Um Novíssimo Recomeço... Mercenário Outra Vez

 

Um Novíssimo Recomeço... Mercenário Outra Vez

(por Fernando Neeser de Aragão)


Parcialmente inspirado num conto de Robert E. Howard



1) Akkharia


Eu havia me alistado no exército da cidade de Akkharia. Por muitos meses, fui mercenário a serviço do Rei Ur-Naram e de sua esposa, a Rainha Inanna. Por muitas vezes, marchei pelos grandes portões em forma de “L” daquela cidade-estado shemita, com centenas — às vezes, milhares – de outros arqueiros, espadachins, lanceiros e condutores de bigas.

Na maioria das ocasiões, lutávamos para defender aquela cidade e travávamos muitas guerras por esse motivo. Por vezes, o exército retornava pelos portões de Akkharia, disperso e derrotado; mas, com mais freqüência, voltávamos com longas fileiras de carroças, repletas de saques, e com cativos: homens fortes, belas crianças e jovens mulheres para se tornarem escravos.

Quando precisávamos nos defender, anciões, mulheres e os soldados da cidade guarneciam a muralha e se preparavam para lutar por nossa morada. Quando vínhamos de uma vitória, toda a população saía de casa, havia um dia inteiro de festejos, o saque era distribuído e os escravos, vendidos. E por falar em escravos, havia um provérbio: “Melhor ser um escravo entre os akkharim, do que um homem livre entre os asshuri”.

Pois os akkharim eram famosos por tratarem escravos e prisioneiros com moderação. Eles agiam de modo selvagem e violento quando em guerra, mas na paz eram um povo razoável e justo. Eles nada tinham da crueldade da maioria dos shemitas que eu conhecera, o que os diferenciava dos habitantes de todas as outras cidades de Shem.

Não há registros de que cativos capturados em guerra implorassem para ser vendidos entre os akkharim, mas essa é a verdade. Não era lei alguma que causava a indulgência com os escravos, mas uma leniência particular na natureza daquele povo — nós, cimérios, embora fôssemos violentos, e até impiedosos, em nossas batalhas e em nossas incursões de saque, também não fazíamos escravos, o que me fazia entender aquele modo de ser do povo de Akkharia.

Isso, inclusive, me valeu a aquisição de uma bela ex-escrava, roubada de uma cidade ao leste — uma jovem de pele negra, longos cabelos trançados e untados com lama, de acordo com os costumes do povo dela, e enormes seios firmes, com mamilos maiores que limões. Ela era uma jihiji, chamada Bajihja, a qual fora capturada por kushitas, vendida para os stígios em Kheshatta, e mais tarde para os asshuri, dos quais a tiramos numa emboscada onde os havíamos atraído até uma região pantanosa — onde o poder de suas carruagens fora neutralizado —, cercando-os e os exterminando. Em pouco tempo, Bajihja passou a aquecer meu leito, em loucas e tórridas noites de deliciosas relações sexuais.

Certa vez, marchamos pelos portões de Akkharia, para enfrentar um poderoso exército vindo do leste, das cidades de Nippr, Shumir, e Eruk, o qual destruía as terras por onde passava e, além de ter conquistado aquelas cidades, também tomaram Shushan (a qual fora temporariamente emancipada do poder turaniano, com a chegada daqueles guerreiros tão cruéis quanto os próprios exércitos de Turan) e Akbitana, dentre outras. Eram os cruéis asshuri, considerados os shemitas mais impiedosos já vistos — mais cruéis que os próprios zuagires, aos quais eu liderara há vários anos.

Eram liderados por um grande general, por nome A-ki-til, o qual, à frente dos asshuri, conquistara e unificara quase toda Shem Oriental — com exceção de Saa’bah —, declarava-se “O Rei de Shem” e pretendia expandir seu império até a cidade de Asgalun, na costa shemita. Suas habilidades eram tão formidáveis, que poucas tribos e cidades ousavam oferecer resistência contra seus exércitos, e sua crueldade atroz era ainda maior que sua competência e bravura. Alguns boatos exagerados diziam que, ao tomar Shushan dos turanianos e conquistá-la, A-ki-til, além do habitual saque ao ouro e prata dos palácios, teria destruído o zigurate daquela cidade, bem como violado e saqueado as tumbas de seus antigos soberanos. 

Parte das rixas entre os shemitas nômades do deserto e os asshuri havia sido bastante amenizada por aquele líder, graças aos saques às cidades que eles atacavam. Onde quer que ele liderasse as tropas asshuri, pilhagem, assassinato, fogo e rapinagem o acompanhavam. Chacinavam homens, mulheres e crianças, poupando apenas as jovens mais belas para transformá-las em escravas e concubinas. Algumas cidades menores eles nem se davam ao trabalho de conquistar e dominar, preferindo romper-lhes as muralhas, espalhando cadáveres como cacos de cerâmica pelos portões e ruas das mesmas, bem como amontoando cabeças decepadas pela praça onde outrora se faziam festejos.

Numa daquelas cidades menos importantes — os akkharim me contatam —, A-ki-til havia construído um pilar diante dela, esfolado todos os chefes que haviam se rebelado e coberto o pilar com suas peles. Alguns ele empalara em estacas em volta do pilar, além de amputar os membros dos oficiais que se rebelaram. Muitos cativos ele queimara com fogo, e muitos outros ele levara como escravos vivos. De alguns, ele decepara o nariz, as orelhas e os dedos; de outros, ele arrancara os olhos. Ele havia feito uma coluna dos vivos e outra de cabeças, e prendera suas cabeças a troncos de árvores por toda a cidade. Os mancebos e virgens daquela cidade, ele queimara com fogo. Ele e seus exércitos eram senhores de quase toda a porção oriental de Shem, e agora pretendiam conquistar a parte ocidental.

Marchamos para encontrar o exército asshuri e o encontramos a léguas de Akkharia. Esse era o costume dos akkharim: nunca travar uma batalha dentro de suas fronteiras, assim poupando seu povo dos horrores trazidos por um exército invasor. Em caso de derrota, as tropas também tinham tempo de recuar por trás das muralhas, cujos portões em forma de “L” obrigavam os agressores a girar à direita ao entrar no portão, dificultando a defesa do agressor — uma vez que segurava o escudo com a mão esquerda — e atrapalhando o manejo da espada com a direita.

Não avançamos diretamente para combater os asshuri. Nosso acampamento ficava numa encosta, e o deles, numa planície. E a planície estava tomada pelo branco de suas tendas. Estavam absolutamente em maior número, mas dominávamos a posição mais estratégica, pois, no sopé da encosta onde acampávamos, havia muitas ravinas, grotas e enormes pedras.

Os asshuri não se incomodariam em nos atacar ali, até que tivessem acumulado suprimentos e preparado bem suas armas. Não era à toa que os akkharim, segundo eu ouvira, haviam resistido a várias invasões hostis durante oito séculos. Nós também não nos apressaríamos em atacá-los — por isso, descansamos, reforçamos nossas defesas, preparamos os arcos e afiamos as espadas, enquanto o inimigo saqueava e devastava a planície; a fumaça de cidades e vilas em chamas se erguia aos céus, junto aos berros de homens e crianças sendo assassinados, e aos gritos de mulheres.

Com o cair da noite, muitos batedores e espiões se esgueiraram do acampamento akkharim para sondar os asshuri, descobrir seus números e, se possível, seus planos. Eu, o Capitão Conan, era um dos espiões. Era algo difícil e bastante arriscado para os espreitadores. Nossos adversários tinham muitas sentinelas posicionadas pelo acampamento, e alguns dos akkharim foram descobertos e caíram lutando sob espadas asshuri. No entanto, eu não era inexperiente nisso, nem tinha os sentidos embotados dos civilizados. Assim, eu e os akkharim restantes conseguimos chegar ao acampamento inimigo.

Adentrei o local furtivamente, como só um cimério é capaz de fazer, ora deslizando de sombra em sombra sem ruído algum, ora me arrastando com minhas mãos e joelhos, e, às vezes, me deitando totalmente, mal ousando respirar quando um asshuri chegava perto. Finalmente, me encontrei próximo a uma grande tenda, que parecia ser o pavilhão de um chefe.

Arrastei-me mais para perto, mantendo-me sempre nas sombras, e discretamente fiz um pequeno corte na lona com minha adaga. Espiando lá dentro, vi que a tenda era ocupada por três ou quatro mulheres, uma delas aprisionada e as outras também escravas, mas shemitas de aparência asshuri. Havia um mastro cravado no chão de terra da tenda e, ao lado dele, a mulher presa estava agachada, com seus pulsos presos à haste. Era alta e seu cabelo dourado caía desalinhado sobre os ombros nus e o rosto. Mesmo sem ver sua face, dava para lhe notar a pele leitosa, macia e com saúde exuberante, a firme dilatação de seus seios e o contorno de seus esplêndidos quadris.

Seu traje, semelhante a um manto, estava rasgado em alguns lugares, e um hematoma podia ser visto em seu braço roliço — sinal de que ela havia sido rudemente abusada. Enquanto eu observava, a entrada da tenda se abriu e um guerreiro asshuri entrou. Era um chefe, um homem alto e largo, de barbas densas e com um rosto duro e cruel. A cativa se encolheu para longe dele, com um grito de medo abafado. Aquela voz dela, juntamente com aquele corpo, aquela cor e aqueles trejeitos, me pareceu bastante familiar.

Ele sorriu com frieza e expulsou as outras escravas da tenda. Então, aproximou-se da jovem e, desamarrando-lhe as mãos, a colocou de pé. Ela começou a implorar frenética e lamentosamente, na língua nemédia, e sua voz novamente me soou familiar. O asshuri simplesmente riu dela.

Puxou-a para perto e a beijou à força repetidas vezes. E, por Crom, não dava para ver o rosto da mulher, pois, desde antes da chegada do chefe daquela tenda, ela ficara o tempo todo de costas para mim! Então, ele a afastou com tanta impetuosidade que ela caiu prostrada no chão da tenda. Ficou lá deitada, sua figura curvilínea e voluptuosa soluçando e tremendo. O asshuri zombou e, erguendo-a novamente nos braços, pressionou-a contra si, encarando-a com intensidade e luxúria, e lhe ignorando os apelos. Ele brincava com ela, como um gato faz com um rato.

Ao empurrar seu captor, tentando se livrar dele enquanto a levava para um leito num dos cantos da tenda, a mão dela tocou o cabo da adaga no cinto do homem. Instantaneamente, a nemédia a desembainhou e tentou esfaquear o asshuri; mas ele era rápido demais para a mulher. Arrancou a adaga de sua mão e a atirou para longe na tenda. Foi quando sua expressão mudou, de uma risada zombeteira para uma fúria cruel, e ele a jogou no chão aos seus pés.

Pegou um açoite usado nas bigas e, com um puxão selvagem, arrancou as roupas da mulher. Foi naquele momento, em que ela ficou de perfil, que eu finalmente a pude ver e reconhecer! Octávia da Nemédia, a quem eu havia resgatado da ilha de Xapur, anos atrás! Quando ele ergueu o chicote e Octávia, trêmula de medo, escondeu o rosto nas mãos e soluçou, à espera das chibatadas que ia receber, minha fúria subiu à cabeça e, enquanto o asshuri se regozijava sobre a nemédia, decidindo onde o chicote a atingiria, abri um buraco de dois metros na lona da tenda e avancei rápida e silenciosamente sobre ele.

Antes que o shemita de Nippr pudesse descer o açoite, e sequer imaginar que eu estava lá dentro, eu lhe esfaqueei as costas, perfurando-lhe o pulmão. Ele desabou como um saco de grãos, mas a loira chorava alto demais para ouvir o baque. Parei sobre ele, por um instante, alerta para qualquer som. Mas eu nada ouvia, exceto o ruído dos guerreiros jogando e se banqueteando em outras tendas, ou ao lado das fogueiras.

— Octávia — sussurrei.

Ela olhou para mim, e seus olhos cinzentos se iluminaram:

— Conan?! — ela exclamou, também em voz baixa.

Então ela viu o corpo do asshuri, e percebeu que ele não poderia mais feri-la. Agarrei um grande manto, típico de chefes shemitas, e envolvi o corpo de Octávia com ele.

Então avancei até a frente da tenda e espiei lá fora. Ninguém por perto. Guardando minha adaga e desembainhando a espada, segurei a mão da nemédia, guiando-a silenciosamente até o rasgo que eu tinha feito na lona. Sua presença dificultaria minha fuga, mas que bem eu teria feito a ela, se a salvasse de um asshuri, só para deixá-la à mercê de outros milhares deles?

Silenciosamente, seguimos na direção que indiquei. Eu tinha visto agrupamentos de cavalos presos aqui e ali no acampamento, e era em direção a um deles que íamos. Tivemos certo trabalho para evitar os guerreiros e ficar longe da luz das fogueiras, mas, enfim, chegamos a um local onde diversos corcéis ficavam atados. Dois asshuri estavam sentados por perto, jogando dados. Arriscando tudo em um só lance, segurei Octávia com um dos braços e, com um único salto de pantera, aterrissei entre os animais.

Eles empinaram e se debateram, mas as amarras não se soltaram, e rapidamente eu estava montado em um, segurando a loira junto a mim. Com três golpes de espada, cortei todas as cordas e, no momento seguinte, já estava montado sobre o cavalo que corria em pânico pelo acampamento, assim como seus companheiros.

Os asshuri permaneceram sentados, olhando para mim, quase assombrados por minha aparição súbita e minhas ações repentinas. Logo suas mentes se reorganizaram e eles se levantaram, soltando gritos selvagens. Num segundo, todo o acampamento estava um pandemônio. Homens correndo para todos os lados, alguns gritando — como vim saber depois — que havia um motim entre as tropas, outros que os akkharim estavam atacando.

Homens tentavam me golpear com suas espadas, e algumas flechas foram disparadas, mas a luz das fogueiras pode ser enganosa, e atravessei todo o acampamento asshuri sem um único arranhão. E assim também foi com Octávia e o cavalo. Ultrapassamos velozmente a última linha de tendas — cavalgando como o vento, que soprava contra meu rosto e fazia com que os cachos dourados e macios da nemédia, à minha frente, chicoteassem meu rosto e me inebriassem com seu leve perfume —, até desaparecermos da vista do acampamento do General A-ki-til.



2) Batalha decisiva


Eu e Octávia alcançamos o acampamento akkharim sem incidentes. A seguir, nos recolhemos à minha tenda, onde ela me contou como havia ido parar nas mãos dos shemitas. Anos atrás, quando eu era um líder kozak, eu a havia resgatado dos turanianos, na ilha de Xapur, e a incorporado ao meu harém. Mas, saudosa de sua terra natal, Octávia insistira para que eu a enviasse de volta ao seu país. Cedi e, com uma escolta, eu a havia mandado de volta à Nemédia. Mas, ela agora me contava, após saírem das estepes turanianas e terem alcançado os desertos de Shem Oriental, foram todos emboscados e mortos por um pequeno bando de zuagires — somente Octávia fora poupada.

Após todos daquele bando a terem sodomizado um a um, um dos bandoleiros daquele grupo — um recém-chegado, que desconhecia os modos dos shemitas das cidades a oeste, e disposto a lucrar com aquela “mercadoria” humana —, tentou vendê-la aos asshuri de Nippr. Mas aquele desertor acabara sendo morto por aqueles asshuri, os quais a venderam ao agora rei-guerreiro A-ki-til, ao se incorporarem ao seu exército de conquistadores. A-ki-til, por sua vez, cansado de violentar a nemédia, a dera de presente ao maldito chefe que mandei para o inferno.

Súbito, Octávia me beijou sofregamente e, despindo-me, começou a sugar meu pênis. Queria me engolir todo; não sabia se me sugava ou se enfiava a cara pelos meus testículos; se me cheirava e beijava as virilhas; se queria que eu ejaculasse logo em sua boca, para poder beber de mim o mais que pudesse — como as mulheres da Britúnia, de Zamora, da Hirkânia e de Zingara faziam —, até que puxei o vestido dela por cima de sua cabeça e, também de um jeito que a enlouquecia, deitei-a de bruços, pus-lhe um travesseiro às costas, montei-a suavemente à altura do tórax e, depois de passar algum tempo pegando nos seios de Octávia, enfiei-me em sua boca e passei a me mover para a frente e para trás, enquanto ela agarrava gemendo as minhas coxas. Fiquei algum tempo assim e então, saindo da nemédia com um barulhinho provocado pela língua e os lábios dela, desci minha boca pela barriga abaixo e comecei a sugá-la, enquanto ela gemia e me enfiava as mãos pelos cabelos.

— Penetre-me, penetre! Ai, eu não agüento mais! — gritou Octávia, puxando-me para cima pelos braços e fazendo questão de olhar meu pênis ereto e quase pulsante, a glande brilhando como uma lança.

Sempre um momento sublime e ao mesmo tempo selvagem, um instante indescritível, a hora da penetração, uma sacudidela arfante, um tranco inexprimível — e ela com as pernas trancadas em mim, começando a ter vários e vários orgasmos, até que eu lhe suspendia as coxas, como já estávamos acostumados e preferíamos para meu primeiro orgasmo, e me introduzia nela até ela gemer, quase num choro; dava algumas estocadas fundas e parava dentro dela, ela me sentindo latejar e molhá-la por dentro.

— Meu Conan, meu Conan! — disse ela, abraçando-me tão forte quanto pôde e mantendo esse abraço por um tempo muito longo. E eu, alisando os cabelos claros dela, lembrava-me da maneira deslumbrante com que Octávia empinava aquelas nádegas tão lindas, desde os tempos em que eu lhe penetrava a vagina por trás, quando eu era um líder kozak; lembrava-me de morder o seu pescoço e depois, enquanto a penetrava o mais fundo que podia, de ver como ela virava o rosto para trás com tanta graça, para que eu lhe beijasse a boca durante o coito.


* * *


O ataque começou na manhã seguinte. Os asshuri avançaram com um troar de trombetas e o clangor das armaduras. Havia milhares e milhares deles. A infantaria pesada vinha na frente, consistindo em falanges compactas de lanceiros, com as pontas das armas reluzindo ao sol, cada qual disposta em dez colunas de vinte soldados, e combatia em pelotões de dez homens, cada um liderado por um oficial subalterno, agrupados em companhias de cinco a vinte pelotões sob o comando de um capitão. Todos estavam bem-protegidos e equipados — espadas e escudos de ferro, lanças e flechas com pontas de ferro, bem como capacetes e cotas-de-malha do mesmo metal.

Flanqueando os dois lados da infantaria, vinha a cavalaria principal. Atrás desta, investiam as bigas e as quadrigas de guerra — as quais somavam mais de 900 —, e a infantaria leve. Os lanceiros calçavam botas de couro à altura dos joelhos, com solado grosso, tachões e chapas de ferro inseridas para proteger as canelas, o que possibilitava, àqueles filhos de Shem, lutar em qualquer tipo de terreno, irregular ou úmido, montanhoso ou pantanoso, e em qualquer estação do ano. Seus arcos, como os de todo shemita, tinham alcance quase tão longo quanto os dos hirkanianos e turanianos. Os carros asshuri eram puxados por até quatro cavalos cada um, tendo um espadachim como cocheiro, acompanhado no carro por um escudeiro e um arqueiro.

Às vezes, o cocheiro montava um dos cavalos e controlava os outros com um sistema de tirantes, deixando espaço na plataforma para que o arqueiro e o escudeiro lutassem com mais liberdade. Esses homens tambem eram armados com lanças, espadas e machados, para que, depois do ataque inicial, pudessem descer da quadriga e combater como infantaria pesada, enquanto o cocheiro voltava com seu veículo para um lugar seguro. O cocheiro, além de poder montar um dos cavalos da quadriga, também poderia montar um animal sem um carro atrelado a ele. Cavaleiros em armaduras menos pesadas — dentre os quais, alguns zuagires — se espalhavam pela planície.

Vagarosamente, o exército avançava, como ondas de aço. Não houve um só grito das tropas akkharim, nenhum sopro de trombeta. Nenhuma flecha foi lançada, nenhuma lança atirada, até que os asshuri houvessem quase alcançado as grandes pedras no sopé da encosta. Então, em resposta a uma ordem que veio na forma de uma lança brilhando no ar, o céu se encheu de flechas que caíram sobre os inimigos. Ainda assim, eles avançavam, erguendo seus escudos contra a chuva mortal. Alcançaram as rochas e sua formação se partiu quando as primeiras flechas adentraram as ravinas e grotas. Então, caíram sobre eles os lanceiros e espadachins akkharim, que haviam se escondido naquela área.

Saltando e avançando, e recuando para avançar novamente, os akkharim usavam espadas, machados de batalha e arremessavam lanças pesadas a curta distância, ao mesmo tempo em que, mais acima, no aclive, a infantaria leve atirava dardos e lanças leves, enquanto os asshuri atiravam a esmo, acertando pouquíssimos akkharim e desperdiçando flechas. E, mais ainda para o alto da encosta, os arqueiros disparavam por sobre as cabeças de seus companheiros, fazendo choverem saraivadas de flechas sobre os asshuri.

Desacostumado a tais estratégias, o inimigo cedeu. Fugindo da colina, reagrupou-se na planície e avançou mais uma vez. Cavalos e bigas eram inúteis entre as rochas, portanto somente os soldados a pé poderiam ser enviados contra nós. E novamente e novamente, nossos homens dispersaram o poderio asshuri, fazendo suas tropas recuarem. Nesse momento, batedores vieram com notícias de que parte do exército adversário estava se desviando para subir a colina num ponto distante do campo de batalha, para atacar nossa retaguarda. Foi então que, enquanto o exército asshuri estava dividido, o Rei de Akkharia desferiu seu ousado ataque.

Deu ordens para que os homens se organizassem para avançar. Rapidamente, as pedras bloqueando as entradas que tínhamos posicionados foram roladas para longe. Chegando antes do adversário e trabalhando sob a cobertura da noite, tínhamos aplainado o solo de certa forma, para criar vias que desciam a encosta, o que por sua vez permitiria que cavalos e coches a descessem. Os asshuri nada sabiam disso, pois tínhamos escondido tais caminhos com as grandes pedras. Achavam que, assim como eles, não tínhamos como utilizar nossos cavaleiros e bigas na luta.

Portanto, foi com grande espanto que viram o exército akkharim completo, avançando em sua direção a toda velocidade. Os arqueiros seguiram logo depois, descarregando mais saraivadas de flechas enquanto corriam. A tropa de cavaleiros, à qual eu pertencia, corria como um furacão. Eu estivera lutando nas rochas, antes de me juntar a ela, e minha espada já estava vermelha. Aquilo sim, era uma luta de verdade — a cavalo e de lâmina na mão —, e não como raposas entre pedras!

Descendo assim a encosta, quase à velocidade do vento, as bigas e os cavaleiros de Akkharia alvejavam o exército asshuri. Muitos cavalos e cavaleiros caíram. E muitos dos coches capotaram naquele aclive, mas o restante de nós atacou logo em seguida. Atrás de nós, veio a infantaria pesada, depois a leve e então os arqueiros.

Os asshuri, reunidos sob as ordens daquele general diabólico, lutavam como demônios e quase transformaram derrota em vitória. Daquelas duas linhas de batalhas claras, o combate se tornou uma briga intensa e caótica, na qual bigas, espadachins e arqueiros se misturavam sem qualquer ordem ou formação. Vi-me com meu cavalo abatido por uma flecha perdida, e logo eu estava cercado por três asshuri armados até os dentes; com três rápidos golpes, despachei aqueles cães para o Hades. Minha arma estava vermelha da ponta ao cabo, meu escudo e capacete amassados e surrados, e eu sangrava por conta de cortes em meus braços e um talho no meu rosto. No entanto, minha alma bárbara exultava!

Naquele momento, eu era mais uma vez o guerreiro selvagem, nascido numa terra lúgubre, nublada e montanhosa; o bárbaro acostumado a lutar contra os elementos da natureza, os animais selvagens e contra guerreiros tão bárbaros quanto eu, em rixas tribais ou defendendo as fronteiras de minha terra natal. Eu gritava e gargalhava de alegria, enquanto girava meu escudo bem a tempo de deter um golpe de espada, e depois transpassava um asshuri. Desviei uma lança com minha arma e, simultaneamente, espatifei meu escudo no rosto do adversário, com tanta força que lancei o homem para trás, com vários ossos faciais quebrados.

Logo, vi que aquele general demoníaco estava começando a reagrupar os asshuri. Estaríamos perdidos, a menos que esmagássemos aquela parte do exército, antes que a outra descesse a encosta e nos atacasse. Ele estava a certa distância do nosso exército, dirigia uma biga, trajava uma armadura suntuosa, usava uma barba longa e escura e tinha um olhar de intensa crueldade maligna. Minha espada seria inútil àquela longa distância, mas ainda havia algumas flechas em minha aljava. Apressada, mas cuidadosamente, selecionei uma delas. Com os olhos fixos na haste polida, puxei a corda com toda a minha força e disparei. A seta voou veloz, e nela residia a esperança da cidade de Akkharia.

O líder asshuri abriu os braços e caiu de seu veículo, quando minha flecha partiu sua longa barba negra e se enterrou em seu colete de escamas metálicas. E, das fileiras asshuri, se ergueu o grito:

— Fujam! O Rei de Shem está morto! O terrível A-ki-til está morto!

— Todos juntos agora, homens de Akkharia! — berrei. — Reagrupem-se e vamos destruir esses asshuri!

E segui para a tormenta da batalha. Os akkharim se uniram sob as ordens do General Gurom, e se lançaram com ousada coragem contra a onda de adversários e os fizeram recuar pela planície, derrotados e com seu exército tão esfarrapado e despedaçado quanto os sonhos imperiais que o unificaram. Eu e o general reposicionamos nossas tropas e encaramos a ofensiva do outro exército asshuri que descia a encosta a toda velocidade, e também o fizemos recuar, vencido, despedaçado e disperso.

O que restou daquele terrível e poderoso exército asshuri fugiu pela planície, recuando apressadamente, e os guerreiros akkharim entraram marchando pelos portões de Akkharia, com muitos prisioneiros e uma rica pilhagem, enquanto o povo comemorava e declarava aquele um grande dia de festas, no qual fui nomeado general. Após as comemorações, eu, Octávia e Bajihja nos recolhemos à minha residência. Ambas não eram ciumentas — do contrário, Octávia não teria pertencido ao meu serralho, quando eu era kozak.

Agora em minha casa, a nemédia me abraçou e beijou convulsivamente, e eu, não menos excitado, devolvi seus abraços, seus beijos quentes e, após lhe sugar os firmes e perfumados seios fartos, penetrei-a até termos um orgasmo intenso e vibrante.

E, enquanto Bajihja montava no rosto de Octávia, enchi a boca, olhos, bochechas e testas da linda negra com beijos e mais beijos, enquanto eu apertava as lindas nádegas da loira. Ao mesmo tempo em que a jihiji soltava gemidos de prazer, causados pela língua da nemédia em sua vagina e ânus, penetrei novamente Octávia, e ao mesmo tempo suguei resfolegante e sofregamente os seios de Bajihja, enquanto ela teve um orgasmo na boca de Octávia, ao mesmo tempo em que a hiboriana e eu. Logo, a nemédia e a jihiji inverteram os papéis — a hiboriana sentada na boca da negra e tendo seus dois orifícios de prazer sugados —, e a bela negra abriu as pernas e fez com que eu a penetrasse, enquanto soltava uivos guturais de prazer ao mesmo tempo em que eu e Octávia também gritávamos no êxtase mais intenso que homens e mulheres são capazes de sentir!

Após mais seis meses em Akkharia, viajei de volta para a Ciméria. Octávia e a linda jihiji preferiram ficar lá, onde eram bem-tratadas — além de que, elas sabiam que não agüentariam passar pelas intempéries de minha terra natal.



3) Vadoma


Um ano se passara após meu retorno à Ciméria. Vagando pelo Deserto Kharamun, eu cavalgara até um oásis, perseguido por turanianos! Cansado de correr deles, resolvi oferecer uma última resistência àqueles cães do Rei Yildiz — o qual mudara seu nome para Yezdigerd, após expandir as fronteiras de Turan para oeste, aproximando-se da fronteira oriental de Zamora, e para leste, chegando perto das fronteiras de Vendhya. Após um combate acirrado, aqueles malditos haviam conseguido me subjugar, atando-me as mãos e os pés. Aquilo me enfureceu, de modo que arrebentei várias das cordas com as quais haviam me amarrado, mas eles as recolocavam tão rapidamente quanto eu as conseguia quebrar... eu nunca ficava com uma mão totalmente livre — até que eles finalmente me dominaram e começaram a jogar cara ou coroa, para ver como me matariam.

Súbito, um dos turanianos caiu debruçado e em silêncio, atravessado por um dardo. Os outros pararam de jogar e observavam o lago no oásis. Nada ondulava a superfície. Não se via inimigo algum entre as palmeiras. Todos deram a volta ao redor do oásis, examinando o restante daquele local. E, sem nenhum som, outro hirkaniano se encolheu e caiu de bruços, com uma curta lança entre os ombros.

Com a espada desembainhada e atônito, um terceiro vasculhou as silenciosas palmeiras do oásis, em busca de algum possível inimigo. Exceto pelos outros turanianos e por mim, o local se estendia, vazio, de um lado a outro, em meio ao deserto que o cercava, e, em nenhum lugar, as palmeiras farfalhavam naquele ar parado. Nenhuma ondulação perturbava o lago... Então, o que fazia aquele junco balançar, quando os demais estavam imóveis? Outro turaniano se inclinou para a frente, observando a água. Ao lado do junco, avistei uma bolha se erguer em direção à superfície.

Inclinou-se mais para perto, intrigado... Um instante de assombro... e logo, as águas do lago se agitaram num turbilhão e, antes que o hirkaniano pudesse usar sua lança, uma jovem pequena e morena, de cabelos negros, emergiu e lhe decepou a cabeça de um só golpe.

Logo, ela agarrou um escudo caído ao chão e o arremessou fatalmente contra a cabeça de um outro turaniano, ao mesmo tempo em que se esquivava de uma flechada e, agarrando seu próprio escudo, se protegeu de outras setas, até arrebentar, com seu broquel, o crânio de outro hirkaniano, ao mesmo tempo em que decepava o pescoço de outro. Protegendo-se de outra flechada, ela se agachou e decepou as pernas de mais um maldito adorador de Tarim, para, ato seguido, cravar sua cimitarra no pescoço de outro.

Por Crom, ela parecia uma zamoriana, mas lutava quase como uma ciméria, e tão bem quanto Zoraide, Valéria e a falecida Bêlit. Esquivava-se, movendo-se de forma ilusória, para destroçar crânios e decepar cabeças e membros. De repente, sua espada ficou cravada no esterno de um daqueles malditos vermes de Turan, e ela não teve como tirá-la. Mas, mesmo desarmada, ela se esquivou do giro do iatagã de um dos turanianos e lhe acertou o punho direito no ventre, causando-lhe ânsia de vômito, e em seguida lhe arrebentou o queixo com seu escudo, deixando-o inconsciente.

O adversário seguinte tentou decepá-la por trás, mas ela também evitou o giro de seu sabre, e bloqueou outro giro com seu broquel, e lhe quebrou a canela com um chute. O terceiro lhe arrancou o escudo, agarrou-lhe o pescoço e começou a estrangulá-la, mas ela lhe acertou um chute no estômago e, agarrando-o pela parte de trás do pescoço, arrebentou-lhe o nariz numa palmeira, e em seguida, a testa na mesma palmeira, com um chute na nuca daquele cão hirkaniano.

Outros já estavam prestes a cercá-la, quando uma chuva de flechas caiu sobre metade daqueles malditos vermes de Turan. Recuperando seu broquel, a garota se protegeu das setas. Eram zuagires, com suas vestes e turbantes brancos, avançando a cavalo em direção àquele oásis. Os rostos morenos dos hirkanianos empalideceram; quase sem flechas após terem me perseguido e lutado contra a jovem, os turanianos lutaram como nunca contra aqueles lobos do deserto. Mas, num turbilhão caótico de aço, gritos e sangue, todos foram exterminados por aqueles bandoleiros shemitas. Um dos zuagires aproveitou que eu estava amarrado, e fez menção de rachar meu crânio com sua cimitarra.

— Pare! — gritou a pequena mulher magra.

Ele obedeceu e ela se aproximou de mim. Então, pude notar que suas feições eram mesmo zamorianas. Sua escassa roupa branca só lhe cobria o busto, as nádegas e as partes íntimas, deixando ombros, pernas, barriga e braços totalmente de fora. Seus lábios carnudos indicavam que ela nascera em Shadizar. Seu belo corpo guerreiro era quase tão coberto de cicatrizes quanto o meu — apesar de algumas delas serem de chicotadas, a maioria era de batalhas.

— Qual o seu nome? — a jovem perguntou.

— Sou Conan, um cimério — respondi.

Ela me examinou:

— O que faz aqui?

— Parece meio óbvio, não? — respondi, de forma direta, como sempre. — Eu vagava pelo deserto e fui emboscado por esses malditos filhos de Erlik!

— Sou Vadoma de Shadizar, e comando este bando de zuagires — ela respondeu, de forma direta e lacônica.

Imediatamente, Vadoma deu ordens para me soltarem.

Após arrastarmos os corpos dos turanianos para longe do oásis, onde os abutres se banqueteariam com eles, colhemos a água do oásis em odres, lavamos o sangue dos nossos corpos e descansamos por algumas horas, antes de prepararmos a refeição. Pude notar que, após a batalha e o banho, Vadoma amarrou os cabelos atrás da nuca e continuou usando a mesma roupa com a qual saíra do lago. E, para se proteger do sol, ela só usava uma enorme capa, também de algodão branco como suas vestes sumárias, presa à cabeça por uma corda trançada de pêlos de camelo, a qual lhe servia tanto como turbante quanto como manto. Então, celebramos nossa vitória jantando pão, cerveja e ensopado acebolado de cabras, regado a azeite de oliva, com tâmaras e azeitonas — mantimentos que faziam parte, tanto da dieta zuagir, quanto das inúmeras pilhagens das caravanas vindas de Eruk, Nippr, Shushan e Shumir. No dia seguinte, cavalgamos para outro oásis, levando os cavalos e outros espólios dos turanianos mortos.


Ex-escrava do Rei Yezdigerd, a zamoriana Vadoma me contou que havia fugido de Aghrapur e, após se apaixonar por um chefe zuagir, aprendera com ele a arte da esgrima e inúmeras táticas de guerra e de ataques-surpresa, desconhecidas até mesmo pela maioria dos lobos shemitas do Deserto Kharamun. Mesmo sob o sol quente e não estando mais molhada, os bicos de seus seios pequenos estavam sempre rígidos sob sua escassa roupa branca — e aquilo me deixava bastante excitado.

E, após o companheiro ter sido morto numa refrega contra turanianos, ela assumira o comando daquele bando de zuagires e, na mesma refrega, vingara o homem que lhe ensinara tanto a guerrear quanto a sentir prazer e orgasmo durante o coito — e a quem ela, como zamoriana, ensinara muitas outras coisas na cama... Vadoma e seus cavaleiros do deserto haviam organizado uma falange e empurrado, precipício abaixo, aqueles malditos hirkanianos que lhe haviam matado o parceiro sexual e ameaçado sua liberdade, bem como a vida daquele bando zuagir. Agora, segundo seus batedores a informaram, o próprio Rei Yezdigerd de Turan — o qual pretendia incorporá-la ao seu harém — lideraria pessoalmente o ataque ao bando de zuagires de Vadoma, para levá-la de volta a Aghrapur, capital daquele império cada vez maior. O Rei de Turan já imaginava que o destacamento, morto naquele oásis, não daria conta da zamoriana e de seus zuagires.


* * *


Era tarde da noite, no oásis onde havíamos chegado. Tínhamos ido dormir, cada qual na sua tenda, enquanto dois zuagires montavam guarda. Súbito, um ganido estrangulado me acordou e saí da tenda, ao mesmo tempo em que Vadoma, igualmente alerta, saía da sua.

De repente, eu e ela vimos as duas sentinelas zuagires mortas no oásis e ficamos de prontidão. Súbito, um turaniano apareceu diante de nós, com seu iatagã de aço erguido e o escudo lhe completando a proteção da malha metálica prateada. Vadoma deu um salto adiante e, com sua espada de aço akbitano, abriu, num só golpe, o elmo dourado do hirkaniano e mais da metade do seu crânio num corte diagonal, fazendo sair faíscas, sangue e miolos por sua desprotegida têmpora direita. A força daquela zamoriana pequena e ágil era impressionante para uma guerreira civilizada, quase se igualando à das mulheres de minha terra natal — as quais eram todas guerreiras.

Outro maldito filho do Lobo Branco tentou me atacar por trás, mas, girando sobre meus calcanhares, eu, de um único golpe, arrebentei-lhe o sabre e escudo. Desarmado, ele tentou me estrangular, mas lhe decepei os dois antebraços num giro de minha espada e, em seguida, furei-lhe a garganta até a ponta de minha lâmina se sobressair pelas suas vértebras cervicais, e ele caiu ao solo golfando sangue pela garganta, boca e nariz, enquanto se estrebuchava até morrer.

Com um assobio, Vadoma fez com que os zuagires de seu acampamento — os quais já haviam saído de suas tendas, atraídos pelos sons de luta — se formassem num só corpo de guerreiros, na boa e velha formação de cunha, a qual eu havia aprendido com os hiborianos e ensinado, anos atrás, aos lobos do deserto.

Súbito, uma chuva de flechas caiu sobre o acampamento, mas, graças aos nossos escudos, erguidos na hora exata, ninguém saiu ferido. Diante de nós, encontravam-se alguns dos melhores exércitos do Rei Yezdigerd, os quais, durante séculos, haviam servido aos reis hirkanianos, desde o dia em que eles alcançaram o litoral oeste do Mar de Vilayet para fundarem o reino de Turan — todos eles turanianos em elmos espiralados e pontudos, vestindo cotas-de-malha tecidas a ouro e mantos de pele de tigre. Yezdigerd deixara transparecer uma falha fatal: a soberba. Ele era fácil de ser provocado, e o cansaço fizera o monarca mandar o que ele tinha de melhor.

Então, nós contra-atacamos com nossas flechas, derrubando de suas selas os cavaleiros mais adiantados. A seguir, atiramos nossas lanças, antes que aqueles turanianos pudessem usar suas flechas remanescentes. E, como possessos, eu, Vadoma e os zuagires saltávamos sobre os cavalos e derrubávamos os cavaleiros ao chão, onde nos engalfinhávamos com eles até a morte. Percebi o medo nos olhos escuros do Rei Yezdigerd de Turan, o qual liderava pessoalmente aquele ataque; mas ele não tinha mais condições de recuar ou fugir.

Logo vieram outros a cavalo. O primeiro deles foi arrancado de sua sela por um golpe fatal de uma lança zuagir. Vadoma acertou as patas do cavalo de outro e decepou a cabeça do cavaleiro, quando este caiu ao chão. Outro recebeu uma estocada fatal de cimitarra entre o queixo e o pescoço. Embora fossem excelentes guerreiros, os hirkanianos não eram páreos para a formação em cunha!

Outro turaniano se lançou sobre Vadoma, agarrando-lhe o pescoço e prestes a lhe arremeter a espada no tronco. Mas ela lhe deteve o iatagã, segurando-lhe o pulso com a mão esquerda, ao mesmo tempo em que arremeteu a própria cimitarra. Não pude ver o que aconteceu depois, mas eu soube que o turaniano também lhe segurara a mão armada, e que ambos se engalfinharam e rolaram pelo chão. Após alguns instantes, ela arremeteu o joelho contra os testículos do adorador de Tarim e lhe decepou a cabeça num jato de sangue.

Zuagires e turanianos matavam e morriam desordenadamente, mas o fato dos lobos do deserto usarem pouca ou nenhuma armadura servia como vantagem para os bandoleiros, que, na luta a pé, tinham mais agilidade que os adoradores de Tarim. Cabeças rolavam ensangüentadas ao chão; membros eram decepados, ainda se contorcendo involuntariamente ao alcançarem o solo; tripas e miolos regavam as areias secas do deserto... E, em meio à carnificina, Yezdigerd enviou contra mim seu guerreiro mais poderoso, enquanto eu aparava, com meu escudo, um golpe rival e contra-atacava, transpassando o coração de outro sujeito.

Enquanto nossas lanças reduziam paulatinamente o número de antagonistas, o gigantesco turaniano, mandado por Yezdigerd, arremessou um enorme machado contra mim. Esquivei-me, perdendo apenas uma mecha da minha cabeleira; logo, ele desembainhou sua espada e investiu em minha direção. Vadoma se colocou entre nós, detendo a lâmina do homem com a própria espada. Embora ágil como ninguém e com força física maior que a de um homem comum, ela foi lançada à distância por um chute daquele guerreiro de mais de 2,10m de altura e mais musculoso que eu. Felizmente o impacto não foi grave, e eu não ouvira nenhum osso da líder zuagir se quebrando, apesar de seu lindo rosto se contorcer em ânsia de vômito.

Agarrando uma lança, eu a arremeti contra o gigante turaniano, mas ele a agarrou com a mão esquerda e a quebrou num só golpe de sua espada. Várias e várias vezes, eu detinha seus golpes de espada contra meu escudo, ao mesmo tempo em que ele se esquivava dos giros de minha lâmina. Em determinado momento, numa finta, eu lhe abri a perna esquerda com um giro de minha espada, mas aquilo não o deteve. Então, eu lhe transpassei o bíceps direito no golpe seguinte.

Mas ele simplesmente agarrou a lâmina com sua mão esquerda, arrebatou e lançou minha espada para longe, e voltou a descer golpe após golpe contra meu escudo erguido, ao qual ele em seguida agarrou e arremessou para longe, junto comigo. Ele, mais uma vez, investiu contra mim, e eu, agarrando uma cimitarra caída no chão, detive seu golpe às custas da lâmina desta. Então, ele tentou me trespassar mais de uma vez, e eu me contorci no chão várias vezes, esquivando-me de suas estocadas fatais. Logo, agarrando um punhal caído ao chão, eu me aproveitei da proximidade do gigante e o cravei em seu olho esquerdo, atravessando-lhe a órbita ocular e o cérebro. E ele finalmente caiu morto.

A seguir, vi um turaniano engalfinhado com um zuagir e matei o maldito adorador de Tarim, arremessando-lhe um punhal certeiro no pescoço. Logo, vi outro hirkaniano incendiando uma das tendas e, após derrubá-lo lhe arremessando uma jarra de vinho na cabeça, eu o lancei na barraca à qual ele havia tocado fogo, onde o filho de rameira queimou até morrer. Meio exaurido, cruzei espadas com mais outro turaniano, o qual me acertou um soco nas costelas esquerdas. Mas, no contragolpe, eu lhe decepei o braço encouraçado e, em seguida, sua cabeça.

Logo, ouvi o barulho de cascos atrás de mim. Virando-me, eu me esquivei de um golpe descendente da espada de seu cavaleiro — ninguém menos que o próprio Rei Yezdigerd! Logo após me esquivar, e antes que o corcel terminasse de passar por mim, eu agarrei a sela e derrubei o imperador turaniano de seu cavalo. Girando no ar, ele caiu sobre mim e rolamos engalfinhados na areia.

Por Crom! Pela segunda vez, eu enfrentava um turaniano tão forte, ágil e resistente quanto eu. Cravando um punhal no meu pulso durante o duelo, Yezdigerd me acertou uma bofetada na cara e teria esfaqueado meu pescoço, se eu não me esquivasse, ao mesmo tempo em que apanhei outra cimitarra caída no chão. Eu a arremeti contra ele, mas o desgraçado se esquivou e contra-atacou. Detive seu sabre com minha lâmina, mas ele me acertou um chute no ventre. Quase exausto e tremendo pela batalha, eu dei vários giros de minha espada em direção a ele, mas o imperador se esquivou. Corri em sua direção, para enfiar minha espada em seu peito, mas ele novamente se esquivou com facilidade, dessa vez me esfaqueando o lado e me fazendo cambalear. Dava para ver que o maldito Rei de Turan estava apenas brincando de gato e rato comigo.

Meus companheiros nada podiam fazer naquele momento, pois estavam ocupados demais naquela batalha decisiva. Yezdigerd se esquivava de todos os giros que eu dava para decepá-lo, e simplesmente gargalhava; e agora me lançou ao chão, com dois murros de seus punhos poderosos em meus ombros. Caído ao solo, eu tentei lhe decepar as duas pernas, mas ele simplesmente se esquivou num salto e me acertou um chute no rosto. Furioso, ergui-me de um pulo e arremeti outra vez a minha espada contra o maldito imperador turaniano. Ele deteve meu golpe com seu iatagã e me acertou um chute no estômago. Por entre as névoas da dor, da frustração e do ódio, vi o Imperador de Turan erguendo seu sabre de aço, para me dar o golpe fatal. Ofegando, eu, ainda ajoelhado, lhe cravei minha espada no poderoso peito encouraçado. Ele cambaleou, com os olhos arregalados de surpresa, e então cravei ainda mais fundo minha lâmina em seu tórax. Rolei para um lado, antes que ele caísse sobre mim e, num arroubo de ódio, ergui minha espada sobre aquele maldito rei turaniano, o qual ainda se estrebuchava, golfando sangue, e lhe decepei a cabeça num jato sangrento a tingir de rubro a areia seca do deserto. Uma onda de júbilo tomou conta de mim, antes que eu desmaiasse.


* * *


Algo suave e refrescante tocava meu rosto de com bondosa persistência. Eu tateei às cegas, e minha mão se fechou em algo morno, firme e elástico. Em seguida, minha visão clareou, e olhei para o lindo rosto moreno-escuro de Vadoma, a qual sorria para mim, sempre vestida com sua típica roupa sumária. Acordei com uma sensação alegre de satisfação e conforto. Travesseiros de seda davam apoio à minha cabeça. Toldos espessos com franjas pairavam sobre meu corpo, que estava limpo e nu, exceto por uma tanga de linho branco.

Ao lado do sofá de seda onde estava havia uma jarra de prata, cheia de água límpida e fresca. Examinando meu próprio corpo, vi que eu havia sido banhado e limpo da poeira e do sangue, e que Vadoma passara uma pomada medicinal em meu tronco e membros, além de ter costurado e enfaixado os cortes em minhas costelas e pulso. Bebi todo o conteúdo da jarra e devolvi o sorriso para ela. O perfume de seu hálito fresco me subiu à cabeça, excitando-me ainda mais.

Beijamo-nos sôfrega e ferozmente, num grande irromper de desejo; e, logo, eu estava lhe despindo os pequenos seios firmes, suados e bicudos, e os sugando, ao mesmo tempo em que ela despia minha tanga e a dela, e montava sobre meu membro ereto. Enquanto isso, voltamos a nos beijar e eu lhe suguei novamente o busto marrom, com aquelas belas aréolas bicudas e quase negras, levando Vadoma ao orgasmo. Minutos depois, pouco antes de eu ejacular, ela pôs meu membro dentro da boca, onde tive um orgasmo tão intenso quanto o dela.

Sorrindo libidinosamente para mim, a zamoriana soltou meu pênis, abriu um pouco sua boca, mostrando-me a quantidade abundante de esperma que eu expelira, e depois a fechou, engolindo todo o meu sêmen. Extasiado, eu, com meu pênis tão ereto quanto no início da relação, a coloquei de quatro no leito, e lhe penetrei o ânus quente e apertado, ao mesmo tempo em que lhe acariciava ferozmente os seios por trás, até termos mais uma intensa explosão de êxtase de prazer e desejo. As zamorianas — e não as estígias, como os shemitas costumavam afirmar — eram famosas por desejarem homens cujos membros viris eram como os de jumentos, e cujas ejaculações eram como as dos cavalos. 

Nus e abraçados, conversamos bastante enquanto descansávamos e comíamos. Ela me contou que aquele exército turaniano fora trucidado até o último guerreiro, e que o corpo de Yezdigerd fora abandonado na areia, despido, desfigurado, cortado em pedaços e totalmente queimado até se transformar em cinzas, para que os turanianos, caso passassem por lá, não encontrassem sinal algum do finado Imperador de Turan. Os turanianos, lá em seu reino, que conjeturassem o que fora feito do rei deles. Assim, acampados conosco a muitos quilômetros do local onde fora travada aquela batalha contra os malditos hirkanianos, os zuagires comemoravam a vitória lá fora, com cantoria, comida e bebida, enquanto eu e Vadoma continuávamos nossa comemoração particular em sua tenda, alternando comilança com relações sexuais.

 

 

FIM

 

 

(*) – Como a maioria dos povos ocidentais da Era Hiboriana, Conan costumava chamar os turanianos de hirkanianos.

 

 

Agradecimento especial: Aos amigos e howadmaniacos Deuce Richardson, dos EUA, e Marco Antonio Collares, do Brasil, e aos historiadores José Ademar Kaefer e Paul Kriwaczek.

      

Compartilhar