(por
Robert E. Howard)
A
história começou com quatro homens numa câmara de um castelo nemédio, ressuscitando
uma múmia stígia, de milhares de anos de idade. Um dos homens era um poderoso
barão nemédio, com as ambições de um nomeador de governantes. Outro era o irmão
mais jovem do rei da Nemédia. Outro era um pretendente ao trono da Aquilônia. E
o outro era um sacerdote de Mitra, que havia sido expulso de sua ordem por causa
dos seus estudos das artes proibidas de magia. A múmia era a de um feiticeiro
que vivera muito tempo antes, um hiboriano de um reino que havia sido destruído
pelos nemédios, aquilonianos e argoseanos. O nome deste reino era Acheron, e
sua capital se chamava Python. Muitos
séculos antes, o povo de Acheron, hiborianos muito mais civilizados que seus
vizinhos a leste e oeste, haviam sido os senhores de um império que incluía o
que mais tarde se tornou o sul da Nemédia e Britúnia, quase toda Coríntia e
Ophir, Koth ocidental, as terras ocidentais de Shem, o norte de Argos e o leste
da Aquilônia. Com a derrota e destruição de Acheron por seus vizinhos
ocidentais mais rudes, seu mais poderoso feiticeiro havia fugido para a Stygia,
até ser envenenado por sacerdotes stígios de Set, a Velha Serpente. Então, ele
fora mumificado de forma singular, sem remover nenhuma de suas partes vitais, e
a múmia havia sido colocada num templo escondido. Daquele lugar, com a
instigação dos conspiradores, ela havia sido roubada por ladrões de Zamora. O nome
do barão nemédio era Amalric, o irmão do rei se chamava Tarascus, o reclamante
aquiloniano se chamava Valerius, o nome do sacerdote era Orastes e o nome do
feiticeiro era Xaltotun. Valerius era um velhaco jovem e temerário – alto e
loiro, zombava de si mesmo e tudo o mais, mas era um lutador corajoso. Ele
tinha um parentesco distante com o rei aquiloniano destruído por Conan o
cimério, quando este último tomou o trono da Aquilônia. Aquele rei o havia
exilado, e ele havia perambulado pelo mundo como um soldado da fortuna, até as
conspirações de Amalric o trazerem de volta. Ele ajudaria os conspiradores a
pôr Tarascus no trono nemédio, e então eles o colocariam no trono da Aquilônia.
Amalric era forte, moreno e impiedoso, com seus próprios e ocultos propósitos.
Ele desejava pôr seus fantoches em seus tronos, governar ambos, derrotá-los e
finalmente se colocar no trono dos países unidos. Tarascus era um homem
pequeno, jovem e moreno, astuto, corajoso e carnal; mas uma marionete nas mãos
de Amalric. Orastes era um homem grande, com suaves mãos brancas; um amador nas
artes negras.
Xaltotun,
ao ser trazido de volta à vida por estranhos encantamentos, era um homem alto,
com mãos fortes e ligeiras, estranhos olhos magnéticos e abundantes cabelos
negros. Ele lhes ouviu a conversa, enquanto lhe explicavam tudo o que ocorrera
desde sua morte, e concordou em
ajudá-los. O bruxo pretendia secretamente restaurar o antigo
reino de Acheron. Os descendentes do povo de Acheron eram mais numerosos do que
se supunha; moravam nas fortalezas das colinas, em comunidades nas grandes
cidades, e espalhados por todo o reino como sacerdotes, criados, secretários e
escribas. O rei da Nemédia foi assassinado por magia negra, e Tarascus foi
posto no trono. Então, os exércitos da Nemédia marcharam contra a Aquilônia. Em
sua tenda, na noite anterior à batalha, Conan o cimério teve um sonho estranho,
no qual muitos dos eventos passados de sua vida eram novamente recapitulados.
Ele viu estranhas formas e acontecimentos, e acordou suado de medo para chamar
seus capitães. A aurora estava raiando, e os exércitos estavam em movimento. Uma
estranha figura encapuzada apareceu na tenda do rei, e Conan foi derrubado por
uma estranha paralisia. Ele não poderia cavalgar para a batalha, de modo que
trouxeram um oficial das fileiras, o qual se parecia muito com ele, vestiram-no
com a armadura do rei e ele cavalgou sob a grande bandeira do leão. Mas ele
caiu, lutando gloriosamente, e o exército aquiloniano foi esmagado e terrivelmente
derrotado. Conan, que jazia indefeso em sua tenda, foi atacado pelos cavaleiros
nemédios, sua guarda destruída. Ele lutou de espada na mão, mantendo-se em pé,
encostado à estaca da tenda, até Xaltotun derrotá-lo com magia. Ele foi posto
secretamente numa carruagem e levado em segredo até a capital da Nemédia. Foi lançado
nos fossos sob o palácio, onde um macaco gigante o atacou. Mas uma jovem do
harém de Tarascus deu a Conan uma adaga, com a qual ele matou o animal e
escapou.
Adentrando
o palácio de Tarascus para matá-lo, ele viu o rei dar uma jóia e um saco de ouro
para um homem, e ordená-lo que levasse a jóia e a lançasse no mar. Esta jóia,
embora Conan não soubesse, era o Coração de Ahriman, o qual Tarascus havia
roubado do feiticeiro, porque ele o temia e tinha uma vaga suspeita do que
Xaltotun pretendia. Conan golpeou Tarascus, mas errou o alvo; e logo,
abandonando a cidade, abriu caminho até a fronteira aquiloniana.
Alcançando
a fronteira, ele soube que o povo o tinha como morto, que os barões estavam em
guerra uns com os outros e que Valerius, aparecendo na fronteira leste com o
exército nemédio, derrotou um exército mandado contra ele pelos barões, tomou a
capital e foi aclamado rei pela multidão, a qual temia uma anarquia. A
Gunderlândia, ao norte, e Poitain, ao sul, mantinham sua independência, e Conan
seguiu seu caminho para o sul, a fim de se juntar ao Conde Trocero, o qual
defendia as passagens que descem em direção às planícies de Zingara. Mas,
primeiro, ele havia se dirigido à sua capital – que estava nas mãos de Valerius
–, porque uma velha feiticeira, nas montanhas do leste da Aquilônia, lhe falara
enigmaticamente do Coração de Ahriman e mostrara a ele visões flutuando na
fumaça – ladrões zamorianos saqueando um templo, e roubando uma jóia flamejante
numa caverna subterrânea sob a cidade.
Nesse
meio tempo, Xaltotun não sabia da perda de sua jóia, porque ele a havia
guardado numa caixa dourada e trancada, e usava da própria magia sem ajuda.
Conan havia sido reconhecido em sua capital, e homens o perseguiram. Escapando,
ele finalmente soube que o Coração de Ahriman era a gema que Tarascus tinha
dado ao homem; mas ele adquiriu cavalo e armadura, e viajou para Poitain, onde
encontrou o Conde Trocero. Trocero não tinha guerreiros suficientes para
invadir a Aquilônia, e derrotar os nemédios e os barões que abraçaram a causa
da Valerius, e seu povo temia a magia de Xaltotun. Eles insistiram para que Conan
ficasse e os governasse como um reino separado, e conquistasse Zingara, mas ele
decidiu seguir o homem que havia tomado o Coração de Ahriman. Ele cavalgou em
direção aos portos de Argos.
Tradução:
Fernando Neeser de Aragão.
Digitação:
Edilene Brito da Cruz de Aragão.
A Seguir: Espadas da Nemédia.