Chefe dos Matabeles


(por Robert E. Howard)



A quente estepe sul-africana se estendia sob o sol tropical,
Galguei uma pequena colina rochosa e me sentei.
Os babuínos tagarelavam, cheios de raiva,
Para mim, invasor de seus covis, mas não se aproximaram de mim.

Assim, eu me sentei e olhei o gado pastando na estepe.
Criado por pequenos e seminus garotos cafres,
Os quais, enquanto conduziam a manada, brincavam seus jogos cafres,
E corriam ao redor da estepe, abanando suas lanças de madeira
Em guerra simulada.

Um chacal se movia furtivamente de arbusto em arbusto,
Atrás de uma estepe, furtivo e astuto,
Espreitando um pequeno veado das estepes, que lhe sentiu o cheiro
E fugiu.
E, através da estepe, eu vi
O kraal (*) de Umlaganna,
Chefe dos Matabeles.

Então, subindo a estepe, veio o velho Umengan,
Um dos homens mais velhos do kraal,
Um conselheiro do chefe dos Matabeles,
 E um dos que conheciam as lendas de sua raça.
Umengan se sentou perto de mim. “Baas”, ele disse,
“A estepe não parece pacífica nesses tempos?”

Sim, está. Com o gado pastando tranqüilamente,
Pastoreado por umfan, os jovens guerreiros,
E lá, no kraal, as mulheres cozinham
E preparam a cerveja para festejar, se regalar, dançar.

Mas já vi as planícies encharcadas de sangue,
Onde guerreiros saltavam, golpeavam, furavam e matavam,
E bastões batiam, rodopiavam e batiam novamente,
E lanças se avermelhavam da ponta ao cabo,
Foi lá onde Lobengula resistiu,
Foi lá onde os exércitos britânicos lhe quebraram o poder.

“Quando eu era jovem”, disse Umengan, “segui muitos chefes,
Lutei muitas batalhas. Primeiro segui Chaka, o chefe zulu.
Chaka o sanguinário, Chaka a Fera Selvagem. Era um rei!
Quando havíamos abatido nossos inimigos, de modo a não sobrar um,
E Chaka ansiava pelo sangue da batalha,
Ele ordenou aos impis (**) que voltassem suas lanças um contra o outro.
E assim nos voltamos, impi contra impi, cafre contra cafre, e golpeamos,
E todas as tribos organizaram aqueles impis, todas as tribos
Da Terra dos Cafres. Lança retiniu em lança, e assim golpeamos e matamos.
E Chaka assistia, seus estranhos olhos negros flamejando com o desejo de matança.
Assim matamos e massacramos uns aos outros,
Até Chaka ordenar que parássemos.
Assim, como eu disse, segui Chaka como rei.
Para ser rei e reinar, deve ser um matador.
Pois eles reinam através do medo e do poder. Deixe um rei
Permitir à sua tribo perder o medo dele, e eles o derrubarão”.

“Então, o jovem chefe Um Silikaz subiu ao poder,
Um chefe de minha própria tribo: Mosilikatze.
Um poderoso chefe dos Matabeles.
Ele era um Matabele, e eu também sou.
Deveria eu, Umengan, servir a um rei zulu?
Mas acho que o jovem chefe Mosilikatze,
Nunca subiria ao poder, se não fosse por seu aquira Umlimo.
Muitas e poderosas eram as tribos cafres,
E matabeles e zulus eram parentes. Então, com olhos astutos para o poder que chegava,
Umlimo, aquira dos zulus, foi até o induna (***) dos matabeles,
Mosilikatze. Foi ele quem aconselhou o jovem chefe, Mosilikatze,
A atacar as tribos da distante Mashonalândia.
Por meio de que os impis de Mozilikatze ganharam fama, poder, mulheres, gado e pilhagem.
Foi ele quem mandou Mosilikatze deter o gado que era devido aos Inkosa,
Diante do que Chaka, o rei, ficou cheio de fúria
E ordenou a um impi que trouxesse cativo Mosilikatze, chefe dos Matabeles”.

“O impi encontrou Mosilikatze sozinho com seu aquira Umlimo.
Então, com sua enorme força, o chefe tribal riu,
Com sua lança e escudo preparados para a luta.
Mas o aquira respondeu: ‘Não, não lute agora.
Não, não, largue sua lança e se renda, e eu me afastarei’.
Então, o chefe dos Matabeles fez como o aquira disse,
E, quando o impi se aproximou, Umlimo pulou,
E saltou para longe e ninguém pôde detê-lo, de modo que ele fugiu,
Escapando. Então arrastaram Mosilikatze diante do rei.
E Chaka o olhou ferozmente, e o corajoso Mosilikatze
Recuou diante do fulgor dos olhos de Chaka, pois ninguém conseguia
Encarar os olhos do Inkosa, quando a fúria selvagem arde neles.
‘Lancem este chacal numa cabana’, Chaka disse,
‘E matem-no quando eu ordenar’. Assim levaram
Mozilikatze e o colocaram numa cabana, junto à qual um guerreiro montava guarda com uma azagaia”.

“Então veio Umlimo e, com ele, guerreiros dos matabeles.
Deixaram o guerreiro zulu inconsciente, com um golpe, e libertaram
Mosilikatze e fugiram até os matabeles.
E, quando Chaka soube que sua presa havia fugido,
Matou doze guerreiros em sua fúria, com sua própria lança.
E, até Mosilikatze, vieram muitos guerreiros dos Matabeles”.



(*) – Kraal: Uma vila rural, geralmente constituída de cabanas cercadas por uma paliçada (Nota do Tradutor).
(**) – Impi: Palavra zulu para designar homem armado (N. do T.).
(***) – Induna: Embaixador, na língua zulu (idem).





Tradução: Fernando Neeser de Aragão.


Agradecimento especial: Ao howardmaníaco e amigo Deuce Richardson, dos EUA.




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