(por Fernando Neeser de
Aragão)
Anoitece numa cabana ao norte da Britúnia. Dentro dela, um adolescente
seminu encontra-se deitado num leito, desacordado por dias de fome e cansaço.
Ele é quase um gigante em estatura e, à luz da vela que ilumina o quarto, seus
músculos se destacam nos membros e corpo bronzeados pelo sol da primavera. Uma
bela jovem, de cabelos loiro-claros e olhos cinzentos, que dele cuidava,
assusta-se quando o rapaz – somente dois anos mais novo que ela – acorda abruptamente,
agarrando-lhe fortemente o delicado pulso.
- Demônios de Crom! – ele exclama. – Quem é você?
Sob os negros cabelos emaranhados, de corte reto, seus vulcânicos olhos
azuis brilham com um fogo inapagável.
A garota recua assustada e massageando o punho, ao qual ele largou tão
subitamente quanto havia agarrado. O jovem olha ao redor, e vê que está em
local muito diferente das planícies nevadas em degelo, nas quais desmaiara,
após dias bebendo apenas água, sem encontrar caça.
- Meu nome é Roméia.
- Há quanto tempo estou aqui? – ele pergunta, enquanto a jovem oferece
uma tigela de fumegante caldo de carne ao jovem.
- Há muitos dias – ela responde, enquanto o rapaz cheira, desconfiado,
a bebida nutritiva que lhe é oferecida.
- Você cuidou de mim este tempo todo? Onde estou? – pergunta o bárbaro,
bebendo o caldo avidamente, em poucos goles.
- Você está próximo à cidade de Nathus, a mais setentrional da Britúnia,
Conan. Eu lhe encontrei desmaiado a alguns dias de distância leste daqui – ela
diz, oferecendo vinho e queijo a ele.
- Como sabe meu nome? – indaga o jovem, cheirando o vinho e queijo, e
em seguida comendo e bebendo vorazmente.
- Você disse muitas coisas enquanto delirava, cimério...
Sem responder nada, o cimério termina de comer e beber, pega sua espada
embainhada, a qual ficara ao seu lado, e, com o impressionante poder de
recuperação dos bárbaros, se levanta da cama, sai da cabana e se recosta no
tronco de uma árvore próxima. Naquele momento, sob a luz das estrelas e da lua
cheia, ele está se lembrando de Niord, Gorm, Gullvia e todos os entes queridos
que perdera em Asgard, por causa daqueles malditos hiperbóreos. Acompanhando o
cimério, Roméia percebe a gigantesca melancolia nos olhos dele.
- Ouvi você falar, durante o delírio, de amigos aesires seus, que foram
mortos na Hiperbórea, juntamente com uma conterrânea deles, da qual você
gostava muito... Sinto muito, Conan – diz a brituniana. – Seja forte – ela
acrescenta, com visível e sincera gentileza no tom de voz.
Suas palavras acendem nova chama nos olhos melancólicos do cimério, o
qual a abraça e beija quente e ferozmente sob o luar prateado. Ela – que não
deixara de admirar os músculos bem-proporcionados e cabelos negros de Conan, desde
quando este esteve desmaiado – devolve-lhe o abraço e o beijo. Em seguida, a
jovem leva o bárbaro ao quarto da cabana – no qual o cimério despertara – e se
despe do longo vestido de pele que usava.
Enquanto Conan
beija outra vez a boca quente e acolhedora de Roméia, esta despe a tanga do bárbaro
e a deixa cair. Sugando-lhe ardentemente o firme e suado busto alvo, de bicos
róseos, Conan deita-se novamente sobre a cama e sente a língua da mulher lhe descer
para bem abaixo do umbigo, à medida que faz o mesmo com ela.
O cimério geme
de prazer. Aquela é a primeira mulher que lhe suga o pênis. A boca de Roméia,
englobando-lhe o membro viril, é tão quente, úmida e acolhedora quanto uma
vagina; e, de tão excitado que está, o bárbaro enfia, várias vezes, a língua na
vagina daquela mulher, fazendo-a gemer de prazer tanto quanto ele. Então, montando
sobre o órgão ereto de Conan, Roméia geme e arqueia de prazer, sentindo não
apenas o delicioso vaivém de genitálias, mas também a língua do bárbaro novamente
em seu busto.
Ela se
contorce de prazer, e seus pensamentos – assim como os de Conan – são abafados
pelas crescentes ondas de desejo e prazer que lhes afogam os sentidos, como
bolas de neve que aumentam à medida que avançam e que só param depois de se
estatelarem num grandioso impacto.
Assim, entre
gemidos e suspiros cada vez mais altos, explode o orgasmo naquele casal,
enquanto Roméia relaxa o corpo alvo sob os bronzeados músculos do bárbaro, o
qual ela puxara para cima de si, alguns minutos antes do clímax.
Após uma segunda relação sexual, ambos relaxam, ela descansando a cabeça
sobre o musculoso peito peludo de Conan.
* * *
É o leve tilintar do aço que acorda abruptamente Conan. Silencioso como
uma pantera ciméria, ele desembainha a espada, amarrando o cinto desta, e se
ergue de um pulo da cama. Roméia também desperta, embora não tão abruptamente,
enquanto a porta de madeira da sua casa é arrombada por dois chutes. Três
homens de cabelos castanho-claros e mantos de pele de urso – para aquecê-los do
frio ainda existente no norte da Britúnia durante aquele início de primavera – começam
a entrar, armados com espadas, na cabana, quando são surpreendidos por um giro
veloz, que decepa o braço armado de um e derrama as tripas de outro, enquanto
um enorme punho arrebenta os dentes e mandíbulas do terceiro, lançando-o a uma
boa distância da entrada, sobre o chão verde, porém lamacento.
Com a semi-nudez coberta por um manto de pele, a assustada Roméia
aparece na porta, ao lado do cimério que despachara dois dos três bandoleiros.
Súbito, uma mulher bela e ao mesmo tempo assustadora aparece levitando no ar, e
lança um vento terrível e gélido, de força muito superior aos que sopram nos
vales da Ciméria, fazendo com que Conan voe para longe de sua bela salvadora. O
bárbaro desembainha a espada, mas é surpreendido por uma mudança aterradora ocorrida
no bandoleiro ao qual esmurrara. Os dentes e mandíbulas do homem se regeneram à
luz prateada da noite. Sob o luar, cintilam olhos animalescos e brilham presas
brancas. O rosto é o de um lobo. Os
longos membros esguios parecem encolher; o cabelo parece crescer sobre eles.
O cimério e o recém-transformado lobisomem investem ao mesmo tempo. A
criatura lhe arranha o desnudo peito musculoso com suas garras, mas a espada do
jovem é mais rápida e, num arco prateado, ela se tinge de vermelho ao decepar a
cabeça peluda da criatura, a qual dá três passos vacilantes, antes do corpo sem
cabeça cair ao chão, ao lado do peludo crânio ensangüentado.
Entretanto, enquanto Conan travava o breve combate com o homem-lobo,
Roméia foi arrastada por outra corrente sobrenatural de ar, a qual erguera e
arrastara a jovem loira para fora da choupana e até perto da mulher que
invocara os ventos. Por mais que o cimério corra, a velocidade do vento é bem
maior, fazendo ambas as mulheres voarem – a loira com os cabelos agarrados pela
feiticeira – até um agrupamento de ruínas, a uns 3 km ao sul da cidade de
Nathus.
Ofegando de ódio, Conan continua correndo através da planície em
degelo, sem diminuir o passo até alcançar as ruínas sinistras de uma colossal
construção desmoronada, a qual avulta sobre o chão lamacento. Parecem ser os
restos de um dos primeiros castelos britunianos, ali erguidos há milênios,
quando os primeiros hiborianos de lá haviam trocado a vida nômade pela
sedentária. O jovem adentra cautelosamente o local. Aquele lugar lhe dá
arrepios, mas, muito maior que o medo, é o ódio por quem raptou a jovem que lhe
salvara a vida.
Não demora muito para que Conan encontre a linda Roméia, com seu alvo
corpo seminu amarrado a um altar no centro do castelo, onde a luz da lua entra
pelo teto desmoronado. Ele a liberta com rápidos golpes de espada a lhes
cortarem as amarras. Enquanto a jovem se agarra aliviada ao torso nu do
cimério, a mulher que raptara Roméia retorna; é uma feiticeira bela e de
aparência jovem, mas com a sabedoria maligna de eras sombrias, nos belos olhos
negros que brilham fantasmagoricamente em seu formoso rosto moreno, cujos
lábios cheios se curvam num sorriso malévolo. Ao lado dela, se encontra um
último bandoleiro.
- Nada salvará sua amante nem você de serem sacrificados aos antigos
deuses zhemris, dos quais sou sua última sacerdotisa. Nasci na Britúnia, mas
descendo de um povo muito mais antigo que os hiborianos e cimérios.
Então, a feiticeira brituniana dá um sopro no ar, fazendo com que a
lama crie vida. Os grãos grossos e molhados de argila se movem e redemoinham,
adquirindo uma aparência assustadoramente humana e fazendo recuar até mesmo o
último bandoleiro vivo, lacaio da mulher. O cimério parte ao meio três daquelas
criaturas humanóides, e tem as costas raspadas pelo punhal que uma delas usa.
Girando, Conan decepa o braço armado da criatura de barro que o tentara
esfaquear, fazendo-a se desintegrar. Outro daqueles homens de lama rodopia em
pleno ar, tentando atacar o cimério, mas também é despedaçado pela espada
hiperbórea do bárbaro. Após destruir mais três com seus golpes certeiros, Conan
é novamente arranhado nas costas por outra daquelas criaturas, a qual tem o
mesmo destino que as anteriores.
Contudo, mais um daqueles seres se materializa do nada e acerta um
chute no ventre torneado do cimério, fazendo-o cair a uma distância de cinco
metros, batendo com a têmpora sobre o chão duro. Outra criatura de lama
aparece, enquanto a feiticeira sorri e Roméia soluça de dor e medo, ao ter seu
pescoço agarrado por aquele homem de barro. O cimério se levanta, mas outras
quatro criaturas aparecem, arremessando-lhe punhais, os quais Conan desvia,
brandindo sua espada contra aquelas adagas voadoras. Ao mesmo tempo, tateando
desesperadamente em seu cinto, Roméia encontra sua própria adaga – à qual a
feiticeira não detectara, por ser pequena – e a brande, abrindo a lateral do crânio
de outro homem de barro e fazendo-o cair despedaçado ao chão.
Saltando para os pontos mais altos das ruínas, a jovem aldeã é
perseguida por outra daquelas criaturas, a qual salta como um macaco atrás
dela. Não menos ágil, contudo, é o cimério que persegue a criatura até
alcançá-la. Esta investe contra Conan, o qual se esquiva, fazendo-a cair a
vários metros de altura até ela se despedaçar ao chão. Outro daqueles seres
aparece, tentando atacar o bárbaro, mas este se livra da criatura, com uma
estocada em sua boca-do-estômago.
Perseguida por outra criatura de barro, Roméia cai de uma estrutura de
madeira apodrecida para o segundo andar das ruínas, e só não é atacada pelo ser
inumano, porque este sofre a mesma queda, mas não resiste, desintegrando-se
como todos os outros. Conan aparece naquele exato momento e fica aliviado em
ver que a loira que o acudira passa bem, apesar dos arranhões. Entretanto, mais
outra das criaturas surge rapidamente da lama seca lá embaixo, e salta até o
local onde o casal se encontra. Investindo de punhal na mão, o ser é
desintegrado ao ser partido em dois pela espada selvagem de Conan.
No momento seguinte, a feiticeira invoca um novo vento gélido que
empurra o cimério para trás. Quando aquele furacão sobrenatural adquire forma
humana e está prestes a rasgar a garganta do cimério, uma punhalada da aldeã
brituniana – a qual se aproveitara da distração da mulher para descer das ruínas
e se aproximar sorrateiramente dela – pelas costas põe fim à vida da feiticeira
e, conseqüentemente, à sua perversa magia. O vento maligno pára e Conan, se
contorcendo em pleno ar como um felino, cai de pé sobre o chão.
No momento seguinte, contudo, a aldeã se sobressalta por uma fração de
segundo, ao ver o jovem bárbaro lançar a espada em sua direção. O alvo,
entretanto, não era a bela garota seminua, mas o último dos bandoleiros, o qual
havia tentado agarrá-la pelas costas, e que agora cai para trás, com a garganta
trespassada e o sangue a lhe escorrer do pescoço musculoso para o peito, e da
boca para a barba.
O cimério e Roméia trocam sorrisos de alívio e gratidão e, em seguida,
mais um olhar de desejo, um abraço e beijos longos, ferozes, molhados e ardorosos.
O nascer do sol ainda é uma insinuação no horizonte leste. O retorno da jovem
loira à sua casa pode esperar... Neste momento, entre beijos recíprocos a se
espalharem por desnudos corpos suados, o jovem casal transforma aquelas ruínas
de horror e morte num enorme ninho de prazer.
Epílogo:
Ciente de que ouro e jóias são o principal meio de uma pessoa se manter
no mundo “civilizado”, o adolescente cimério leva, daquelas ruínas, o máximo
possível de riquezas, antes de se despedir da jovem à qual salvara – e
vice-versa – e dividi-las com ela, para que a moça possa, no mínimo, consertar
a porta arrombada de sua casa.
Lembrando-se das histórias sobre as riquezas nas cidades da Nemédia,
contadas pelo falecido avô, Conan se dirige para lá – gastando parte da sua
fortuna no caminho, com comida, bebidas, roupas, mulheres e dormidas em
estalagens, até atravessar a fronteira. O bárbaro não gostou da experiência
quase fatal que tivera na Britúnia, com a magia daquela bruxa, e espera uma boa
acolhida nas cidades nemédias, de clima mais ameno.
A seguir:
Aztrias Petanius.