lá fora, o clamor da batalha havia esmaecido. Os gritos de vitória se misturavam aos gemidos dos moribundos. Como folhas brilhantes depois de uma tempestade de outono, guerreiros caídos se espalhavam pela planície. O sol poente cintilava em elmos lustrosos, armaduras trabalhadas em tons dourados, espadas quebradas e pesados estandartes reais de seda, dobrados e tombados em rubras poças coaguladas. Em pilhas silenciosas, jaziam cavalos de guerra e seus cavaleiros vestidos de aço — crinas e penachos ao vento flutuavam de um lado a outro da maré vermelha. Ao redor e entre eles, como o rastro de uma tormenta, espalhavam-se corpos lacerados e pisoteados.
Como havia ocorrido em Zingara, Argos e nas Ilhas Barachas, a boa e velha formação em cunha do Imperador Conan havia garantido a vitória dos seus exércitos. Sangue espirrava das veias rasgadas no antebraço, peito, ombros, costas e pescoço de Conan, e os ferimentos eram grandes rasgos, feitos por espadas, machados e facas. Uma orelha — a única que lhe restara inteira desde que conhecera Sancha, no navio Esbanjador — havia sido arrancada de sua cabeça e pendia solta, com um grande pedaço de carne do canto de seu maxilar e pescoço. Uma flecha farpada se alojara acima da clavícula do cimério e uma de suas costelas estava quebrada. Ensangüentado e amparado por Pallantides e Pandora, o velho imperador cimério caiu naquela planície.
* * *
Lentamente, através da suave escuridão que o cercava, Conan tateou seu caminho de volta à consciência. A audição veio antes da visão, pois, antes ele que pudesse ver qualquer coisa além das ondas cegas e pulsantes de escuridão, ele pôde ouvir vozes murmurantes, indistintas e sem significado. Então, uma fraca incandescência começou a surgir lá no alto, como a ponta de uma estrela vista das profundezas de um buraco negro. Ela cresceu, se expandiu e se tornou a luz branda, emitida suavemente por tochas. Então, percebeu quem ele era e se lembrou de quase tudo o que havia acontecido.
Estava consciente de vários ferimentos cegos e terríveis, e percebeu que estava todo enfaixado e que a flecha farpada havia sido empurrada para sair pelo outro lado de sua igualmente enfaixada clavícula, assim como sua costela quebrada fora recolocada no lugar e também enfaixada. Apesar da idade e dos horrendos ferimentos no corpo, sua vitalidade ainda era impressionantemente bárbara, como a de todos os cimérios. Ele começou a entender as vozes, e a entender as visões turvas e ondulantes que iam ao encontro de seus olhos. Ele se encontrava, não mais em Tellia, mas no Palácio Real de Shamar, no sudeste da Aquilônia.
Estava deitado num leito; vagamente, ele viu Pandora se curvando ao seu lado. Seus olhos cinzentos pareciam artificialmente grandes em seu rosto alvo.
De tempos em tempos, ela punha um chumaço novo de pano molhado na cabeça dele. Outros rostos flutuavam atrás do dela. Ele os reconheceu: o General Pallantides, o Príncipe Cruaidh da Aquilônia, o Rei Remus de Shamar e sua esposa, a Rainha Minerva.
O velho Pallantides estava falando e, com uma tremenda força de vontade, Conan tentou entender o que o ainda musculoso general alto estava dizendo.
Conan abriu os lábios com esforço e murmurou:
— Pallantides.
— Majestade! Você consegue falar!
— O que aconteceu depois que desmaiei? — sussurrou Conan. Estranho como era difícil sussurrar.
— A parte ocidental do reino de Ophir agora pertence à Aquilônia, e há outro primo distante de Amaltheles no trono, como rei-fantoche — respondeu o velho líder dos Dragões Negros. — E o velho rei da parte oriental daquele reino está satisfeito em governar aquela metade de Ophir. Ele não vai nos atacar, desde que não invadamos o leste do reino.
— As mulheres do harém de Amaltheles... — murmurou Conan. – Elas são escravas, roubadas de Kush, Britúnia, Zamora, Shem, Hirkânia, Iranistão e Vendhya.
— Nós as reunimos sob guarda no harém — disse Cruaidh, enquanto dava caldo de carne ao pai, para lhe restaurar as forças. — Mais tarde, providenciaremos mandá-las de volta aos lares.
— Ótimo! — Conan caiu de volta após beber o caldo, e as sombras começaram a se fechar novamente ao seu redor. Sua voz se silenciou, e o Rei de Shamar agarrou a barba em angústia:
— Por Mitra! Ele está morrendo!
Pandora, com a mão no pulso de Conan, sacudiu a cabeça:
— Não, ele está dormindo. Seu corpo está dilacerado pela última batalha, mas não está escrito que golpes de espadas, lanças, machados, adagas, punhais e maças matarão meu pai. Ele viverá para cumprir o destino que Mitra e Jhil lhe deram.
Epílogo:
E Pandora tinha razão. Após ter se recuperado totalmente de ferimentos capazes de matar até mesmo a certos vanires e aesires, o cimério retornou triunfalmente a Tamar (ou Tarantia).
O sol acabava de se pôr em Tarantia, a capital do mais próspero e poderoso reino do Ocidente. As ameias dos imponentes muros do palácio real destacavam-se contra o negro céu estrelado. A lua brilhava sobre a esplendorosa capital da Aquilônia, e sobre os exuberantes jardins floridos do palácio real. Pelas ameias dos muros passeavam os guardas, armados de alabardas e espadas, enquanto a ponte levadiça estava baixa, permitindo a passagem de diversos nobres, damas e cavaleiros, luxuosamente vestidos com sedas, veludos, cetins, linhos, algodões e malhas, e bem-recebidos pelos maiores anfitriões da festa que iria começar: o Conde Trocero, de Poitain — com o leopardo escarlate de sua província bordado em sua casaca —, o General Pallantides, o Rei Conan da Aquilônia — agora devidamente banhado, perfumado e barbeado — e a Condessa Albiona.
Na tarde daquele dia, o cimério havia, mais uma vez, recusado uma aliança com a Hiperbórea, proposta por embaixadores daquele país, enviados pelo velho Rei Tomar Orlov e encabeçados por sua bela filha, a Princesa Olga. Quando o Rei Tomar era apenas um jovem príncipe, Conan — então com 16 anos incompletos — havia sido aprisionado naquele país gelado ao norte, juntamente com vários amigos aesires — seus primeiros aliados e amigos não-cimérios —, e somente ele escapara vivo. Seu ódio pelos hiperbóreos era tão grande, que o bárbaro — apesar de já ter liderado, dentre outros, alguns mercenários daquele país sob o comando de Yasmela — não admitia qualquer aliança ou amizade com o reino deles.
Agora, no Palácio Real, inúmeras tochas e velas iluminavam o animado salão de festas, e as damas da corte vestiam roupas de diversas cores, mas principalmente brocado azul com dourado, para combinarem com as cores das torres de Tarantia. Os soldados do palácio, com seus gorros de aço, capacetes e cotas-de-malha, postavam-se imóveis como estátuas. Leitões, carneiros e pastéis de carne bovina eram assados em lareiras.
Quase todos dançavam alegremente ao som de flautas e alaúdes — um destes últimos tocados pelo menestrel —, enquanto todos, inclusive o imperador cimério, bem como sua filha Pandora e seu filho Cruaidh, eram servidos por lindas e sedutoras dançarinas e cortesãs sorridentes — poitainianas de cabelos negros e olhos castanhos, e raparigas loiras de Tanasul, Galparan e da capital Tamar —, e bebiam vinho, após terem comido bastante carne de boi e de porco.
As serviçais, de turbantes brancos e longos vestidos de cor creme, serviam, por sua vez, outros tipos de comida aos convidados, como frutas, queijos, pães, bolos e tortas, durante aquele alegre festejo.
Governantes, ou seus representantes, de Galparan, Tanasul, Tauran, Poitain, Bossônia e Gunderlândia, dentre outras regiões da Aquilônia, compareceram àquela ocasião especial. E, após esta épica celebração do retorno do Imperador Conan da Aquilônia ao seu reino, o bárbaro se casou com a belíssima Sancha no Palácio Real, nomeado-a Imperatriz da Aquilônia.
Agora, nos aposentos reais, os olhos azuis do imperador cimério miraram os castanhos da linda imperatriz zíngara, de rubros lábios de mel, cujos seios perfumados e enormes chacoalhavam ao sabor de seus passos. E, nesse breve olhar mútuo, vários anos de aventuras, batalhas, ganhos, perdas, encontros e desencontros foram relembrados em questão de momentos, até que, como em várias vezes anteriores, seus lábios se tocaram, desta vez somando o calor de todas. Enquanto Sancha passava as mãos pelo torneado torso nu e peito peludo de Conan, este fez o mesmo com a zíngara, tirando o corpete de cetim da esposa e pondo-lhe à mostra o busto grande, moreno, mole e quente, que começou a receber o toque da língua áspera do marido, do qual ela tirou a tanga, enquanto este lhe tirava a saia, terminando de despi-la.
Ofegante, Sancha sentia os dedos calejados de Conan, acariciando-lhe os ainda negros pêlos entre as pernas e umedecendo sua negra mata com a essência lubrificante que começava a lhe inundar o vale pubiano, ao mesmo tempo em que o cimério pôs a língua no meio de seu busto para, em seguida, abocanhar-lhe os grandes e enrijecidos mamilos marrons, bem como as partes superiores e inferiores de ambos os seios. Então, o bárbaro desceu a língua para a barriga, umbigo e clitóris. Logo, a Imperatriz da Aquilônia arqueou para trás, com os olhos fechados e a boca entreaberta, num gemido de prazer, pouco antes de abocanhar doce e umidamente o órgão latejante do bárbaro, numa felação recíproca.
Minutos depois, adentrada por Conan, ela sentiu, assim como no beijo que trocara, o atrito entre sexos ainda mais intenso e prazeroso do que nunca em sua vida — como se, apesar de já ter sido satisfeita na cama com ele incontáveis vezes, aquela fosse a primeira. Provavelmente, o fato dela agora ser esposa do cimério, e não mais concubina de harém, colaborara para aquilo.
Logo, o Imperador Conan ejaculou abundantemente em todo o rosto cor de oliva da nova Rainha da Aquilônia, Sancha de Kordava, após aquela relação vaginal, na qual o corpo do idoso cimério — agora emagrecido pela idade, menos musculoso que há vinte anos e com mais cicatrizes do que nunca — ficara sobre o corpo ainda mais moreno, e agora voluptuoso, da zíngara. Mesmo sem poder abrir os olhos, devido ao esperma que lhe inundava os globos oculares e os fazia arder, Sancha — cujos cabelos ligeiramente grisalhos também foram manchados pela ejaculação do imperador bárbaro — sorria e se deliciava com o cheiro forte e a quentura do sêmen que seu marido lhe despejara na face.
Assim, ainda excitada graças a isso e com três longas gotas de sêmen penduradas pelo queixo, a zíngara lambeu o esperma que lhe manchava os lábios e o pôs para dentro da boca, engolindo-o, para, em seguida, beijar a ainda gotejante glande de Conan, lamber-lhe os testículos grisalhos e lhe sugar o membro ainda ereto, engolindo-lhe o sêmen restante, num ato de adoração e louvor quase religiosos. Não menos excitado que ela, Conan beijou a boca de Sancha e voltou a lhe sugar os seios morenos — agora grandes e flácidos, graças à idade e a várias fases de aumento e redução de peso —, deixando-a ainda mais excitada e tendo mais relações sexuais com ela. Vagina, ânus, boca... em todos eles o cimério penetrou e ejaculou abundante e deliciosamente, durante aquela longa noite de núpcias com sua rainha, onde ela tinha orgasmos quase ao mesmo tempo que o marido.
* * *
Após o casamento, Conan, mais uma vez, reduziu drasticamente o número de mulheres de seu harém, deixando apenas Chassa e Natala, bem como uma zíngara, uma zamoriana e uma poitainiana, por questões políticas. Antes da sua decisão de transformar Zenóbia — e agora Sancha — em Rainha da Aquilônia, o Rei Conan já ouvira vários amigos aquilonianos repetindo que ele deveria criar uma dinastia estável, com herdeiros para o trono. Uma quantidade maior de filhos de concubinas poderia piorar as coisas. Assim, sabendo que a maioria das mulheres de harém poderia causar intrigas, o cimério — assim como havia feito antes, ao se casar com a saudosa Zenóbia — as casou com nobres que pudessem cuidar dos filhos delas como se fossem deles, mantendo, com seu infalível instinto bárbaro, apenas as de sua total confiança em seu serralho.
Agora a bandeira do Leão Dourado sobre fundo preto tremulava, não apenas na Aquilônia, mas em toda Zingara — agora governada pelo príncipe aquiloniano Cruaidh, ao lado de Zerallina (ex-mulher do harém do falecido rei de Zingara) —, Argos, Ilhas Barachas e parte oeste de Ophir. Tendo consolidado seu império e encerrado as guerras contra seu reino, o idoso Conan levou a Aquilônia a uma era de prosperidade como nunca seu país adotivo tivera antes. Eventuais escaramuças contra os pictos na Fronteira Oeste — nas quais Conan orgulhosamente lutava, na vanguarda de seus exércitos — não interferiram nesta fase gloriosa do mais poderoso reino do ocidente. O próprio destino do cimério era a plenitude, a tensão do combate o acúmulo de forças. Ele tinha sede de proezas — a qual fora satisfeita com suas conquistas imperiais —, e se mantinha o mais longe possível da resignação e da preguiça dos civilizados fracos.
Quando não estava lutando, nem cuidando das suas responsabilidades reais, ele era um homem cuja risada era tempestuosa e imediata, que bradava canções em várias línguas, copulava intensamente com a esposa e concubinas, e tomava cerveja e vinho tão intensamente quanto um beberrão. Apesar de governar a Aquilônia, ele não era menos bárbaro por causa disso. Aquele cimério de olhos azuis — que havia acabado, há mais de duas décadas, com o despotismo aquiloniano da época dos reis Vilerus e Namedides, trazendo ao reino (agora um império) o espírito de liberdade — só queria viver intensamente enquanto pudesse. Queria experimentar os ricos sucos da carne vermelha e o vinho picante no seu paladar, o aperto quente de braços femininos e a loucura do triunfo da batalha, quando as lâminas azuladas queimavam e eram tingidas de vermelho. Isso era o suficiente para alegrá-lo. Ele vivia, estava pleno de vida, amava e matava; e era feliz assim.
O imperador cimério ainda viveu por muitos anos, até falecer no harém, após uma longa noite de relações sexuais com Natala da Britúnia, Chassa da Hirkânia e a Imperatriz Sancha — suas três mulheres favoritas. Após saberem que o Imperador Conan da Aquilônia não morrera envenenado, seus súditos leais cremaram e enterraram, no Palácio Real, o corpo do nonagenário cimério, e o império foi herdado por Pandora, a qual dividiu o cargo de imperatriz com sua idosa madrasta zíngara e anexou o restante de Ophir. Anos mais tarde, após as mortes das imperatrizes Pandora e Sancha, o filho e herdeiro de Pandora anexou as cidades ocidentais de Shem.
Agradecimento especial: A Friedrich Nietzsche, e aos howardmaníacos e amigos Károly Mazak, da Hungria; Osvaldo Magalhães, de Brasília – DF; Marco Antonio Collares; Deuce Richardson, dos EUA, e Al Harron, da Escócia.