(por Fernando Neeser de Aragão)
É noite no Deserto Meridional. O silêncio daquele ermo é quebrado pelo
som das patas de dois cavalos – um deles montado por um homem, e o outro, por
um jovem casal. Mais uma vez, o ar puro do deserto limpa os pulmões de Conan,
Lissa e Amalric – longe dos odores de incêndio e matança na cidade de Tombalku,
recém-retomada pelos aphakis de Zehbeh, e de onde os três brancos haviam fugido
há três dias.
- Vejam! – Conan sussurra repentinamente a Lissa e Amalric. – Duas
sentinelas aphakis à nossa frente.
Tomando a frente dos dois amigos, o cimério cavalga em direção aos dois
patrulheiros marrons.
- Identifique-se! – diz uma das sentinelas.
- Sou Conan, o cimério, general dos cavaleiros tombalkanos.
Percebendo que está diante de um inimigo, um dos aphakis ergue a lança
contra o bárbaro de olhos azuis. Este se esquiva e decepa metade do pescoço do
cavaleiro mestiço. O outro guerreiro tenta fugir, esporeando sua montaria para
norte e leste, mas é atingido nas costas pela espada de Amalric, arremessada
pelo aquiloniano. Após tirar sua arma do corpo sem vida, o loiro, juntamente
com sua amada e seu amigo, cavalga durante uma hora na direção sudoeste, até
montarem um pequeno acampamento no deserto.
***
- Quem vem lá? – fala Conan, pressentindo, com seus sentidos aguçados,
a presença de uma quarta pessoa, próxima a eles.
Da escuridão, onde o cimério lhe avistara a silhueta, sai uma jovem. Conan
reconhece aquela bela e assustada fugitiva nua como uma tibu, e a deixa sentar-se
diante da fogueira à qual ele também se senta, próximo a Lissa e Amalric. Ele
também reconhece aquela mulher esguia e curvilínea, de seios médios e firmes, e
suada pele marrom, como Anuket, uma das mulheres do harém do recém-falecido rei
Sakumbe. O cimério a chama para se sentar perto dele.
- Mal consegui escapar viva do ataque de Zehbeh, há três dias! – diz a
jovem mestiça, um pouco mais calma e se sentando diante da fogueira, ao mesmo
tempo em que Lissa
arranja um manto para proteger a tibu do frio da noite. – Nem tive tempo de me
vestir... Minha única esperança era encontrar vocês... os únicos fugitivos
brancos de Tombalku, aos quais Zehbeh procurava. Pois minha família e amigos
negros e tibus foram mortos pelo maldito líder aphaki, quando ele retomou e
quase destruiu a cidade... Acho que fui a única sobrevivente do harém de
Sakumbe.
“Não ouso voltar para minha aldeia, pois eu soube que Zehbeh e seus
cavaleiros estão determinados a pôr um líder aphaki em cada aldeia Tibu,
Bagirmi, Mandingo, Dongola, Bornu – em todas
as tribos negras e mestiças do império de Tombalku, acabando com a relativa
autonomia que Sakumbe dava a elas. E qualquer um que se opor àquele canalha
aphaki será imediatamente exterminado. Por isso, estou aqui...”.
Lissa e Amalric, meio entendendo a língua da jovem – uma mistura de
Stígio com Mandingo –, sentem pena dela. Conan, por sua vez, sente, além de
piedade, uma forte atração física. Aquela jovem, de nariz fino, lábios grossos,
pele marrom, seios com bicos pontiagudos e negros cabelos cacheados, é muito
bonita – sem contar que o forte cheiro de suor da tibu também atiça a libido do
bárbaro. Sabendo que a jovem havia ficado três dias quase sem comer, Conan dá a
ela metade do que ele próprio está jantando.
- Bem – ele diz finalmente –, eu pretendo seguir viagem com meus amigos
para norte. O reino de Kordafan, a sudoeste, parece ser um bom lugar para uma
mestiça de negros e stígios. Apesar da revolta dos gallahs, ocorrida há oito
anos em Kush, os senhores pardos da vizinha Kordafan continuam mantendo os
negros sob controle.
Aliviada, a tibu se aninha aos braços fortes do cimério que se ofereceu
para protegê-la, e não lhe oferece resistência quando este a beija nos lábios,
despindo-a do manto para beijar e sugar todo o corpo suado da mestiça,
excitando-a, enquanto Amalric, indisposto a ver algo que ele mesmo pode fazer,
também despe Lissa, e ambos se beijam e também fazem amor à luz das estrelas e
da fogueira.
* * *
Kordafan é um reino pequeno, porém próspero, situado ao sudeste de Kush,
e foi uma província kushita em seus dias mais antigos de Império. Embora Kush
tenha expulsado a nobreza chaga, Kordafan mantém seus nobres pardos, aumentados
em número pelos refugiados da revolução kushita, além de alguns renegados
stígios.
Sendo um centro de adoração a Set e do sacerdócio stígio, muitos dos
chagas dos velhos territórios de Kush se dirigiram para Kordafan. Quando Kush
expulsou os chagas de seu reino, os mais meridionais fugiram para Kordafan,
onde os chagas eram mais poderosos. Sendo bem menor que Kush, seu exército
precisa trabalhar mais duro, para se defender de incursões do reino maior e das
tribos ao redor.
Hoje, Kordafan é um reino isolado, mas poderoso, com seu poder
concentrado numa pequena área. Este reino é uma importante região no comércio
internacional de escravos, sendo uma das encruzilhadas entre os Reinos Negros e
Kush, e, portanto, os reinos hiborianos e a Stygia: pessoas de todos os
aspectos e tamanhos são transportadas pela rota de caravanas de Kordafan.
Kordafan compartilha alguns elementos regionais com os stígios do sul e as
províncias externas de Kush: guerreiros, guardas e nobres chagas, que são uma
infusão de estilos stígios e kushitas.
Os guerreiros chagas ecoam tanto os poderosos guerreiros da nobreza
stígia quanto os guerreiros prediletos de Kush, empunhando arcos de feitio
stígio e espadas de feitio kushita: não usam armaduras, mas carregam escudos
com o inigualável desenho artístico dos chagas.
Os guardas chagas são os guerreiros prediletos da elite chaga, com lanças
e escudos de formato único, e usando uma espécie de armadura de escamas de
couro, com pele de leopardo e uma grande quantidade de plumas.
Os nobres chagas montam em cavalos stígios, e estão armados com
machados também stígios, de excelente qualidade, longas lanças e escudos, e
vestem exuberantes armaduras de escamas douradas. Além disso, elefantes podem
ser pastoreados lá, e às vezes incitados contra seus inimigos.
A bela tibu Anuket torna-se uma das concubinas do Rei Khari-Amon, de
Kordafan, de quem Conan é amigo há oito anos, quando, fugindo de Kush com Diana
e 45 sobreviventes chagas, o cimério ajudou o rei marrom a repelir os kushitas
negros que o perseguiam. E, como havia feito naquela ocasião com Conan e Diana,
o Rei de Kordafan dá, ao cimério, à gazali e ao aquiloniano, salvo-conduto para
atravessarem a Stygia, e de lá irem para onde quiserem.
* * *
Ao atravessarem o Rio Styx em direção a Shem, Conan, Amalric e Lissa se
deparam com três ninfas do rio, com asas e penas de pássaro, em corpo e cabeça
de mulher – criaturas do rio charmosas, porém mortais, que atraem marujos para
as profundezas do Styx com seu canto envolvente. Dizem as lendas que, fugindo
de sacerdotes de Set, que pretendiam sacrificá-las por se oporem ao culto do
Deus-Serpente, elas foram transformadas por Íbis, rival de Set, naquelas
criaturas semi-humanas com as quais o trio acaba de se deparar.
Sua música é doce e triste, e envolve o corpo e alma numa letargia
mortal. Qualquer homem que a escute fica hipnotizado imediatamente, e sente um
desejo incontrolável de saltar ao rio. Já sabendo disso, Conan e Amalric, que
não são homens céticos, pedem a Lissa – a qual, por ser mulher, é imune ao
canto das ninfas – que amarre a eles e à tripulação aos mastros do navio, para
que não se joguem no Styx.
Quando o canto das três beldades híbridas chega aos ouvidos do cimério,
ele tenta se soltar, mas Lissa, a pedido do bárbaro, o amarra com correntes
recém-forjadas, às quais nem mesmo Conan conseguiria arrebentar. Ele e Amalric
são dois dos poucos que conseguem escapar das ninfas. Perturbadas por verem
alguém escapar de seus encantos fatais, elas se matam afogadas.
Aliviada em ver seu marido vivo, Lissa o desamarra e lhe beija
apaixonadamente os lábios, e em seguida toda a tripulação sobrevivente é também
desamarrada.
Epílogo: A caminho da Aquilônia, Conan, Lissa e Amalric recebem as notícias de
que o feiticeiro Pelias de Koth havia desaparecido da Terra, e que o Rei
Vilerus da Aquilônia morrera pouco antes, em combate nas Colinas Goralianas, traído
pelo próprio irmão caçula Namedides.
De volta à sua Aquilônia natal,
Amalric consegue, com a ajuda do amigo Conan, depor o arrogante irmão e se
tornar o novo conde da casa de Valerus, ao lado de sua amada Lissa.
A seguir, ouvindo falar dos fabulosos dentes de
Gwahlur, jóias lendárias escondidas em algum lugar no reino negro de Keshan –
onde crescem as famigeradas Maçãs de Derketa –, Conan inscreve-se como
treinador nos exércitos daquele país (Os Servos de Bit-Yakîm/ http://cronicasdacimeria.blogspot.com/2006/05/as-jias-de-gwahlur.html).
As jóias não ficam muito tempo em suas mãos, e
ele e Muriela vão ao reino vizinho de Punt. Chegando
a Punt com Muriela, o cimério consegue levar a cabo seu plano e livra os fiéis
daquele país de uma boa quantidade de ouro. Naquele país, Conan também conhece as pedras de fogo verde, as quais,
segundo o povo de Punt, são os olhos petrificados das cobras às quais os
antigos chamam de Serpentes Douradas, e que brilham como os olhos de um gato no
escuro. Logo, seguem viagem para Zembabwei. Uma vez ali, se
unem a una caravana de mercadores e a seguem para o norte, pelas fronteiras do
deserto – nas quais perambulam os antigos companheiros de Conan, os bandidos
zuagires –, conseguindo chegar até Shem. Depois, Conan segue viagem para o
norte e atravessa os reinos hiborianos, devolvendo, no caminho, a ex-escrava
Muriela à sua Coríntia natal, até chegar à Ciméria e, de lá, seguir até a
Aquilônia
Agradecimentos especiais: Aos howadmaníacos e amigos Al Harron, da Escócia,
e Deuce Richardson, dos EUA.
A Seguir: Forte Tuscelan.