Eons Negros (fragmento)

(por Robert E. Howard)


Sob a luz intensa do sol, destacada no quente céu azul, operários nativos suavam e labutavam. A cena era um camafeu de desolação – céu azul e areia amarelo-alaranjada, se estendendo até a linha do céu em todas as direções, mal atenuada por uma orla de palmeiras que marcavam um oásis próximo. Os homens pareciam formigas marrons naquela imensidão banhada pelo sol e marcada por uma estranha cúpula cinza, meio escondida nas areias. Seus empregadores ajudavam com instruções e mãos prontas.

Allison era robusto e sólido, de barba negra; Brill era alto, magro e forte, com um bigode ruivo e frios olhos azuis. Ambos tinham o aspecto duro e bronzeado de homens que haviam passado boa parte de suas vidas em terras estrangeiras.

Allison sacudiu as cinzas de seu cachimbo, no calcanhar da bota:

- Bem, e quanto a ela?

- Está falando daquela aposta idiota? – Brill olhou para ele, surpreso – É disso que está falando?

- Sim. Aposto meu melhor revólver de seis balas contra sua sela, que nós não encontraremos um egípcio nesta tumba.

- O que você espera encontrar? – perguntou Brill ironicamente – Um sheik local? Ou talvez um rei hicso? Admito que isso é diferente de qualquer coisa do tipo, que eu já tenha visto antes, mas sabemos, pela sua aparência de idade, que antecede o domínio turco e semita no Egito... é certamente mais antigo que os próprios hicsos. E, antes deles, quem estava no Egito?

- Acho que saberemos, depois que saquearmos esta tumba. – respondeu Allison, com certa severidade em sua maneira.

Brill riu:

- Pretende me dizer que acredita haver aqui uma raça anterior aos egípcios, civilizada o bastante para construir uma tumba como esta? Suponho que você ache que eles construíram as pirâmides!

- Eles construíram. – foi a imperturbável resposta.

Brill riu novamente:

- Agora você está tentando zombar de mim.

Allison olhou curiosamente para ele:

- Já leu o Unaussprechlichen Kulten?

- Que diabo é isso?

- Um livro chamado Cultos Sem Nome, por um alemão louco chamado Von Junzt... pelo menos, diziam que era louco. Dentre outras coisas, ele escreveu sobre uma era, à qual jurava ter descoberto... uma era inimaginada por pessoas modernas... uma espécie de ponto cego da história. Ele a chamava de Era Hiboriana. Já estimamos o que veio antes e o que veio depois, mas a era propriamente dita foi um espaço em branco... sem lendas, sem crônicas; apenas uns poucos nomes dispersos, os quais vieram a ser aplicados com outros sentidos.

“É nossa falta de conhecimento sobre sua era que perturba nossos cálculos, e nos faz rebaixar a Atlântida a um mito. É isto o que Von Junzt diz: que, quando a Atlântida, a Lemúria e outras nações daquela época foram destruídas por um violento cataclismo... exceto por remanescentes dispersos aqui e ali... o continente hoje conhecido como África ficou intocado, embora estivesse conectado aos outros continentes. Uma tribo de selvagens fugiu para o Círculo Ártico, para escapar dos vulcões, e finalmente evoluiu até uma raça conhecida como hiborianos. Estes alcançaram um alto nível de civilização, e dominaram a parte ocidental do mundo, com exceção desta parte. Uma raça pré-cataclísmica viveu aqui, conhecida como stígios. Foi deles que surgiu a lenda grega da Stygia; o Nilo era o Styx das fábulas. Os hiborianos nunca foram capazes de invadir a Stygia, e finalmente, eles próprios foram destruídos por ondas de bárbaros do norte – nossos próprios ancestrais. Na Stygia, as classes dominantes eram de sangue puro, mas as classes mais baixas eram misturadas – sangue stígio, semita e hiboriano.

“Durante a migração dos bárbaros para o sul, uma tribo de nórdicos ruivos abriu à força seu caminho para o sul, derrotou o antigo regime e se estabeleceu como classe dominante, sendo finalmente absorvida por seus súditos; daqueles aventureiros e das classes baixas mestiças, vieram os egípcios. Foram os stígios que construíram as pirâmides e a Esfinge. E, se não estou errado, um deles jaz dentro daquela pilha de alvenaria”.



Tradução: Fernando Neeser de Aragão.

Agradecimento especial: Ao howardmaníaco Karoly Mazak, da Hungria, membro do site “The REH Forum” (www.conan.com/invboard).
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