De Volta a Mogar

(por Fernando Neeser de Aragão)



“Ele viajou para Khitai, Hirkânia e para regiões menos conhecidas ao norte desta última e ao sul da primeira. Ele até visitou um continente sem nome, no hemisfério oeste, e vagueou entre as ilhas adjacentes”
(Carta de Robert E. Howard a P. S. Miller).


1) Guina da Britúnia

O sol acaba de se pôr em Tarantia, a capital do mais próspero e poderoso reino do Ocidente. As ameias dos imponentes muros do palácio real destacam-se contra o negro céu estrelado. A lua brilha sobre a esplendorosa capital da Aquilônia, e sobre os exuberantes jardins floridos do palácio real. Pelas ameias dos muros passeiam os guardas, armados de alabardas e espadas, enquanto a ponte levadiça está baixa, permitindo a passagem de diversos nobres, damas e cavaleiros, luxuosamente vestidos com sedas, veludos, cetins, linhos, algodões e malhas, e bem-recebidos pelos maiores anfitriões da festa que iria começar: o general Prospero, de Poitain – com o leopardo escarlate de sua província bordado em sua casaca –, o Rei Conan da Aquilônia e a rainha, a bela Zenóbia, lindamente enfeitada com um longo vestido de cetim e um manto de seda, além de uma belíssima e rica coroa de ouro realçando-lhe a escura, bela e lustrosa cabeleira cacheada. Apenas as condessas Lissa, Valéria e Albiona conseguem se igualar à rainha em beleza.

A Condessa gazali Lissa, dos olhos violetas como os de seus co-ancestrais pré-thurianos, dez quilos mais pesada que na época em que conhecera seu atual marido e o busto com o dobro do volume de 29 anos atrás, quando fugira de Gazal e Tombalku, continua tão bela e com o peso tão bem distribuído quanto na ocasião em que ela e o loiro conde aquiloniano, que a abraça, aventuraram-se no deserto ao lado do bárbaro que hoje se senta no trono real de Tarantia.

E a Condessa Valéria – agora com 46 anos, e o busto volumoso um pouco maior que há 20 anos – também continua tão bela quanto na época de pirata da Irmandade Vermelha, sendo agora dona de uma beleza quase tão madura quanto a de Lissa e levando sua espada pendurada ao cinto, mesmo em ocasiões pacíficas como aquela. Por ter sua propriedade próxima, tanto da do Conde Amalric e Condessa Lissa, quanto da Bossônia, ela não pôde estar presente nas batalhas do Rio Tybor – onde Conan matou o Rei Strabonus e Prospero matou o Rei Amalrus – e das Montanhas Goralianas – na qual Xaltotun fora morto e o cimério recuperou seu trono –, por estar ocupada, ajudando os bossonianos a matar pictos que se aproveitavam da pequena redução da quantidade de hiborianos na Fronteira Oeste, durante aquelas guerras e batalhas, para tentarem invadi-la. Embora sabendo que Conan tem seu harém e rainha, ela permite que o rei cimério, de vez em quando, a visite em sua casa, onde ambos têm relações sexuais secreta e esporadicamente.

O rei, por sua vez, é um homem alto, de ombros poderosos e peito profundo, com um sólido pescoço musculoso e ombros densamente musculosos. Ele veste seda e veludo, com os leões reais da Aquilônia bordados a ouro sobre a rica jaqueta, e a coroa da Aquilônia lhe brilhando em sua agora grisalha cabeleira de corte reto; mas a grande espada ao seu lado lhe parece mais natural que suas vestimentas reais. Sua testa é baixa e larga, e seus olhos de um azul vulcânico que arde como se com algum fogo interno, inexistente nos olhos de qualquer civilizado. Seu rosto moreno, cicatrizado e quase sinistro é o de um guerreiro, e sua roupa de veludo não consegue esconder as linhas firmes e perigosas de seus membros.

Aqueles olhos, que parecem mirar desde abismos insondáveis, haviam contemplado cenas jamais imaginadas pelos nobres do palácio; tinham visto, não só campos de batalha com corpos mutilados, mas também tombadilhos encharcados de sangue, execuções atrozes e sacrifícios em altares de deuses exóticos. Suas mãos poderosas haviam empunhado espadas ocidentais, a shasqa cherkessiana, cimitarras zuagires e kozakis, a faca zhaibar, o iatagã turaniano e machados aesires – tudo isso com a mesma destreza e potência devastadoras, diante de homens de todas as raças e até contra criaturas inumanas, vindas de domínios desconhecidos e tenebrosos –, até finalmente subir, com mãos ensangüentadas, ao trono aquiloniano. O verniz de civilização lhe cobre a alma de bárbaro com uma capa muito fina.

E, naquelas duas turbulentas décadas de reinado, Conan da Ciméria, além de aumentar o poder e a prosperidade da Aquilônia, enfrentara várias conspirações e guerras, derrotando grandes inimigos, como o proscrito Ascalante, os reis Amalrus de Ophir e Strabonus de Koth, além dos feiticeiros Tsotha-Lanti de Zamora e Xaltotun de Acheron. Após derrotar, há 16 anos, a conspiração nemédia contra seu reino, o bárbaro casou-se com Zenóbia e nela gerou dois filhos: seu primogênito e herdeiro Brion, de 15 anos, e Flavia, de 14.

O rei cimério nunca perdeu a atração sexual por Zenóbia – agora com 20 bem-distribuídos quilos a mais do que há 16 anos –, mas foi a personalidade da nemédia o que o atraiu à primeira vista. Conan havia ficado realmente impressionado com a mistura de ingenuidade e conhecimento, demonstrados por sua rainha, quando esta – na época, uma escrava de harém do Rei Tarascus – o libertara da prisão, em Belverus. A personalidade da Rainha Zenóbia havia conquistado de forma definitiva o amor do Rei Conan. Sem contar que, apesar de sempre ter tido preferência por mulheres esguias, ele também se sentia atraído por mulheres do corpo voluptuoso de Octávia da Nemédia, Valéria da Irmandade Vermelha e agora, por Zenóbia e algumas das mulheres de seu harém – as quais, assim como a rainha da Aquilônia, também engordaram e ficaram flácidas. À medida que sua esposa e parte de suas concubinas foram mudando de aspecto, o gosto de Conan foi se tornando tão diversificado quanto a aparência física delas.

E, de vez em quando, o olhar do rei também se perde em direção à parede mais distante do salão, onde é exibida uma esplêndida coleção de armas: espadas, lanças, achas de combate, maças e azagaias. Embora o soberano esteja satisfeito em ver seu povo adotivo em paz, lhe é impossível dominar o impulso de sua natureza bárbara, a qual lhe faz lembrar o fluir do sangue e o quebrar de armaduras, ou de ossos de um inimigo sob o fio de sua pesada espada. Aonde quer que vá, tanto a um alegre banquete como aquele, quanto a uma agradável biblioteca ou ao perfumado harém real, aquele bárbaro sombrio da Ciméria leva consigo a perigosa e ameaçadora atmosfera do campo de batalha. O mesmo ocorre com a ex-pirata Valéria ali presente. Mas aquela ocasião é mais propícia para empreendimentos pacíficos

Naquela tarde, o cimério havia recusado uma aliança com a Hiperbórea, proposta por embaixadores daquele país, enviados pelo Rei Tomar Vladinov, neto de Belbog Vladinov – o qual governava os hiperbóreos quando, com cerca de 16 anos, Conan havia sido aprisionado naquele país gelado ao norte, juntamente com vários amigos aesires – seus primeiros aliados e amigos não-cimérios –, e somente ele escapou vivo. Seu ódio pelos hiperbóreos é tão grande, que o bárbaro – apesar de já ter liderado mercenários daquele país sob o comando de Yasmela – não admitia qualquer aliança ou amizade com o reino deles.

Naquele momento, Zenóbia pede permissão para ir aos seus aposentos, descansar um pouco e retocar a maquiagem. Pouco depois que sua rainha se retira, Conan ouve subitamente estranhos sons abafados, vindos de seu harém, desembainha bruscamente a espada e sai do salão de festas, seguido por Prospero e Pallantides.

Chegando ao seu serralho, ele ouve os gritos de horror de suas concubinas e, na fração de segundo seguinte, o cimério entende o motivo. Ele vê uma cena de pesadelo e horror: uma de suas concubinas, Guina da Britúnia, caída ao chão, quase irreconhecível, com suas vestes sumárias rasgadas. O rosto alvo dela está agora escurecido, os lindos olhos azuis arregalados e a língua esticada para fora da boca aberta.
 
Ao lado do cadáver da mulher, uma enorme serpente emplumada está prestes a atacá-lo. Conan toma a frente, disposto a vingar sua concubina. Sem emitir um grunhido, enquanto é envolvido pelos anéis gigantes, o rei Conan apenas saca seu punhal – pois sua espada, à qual o cimério deixa cair ao chão, seria inútil a tão curta distância – e começa a perfurar aquela enorme serpente emplumada. Mas a faca parece incapaz de atravessar aquelas camadas de penas espessas, e repetidas cutiladas não surtem o menor efeito – e seus dois amigos ali presentes temem interferir, e atingirem acidentalmente o monarca. Contudo, sem perder o autocontrole, Conan percebe que as penas escasseiam perto da cabeça do monstro e, num único golpe de seu punhal, decepa a cabeça da criatura num jato de sangue.

Ainda arfando, ele vê uma espécie de urna metálica, não muito diferente da que vira em Numália, na sua adolescência. Antes mesmo que suas concubinas lhe expliquem a situação, o rei entende que aquela tigela havia sido inadvertidamente aberta pela bela loira quarentona, agora horrivelmente morta. Mas o que diabos aquela embalagem fazia ali? Então, o rei bárbaro olha para dentro da urna, e lê seu conteúdo, entalhado no fundo do objeto. A linguagem, embora lhe seja pouco familiar, não difere muito da stígia:

“Por causa do amor que o remetente Khyan-Apopi, de Mogar, deixa ao Rei Conan da Aquilônia. Encontre-me em Yamal, caso esteja vivo”.
 
Uma onda de ódio mortal toma conta do cimério. Ele automaticamente reconhece aquele nome como o do filho de Khari-Apopi, um sacerdote a quem conhecera em seus tempos de baracho, há 25 anos, na ilha distante de Mogar – sem contar que ele havia visto, nos pilares do portão do palácio daquela ilha, esculturas idênticas à criatura à qual acabou de matar. Antes que possa recuperar totalmente o fôlego, Conan ouve outro som abafado, de luta, desta vez vindo dos seus aposentos, e corre até lá, pouco depois de mandar Prospero e Pallantides jogarem fora aquela coisa morta.
 
 
Enquanto isso, nos aposentos reais, uma furtiva mão marrom se fecha sobre a boca de Zenóbia e puxa-lhe a cabeça para trás, enquanto a outra leva o punhal até sua traquéia. Ela ergue ambas as mãos e agarra a lâmina com todas as suas forças, afastando-a da garganta. A rainha o ouve praguejar. Os dedos dela estão escorregadios de sangue, mas não largam o punhal. A mão sobre sua boca se aperta mais, tirando-lhe o ar. Zenóbia torce a cabeça para o lado, e consegue pôr um pouco da carne do homem entre os dentes. Ela morde-lhe a palma da mão com força. O homem grunhe de dor. A rainha da Aquilônia faz mais força, lhe rasga a pele, e subitamente ele a larga. O gosto do sangue do homem lhe enche a boca. Ela inspira uma golfada de ar e grita, a plenos pulmões, o nome de seu marido, ao mesmo tempo em que reconhece aquele homem escuro, alto e magro, como o mesmo que trouxera uma estranha urna.

Ele gira e corre até a porta, tentando fugir dos aposentos reais, mas é detido na entrada por uma estocada fatal no coração. O homem só tem tempo de soltar um breve grito de dor, antes de cair morto. Sorrindo de alívio, a Rainha Zenóbia reconhece a figura alta e musculosa do jovem filho Brion – o qual, exceto pelos olhos verdes, é a imagem viva do pai, o Rei Conan, quando este último era adolescente. Logo atrás dele, aparece o cimério, que há 20 anos governa a Aquilônia. Os olhos de Conan faíscam, ao reconhecerem o pretenso assassino da rainha como um mogar – sem dúvida, um lacaio de Khyan-Apopi, que trouxera aquela maldita urna metálica. Brion examina a mãe, perguntando-lhe se ela está bem, enquanto, com a ajuda do pai, amarra um pedaço de pano nos dedos de sua genitora.
 
* * *
 
Mais tarde, após cremarem solenemente o corpo de Guina em praça pública (ela não tinha parentes vivos que pudessem lhe reivindicar o cadáver, e o cimério preferia usar aquele funeral aesir a enterrar seus entes queridos), Conan está reunido com o General Pallantides e o cavaleiro Prospero. Zenóbia, Brion e Flavia apenas observam a reunião, preocupados com o amado marido e pai.

- Enviaremos um pelotão com Vossa Majestade, para pegarmos aquele bruxo assassino – diz Pallantides.

- Não – responde o Rei Conan, batendo o poderoso punho na mesa. – Um grande grupo atrai atenções indesejadas. Quero que aquele cão mogar pense que eu morri, e não saiba que estarei em seu encalço. Irei sozinho e disfarçado, evitando a Estrada dos Reis – o cimério acrescenta, sabendo que ninguém daquele reino é tão furtivo quanto ele.

“Prospero ficará como regente, e desta vez meus dois herdeiros Brion e Flavia cuidarão de Zenóbia, durante minha ausência. Juro que voltarei com a cabeça de Khyan-Apopi. Se eu não retornar dentro de dois anos, Brion usará minha coroa e governará a Aquilônia com a ajuda de vocês dois, de Zenóbia e do Conde Amalric”.

E, abraçando os dois filhos e beijando a esposa, o grisalho cimério se afasta da sala adjacente à do trono e, de lá, troca de roupa e sela um cavalo, com o qual galopa para longe do palácio e de Tarantia.


2) Rumo a Leste

Os campos prósperos e férteis da Aquilônia ficaram para trás, bem como o reino de Koth – onde o feiticeiro Pelias governa há quase 20 anos, através de um rei-fantoche –, os prados e desertos de Shem e as montanhas de Cherkessia. Disfarçado de mercenário, o Rei Conan da Aquilônia continua cavalgando – como o faz há dois meses – com armadura e roupas desgastadas, que o impedem de ser reconhecido e o fazem passar por qualquer reino, sem ser interrogado. As cicatrizes em todo o seu corpo – especialmente as mais destacadas, como as que o bárbaro ganhou em Khauran, nas mãos, e uma cicatriz em cada coxa nua (uma adquirida em Yaralet e a outra na Cidadela Escarlate, dentro de Khorshemish) – ajudam no seu disfarce. Agora que suas provisões acabaram, o velho cimério se alimenta dos animais que caça pelo caminho, bem como das frutas que colhe pelos poucos bosques e florestas que encontra.

Neste momento, Conan se encontra nas amplas e inóspitas estepes hirkanianas, onde ele não tem certeza se o seu disfarce servirá para alguma coisa. Faixas escarlates se estendem pelo horizonte ocidental, enquanto no sul, o sol agora invisível tinge de vermelho as neves dos picos recém-transpostos. A seguir, sem nenhum aviso, vem o ataque. Flechas sibilam em direção ao cimério, mas sua extrema agilidade o faz se esquivar e usar o escudo – que estava, até poucos minutos atrás, pendurado na sela de seu cavalo – como proteção. Pelo território onde se encontra, e pelas flechas que voam na vã tentativa de atingi-lo, Conan sabe que está sendo atacado por hirkanianos. Aquela área, muitos quilômetros a nordeste de Khorusun, está bem distante dos domínios de Turan e do seu infame monarca, o velho Rei Yezdigerd; e forasteiros não são bem-vindos naquele território independente.

Súbito, uma horda de guerreiros altos, esguios e morenos, de olhos amendoados e vestidos em pele, aço, seda e ouro, investe contra o cimério. Sua lâmina de aço aquiloniano colide com o iatagã do cavaleiro mais próximo, com uma força tão impressionante que esta se quebra perto do cabo. Com um esgar de tigre, Conan rasga o ventre encouraçado do guerreiro, e este cai uivando sobre a estepe, onde agoniza e morre com os intestinos à mostra.

O cimério vira-se em sua sela para aparar, com o escudo, outro golpe de espada. Ao desviar a lâmina do inimigo, ele enfia a ponta da espada bem no rosto moreno-amarelado, de olhos puxados, que grunhia para ele, perfurando-lhe o cérebro. Agora, os atacantes investem com toda a fúria. Arcos zunem, lanças voam, e espadas dançam e se chocam. Com sua larga lâmina de aço azulado, Conan arranca das selas mais três dos atacantes.

Depois disso, Conan fica ocupado demais para notar qualquer coisa, além dos inimigos que rosnam ao seu redor. Embora sexagenário, o cimério se move como um tigre real entre lobos das estepes. Os cavalos escoiceiam, recuam, relincham e avançam; Conan e os hirkanianos talham, praguejam e berram. Corpos de descendentes mestiços dos lemurianos jazem na estepe remexida e pisada.

Com os olhos encobertos por uma névoa vermelha de violência, o cimério brande sua espada com fúria berserk, tecendo ao seu redor uma teia vermelha de morte. Mais de dez inimigos encouraçados agora jazem mortos, derrubados de seus cavalos, com as entranhas de fora ou com a cabeça decepada. Enquanto luta, o idoso rei da Aquilônia lança o selvagem grito de guerra de seu povo, enquanto os cantos de velhos heróis lhe ecoam nos ouvidos. Há tempos sem guerrear, o bárbaro do ocidente se sente rejuvenescido por aquele combate. Mas ele logo descobre que precisa de todo o seu fôlego para a batalha, pois esta se torna cada vez mais intensa.

Dali a pouco, o desgastado escudo de aço de Conan é quebrado ao meio pelos inúmeros golpes de sabres do mesmo metal, e ele o joga fora. Uma flecha atinge a garupa de seu cavalo. O animal abaixa a cabeça e estanca, dando coices e fazendo Conan voar por cima de sua cabeça. Em seguida, a montaria dispara e desaparece. Abalado e arranhado, o cimério consegue se levantar e continua lutando a pé. Os iatagãs dos inimigos arrancam seu manto surrado e abrem rasgos em sua cota-de-malha, rompendo a camisa que ele usa por baixo, até deixar Conan sangrando de uma dezena de ferimentos superficiais.

Embora continue a lutar – com os dentes cerrados num sorriso feroz, os olhos brilhando num azul vulcânico, e o rosto convulsionado de fúria e emoldurado por uma cabeleira grisalha de corte reto –, o cimério agora está sem sua montaria, o que lhe tira certa vantagem que ele tinha, mesmo enfrentando tantos rivais. Assim, após derrubar mais três hirkanianos de suas selas com golpes mortais, Conan vai sendo, aos poucos, subjugado pela superioridade numérica, até ter seus braços e pernas seguros por diversos inimigos, que haviam desmontado.

Quando tudo indica que o cimério perecerá sob os sabres hirkanianos, uma voz troveja, detendo-os:

- Parem! – É um homem tão alto quanto aqueles guerreiros, porém mais musculoso e usando o chapéu de um líder hirkaniano. – Não vêem que este forasteiro não é de Turan? Quem é você, homem de olhos azuis, e o que faz nestas terras?

- Sou Conan, um cimério. Estou a caminho das terras nevadas de Yamal, ao norte, atrás de um bruxo maldito que matou uma de minhas concubinas. Se for preciso, seguirei o desgraçado até Mogar! – ele ruge de ódio, ao se lembrar da morte de Guina da Britúnia.

O chefe hirkaniano sorri:

- Acaso o nome do infeliz é Khyan-Apopi? Ele andou aprontando por aqui também, antes de rumar para leste. Meu nome é Iesugei, e seja bem-vindo à tribo dos Mangkus, Conan! Eu e meus homens estávamos planejando uma viagem para norte e leste, atrás daquele maldito. – E, erguendo a voz: – Cães! Soltem este homem do oeste e enterrem nossos mortos! Mas – prossegue ele, voltando a atenção para o cimério – eu tinha receio de deixar pouca gente aqui, para defender nossas mulheres e crianças de ataques de outras tribos hirkanianas.

Enquanto conversam, Conan e Iesugei caminham até a tenda do líder, e param na entrada da mesma. Como todas as tendas dos povos das estepes da Hirkânia, ela possui estrutura de madeira, e tetos ligeiramente abobadados. Cobertas por feltro ou lã, geralmente brancos, todas as estruturas são de fácil montagem, fornecendo boa proteção contra o calor e o frio.

- Bom, você poderia unir duas ou mais tribos hirkanianas sob seu comando, e irmos com alguns homens até Yamal – sugere o cimério.

- Há! – ri o líder tribal. – O poder de Turan está muito longe daqui, o que desfavorece a união tribal entre nosso povo. E mais: meus homens só aceitarão que você lidere parte deles, caso derrote o maior de nossos guerreiros – Iesugei acrescenta, sorrindo para o velho cimério.

- Feito! – responde Conan, devolvendo o sorriso.

* * *

Logo, o cimério é levado até um cercado, onde é aguardado por um homem pouco mais alto que ele e mais musculoso, com uma adaga embainhada na cintura. Ao contrário do homem a quem derrotara relativamente perto de Khorusun, em outra tribo hirkaniana há décadas, aquele não é um prisioneiro. Então, mal o cercado é fechado, o gigante investe contra Conan, agarrando-lhe a cintura, erguendo-o e tentando lhe quebrar as costelas com os braços; mas, batendo os punhos nos ouvidos do brutamonte hirkaniano, o bárbaro do oeste o atordoa por um instante, libertando-se do abraço.

Então, o valentão investe novamente contra Conan, mas ainda não saca nenhuma arma, nem o cimério o faz. Com um soco, Conan faz o homem cuspir vários dentes quebrados, num jato de sangue. Recuperando-se rapidamente, o antagonista resolve sacar sua adaga, esfaqueia o ombro de Conan e agarra um dos braços férreos do rei, tentando quebrá-lo com uma joelhada, mas termina levando outro murro, desta vez no rosto. Agarrando o valentão pela cintura, Conan lhe quebra várias costelas num abraço de urso. O homem cai ao chão e recebe vários murros do velho rei bárbaro na face, nariz e têmporas, ficando em estado de semi-inconsciência.

Conan sabe que um inimigo bom é um inimigo morto e, deste modo, agarra o grosso pescoço musculoso do hirkaniano que pretendia matá-lo, e o estrangula até lhe quebrar as vértebras cervicais num estalo seco.

* * *

Acolhido na enorme tenda de Iesugei, o Rei Conan é aquecido do frio da noite das estepes – não muito diferente do de sua Ciméria natal – numa lareira, e apresentado à esposa do líder da coalizão, a qual usa um longo vestido de fina lã vermelha, com beiradas douradas.

Logo, o idoso cimério e o líder tribal são servidos com chá e pão. Enquanto o bárbaro come e conversa com Iesugei, a esposa deste apanha um enorme pedaço de carne de carneiro crua, que está pendurada na parede. Logo, vem o aroma de carneiro cozido. Após o jantar, uma tigela de aguardente de leite de égua é bebida por todos, e uma hora depois, todos adormecem nos três aposentos daquela tenda – um para o casal, outro para os filhos deste e o terceiro para as visitas.

* * *

Anoitece e cai a madrugada no Palácio Real de Tarantia, muitos quilômetros a oeste de onde o Rei da Aquilônia se encontra. No harém real, um beijo suave da zamoriana Tshaya roça o pescoço de Aishe. Esta se inclina na direção do beijo, colocando a mão no quadril de sua conterrânea. Os dedos marrons delas descem livres e exploradores. Devido à longa ausência do rei Conan naquele harém, aquela é uma noite para novos padrões, para se confundirem uma com a outra, coladas pelo suor daquela noite quente. Os beijos se tornam mais longos, quentes, concentrados e mudam de direção.

Logo, uma hirkaniana – a única que Conan manteve no seu serralho –, juntamente com uma khitanesa de quadris largos, adquirida pelo cimério há dois anos, se juntam às duas zamorianas, as quais lhes beijam os seios fartos e vice-versa.

Os guardas do harém não se importam com aquilo – ao contrário, eles admiram discretamente o enlace –, pois, embora Conan não admita que sua esposa e concubinas tenham outros parceiros, ele não se importa que duas ou mais mulheres do seu serralho se satisfaçam uma com a outra quando ele se ausenta por muito tempo.

De qualquer modo, seu serralho – que tinha 30 mulheres quando o cimério conheceu Zenóbia – teve seu número drasticamente reduzido para dez (duas de cada região e país – exceto por uma khitanesa, à qual o cimério trouxera, anos antes, para substituir uma das hirkanianas, deixando apenas uma mulher da Hirkânia no harém), não apenas para que o bárbaro pudesse passar mais tempo com sua amada rainha, mas por questões políticas. Antes da sua decisão de transformar Zenóbia em Rainha da Aquilônia, o Rei Conan já ouvia vários amigos aquilonianos repetindo que ele deveria criar uma dinastia estável, com herdeiros para o trono. Uma quantidade maior de filhos de concubinas poderia piorar as coisas. Assim, sabendo que a maioria das mulheres de harém poderia causar intrigas, o cimério as casou com nobres que pudessem cuidar dos filhos delas como se fossem deles, mantendo, com seu infalível instinto bárbaro, apenas as de sua total confiança em seu serralho.

Agora, o harém real da Aquilônia só possui nove mulheres, por conta da recente tragédia, à qual o bárbaro está indo vingar.


3) De Yamal a Mogar

Na grande região desolada ao norte da Hirkânia, um cervo perambula pela tundra. Ele faz uma pausa na beira de um córrego raso onde bebia e ergue a cabeça. A água lhe pinga do focinho como contas de cristal. O sol lhe brilha no couro castanho-claro e nas ramificações de sua galhada.

Algum som ou odor leve perturbou o animal, mas não se repete. Logo ele se inclina para beber novamente da água gelada, a qual corre em meio a crostas de gelo quebrado.

Em ambos os lados do córrego, margens inclinadas de terra estão cobertas pela neve recém-caída de início de outono. Aglomerados de moitas sem folhas crescem bem próximos, sob os galhos sombrios de pinheiros próximos; e, da floresta além, nada pode ser ouvido, exceto o pingar incessante da neve que ainda derrete nesta estação ainda não muito gelada. O inexpressivo céu plúmbeo do pôr-do-sol mal parece clarear os topos das árvores.

Do abrigo da floresta, uma lança fina é disparada com precisão mortal. E, no final do arco que faz, a longa haste atinge o animal inesperadamente e lhe penetra fundo no ombro. A criatura ferida tenta saltar, mas logo cambaleia, tosse sangue e cai. Por um ou dois momentos, ela jaz de lado, chutando e se debatendo. Então, seus olhos vitrificam, sua cabeça pende flácida e seus flancos ofegantes ficam imóveis. Sangue misturado com saliva lhe sai das mandíbulas pendentes, para manchar a neve virgem com um vermelho brilhante.

Em meio àquela desolação nevada, dois caçadores se aproximam do animal recém-abatido por eles, e de um cimério que ali aparece súbita e casualmente, liderando cinco hirkanianos. Os caçadores que abateram o cervo são homens com a mesma baixa estatura de seus ancestrais pictos, os olhos rasgados de seus antepassados lemurianos e a pele morena de ambos, vestidos em pele da cabeça aos pés, como o velho rei.

- Bom dia, yamalis! – diz o cimério. – Diga a seu chefe que Conan da Ciméria voltou e quer falar com ele.

Um deles não quer saber de dialogar e avança até o cimério de lança em punho. Seu companheiro tenta detê-lo, mas ele se desvencilha e avança contra Conan. Este, tão ágil quanto um felino, arrebata a lança do atarracado guerreiro e a enfia no peito do mesmo.

A lança lhe penetra o tórax, num estalar de costelas, e o yamali cai para trás, com o rosto marrom contorcido de dor e o sangue a lhe escorrer pelos cantos da boca.

Imperturbável, Conan se dirige ao outro yamali, que o encara assustado:

- Onde está o líder de vocês? Diga a ele que Conan voltou e quer se vingar de Khyan-Apopi.

Diante do último nome que ouviu, o yamali vivo abre um sorriso de alívio e o conduz imediatamente à presença de seu chefe.

* * *

Aquele povo, que vive na verdadeira beirada do mundo, se constitui de nômades selvagens, vigorosamente adaptados à terra fria. São um povo espiritual e, embora não predispostos à guerra, são contudo lutadores perigosos.

Nos últimos poucos milênios, os yamalis permaneceram selvagens: viajando de trenó e rena, dormindo em tendas de pele de animal, vivendo da terra e adorando antigos deuses em forma de animais. Há dois grupos distintos de yamalis: o “Povo da Floresta”, que foi absorvido pelos lemurianos para se tornarem as tribos hirkanianas; o “Povo da Tundra”, o grupo que vivia nas regiões geladas ao norte. A religião deles é baseada no xamanismo e num sistema animista de crenças, os clãs procurando seu Xamã em busca de orientação para onde viajar, de acordo com as estações do ano e a caça.

Os yamalis não têm um exército consagrado; mais exatamente, todos os homens em “idade de luta” se erguem para a ocasião. A pé, lutam como infantaria leve, com lanças e azagaias, estando acostumados a derrubarem enormes ursos das cavernas com suas armas. Não tendo cavalos tão ao norte, eles, ao invés disso, montam numa espécie de rena grande, ancestral da espécie moderna.

Yamal não pode ser conquistada: de fato, a única referência feita à área nos mapas hiborianos é a anotação malévola que o próprio cimério fez, em seus primórdios como rei: “Aqui há dragões!”, na parte norte da Hirkânia daquele mapa. Todavia, alguns mercenários yamalis podem ser recrutados por qualquer um que queira se aventurar tão longe ao norte: caçadores yamalis, guerreiros yamalis e chefes yamalis. Os caçadores yamalis se vestem com peles pesadas, empunhando maldosas lanças farpadas de arremesso e facas de modelo curioso. Os guerreiros yamalis montam em renas, usando lanças farpadas na luta corpo-a-corpo e à distância. Os chefes yamalis são montadores de mamutes e mastodontes, com dois guerreiros empunhando lanças de arremesso.


Chegando à tenda do chefe yamali de nome Yamamy e sua esposa Yamana, o cimério é recebido com um largo sorriso do líder e de sua família, cujas roupas alternam vestimentas de pele com peças coloridas de pano.

- Bem-vindo de volta, Conan! – ele responde com um largo sorriso de alegria sob o bigode negro. – Há quantos anos, velho amigo! Em que posso ajudá-lo?

O rei da Aquilônia lhe conta brevemente o que aconteceu, e Yamamy – solícito como sempre ao cimério, desde quando este lutara ao seu lado entre sua fase de líder dos afghulis e mercenário de Almuric – cede-lhe alguns de seus homens para ajudarem Conan a seguir para leste e, não apenas vingar a concubina do cimério, como também àqueles poucos yamalis aos quais Khyan-Apopi matara em seu caminho para o Continente Sem Nome. “Pelo visto”, conclui Conan, “aquele cão mogar pensa que morri – do contrário, ele estaria me esperando aqui em Yamal”.

* * *

Eles desceram pelas desolações nevadas, onde homens atarracados, que comiam gordura de baleia, fugiram gritando deles; ao sul e ao leste, através de montanhas gigantescas e bosques titânicos, solitários, colossais e desolados... e sobre as abrasadoras areias do deserto

Outro amanhecer os encontra descendo os pés das colinas numa vasta terra desolada e inabitada, um ermo árido de areias amarelas. Caminham o dia todo, parando apenas por um curto espaço de tempo ao meio-dia, para comerem e descansarem, embora o calor esteja quase insuportável. Os homens, apesar de resistentes, esmorecem sob o calor. Reina o silêncio, exceto pelo tinido de armaduras e pelo monótono som de pés humanos pelas areias profundas. Até os mais resistentes dos yamalis e hikanianos oscilam. Mas Conan se mantém ereto e imóvel, sob o peso de sua cota-de-malha, parecendo intocado pelo calor e desconforto que atormentam os outros.

O sol havia se posto; o breve crepúsculo das planícies brilhou e terminou. Agora as estrelas brilham – estrelas grandes e frias, indiferentes às pequenas figuras que caminham lenta e penosamente através da vastidão sem sombras. Os arbustos esparsos, que sucedem o deserto ao norte, se agacham como feras sem nome, esperando que os andarilhos tropecem e caiam.

Após aquela terrível travessia, eles cruzam planícies ilimitadas, até que por fim, vêem novamente o mar. Atravessando-o num bote, eles finalmente avistam uma ilha, cuja cidade tem muros brancos e torres azuis-safira entalhadas contra o céu da manhã. Ocultando a embarcação, eles contornam a ilha a nado, até chegarem a um ponto desguarnecido da praia oeste dela.

Lá chegando, eles se escondem e vêem um jovem soldado perambulando por ali com civis, e resmungando com eles coisas que somente Conan – que lá esteve antes – consegue entender. Ele se queixa da tirania de Khyan-Apopi, e de não poder fazer nada para acabar com ele. Todos em Mogar o temem e odeiam, pois, no cérebro insondável do sacerdote-guerreiro que agora governa aquela ilha, há a astúcia e crueldade de uma serpente negra.

- Podemos dar um jeito nisso – responde o velho rei da Aquilônia, saindo dos arbustos onde ele e seus amigos estavam ocultos. O rapaz desembainha a espada, desconhecendo aqueles homens, cujas feições lhe são tão estranhas quanto o sotaque do único homem que falou.

- Calma, garoto – o cimério acrescenta. – Também odiamos aquele rei-sacerdote. A propósito, meu nome é Conan, e eu já estive aqui há muitos anos, quando o pai dele tentou matar a mim e à minha tripulação de barachos.

O rosto marrom do jovem soldado se abre num sorriso de alívio. Ele ouvira histórias a respeito de estranhos homens brancos, que haviam invadido aquela ilha, quando ele ainda não era nascido.

- Mas precisaremos de alguém que nos guie até o palácio dele, por algum caminho secreto – conclui o rei bárbaro, piscando um dos olhos azuis.

* * *

Khyan-Apopi é um homem grande, escuro e forte, com olhos satânicos e perversos. Ele é tão rico, que até seus escravos usam colares de ouro. Seu rosto é duro e cruel, e seus olhos, tão frios e escuros quanto ônix.

Um grande banquete está sendo servido naquela ocasião solene. Além de milho, uvas, frutas vermelhas, nozes, melões, vinhos e carnes de aves exóticas, desnudas mulheres marrons com adornos de ouro – as quais são, ao mesmo tempo, servas e dançarinas – servem pão, cerveja, vegetais e peixes. Khyan-Apopi acabou de se casar pela segunda vez, com sua primeira esposa Netikerty sentada ao seu lado. A única de roupa de Netikerty consiste numa tanga de penas de papagaio, presa à cintura por uma faixa dourada e incrustada de jóias, bem como um par de sandálias douradas.

Enquanto as servas e escravas andam nuas, as nobres mogares andam seminuas, como os homens, sendo que algumas delas chegam a cobrir de jóias o colo, os braços e os tornozelos. Todas – de nobres a escravas – pintam as unhas e os olhos, e andam cuidadosamente penteadas.

Soam tambores, acompanhando algumas das mulheres que dançam para o rei-feiticeiro. Os guerreiros dele também assistem. Por fim, um deles entra no círculo, agarra uma dançarina pelo braço, lança-a no chão e copula com ela ali mesmo, como um garanhão faria com uma égua. Um segundo guerreiro avança, e um terceiro. Logo, dois homens agarram a mesma mulher. Ouve-se um grito, é visto um empurrão e, num piscar de olhos, são empunhadas espadas. Começa um dança de morte, e os guerreiros andam em círculos, dando golpes, saltando um sobre o outro, fazendo rodopiar as lâminas sobre as cabeças e guinchando insultos a cada entrechocar de metal. Ninguém faz um gesto para interferir. Khyan-Apopi assiste a tudo com fria indiferença, e suas esposas com empolgação.

Tudo acaba tão rápido como começou. As espadas estremecem velozmente uma contra a outra, um dos homens falha um passo e o outro brande a lâmina num arco horizontal. O aço atinge a pele acima da cintura do mogar e o abre da espinha ao umbigo, derramando sangue e entranhas sobre o piso da sala do trono. Em seus respectivos tronos – um a cada lado do trono do rei –, as duas esposas de Khyan vibram de alegria. Enquanto o perdedor morre, o vencedor se agarra à mulher mais próxima – nem sequer àquela por quem lutou – e a possui ali mesmo. Escravos levam o cadáver para longe da sala do trono, e a dança recomeça. Enquanto isso, Khyan-Apopi beija suas duas esposas e tem relações sexuais com elas ali mesmo.

O sol se põe em Mogar, presentes são dados à bela e grisalha Netikerty, a Khyan e, principalmente, à nova esposa deste último, a bela jovem Azeneth. Khyan-Apopi bate palmas. Os tambores, os gritos e a festa chegam a um súbito fim. Khyan se ergue do trono, com as duas esposas agora de pé ao seu lado. Chega o momento do rei-feiticeiro se pronunciar.

* * *

- Isto é loucura! – diz, mais uma vez, o jovem líder mogar Nemhet, que guia Conan à fortaleza do bruxo. – Invadir o covil de Khyan-Apopi é como fazer um dragão dormir, só para roubar seus ovos. Sabia que ele matou o Rei Zotan, só para se casar com a rainha Netikerty? E que aquela vadia permitiu e tramou tudo com ele?

- Aquele cão matou uma de minhas concubinas! – responde Conan, rangendo os dentes aos se lembrar da bela brituniana de seu harém, estrangulada por uma gigantesca serpente emplumada, a qual Khyan destinara ao Rei da Aquilônia.

Décadas atrás, em sua época de baracho, o cimério e os tripulantes do Mão Vermelha haviam fugido dali por uma passagem secreta. Mas a mesma fora vedada depois, pelo filho de Khari-Apopi. Somente aquele rapaz conhece um novo caminho secreto.

Neste caminho, o amigo de Conan é subitamente arrastado para um mar subterrâneo por uma gigantesca sucuri, cujo tronco é mais grosso que o corpo de um homem. Sem perder tempo, o grisalho cimério mergulha na água e mata o enorme réptil com três poderosos golpes de sua espada. De volta à superfície, ambos prosseguem, até alcançarem outra câmara, na qual encontram vários homens e mulheres aprisionados em gaiolas gigantes.

- Eles engrossarão nosso exército – sorri o Rei da Aquilônia, arrebentando os cadeados com sua espada.

O barulho, contudo, chama a atenção dos guardas que adentram aquela câmara. O primeiro deles tem o escudo e intestinos decepados por Conan, numa explosão de sangue e faíscas. O segundo, brandindo uma maça, se esquiva de um golpe da espada de Conan e lhe acerta um murro no rosto. O cimério reage, lhe dando uma joelhada nos testículos e destroçando-lhe o crânio com um giro horizontal da espada. Entretanto, o cheiro de sangue atrai uma gigantesca serpente emplumada, ainda maior do que a que estrangulara a concubina do cimério. Após exterminar aquele exército de homens marrons, imberbes e sem armadura – estrangulando uns e lançando outros contra as frias paredes de pedra –, ela investe contra Nemhet, mas um golpe de espada do Rei Conan faz com que ela se volte contra o bárbaro. Sem perder tempo, ele a mata, partindo-lhe o crânio em dois, antes que ela possa envolvê-lo em seus anéis esmagadores.

Conan e Nemhet suspiram aliviados, ao verem que os prisioneiros não foram atacados pela criatura. Sem perder tempo, os ex-cativos pegam as armas dos soldados mortos e seguem aquela dupla destemida.

* * *

- Que o mundo me contemple, e que o mundo estremeça diante de seu novo mestre! – exclama o rei-feiticeiro de Mogar.

“E, para meu filho, o garanhão que cavalgará montado no mundo”, prossegue Khyan-Apopi à sua atual esposa, “também darei um presente. Darei a ele o trono sobre o qual me sento. Eu darei a ele os reinos aos quais hei de conquistar, de Khemu, Bal-Sagoth, Negari e Aquilônia – cujo trono agora está vazio, com seu rei morto! Eu, Khyan-Apopi, farei isso”, ele prossegue, fazendo suas belas esposas suspirarem ainda mais de paixão por ele. “Navegaremos pelo mar azul, para conquistar, saquear e pilhar!”. Os vassalos do rei, feiticeiro e guerreiro de olhos cruéis começam a aclamá-lo “Matarei todos os homens que me oferecerem resistência! E estuprarei suas mulheres!! E destruirei suas casas com fogo! E levarei seus filhos como escravos; sacrificarei os sacerdotes de Valka e Mitra ao grande deus Golgor-oth! Isto eu juro! Eu, Khyan-Apopi, filho de Khari-Apopi! Juro diante do altar de Golgor-oth! Lançarei todos os meus inimigos num oceano de sangue!”.

Enquanto o bruxo se gaba dos triunfos futuros, uma comitiva de sacerdotes encapuzados adentra o recinto. O mais alto deles se aproxima de Khyan-Apopi e, inesperadamente, brande sua espada contra o rei-feiticeiro. Este apara o giro da lâmina do falso sacerdote e começa a cruzar espadas com ele. Ao mesmo tempo, os verdadeiros sacerdotes de Golgor-oth fogem ao verem o recinto ser invadido pelos ex-prisioneiros armados. Durante seu duelo, Khyan não crê em seus próprios olhos, ao ver a toga de seu antagonista cair e lhe reconhecer os olhos azuis e feições.

Azeneth, a esposa grávida do sumo sacerdote de Golgor-oth pega uma lança e perfura o coração de um dos rebeldes, mas tem suas costas atingidas pelo golpe fatal da espada de outro ex-cativo e desaba ao chão, afogada no próprio sangue. Enquanto isso, Netikerty consegue fugir daquele pandemônio e, saindo do palácio até a praia, pegar um barco para longe dali.

- Morra, assassino de minha concubina! – rosna o Rei Conan, enfrentando Khyan-Apopi, filho do falecido Khari-Apopi, a quem o cimério matara em sua época de baracho.

- Morra, assassino de meu pai, esposa e herdeiro! – responde o bruxo, girando, esquivando-se e estocando o vazio.

Durante o aparentemente interminável entrechocar de espadas, o cimério, após colidir várias vezes sua lâmina com a do feiticeiro marrom, arranca-lhe a orelha direita; mas Khyan, com seus poderes ampliados por magia, mal parece sentir a dor do corte. Nenhuma trégua é dada nem pedida durante aquele duelo. Há anos, o grisalho rei cimério não encontrava um espadachim tão formidável quanto aquele bruxo de pele escura a brandir duas espadas contra a sua. O duelo é longo e feroz. Há um momento em que ambos parecem exaustos. As pernas de Conan tremem e sua mente está turva. Aquele feiticeiro só adquirira tal habilidade através de magia. Num momento em que Conan está de espadas cruzadas com Khyan, ele mira fundo os diabólicos olhos negros do bruxo mogar e, mais uma vez, a lembrança da bela brituniana Guina, morta por culpa daquele homem, faz um véu vermelho de ódio intenso invadir os olhos do cimério.

Então, num último impulso de fúria, o velho Conan põe todas as suas forças num golpe, com o qual se desvencilha das espadas do feiticeiro, e em outro, no qual atravessa o coração perverso de Khyan, com tal força que a ponta da espada sai por entre as espáduas do agora morto líder de Mogar.

- Estamos livres! – foi o primeiro grito a sair dos lábios de um mogar, seguido de um coro, repetindo a mesma frase, ao verem o cadáver de Khyan-Apopi caído ao chão.

Os mogares pedem para que Conan seja o rei deles, mas o bárbaro recusa, com um sorriso.

- Já tenho meu próprio reino, e minha própria rainha e serralho – ele responde, antes de partir daquela ilha, contentando-se com as provisões e roupas que lhe são dadas, além de um bom banho, tomado por ele e seus aliados do oeste nos banheiros daquele palácio recém-libertado da tirania.

* * *

Remaram durante dias, até chegarem àquela ilha. A ampla praia branca se inclina suavemente, da água até uma ondulante vastidão de árvores gigantescas. Parece não haver vegetação rasteira, mas os enormes troncos encontram-se tão próximos, que nem a visão de Conan consegue penetrar na selva.

Súbito, um dos companheiros de Conan é atingido no ombro por uma lança de formato similar às mogares. No instante seguinte, uma horda de guerreiros seminus aparece inesperadamente na praia, saindo dos portões do palácio, uivando e brandindo suas armas. São todos marrons como os mogares, e têm as mesmas feições. O primeiro deles está separado de Conan apenas pela distância de um arremesso de lança, quando a pedra de uma funda mogar desce rodopiando das alturas e lhe estraçalha o cérebro. Seu companheiro desvia os olhos da espada do cimério que avança, e morre com a garganta cortada, assobiando ar. Um terceiro, pouco depois, se sufoca na ponta de uma flecha arremessada pelo único hirkaniano sobrevivente daquele grupo.

Outro guerreiro de Bal-Sagoth avança, desta vez contra Conan. Aquela luta é rápida e sangrenta. O homem marrom golpeia terrivelmente em direção à cabeça do bárbaro, e este apara o golpe e contra-ataca selvagemente. O bal-sagothiano se esquiva de forma desajeitada e, quando a lâmina do cimério canta perversamente sobre a cabeça do seu rival, o mesmo tenta lhe retalhar a barriga. Um rápido salto para trás salva Conan, e este arremete um terrível golpe descendente, com cada grama de sua força por trás dele. O guerreiro marrom não tem tempo de apará-lo; ele pega-lhe o gume sibilante com a parte plana de sua lâmina, a qual se despedaça em lascas cintilantes, e o próximo golpe do bárbaro lhe abre o crânio.

Em meio àquela horda, o cimério e alguns dos seus companheiros reconhecem a forma seminua e grisalha da ex-rainha Netikerty de Mogar – a qual parece ter se tornado agora uma líder (ou talvez nova rainha) daquela outra ilha.

O general Peshef, que chefia o grupo obedecendo apenas a Netikerty, não é burro; seu grupo já fora atacado antes por khemitas de Mogar. Gritando ordens, ele se põe de frente para o grupo que avança e busca o guerreiro de olhos azuis que os guia – e o encontra tarde demais. O bal-sagothiano ergue sua espada, para se defender de um golpe mortal dirigido à sua cabeça e o vê mudar de direção no último instante, numa velocidade incrível, para atingir seu pescoço, cortado em dois num jato de sangue.

Súbito, um grupo de centenas de gigantescas aves bípedes, nativas de Bal-Sagoth e famosas por devorarem o povo local às centenas, atravessa correndo a praia, de modo que Conan e seus companheiros correm de volta ao seu barco, enquanto Netikerty e seus comandados sobreviventes fogem de volta à segurança do palácio. Logo, o vento atinge a pequena vela, e o bote segue seu caminho para o mar, em direção a uma ilha desabitada e bem mais segura.


4) Interlúdio: De Zimbabo a Zambebwei

A ação é rápida e desesperada: na luz efêmera, um feroz rosto negro brilha diante de Conan, e sua rápida espada golpeia, rachando-o até o queixo. Na breve e total escuridão que segue o clarão, um ataque invisível arranca-lhe o capacete da cabeça e ele revida cegamente o golpe, sentindo a lâmina afundar em carne e ouvindo um homem uivar. Novamente, os fogos dos céus furiosos explodem, mostrando ao cimério o círculo de rostos selvagens e a barreira de aço lampejante que o cerca.

O Rei Conan retornava de sua missão de vingança em Mogar num navio khitanês, cujo resgate, feito nos sombrios Pântanos dos Mortos, onde somente o cimério sobreviveu, daria para escrever outra saga. Como todas as embarcações de Khitai, aquele enorme navio possui nove velas e mede 120 metros de comprimento. Sua tripulação incluía médicos, astrônomos, intérpretes fluentes em várias línguas e até farmacologistas – além de uma equipe de manutenção e até dois oficiais de protocolo –, quando o navio foi atacado por corsários kushitas, os quais perambulavam por ali.

O vento havia caído fortemente, mas um mar denso está fluindo, e agita a longa embarcação como uma lasca num redemoinho de ondas espumantes. Uma esférica lua prateada, entrevista através de nuvens irregulares, ilumina as grandes ondas agitadas. O cimério percebe que o navio-cidade está enfraquecido. Ele pode garanti-lo pela forma como o navio luta contra o mau tempo, avançando com dificuldade pela espuma, submergindo parcialmente ao erguer dos vagalhões. Bom, a tempestade que rugia nestas águas meridionais havia sido suficiente para danificar até mesmo uma embarcação sólida como esta, feita por aqueles khitaneses.

O mesmo temporal havia pegado o navio khitanês no qual Conan havia sido um passageiro, desviando-o do seu curso, para bem longe ao sudoeste. Os dias e noites foram um cego caos uivante, onde a embarcação havia sido arremessada violentamente, voando como um pássaro ferido diante da tempestade. E, no próprio suplício do temporal, uma proa com esporão avultara rapidamente sobre a embarcação maior e mais larga, e os ganchos de abordagem haviam se cravado nela. Sem dúvida, aqueles kushitas eram lobos e a ânsia de sangue que queimava em seus corações não era humana. No terror e no rugir da tempestade, haviam saltado uivando no ataque e, enquanto os céus furiosos lançavam sua inteira fúria sobre eles e cada impacto das ondas furiosas ameaçava afundar ambos os navios, aqueles lobos do mar saciaram a fúria deles ao extremo – verdadeiros filhos da selva e do mar, cujas fúrias mais selvagens encontram eco em seus próprios peitos.

Agora só restam dois mastros, dos nove que haviam antes da tempestade. Um deles é agarrado pelo musculoso capitão Zhang-Ho, para que não se solte. Enquanto o khitanês grita impropérios, pelo fato da tripulação não poder ajudá-lo devido ao ataque dos kushitas, outra onda gigantesca avança impiedosamente, arrebentando o costado do enorme navio oriental, desprendendo três cordas do cordame do outro mastro e rachando-o, de modo que a vela se solta no vento.

- Estamos mortos! – grita Zhang-Ho, largando a corda do último mastro, desembainhando a espada e investindo contra aqueles piratas negros, tão distantes de suas terras quanto os tripulantes de pele amarela. – Mas não morreremos sem matar esses piratas! – ele acrescenta, ecoando o pensamento do único homem branco ali presente.

Outro khitanês firma os pés no convés instável, curvando o peso sobre o remo do leme, mas sua cabeça é decepada por um dos kushitas e, em seguida, outra onda se ergue das profundezas do mar, partindo o leme em dois. O capitão Zhang-Ho abandona o cordame para vingar o conterrâneo morto, mas tem a cabeça e elmo partidos ao meio por outro corsário, cujas costas são atravessadas pela espada de Conan até a ponta da lâmina lhe sobressair pelo peito.

Finalmente, Conan acredita poder ouvir um profundo rugido, acima do embate das ondas. O rugido aumenta, e até mesmo os kushitas de ouvidos menos agudos escutam-no; o navio salta como um cavalo esporeado, forçando todas as madeiras. Como por mágica, as nuvens, iluminadas pela aurora, rolam para os lados, mostrando uma desolação de agitadas águas cinzentas, e uma longa fileira de ondas, batendo numa praia adiante. Além da loucura espumante da linha de recifes, avulta terra.  O rugido cresce até proporções ensurdecedoras, enquanto a longa embarcação, pega no rasgão da maré, precipita-se de ponta-cabeça para sua ruína.

A embarcação colide com um choque que lhe arrebenta os mastros e estilhaça sua proa como vidro. Homens caem, como pinos de boliche, do convés inclinado. Por um momento, se equilibra, estremecendo como uma coisa viva; e então desliza desde a oculta linha de recifes, e cai, numa cegante nuvem de espuma.


O rei cimério tem sua enorme embarcação destruída durante aquela tempestade de vários dias. Único sobrevivente do ataque pirata, Conan é cuspido, do navio moribundo até a areia da praia, e desmaia na costa de Zembabwei – ou Zimbabo –, onde, ele espera, ninguém se lembra dele como Amra.

* * *

Conan acorda abruptamente como todos os cimérios, e se vê dentro de uma choupana rústica, mas confortável, limpa e bem-ventilada. Ao lado do leito de peles onde ele se deita, há uma jarra de argila, cheia de água fresca. Após bebê-la, o cimério imagina ter sido encontrado por uma tribo zimbaboana. Examinando o próprio corpo, Conan vê que fora banhado e limpo da água salgada do mar e das areias da praia. Sejam quem forem seus salvadores, eles alimentaram e cuidaram muito bem dele, enquanto dormia a caminho da recuperação.

Ele olha em volta, por toda a cabana. Sua espada e o cinto desta última estão bem próximos ao leito do qual se ergueu e, após amarrar sua arma à cintura, o cimério vê, com um sorriso de satisfação, que a urna metálica que trazia desde Mogar – amarrada bem apertada ao seu cinto – se encontra ainda lacrada, do outro lado da choupana. Caminhando tão silenciosamente em direção a ela quanto um gato selvagem, ele pára ao ver alguém entrar naquela choupana.

É uma bela e jovem nativa esguia, alta e seminua, de lustrosa pele cor-de-ébano e corpo esguio contrastando com os lindos e oscilantes seios longos a lhe alcançarem a cintura. Conan a examina rapidamente, do lindo e enorme cabelo crespo aos negros mamilos flácidos dentro das aréolas negras, de diâmetro superior a 10 cm cada uma. O rosto exuberante é o de uma garota de pouco mais de 18 anos, mas aqueles seios maravilhosos fazem-na aparentar uns 30. Pela longa tanga vermelha, o cimério imagina que a jovem negra alta seja de Atlaia, mas as feições, mais negróides que as dos atlaianos, a indicam como sendo uma zimbaboana. Ela também usa uma fina corrente de ouro no pescoço – sem dúvida, adquirida em esporádicas trocas comerciais com mercadores da capital, os quais passam muito raramente por lá.

- Oh! – grita a jovem. – Você ainda está fraco demais para ficar de pé. Deve descansar mais, para recuperar toda a sua força – ela conclui, falando o dialeto zimbaboano, semelhante ao do povo de Atlaia, ao qual Conan conhecera em seus tempos de líder dos corsários negros.

- Nada disso, moça. Já estou recuperado – ele responde na mesma língua. – Onde estou? Aqui é Zimbabo, não? Quanto tempo faz que me encontraram?

- Sim, aqui é Zimbabo, senhor. Eu e minha tribo lhe encontramos ontem, desmaiado na praia, após um ataque de estranhos piratas...

- Ah, aqueles malditos corsários kushitas! – Conan interrompe por um instante.

- Sou Olapa, filha de Faraji, e você está na tribo Jelani, da qual ele é líder. Nós lhe salvamos, porque vimos que você não é atlaiano, nem khitanês, nem pirata, nem de...

Ela estremece, evitando falar o que ia falar, mas o Rei da Aquilônia mal a escuta. O único pensamento de Conan é para a bela visão que tem diante dos olhos. Naqueles últimos meses, longe de sua rainha e harém, Conan não havia tido relações sexuais com mulher alguma, e ele passa um bom tempo examinando os contornos cor-de-ébano daquele corpo suado, delgado e seminu, com excitantes e igualmente delgados seios compridos à mostra. O rosto dela, apesar da cor negra, fica corado de um momento para outro.

- Então, foram suas lindas mãos que cuidaram de mim, Olapa? – ele pergunta. – Muito obrigado a você e seu pai. Passarei alguns dias com vocês, e depois viajarei para o norte – o cimério acrescenta, sentindo aromas saborosos partindo de um caldeirão borbulhante do lado de fora e sentindo-se súbita e vorazmente faminto.

* * *

O estilo de vida tradicional das tribos de Zimbabo – assim como o das de sua vizinha Atlaia – se concentra em seu gado, que constitui sua principal fonte de alimento. A classe social das tribos zimbaboanas é determinada pelo número de vacas pertencentes às famílias. As casas são construídas em um círculo e, às noites, as vacas são conduzidas ao centro, protegidas dos animais selvagens.

Os jovens tribais zimbaboanos são iniciados na maioridade, através de várias cerimônias de iniciação – sendo a principal delas a circuncisão. Os casamentos são planejados, marcados por um homem que desenha um “X” vermelho na barriga de uma mulher grávida solteira. Se ela recusar, será desligada de sua casa. As mulheres podem se casar uma única vez na vida, enquanto os homens podem ter mais de uma esposa (se tiverem vacas suficientes para o dote, eles podem ter mais de uma ao mesmo tempo).

O deus supremo e criador das crenças dos zimbaboanos se chama Enkai, guardião da chuva, da fertilidade, do sol e do amor, aquele que deu o gado ao povo de Zimbabo, segundo suas crenças. Neiterkob é uma divindade menor, mediador entre Enkai e os homens. Homens e mulheres têm suas orelhas furadas e alargadas, com o uso de discos.

Os membros daquelas tribos das savanas vivem em pequenas cabanas, feitas de esterco de vaca e estacas de acácia. Um grupo de cabanas é construído dentro de uma área fechada por cercas espinhosas, formando uma aldeia chamada de enkag. Eles permanecem nesta terra enquanto seu gado pasta; quando as pastagens secam, eles se mudam. As mulheres constroem suas casas, enquanto os homens cuidam da segurança do assentamento e do gado.

O povo das cidades de Zimbabo, no entanto, adora Dagon – um deus de origem shemita – e Derketo – de origem stígia –, o que não afeta em nada a vida e religião dos povos tribais daquele país. Os zimbaboanos das cidades estão ocupados demais em atacar a costa de Khorala, a leste, e em lutar contra outros Reinos Negros da vizinhança, para se preocuparem em invadir tribos, ou querer impor seus deuses a elas.


Alguns anciãos da tribo, no entanto, reconhecem Conan como Amra e, percebendo o desejo do cimério pela bela Olapa, enviam mensagens a duas tribos do reino vizinho de Atlaia.

* * *

O ataque começou de madrugada. Conan, com seu típico sono felino de cimério, acordou antes que a maioria da tribo despertasse e, desembainhando sua espada, tentou alertar os jelanis, enquanto saía de sua cabana e partia para o combate. Mas a traição inesperada dos anciãos pegou os aldeões de surpresa. Nenhum dos jelanis havia previsto a possibilidade de um ataque de guerreiros de duas tribos de Atlaia, ao mesmo tempo. Uma longa lança atlaiana voa em direção ao peito largo de Conan, mas ele se esquiva e devolve o golpe com uma estocada veloz, a qual transpassa estômago, pulmão e costelas do seu antagonista. Ao redor do cimério, a tribo zimbaboana de Jelani resiste bravamente àquele ataque de atalaianos, mas a superioridade numérica destes últimos é imbatível demais para que os incursores possam ser derrotados.

Em pouco tempo, aquela luta desigual se transforma num massacre. Paredes de acácia cedem sob o impacto de corpos arremessados. Gritos de agonia cortam o ar, enquanto lanças mergulham em corpos negros que se contraem, espalhando sangue; porretes são brandidos e golpeiam as encarapinhadas cabeças dos zimbaboanos com uma força brutal. Os telhados de sapé das choupanas se esfumaçam antes de se incendiar. Um novo e estridente brado de angústia se junta aos gritos, quando vítimas ainda vivas são atiradas de cabeça nas estruturas em chamas. O cheiro de carne chamuscada começa e empestear o ar.

Com um grito selvagem, o cimério corta desesperadamente corpos negros a torto e a direito. Seus inimigos atlaianos recuam, não por covardia, mas como homens que evitam o ataque de um leão. E, como o temível felino das savanas, ele luta defendendo Olapa e a família dela como se fizessem parte de seu bando. Súbito, uma pedra, arremessada por uma funda, atinge a têmpora direita de Conan, fazendo seu mundo explodir e mergulhar nas trevas da inconsciência. A última coisa que ele ouve é o desesperado grito agudo de Olapa, sendo arrastada pelos incursores de Atlaia. Nem mesmo os anciãos que traíram seu próprio povo e tribo foram poupados pelos impiedosos e igualmente traiçoeiros atlaianos, aos quais pretendiam vender a jovem.

* * *

Lenta e dolorosamente, Conan recupera a consciência e olha ao seu redor, vendo a paliçada e as choupanas fumegantes e em ruínas. Vultos escuros e furtivos se movem em meio ao capim alto, fuçando os cadáveres amontoados. Ganidos lamuriosos, dorsos encurvados e os focinhos caninos os denunciam como sendo hienas das savanas. Diante delas, havia um verdadeiro banquete. Cadáveres de zimbaboanos se alastram por toda a parte. A maioria dos bois e vacas foi poupada – somente dois bois foram mortos e parte de suas carnes levadas pelos incursores atlaianos. Ódio e vingança queimam no peito do cimério, ao ver mortas todas aquelas pessoas que tão bem o acolheram. O único corpo que ele não achou ali foi o de Olapa, cujos pais jazem em meio a uma poça de sangue.

Por sorte, nem a espada nem a caixa metálica de Conan haviam sido levadas pelos incursores. Assim, após distinguir o rastro de pés descalços que aponta para o sul, o cimério tira alguns pedaços dos bois mortos para se alimentar ali e na viagem que fará, e segue na direção dos rastros – especialmente, por reconhecer a marca inconfundível de dois pés femininos entre eles.

Dias de longas caminhadas e breves noites de sono haviam se passado. Os poucos leões que lhe ameaçaram no caminho tiveram seus crânios esfacelados num único golpe da espada do cimério, ou tiveram seus pescoços transpassados por flechas jelanis. Chegando à fronteira entre Zimbabo e Atlaia, Conan avista um conjunto de árvores. Aproximando-se com cautela, o bárbaro branco pára, quando seu olhar percebe uma figura indistinta entre os troncos sombrios – algo que não faz parte deles. Estranhamente, a figura não avança nem foge. Uma forma turva de ameaça silenciosa, espreitando-o como se estivesse à sua espera. Terror penetrante paira sobre aquelas árvores.

O Rei da Aquilônia avança cautelosamente, com sua lâmina de prontidão. Mais próximo, ele aperta os olhos em busca de algum movimento ou de algo que o ameace. O velho bárbaro conclui ser aquilo uma figura humana, mas se sente confuso com tamanha inércia. Logo, o motivo fica claro: é o cadáver de um homem negro atlaiano de pé, em meio às árvores, mantido ereto por lanças que lhes transpassam o corpo, pregando-o aos troncos.

Um dos braços do corpo sem vida está estendido à sua frente, preso a um longo ramo por uma adaga que lhe atravessa o antebraço, com o dedo indicador do cadáver apontando para o caminho por onde o estranho viera. O significado é óbvio; aquele sinal mudo e sombrio só pode querer dizer uma coisa: a morte está de prontidão logo adiante. O cimério o reconhece como um dos guerreiros que atacaram a tribo Jelani. Levada pelos atlaianos, Olapa foi vendida por estes últimos ao povo de alguma região sombria ao sul – na verdade, os incursores de Atlaia tentaram vender a jovem, mas os homens do sul acharam mais lucrativo levá-la sem pagar, exceto com aço nas entranhas dos atlaianos. Apesar da seriedade da situação, Conan não consegue evitar um sorriso sardônico. Agora, após tantos quilômetros de viagem pelas selvas e savanas, esperam fazê-lo recuar com aquela palhaçada?

Após caminhar mais uns dois quilômetros, atravessando a primeira selva após a fronteira, o cimério se depara com outra visão macabra, encoberta por abutres famintos. É outro homem negro, estendido como uma águia, mãos e pés amarrados a quatro estacas, enfiadas profundamente na terra bastante socada: um zimbaboano, esfolado e morto, também deixado ali como aviso, para indicar o que acontecia com qualquer estrangeiro que ousasse transpor aquela fronteira. Conan o reconhece como um dos homens que defenderam a tribo Jelani.

Próximo a ele, na direção sul, uma quinta estaca pequena, com a pequena corrente de ouro de Olapa, indica ao cimério o rumo que ele deve tomar, caso queira salvar a vida de quem salvara a sua. Ele sabe que aquilo tem todas as características de uma armadilha, mas, além de sua imensa gratidão a Olapa e aos jelanis mortos, Conan está há mais de duas décadas sem ir para a cama com uma negra. Assim, o cimério resolve arriscar a própria vida para salvar aquela linda jovem, e vingar os amigos mortos.


Seguindo o caminho indicado pelo colar de Olapa, Conan capta, entre as árvores, outro súbito e inominável horror: numa ampla clareira, há uma estaca; e, naquela estaca, está amarrada uma coisa que outrora foi um homem. Apesar de seu escalpo de cabelos crespos ter sido arrancado, o cimério nota que aquele arremedo de vida humana tem feições que não são zimbaboanas nem atlaianas.

Quando o bárbaro branco se aproxima, a cabeça daquele pobre homem se move de um lado para outro, salpicando sangue dos tocos sem orelhas, enquanto um gemido bestial e barulhento é emitido dos grossos lábios esmagados. Seus horríveis cortes, Conan nota, mais se assemelham aos de enormes presas e garras do que aos de facas ou lanças. Sem tempo a perder, o cimério o desamarra e se dirige a ele em Zimbaboano, ao qual o cativo torturado não entende, e logo em seguida em Atlaiano, ao qual o negro compreende.

- Ouça – diz Conan –, não tenha medo de mim... Não vou machucá-lo, e nada mais vai lhe ferir também. Onde estamos? Que lugar é este? Você sabe para onde um grupo de atlaianos levou uma linda jovem zimbaboana, de nome Olapa?

Através dos dentes quebrados, as palavras saem, vacilantes e incertas, daquela ruína humana, cujas órbitas vazadas parecem lutar para ver além de seu vazio.

- Aqui não é Zimbabo nem Atlaia... Aqui é Zambebwei, terra dos zembas... Cuidado com os zembas. E cuidado com O Zemba! – ele diz, tossindo sangue. – Foi ele quem me mutilou desse jeito... E ouvi passar um grupo de atlaianos com uma cativa de Zimbabo. Ela será sacrificada ao Zemba, por ordem do mesmo sacerdote que criou o culto a Zemba e me amarrou aqui... Cuidado com os zembas e com O Zemba...

Se ele ia dizer algo mais, Conan nunca saberá, pois uma torrente de sangue explode dos lábios do homem torturado, tirando a vida que ainda lhe restava. Em outras circunstâncias, o cimério enterraria aquele pobre homem, que nunca lhe fizera mal e ainda lhe deu informações preciosas – muito embora aquele bárbaro do norte não faça a menor idéia do que seja um “zemba”, ou “O Zemba”. Mas a urgência de vingança e resgate o faz dirigir rapidamente os passos de novo para o sul, penetrando cada vez mais naquela região sombria, à qual o nativo morto chamara de Zambebwei; e ele prossegue sua viagem pelos dias seguintes, alimentando-se dos animais aos quais abate com o grande arco jelani que leva.

* * *

Zemba é um deus do silêncio. Do pôr-do-sol ao nascer do sol, na noite de lua cheia, nenhum tambor é tocado. Se um cão late, deve ser morto. Se um bebê chora, deve ser morto. O silêncio fecha as mandíbulas do povo até Zemba rugir. Apenas a voz dele é erguida na noite da Lua de Zemba.

O cimério chega à clareira quase antes de percebê-la. A lua pende nos galhos baixos, vermelha como sangue, alta o bastante para iluminá-la e à multidão de pessoas negras que se acocoram num vasto semicírculo ao redor dela, encarando a lua. Os olhos revirados daquela gente brilham como leite nas sombras, e seus rostos são máscaras grotescas devido ao fanatismo em suas expressões. Nenhuma cabeça se volta em direção aos arbustos, atrás dos quais ele se agacha.

Com base no pouco que ouvira em sussurros aterrorizados, de alguns aldeões que encontrou no caminho, ele tivera uma vaga expectativa de fogueiras queimando, um altar manchado de sangue, tambores e o canto de adoradores enlouquecidos. Mas aqui não há fogueiras nem altares. No centro da clareira, há uma pesada estaca amarrada com ferro, a qual é o tronco afiado de uma árvore de bom tamanho, cravado bem fundo no chão. E há alguma coisa viva acorrentada àquela estaca – algo que faz Conan prender o fôlego em horrorizada descrença. Ele já vira um homem-macaco com mente semi-humana, no sul da Britúnia e gorilas gigantescos no Vilayet – a cuja raça pertencia o antropóide ao qual o cimério matara em Belverus, há 16 anos –, mas nada igual àquilo!

Ele está olhando para o deus de Zambebwei. Seu desgrenhado pêlo cinza é raiado com a luz da lua ascendente; parece gigantesco, ao se acocorar como um vampiro sobre os quadris. De pé, sobre suas pernas arqueadas e nodosas, deve ser tão alto quanto um homem, e bem mais largo e compacto. Mas seus dedos preênseis estão armados com garras semelhantes às de um tigre – não as grandes unhas cegas do antropóide natural, mas as cruéis garras, curvas como cimitarras, do grande carnívoro. Seu rosto é como o de um gorila – testa baixa, narinas largas e sem queixo –; mas, quando rosna, seu nariz largo e chato se franze como o de um grande felino, e a boca cavernosa mostra presas em forma de sabre, as presas de uma besta predadora. Este é Zemba, a criatura sagrada para o povo da terra de Zambebwei – um macaco carnívoro. E, caída inconsciente diante de Zemba, ninguém menos que a linda Olapa de Zimbabo!

Conan se pergunta se sua espada – e até mesmo suas flechas – teria algum efeito na criatura. Mas alguma coisa está acontecendo na clareira, anunciada pelo balançar da corrente do animal, quando este estica para a frente sua cabeça de pesadelo.

Das sombras das árvores, sai uma fila de homens e mulheres negros, jovens e nus, exceto por um manto de pele, lançado sobre os ombros de cada um. Eles formam um semicírculo a uma distância segura do animal, e caem de joelhos, curvando suas cabeças até o chão diante deles. Este movimento é repetido três vezes. Então, levantando-se, formam duas filas, homens e mulheres encarando uns aos outros, e começam a dançar. Mal movem seus pés, mas todas as outras partes de seus corpos estão em constante movimento calculado e ritmado, retorcendo, girando e se contorcendo, emoldurando desnudas paixões primitivas, emolduradas numa orgia sensual de movimento.

Nenhum som sai dos dançarinos, nem dos devotos acocorados ao redor do círculo de árvores. Mas o macaco, aparentemente enfurecido pelos movimentos contínuos, ergue sua cabeça e manda noite adentro um guincho assustador que Conan ouvira dias antes, nas colinas que formam a fronteira da negra Zambebwei.

Das sombras profundas, sai o sumo sacerdote, vestindo apenas um manto de plumas brilhantes. É um shemita – mais especificamente, um daqueles pelishtios capazes de prolongar suas próprias vidas por centenas de anos. Em sua mão, ele traz um bastão de ouro que é o cetro dos sumos sacerdotes de Zambebwei – e onde há outros da raça de Zemba, usados pelos “servos de Bît-Yakîm” (a quem Conan conhecera em Alkmeenon, décadas atrás) da mesma forma que aqueles humanos o estão usando. Aquele pelishtio, sabendo que seu conterrâneo Bît-Yakîm fora capaz de domesticar um dos servos dos servos dele, domesticou um Zemba, dando origem a um culto sombrio, no qual suas vitimas são raptadas de Atlaia e Zimbabo.

Nenhum som vocal sai dos devotos, mas o inspirar sibila através de lábios grossos, e as filas de corpos negros balançam como juncos ao vento. O enorme macaco se ergue de um pulo, seu rosto uma abjeta máscara demoníaca; ele uiva com impaciência medonha, rangendo suas grandes presas, as quais anseiam afundar naquela suave pele de ébano e no sangue quente sob ela. Ele encapela-se contra sua corrente, e o poste resistente treme.

E simultaneamente, o velho Conan se move. Seu movimento é mais instintivo que consciente. Seu grande arco zimbaboano fala, e o grande macaco grita como um homem golpeado mortalmente e cambaleia, batendo as mãos disformes na cabeça e olho flechados, nas quais agarra as hastes, quebrando-as, mas sem conseguir arrancá-las.

Num instante, a multidão se encolhe congelada, os olhos brancos arregalados e as mandíbulas pendendo moles. Então, antes que qualquer um possa se mover, o macaco, com o sangue lhe jorrando da cabeça, agarra a corrente com ambas as mãos e a arrebenta com um puxão que torce os elos maciços como se fossem papel.

O sumo sacerdote se encontra diretamente diante da fera enlouquecida, com os pés paralisados. Zemba, enlouquecido de dor, não está mais sob o controle do velho shemita; então, ele urra e salta, e o pelishtio cai sob ele, estripado pelas garras afiadas como navalhas, sua cabeça esmagada como uma pasta vermelha por um giro da grande pata.

Voraz, o monstro ataca por entre os devotos, dilacerando com as garras, rasgando, golpeando e gritando intoleravelmente. Guinchando, uivando e lutando, as pessoas negras agarram umas às outras em sua fuga louca. Homens e mulheres caem sob aquelas garras cortantes e são desmembrados por aquelas presas que rangem. É um sangrento drama primitivo – destruição distribuída às cegas e por toda a parte. Sangue e miolos inundam a terra; corpos e membros negros, e fragmentos de corpos se alastram pela clareira enluarada em pilhas medonhas, antes que o último dos devotos uivantes – outra linda jovem esguia, com longos seios a balançarem em sua fuga desvairada – encontre refúgio entre as árvores e em sua tribo distante, nos braços de seu amado marido e filho recém-nascido. Os sons de sua fuga aos tropeções e em pânico ficam para trás.

Conan saltou de seu esconderijo quase ao mesmo tempo em que atirara. Despercebido pelos aterrorizados negros, e ele próprio mal consciente da matança que rugia ao redor de si, o cimério correu pela clareira até a figura negra que jazia flacidamente ao lado da estaca amarrada com ferro.

- Olapa! – ele gritou, erguendo-a do solo.

Languidamente, ela abriu os olhos turvos. Ele a abraçou e beijou, desatento aos guinchos e devastação ao redor deles. O reconhecimento cresceu naqueles olhos amáveis.

- Conan! – ela murmurou incoerentemente. Então, ela gritou e se agarrou a ele, soluçando histericamente. – Conan! Disseram-me que você estava morto! Eles iam me matar!

Abruptamente, o cimério ergue o olhar para o rosto ensangüentado de pesadelo e morte, o qual arreganha os dentes. O grande macaco havia parado de dilacerar suas vítimas mortas, e agora se move furtivamente em direção ao casal vivo no centro da clareira. O sangue corre dos ferimentos em seu crânio inclinado e olho vazado, os quais o haviam enlouquecido.

Percebendo que Zemba tem uma resistência física maior que a dos macacos gigantes que já matara – e similar à dos “servos de Bît-Yakîm” –, o cimério se posiciona para enfiar sua espada no coração da besta. Ele sabe que seu golpe deveria ser único e fatal, caso queira escapar com vida e salvar sua companheira. Mas, antes que Conan possa fazê-lo, a criatura o derruba ao chão, aproximando, cada vez mais, suas longas presas curvas do rosto do bárbaro. Desesperada, a companheira de Conan enfia uma adaga entre o pescoço e ombro do antropóide, mas é lançada em direção ao solo fofo da clareira por um giro violento de um dos braços enormes da coisa. O cimério aproveita e põe toda a força de seu braço e punho esquerdos num poderoso soco no queixo da criatura. Zemba mal sente o impacto do murro, mas ergue a cabeça o tempo suficiente para que Conan possa enfiar sua espada, até o cabo, na garganta peluda do monstro. Aparentemente inabalado, Zemba se ergue e, com rapidez impressionante, aperta o tronco do cimério com seus enormes braços peludos e desgrenhados, ameaçando esmagá-lo, antes que o bárbaro possa usar a força das pernas para lançá-lo para longe.

Súbito, um estremecimento toma conta da poderosa estrutura do monstro, fazendo-o desabar ao chão, finalmente. As flechas, a adaga e a espada haviam, afinal, surtido um efeito retardado na criatura. A bela Olapa abraça Conan convulsivamente, ainda aterrorizada, porém viva, intacta e aliviada.

O ofegante bárbaro então perscruta ao redor. Como todos os cimérios, Conan tem a visão muito aguçada, além de captar sons acima do limiar normal e sentir as vibrações do que está no chão. Seu olfato e paladar também são apurados. Ele nasceu com alta acuidade em todos os sentidos, o que, sem dúvida, contribuiu para sua sobrevivência nos meios mais inóspitos, como aquele, onde um culto recém-criado já tem adeptos em outros lugares da região.

Assim, ele percebe que ambos estão fora de perigo naquela clareira, e beija novamente Olapa, excitando-se com o volume daqueles lindos lábios grossos em sua boca e com a textura crespa do lindo cabelo volumoso da zimbaboana nas mãos calejadas. Em seguida, o cimério suga sofregamente os trêmulos e suados seios longos daquela linda negra, excitando-se tanto com a flacidez e comprimento deles quanto com o forte cheiro de suor, exalado por aquelas mamas e pelas axilas peludas de Olapa, às quais Conan também suga vorazmente, engolindo com gosto todo o suor da moça. Tudo aquilo transforma paulatinamente os ofegos de pavor da garota em suspiros e gemidos de um prazer cada vez maior.

Pouco depois, a jovem está tendo um orgasmo intenso e vibrante, ao sentir a língua áspera e os finos lábios fortes do idoso cimério sob sua crespa mata negra pubiana, a lhe estimularem o clitóris, até a zimbaboana alcançar o êxtase do prazer. Depois, apoiada nas mãos e joelhos, Olapa se delicia com aquela mesma língua em seu ânus, ao qual o bárbaro suga com a mesma sofreguidão e desejo com os quais lhe sugara os seios e vulva. A libido da jovem cresce a um nível tão elevado, que ela mal sente a dor da ruptura do hímen, quando Conan finalmente lhe penetra a vagina por trás, e termina tendo um segundo orgasmo, enquanto o cimério, sugando as longas mamas de Olapa por trás, se excita mais ainda e tem um orgasmo tão intenso quanto o dela.

Logo, enquanto a linda zimbaboana descansa de seu segundo êxtase de prazer, Conan propõe algo à jovem, e ela assente, abrindo as nádegas para o excitadíssimo cimério. Ele lhe suga novamente o ânus, desta vez para lubrificá-lo, enfiando a língua no reto de Olapa, e passando um pouco da própria saliva e da secreção vaginal da moça no orifício anal dela, para facilitar a penetração. Sabendo que nem todas as mulheres sentem prazer numa relação anal, o experiente cimério a masturba ao mesmo tempo em que lhe penetra o ânus, fazendo-a chegar ao orgasmo pela terceira vez naquela noite. Então, ao pressentir o próprio clímax de prazer, Conan tira o falo do reto da jovem e o põe na linda boca da zimbaboana, na qual ejacula abundantemente, até a última gota de seu esperma.

Ela abre a boca e tenta gargarejar, como Conan lhe havia pedido momentos antes, mas ao ver que aquilo iria derramar parte do sêmen, o rei bárbaro pede para que ela simplesmente engula o esperma. Olapa o faz e sorri para o cimério, beijando-lhe em seguida os testículos suados e a glande. Percebendo que o desempenho sexual da jovem é tão bom quanto o das mulheres da Britúnia, de Zamora, da Hirkânia, de Zingara e Poitain, o idoso bárbaro, ao invés de deixá-la em outra tribo de Zimbabo, resolve, não apenas levá-la para a Aquilônia, mas também incluí-la em seu harém.

* * *

Após aquela tórrida noite de amor com a linda jovem de seios compridos, o cimério retoma, sem pressa, seu caminho de volta à Aquilônia, pois desfruta de dias confortáveis em sua sela, e noites ainda mais confortáveis com Olapa, sob a lua e estrelas.


Epílogo:

Dois montadores param seus cavalos, no interminável e árido deserto. Um deles é um gigante usando roupas de pele de leopardo e um longo turbante branco – o qual também lhe serve de manto, a protegê-lo do sol inclemente do Deserto Kharamun –, e armado com uma grande espada reta que lhe pende do cinto. O outro é uma mulher esbelta, usando roupa similar à do companheiro e com a cabeça coberta, ao estilo das zamorianas, shemitas e hirkanianas, pelo mesmo pano que, meses atrás, lhe servia de saia, a fim de também protegê-la daquele sol que chega a evaporar o suor da pele. Com a mão direita, ela empunha um arco zimbaboano, cujo uso aprendera rapidamente com o homem ao seu lado. No solo diante deles jazem duas figuras inertes, em torno das quais crescem poças de sangue carmesins rapidamente absorvidas pelas areias secas. Usam túnicas brancas, e os turbantes que os cobrem estão cheios de poeira. Uma poeirada que se erguia para leste indicava o lugar por onde fugiam loucamente seus cavalos sem montadores.

- Batedores de um bando zuagir, Olapa – diz o gigante de pele bronzeada. – A má sorte os levou a se cruzarem conosco, quando nossos cavalos estão fatigados e ainda temos de percorrer muitas milhas para estarmos a salvo. Também foi azar um deles ter escapado.

- Não percamos mais tempo – diz a mulher, com voz gutural, fluida e harmoniosa. – Devemos cavalgar tão longe quanto possível para oeste. Quem sabe? Talvez ainda possamos escapar.

Conan encolhe os ombros e faz seu cavalo girar para oeste, após longas semanas de cavalgada desde Zambebwei, Atlaia e Zimbabo. O curto descanso havia reanimado os animais, que iniciam o galope para o horizonte ocidental.

- Você não conhece os zuagires – grunhe Conan. – São como um bando de cães selvagens. Nunca abandonam sua presa, a menos que um acabe com todo o grupo.

- Talvez seu contingente principal esteja distante. Temos que chegar ao norte, até o lugar que você chama de Khauran, antes que nos alcancem.

- Duvido. Os batedores zuagires não costumam se afastar muito da coluna principal. Aprendi seus costumes, quando vivi entre eles e os liderei. Depois que fui líder de um grupo deles, esses malditos lobos shemitas do deserto já não andam mais em formação frouxa, como antigamente. Eles agora costumam cavalgar em coluna pelos desertos. Quando se aproximam de sua presa, formam uma linha e, após apressarem seus cavalos, que são muito resistentes, aceleram as alas e capturam suas vítimas após cercarem-nas. Maldito azar! Havíamos viajado sem nenhum inconveniente até agora, e eles vêm nos surpreender justo quando estávamos prestes a alcançar a liberdade!

Os cavalos começam a respirar com dificuldade. Conan puxa as rédeas para manter no alto a cabeça de seu corcel. Logo, volta a puxar as rédeas e, quando o animal pára, ele protege os olhos com a mão e olha para o leste. Uma grande nuvem de poeira cobre o horizonte. No meio dela, se destaca de vez em quando algum brilho metálico, e a terra ressoa com um rumor distante sob os cascos dos cavalos. Conan aperta os dentes e empunha sua espada, que assobia no ar. Um sorriso belicoso aflora em seus lábios, e Olapa olha para ele com admiração. “Se este tiver que ser o último combate”, pensa Conan, “que seja”. Lutaria até envergonhar a mais de um heróico semideus. Seus olhos azuis brilham com o desejo de batalha, e sua mão agarra o cabo da espada com tremenda força. A extensa nuvem de poeira se aproxima cada vez mais. Já conseguem avistar a larga linha de cavaleiros que se estende à direita e à esquerda. No centro, cavalga um homem com túnica e turbante brancos, e atrás dele, outros com roupas similares a e as mesmas feições morenas e aquilinas, e corpos esguios e fortes. Conan procura aguçar sua visão de águia e resmunga uma terrível praga. Enquanto isso, Olapa já preparou uma flecha em seu arco.

Os cavaleiros encontram-se tão próximos, que já se podem ouvir seus prolongados gritos de guerra. As pontas das lanças já estão baixas, como uma onda reluzente; o solo se estremece sob os trovejantes cascos dos cavalos. Conan contrai os músculos e, com ar sombrio, se prepara para lutar com os atacantes.

De repente, os inimigos diminuem o passo. Alguns cavalos dão meia-volta, e a ordem da linha de ataque se quebra. Conan se ergue sobre sua sela, para ver se descobre o que havia causado aquela mudança repentina. O sol brilha ofuscante sobre as armaduras polidas, os elmos, as lanças afiadas e as espadas de um forte contingente, que apareceu pelo lado oposto. Num ataque irresistível, uns quatro mil cavaleiros aquilonianos se lançam contra os zuagires, com sua bandeira flutuando ao vento.

As fileiras hiborianas se dividem ao alcançarem Conan e Olapa, para deixá-los no meio, e logo atacam os shemitas com a força cegante de um raio. Inflamado pela ânsia de batalha, Conan também se lança sobre o inimigo. Sua espada se abate sobre a cabeça de um musculoso lanceiro zuagir e o derruba da sela, com o turbante cortado e manchado por sangue e miolos. O rei da Aquilônia abandona rapidamente seu cavalo, que está exausto, e monta no corcel do lobo do deserto. Logo, avança diretamente ao núcleo central de seus adversários, abrindo um caminho sangrento em sua passagem. Depois, Conan acerta um poderoso golpe na lateral de um arqueiro que lhe apontava quase a queima-roupa, e leva o homem ao solo, como se fosse um boneco. Logo, se defronta com o chefe das hordas inimigas, trocando golpes com a ferocidade do lutador nato.

O cimério redobra a força e rapidez dos ataques de sua brilhante espada. Os movimentos defensivos do líder tribal shemita finalmente falham, e a lâmina implacável de Conan lhe corta a malha de aço, a carne e os ossos. O chefe zuagir cai morto ao chão.

Conan faz uma pausa e olha os arredores. O solo está semeado de cadáveres que usam túnicas brancas e calças largas. Os aquilonianos sofreram poucas baixas, mas a maior parte dos cinco mil zuagires jaz sem vida sobre o deserto. As linhas brilhantes dos cavaleiros ocidentais convergem para os pontos onde a luta ainda continua.

Então, o restante dos filhos do deserto larga as armas e pede trégua. Uns poucos fogem para o horizonte, perseguidos pelos vencedores. Conan sorri sombriamente, e olha ao seu redor, em busca de Olapa. Apenas os extraordinários reflexos do bárbaro lhe salvam a vida. Uma flecha vem assobiando. Um segundo antes, ele viu, pelo rabo do olho, o movimento ameaçador de um arqueiro, e por isso se abaixou a tempo. A pouco mais de seis metros de distância, um último zuagir, o qual não quis fugir nem se render, coloca outra flecha no arco, com o rosto contraído de raiva. Ele puxa a corda e, naquele exato momento, duas flechas se cravam nele ao mesmo tempo – uma no peito, disparada por Olapa, e a outra na parte posterior do pescoço, lançada pela Condessa Valéria. O homem despenca sobre o solo de areia. Próxima a Conan, Olapa contempla, de seu cavalo, o resultado de sua perícia no manejo do arco.

“Nenhum homem teve uma amante melhor que Valéria, e nenhum rei terá rainha melhor que Zenóbia, nem concubina melhor que Olapa no harém”, pensa o bárbaro, ao mesmo tempo em que ergue a zimbaboana do cavalo e a monta sobre sua própria sela.

– Pallantides! Valéria! – grita o cimério, e ergue-se uma pequena nuvem de poeira quando o punho de Conan golpeia suavemente os ombros de dois de seus fiéis seguidores. – Se não chegassem na hora exata, como fizeram, esses cães teriam acabado conosco. Como chegaram até aqui? Mal posso acreditar!

Pallantides, alto, musculoso e de olhar vivaz, responde:

- Zelata nos guiou. Desde que foste embora, há quase um ano, eu a visitei freqüentemente. Através das artes ocultas, ela predisse o sucesso de tua tarefa, e teu regresso. Previu que serias atacado aqui, no deserto, e nos colocamos a caminho para evitá-lo.

- E como vai nosso reino, Valéria?

- Conan, o povo anseia por seu regresso. Quando nos afastávamos de Tarantia, eles nos dirigiam inúmeras bênçãos. Zenóbia, Brion e Flavia estão bem, estamos em paz, e ninguém tem ousado nos atacar. Por causa dessa paz toda, acompanhei este exército. As colheitas frutificam, e o país nunca conheceu tanta prosperidade. Só nos faltava a presença de nosso querido rei, para transbordar a taça de nossa felicidade e fortuna.

- Muito bem dito, amiga! – diz Conan, com ar satisfeito. – Mas, quem vem lá? Que me condenem, se não for Zelata!

De fato, é ela. Alta, delgada e de cabelos brancos, vem com suas amplas roupagens ondulando ao vento, e um sorriso nos lábios. Embora 17 anos mais velha do que no dia em que Conan lhe salvara a vida, a idosa mulher ainda irradia energia e vitalidade surpreendentes.

- Bem vindo, Rei Conan – ela diz, cheia de sinceridade. – Transcorreram muitas luas, desde que nos vimos pela última vez. Livraste o mundo de um monstro insaciável, e, diante de nós, apresenta-se um futuro promissor.

- E devo lhe agradecer, Zelata, por ter deixado, mais uma vez, a paz das ravinas para vir me ajudar.

Dizendo isto, o cimério abre, com golpe de sua espada, a embalagem metálica que trazia desde Mogar. Um aroma pungente de ervas e especiarias conservantes se espalha pelo ar seco do deserto. Somente Olapa de Zimbabo se assusta ao ver as feições congeladas da cabeça decepada de Khyan-Apopi, a qual o cimério exibe para todos ali presentes. Mas todos os aquilonianos sorriem de satisfação, ao verem Conan lhes mostrar a prova de sua vingança.

O velho Rei Conan dá uma última olhada ao sangrento campo de batalha. Logo, ele esporeia o cavalo e se dirige para oeste, à frente de seus cavaleiros. Então, diz em voz baixa a Valéria, que cavalga a seu lado e cuja cota-de-malha ficou arranhada e parcialmente destruída pelos vários golpes de cimitarras:

- Por Crom, depois de toda esta conversa fiada, estou com a garganta mais seca que este maldito Deserto Kharamun. Acaso tem algum odre de vinho em sua sela?

* * *

O sol já havia nascido em Tarantia, capital da terra adotiva e definitiva de Conan. Naquele momento, nos aposentos reais, pronta para descer até a sala de audiências onde o povo e os príncipes a esperam, a Rainha Zenóbia observa a si mesma, no espelho. Embora seus seios alvos – agora cobertos por um lindo vestido de veludo negro – houvessem, na segunda gravidez, crescido muito mais que na primeira (além de terem, pela primeira vez, caído), o inesgotável fogo viril de seu marido cimério, aliado ao fato dele, desde há muito tempo, gostar tanto de seios flácidos quanto firmes, fez com que a auto-estima da nemédia não diminuísse nem um pouco. Então, enquanto admira, sobre sua negra cabeleira escovada, a coroa com pontas e incrustada por esmeraldas e safiras, que seu rei mandara fazer para ela, Zenóbia, apesar de estar administrando bem a Aquilônia, sente mais uma vez enormes saudades do marido ausente. Embora o Rei Conan costumasse tirar três tardes na semana para freqüentar o harém real, era sempre com sua rainha que ele dormia e tinha a primeira e a última relação sexual de todos os dias – e isso a deixava muito contente.

Súbito, uma linda menina de 15 anos entra correndo nos aposentos reais, seu rosto alvo emoldurado por cabelos negros como os do pai e incrustado por olhos escuros como os da mãe.

- Flavia! – diz a rainha, meio que contagiada por aquele sorriso da garota. – O que faz aqui, filha?

- Papai voltou, mãe! Meu pai está de volta, junto com a comitiva que foi buscá-lo.

O sorriso de Zenóbia se alarga, e uma onda de júbilo toma conta da Rainha da Aquilônia. Ela e a filha se dirigem à janela de treliças próxima ao espelho, abrem-na e não tarda muito para que vejam uma comitiva, desfilando lá embaixo, com Valéria, Pallantides e até Zelata montados em cavalos à frente do destacamento. E, à frente de todos, aclamado por seus súditos, o Rei Conan da Aquilônia!

Ao rever o marido no desfile triunfal pelas ruas de Tarantia, a Rainha Zenóbia sente uma onda de calor lhe tomar conta do corpo. É como se ela voltasse à vida, depois de estar morta e fechada num túmulo. Para ela, é como se o sol aparecesse repentinamente, após uma temporada longa de chuva e céu nublado. Ela e a filha não agüentam ficar só olhando, e descem correndo pelas escadas do palácio, para verem de perto o caro e amado marido da primeira e pai da segunda. Ao chegarem à rua, elas vêem que o Príncipe Brion já havia descido antes delas. Com o término do desfile, Conan abraça e beija sofregamente sua Zenóbia, enquanto a cabeça do assassino Khyan-Apopi é exposta no Campo do Traidor e a bela Olapa é incluída no harém do rei.


Como sempre, Zenóbia sente, no leito real, o poder feroz das mãos, beijos, carícias e falo de Conan; mas seu marido não a machuca, e nunca a machucou, ao longo de todos aqueles anos de casamento – nem a ela nem às mulheres do harém real. Ao contrário, é aquela mistura paradoxal de ferocidade com delicadeza o que excita a rainha.

Mais uma vez naquela noite, Conan beija os seios fartos de Zenóbia, passando a língua pela barriga e umbigo da esposa, e descendo-a até os negros pêlos pubianos da nemédia. Quando surge o alto da fenda da rainha, o rei cimério ali mergulha a língua, sentindo-lhe o gosto da feminilidade e procurando o clitóris. Ela solta um grito de prazer quando ele o encontra.

Conan suga mais uma vez o enorme busto alvo da rainha e desce novamente a língua. Afasta-lhe as pernas, abre suas lindas pétalas róseas e encontra o nódulo inchado. Ele o beija e trabalha com a língua, enquanto põe os dedos calejados dentro da vagina da esposa. Ela grita, sentindo ondas quentes de prazer por todo o corpo. Erguendo-se, Conan encontra a abertura dela com sua masculinidade inchada e a penetra.

Zenóbia volta a gemer de prazer e desejo, a cada vez que seu marido entra e sai. E então, Conan ejacula. Com um grito rouco, ele chega a mais um auge intensamente poderoso e jorra dentro dela. Inundada por ondas de sensações iguais às dele, a rainha nemédia curva as costas, apertando-se contra ele, enquanto ele se aperta contra ela. Os dois param por um momento, tremendo em convulsões, abraçando-se como se tentassem entrar um no outro, tornando-se um só e então relaxando ofegantes, no quarto orgasmo daquela madrugada.


FIM



Agradecimentos especiais: Aos howardmaníacos e amigos Miguel Martins (in memorian), de Paris; Deuce Richardson, dos EUA, e Al Harron, da Escócia.



A Seguir: Reino das Trevas.



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