(por Robert E. Howard)
Conan, o
cimério, seguindo vingativamente um grupo de guerra picto, o qual havia feito
ataques-surpresa e matado entre os assentamentos aquilonianos no Rio Trovão,
foi capturado por pictos e carregado por eles até sua terra natal, bem a oeste.
O feroz cimério matou o chefe e escapou, fugindo em direção ao oeste e
perseguido pelos enfurecidos pictos. Chegando perto da costa oeste das Selvas
Pictas, ele descobriu uma trilha que serpenteava para o alto de um penhasco, e,
seguindo-a, descobriu uma caverna onde se erguia uma grande mesa de ébano, ao
redor da qual se sentavam homens mortos – os cadáveres de Tranicos, um
comandante pirata, seus onze capitães e o tesouro, escondido por eles há cerca
de cem anos. Ele adentrou a caverna e, instantaneamente, estava lutando por sua
vida.
Numa larga
extensão de praia, apoiada contra uma densa floresta e não muito longe da
caverna, se erguia o assentamento fundado pelo Conde Valenso Korzetta, um nobre
zíngaro que havia fugido com seus criados e sobrinha, e se refugiado lá. Seus
empregados haviam construído casas com troncos de árvores e cercado-as com uma
paliçada. Ninguém se aventurava a adentrar muito a floresta, pois temiam os
ferozes pictos. Mas sua sobrinha, Lady Belesa, estava na areia ao sul do
promontório que se erguia além da baía, quando sua amiga, uma criança ophiriana
abandonada, de cabelos louro-claros, chamada Tina, a qual ela pegara, veio
correndo pela areia, nua e molhada de um mergulho no oceano, e gritou que um
navio estava chegando. A jovem zíngara viu, enquanto subia a suave inclinação,
e, junto com a garota mais jovem, correu até o forte, e elas o chamaram.
Valenso instantaneamente chamou seus empregados, que estavam nos botes de pesca
e nos pequenos campos ao longo da margem da floresta. O navio adentrou a baía e
desdobrou uma bandeira dos piratas barachos, e o senescal Galbro reconheceu a
embarcação como o Mão Vermelha, do pirata Strom. Os piratas desembarcaram e
atacaram a fortaleza, e estavam quase amontoados sobre a paliçada, quando outro
navio ficou visível, e desdobrou as cores de Zingara. Mas Strom já o havia
reconhecido como a embarcação do bucaneiro zíngaro Zarono Negro e, temendo ser
pego entre dois inimigos, levou seus homens a bordo e se afastou da costa.
Zarono ancorou
e desembarcou com quase todos os seus homens, mas Valenso desconfiava dele e se
recusou a permitir que ele trouxesse seus homens para dentro da paliçada. Eles
acamparam na praia e o bucaneiro entrou no salão de Valenso. Ele disse a Zarono
que seu navio havia naufragado numa tempestade. Zarono fez uma proposta,
sabendo que Valenso nada sabia sobre o tesouro de Tranicos, o qual tanto Strom
quanto Zarono sabiam estar escondido em algum lugar próximo à baía. O bucaneiro
se ofereceu para levar todos dali, em troca do tesouro, para o qual ele e o
conde uniriam forças para buscarem – e em troca da mão de sua sobrinha, Belesa.
Valenso se
recusou furiosamente. O bucaneiro ofereceu a ajuda de seus homens aos homens do
conde, para acharem o tesouro. Depois, eles navegariam para algum porto
estrangeiro, onde Zarono se casaria com Belesa, e abandonaria suas maneiras
selvagens. Enquanto eles discutiam, Tina apareceu no salão de banquetes, e
contou ao conde que ela havia visto um homem negro desembarcar na praia, num
bote estranho. Valenso instantaneamente pareceu possuído por loucura, e
chicoteou cruelmente a menina, até ver que ela dizia a verdade. Então, ele
concordou com os termos fixados por Zarono.
Belesa pegou
Tina e se retirou, horrorizada, para seu quarto; ela e a menina estavam prestes
a fugirem, desesperadas, para a floresta, quando ouviram passos furtivos do
lado de fora da porta, os quais as aterrorizaram. Tina disse que era o homem
negro, o qual ela vira desembarcar. Antes do amanhecer, uma terrível
tempestade, despertada pela bruxaria do homem negro, destruiu o navio de Zarono
no litoral rochoso.
Ao amanhecer, quando a tempestade havia terminado, um
pirata na costa encontrou um forasteiro na praia e foi morto por ele; o
forasteiro lhe pegou um mapa. Valenso jurou que foi o estrangeiro negro que
havia provocado a tempestade e uma maldição em sua casa, e Zarono disse que
seus homens construiriam um navio. Mas, logo depois, Strom navegou baía adentro
e pediu uma negociação. Protegido por um braço de terra de alta elevação, ele
havia se livrado da tempestade. Ele achou que um zíngaro lhe havia matado o
imediato e roubado o mapa; ele fez uma proposta: se eles lhe dessem o mapa, ele
levaria dali quantas pessoas pudesse e as desembarcaria em algum lugar seguro.
Mas, enquanto discutiam, Conan entrou e lhes disse que havia matado o homem e
roubado o mapa, e o destruiu. Não precisava dele, porque havia encontrado o
tesouro. Ele apresentou o plano: ele e os capitães iriam atrás do tesouro, deixando
seus homens na praia. Eles o dividiriam por igual. Strom tinha poucos
suprimentos. Valenso daria suprimentos a eles; Strom o levaria no navio.
Valenso e Zarono ficariam para construir sua própria embarcação. Após muita
discussão, Conan e os nômades do mar atravessaram as florestas até a caverna
que ele descobrira, onde Conan esperava armar uma cilada para eles no gás
venenoso que a preenchia; mas um dos homens de Valenso, o senescal Galbro,
havia ido para lá e foi encontrado morto, e Strom acusou Conan de tentar pôr a
ele e a Zarono fora do caminho, para se apoderar de seu navio e tripulação. Na
luta que se seguiu, os pictos atacaram-nos, enfurecidos pelo estrangeiro negro
ter matado um picto e colocado nele uma corrente de ouro, roubada de Valenso.
Conan uniu forças com os outros, e eles abriram caminho de
volta ao forte, onde foram sitiados por centenas de pictos uivantes. O homem
negro se infiltrou entre eles, e matou um baracho; e então, bucaneiros e
piratas lutaram uns contra os outros, e os pictos se aglomeraram sobre o muro.
Conan, correndo salão adentro para resgatar Belesa e Tina, viu Valenso
enforcado numa viga, e o homem negro exultando sobre ele. Ele arremessou um
banco e derrubou a coisa, e então pegou as garotas e as escondeu na floresta. Strom
e Zarono foram mortos no massacre sangrento; e Conan, junto com Belesa e Tina,
foi embora e fugiu no navio Mão
Vermelha, ancorado numa baía na costa.
Tradução: Fernando Neeser de Aragão.
Digitação: Edilene Brito da Cruz de Aragão e Fernando Neeser de
Aragão.
Nota: A versão completa desta história pode ser lida em http://cronicasdacimeria.blogspot.com.br/2007/10/o-estrangeiro-negro.html
A seguir Barachos em Mogar.