Hawk de Basti

(por Robert E. Howard)


- Solomon Kane!

Os galhos entrelaçados das grandes árvores se erguiam em enormes arcos, várias dezenas de metros acima da terra coberta de musgo, dando uma meia-luz gótica por entre os troncos gigantes. Seria isto magia negra? Quem, nesta terra pagã e esquecida, de mistérios sombrios, quebrou o silêncio meditativo para gritar o nome de um estranho andarilho?

Os olhos frios de Kane perambularam entre as árvores; uma esguia mão de ferro se fechou sobre o bastão entalhado, de ponta afiada, que ele carregava; a outra pairou próximo às longas pistolas de pederneira que usava.

Então, uma figura bizarra saiu das sombras. Os olhos de Kane se arregalaram levemente. Era um homem branco e estranhamente vestido. Uma tanga de seda era sua única roupa, e ele usava sandálias estranhas nos pés. Braceletes de ouro, e uma pesada corrente dourada ao redor de seu pescoço, aumentavam a barbaridade de sua aparência, bem como as argolas em forma de arco nas suas orelhas. Mas, embora os outros ornamentos fossem de feitio curioso e não-familiar, as argolas eram como as que Kane havia visto centenas de vezes nas orelhas de marinheiros europeus.

O homem estava arranhado e machucado, como se houvesse corrido temerariamente através de florestas espessas; havia cortes superficiais nos seus membros e corpo, os quais nenhum espinho ou sarça poderia ter feito. Em sua mão direita, ele segurava uma curta espada curva, tingida com um vermelho sinistro.

- Solomon Kane, pelos uivantes cães-de-caça do inferno! – exclamou este homem, arregalando os olhos em espanto, enquanto se aproximava do inglês que o encarava – Passe-me por baixo da quilha da embarcação de Satã, mas você me assustou! Pensei que eu fosse o único homem branco por mil milhas!

- Eu havia pensado o mesmo de mim. – respondeu Kane – Mas não lhe conheço.

O outro riu asperamente.

- Não me espanto por esse motivo. – ele disse – Talvez eu mal me reconhecesse se, subitamente, encontrasse a mim mesmo. Bem, Solomon, meu sóbrio cortador de gargantas, já faz muitos anos desde que olhei para esse seu rosto sombrio, mas eu o reconheceria até em Hades. Vamos, você já esqueceu os bravos e velhos dias, quando pilhamos os nobres espanhóis, dos Açores até Darien, e depois novamente, em sentido contrário? Sabre de abordagem e carnificina! Pelos ossos dos santos, que profissão sangrenta a nossa! Você não esqueceu Jeremy Hawk!

O reconhecimento brilhou nos olhos frios de Kane, como uma sombra que passa pela superfície de um lago congelado.

- Eu me lembro, embora não houvéssemos navegado no mesmo navio. Eu estava com Sir Richard Grenville. Você navegava com John Bellefonte.

- Sim! – gritou Hawk com uma praga – Eu daria a coroa que perdi, para viver aqueles dias novamente! Mas Sir Richard está no fundo do mar, e Bellefonte no inferno; e muitos dos nossos destemidos camaradas estão acorrentados, ou alimentando os peixes com boa carne inglesa. Diga-me, meu assassino melancólico, a boa Rainha Bess ainda governa a velha Inglaterra?

- Já faz muitas luas desde que deixei nossas praias nativas. – respondeu Kane – Ela se sentava firmemente em seu trono, quando naveguei.

Ele falava de forma ríspida, e Hawk o encarava curiosamente:

- Você nunca amou os Tudors, hein, Solomon?

- A irmã dela perseguiu minha gente como se fossem animais de caça. – Kane respondeu asperamente – Ela própria também; enganou e traiu o povo de minha confiança... mas isso não importa agora. O que faz aqui?

Kane percebeu que Hawk, de vez em quando, virava a cabeça e olhava para trás, na direção da qual havia chegado, numa atitude de escuta atenta, como se na expectativa de uma perseguição.

- É uma longa história. – ele respondeu – Contarei brevemente... você sabe que não há boas palavras entre Bellefonte e outros dos capitães ingleses...

- Ouvi dizer que ele não se tornou mais que um pirata comum. – disse Kane rudemente.

Hawk abriu um perverso sorriso largo.

- Ora, é o que dizem. De qualquer modo, navegamos para o alto-mar e, pelos olhos de Satã, vivemos como reis entre as ilhas, pilhando o ouro e prata dos navios e os tesouros dos galeões. Então, veio um navio espanhol de guerra e nos perseguiu violentamente. Uma terrível bala de canhão mandou Bellefonte para seu amo, o Diabo; e eu, o primeiro-imediato, me tornei capitão. Foi um velhaco francês, chamado La Costa, que se opôs a mim... bom, eu enforquei La Costa no mastro principal, e navegamos para o sul. Finalmente escapamos do navio de guerra e nos dirigimos para a Costa dos Escravos, até um carregamento de marfim negro. Mas nossa sorte foi embora com Bellefonte. Encalhamos num banco de areia e, quando as névoas clarearam, 100 canoas de guerra, cheias de demônios nus e uivantes, estavam se aglomerando ao nosso redor.

“Lutamos durante a metade de um dia e, quando os expulsamos, estávamos com metade de nossos homens mortos, e o navio pronto para sair do banco de areia onde encalhou e afundar sob nossos pés. Só havia duas coisas a serem feitas: irmos ao mar em botes despedaçados, ou irmos para a praia. E só havia um bote, ao qual os bombardeios do navio de guerra não haviam destruído. Alguns da tripulação se aglomeraram dentro dele e, da última vez que os vimos, eles remavam para oeste. O resto de nós chegou à praia em jangadas.

“Pelos deuses de Hades! Era loucura... mas o que mais poderíamos fazer? As selvas estavam apinhadas de selvagens sedentos de sangue. Marchamos para norte, na esperança de acharmos algum barracão de escravos, mas eles nos expulsaram e fomos forçados a virarmos diretamente para leste. Lutávamos por cada passo de nosso caminho; nosso bando se desfez, como névoa diante do sol. Lanças, animais selvagens e serpentes venenosas cobraram seu pedágio medonho. Por fim, enfrentei sozinho a selva que havia engolido todos os meus homens. Escapei dos nativos. Por meses, viajei sozinho, porém armado, nesta terra hostil. Finalmente, alcancei as margens de um grande lago, e vi os muros e torres de um grande reino que se erguia diante de mim”.

Hawk riu ferozmente:

- Pelos ossos dos santos! Isto soa como um conto de Sir John Mandeville! Encontrei um povo estranho sobre as ilhas... e uma raça curiosa e perversa que as governava. Eles nunca antes tinham visto um homem branco... em minha juventude, eu perambulei ao redor de um bando de ladrões que disfarçavam sua verdadeira natureza através de prestidigitações e malabarismos. Pela eficácia da minha habilidade em prestidigitar ao meu alcance, impressionei o povo. Eles me viram como um deus... todos, menos o velho Agara, sacerdote deles... e ele não conseguia explicar minha pele branca.

“Fizeram de mim um talismã, e o velho Agara se ofereceu para fazer de mim um alto sacerdote. Eu pareci me submeter e aprendi muitos de seus segredos. Temi o velho abutre, a princípio, pois ele era capaz de fazer uma magia que faria a minha prestidigitação parecer infantil... mas o povo estava totalmente encantado por mim.

“O lago se chama Nyayna; as ilhas sobre ele são chamadas as Ilhas de Ra, e a ilha principal é chamada de Basti. A classe dominante se chama khabasti, e os escravos são chamados de masutos.

“A vida destes últimos é deveras infeliz. Não têm vontade própria, exceto os desejos de seus amos cruéis. São mais brutalmente tratados que os índios de Darlen pelos espanhóis. Já vi mulheres chicoteadas até a morte, e homens crucificados pela mais leve das faltas. O culto dos khabastis é obscuro e sombrio, trazido com eles de alguma terra repugnante da qual vieram. No grande altar do templo da Lua, a cada semana, uma vítima uivante morre sob a adaga do velho Agara... sempre o sacrifício de um masuto, um jovem forte ou uma virgem. Isso nem é o pior... antes da adaga aliviar o sofrimento, a vítima é aleijada de formas horrendas de se mencionar. A Santa Inquisição empalidece diante das torturas infligidas pelos sacerdotes de Basti; mas a arte deles é tão infernal, que a criatura sem língua, decepada, cega e esfolada vive até a estocada final da adaga mandá-lo – ou mandá-la – para além do alcance dos demônios torturantes”.

O olhar dissimulado de Hawk mostrou a ele que intensos fogos vulcânicos começavam a arder friamente nos olhos estranhos de Kane. Sua expressão ficou mais sombriamente pensativa do que nunca, quando gesticulou para que o bucaneiro continuasse.

- Nenhum inglês é capaz de assistir às agonias diárias e impiedosas dos pobres infelizes. Tornei-me defensor deles assim que aprendi sua linguagem, e tomei partido dos masutos. Então, o velho Agara teria me matado, mas os escravos se rebelaram e mataram o demônio que ocupava o trono. Então, eles me suplicaram para ficar e governá-los. Eu o fiz. Sob meu governo, Basti prosperou... tanto os masutos quanto os khabastis. Mas o velho Agara, que havia escapulido para algum esconderijo, estava trabalhando nas sombras. Ele conspirou contra mim e, finalmente, chegou até a jogar muitos dos masutos contra seu libertador. Pobres tolos! Ontem, ele saiu em local aberto e, numa batalha pesada, as ruas da antiga Basti ficaram vermelhas. Mas o velho Agara triunfou com sua magia maligna, e muitos dos meus partidários foram mortos. Nós fugimos em canoas para uma das ilhas menores, e lá eles caíram sobre nós, e novamente perdemos a luta. Todos os meus adeptos foram mortos ou levados... e Deus ajude aos que foram levados vivos!... só eu escapei. Eles têm me caçado como lobos desde então. Agora mesmo, eles continuam me perseguindo. Não irão descansar até me matarem, se eles tiverem primeiro que me seguir através do continente.

- Então, não deveríamos perder tempo conversando. – disse Kane, mas Hawk sorriu friamente.

- Não... no momento em que lhe vislumbrei através das árvores, e percebi que por algum estranho capricho do Destino eu havia encontrado um homem de minha própria raça, vi que mais uma vez devo usar o diadema dourado e incrustado de jóias, que é a coroa de Basti. Deixe-os chegarem... iremos encontrá-los.

“Ouça, meu corajoso puritano: o que eu fiz antes, eu fiz desarmado, por simples artimanha improvisada. Se eu tivesse uma arma de fogo, eu seria governante de Basti neste momento. Eles nunca ouviram falar em pólvora. Você tem duas pistolas... é o suficiente para fazer de nós reis por mais doze vezes... mas, bem que você poderia ter um mosquete”.

Kane encolheu os ombros. Era desnecessário contar a Hawk sobre a batalha demoníaca na qual seu mosquete fora despedaçado; naquele momento, ele se perguntava se aquele episódio medonho não havia sido uma visão de delírio.

- Tenho armas – ele disse –, embora meu suprimento de pólvora e bala esteja limitado.

- Três tiros nos colocarão no trono de Basti. – disse Hawk – Então, meu bravo amigo, vai se arriscar com um velho camarada?

- Vou lhe ajudar em tudo que estiver ao meu alcance. – Kane respondeu sombriamente – Mas não desejo nenhum trono terreno de orgulho e futilidade. Se trouxermos paz a uma raça sofredora e punirmos homens perversos por sua crueldade, é o suficiente para mim.

Eles dois formavam um estranho contraste, de pé na penumbra da grande floresta tropical. Jeremy Hawk era tão alto quanto Solomon Kane; e, como ele, era forte e de membros longos... de aço duro e flexível como ossos de baleia. Mas onde Solomon era moreno, Jeremy Hawk era loiro. Agora ele estava levemente bronzeado pelo sol, e seus emaranhados cachos amarelos lhe caíam sobre sua testa alta e estreita. Seu maxilar, coberto por uma barba amarela, curta e áspera, era magro e agressivo; o fino talho de sua boca era cruel. Seus olhos cinzas eram brilhantes e inquietos, cheios de cintilações ferozes e luzes mutáveis. Seu nariz era fino e aquilino, e todo o rosto parecia o de uma ave de rapina. Ele se erguia levemente curvado para a frente, em sua atitude habitual de impaciência feroz, quase nu e segurando firmemente a espada ensangüentada.

Encarando-o, estava Solomon Kane, igualmente alto e forte, com suas botas desgastadas, roupas esfarrapadas e desalinhado chapéu sem pluma, cingido com pistolas, uma espada estreita de dois gumes e uma adaga; e com sua bolsa de pólvora e balas pendurada ao cinto. Não havia qualquer insinuação de semelhança entre o selvagem e indiferente rosto de falcão do bucaneiro e as feições sombrias do puritano, cuja sombria palidez tornava seu rosto quase cadavérico. Mas percebia-se a mesma qualidade na flexibilidade de tigre do pirata e na aparência lupina de Kane. Estes dois homens nasceram nômades e matadores, amaldiçoados com um impulso paranóico de viagens, que os queimava como fogo inapagável e nunca lhes dava descanso.

- Dê-me uma de suas pistolas – exclamou Hawk –, e metade de sua pólvora e balas. Eles logo estarão sobre nós... por Judas, não iremos esperá-los! Vamos ao encontro deles! Deixe tudo comigo... um tiro, e eles cairão e nos adorarão. Venha! E, enquanto andamos, me conte como chegou até aqui.

- Perambulei por muitas luas. – disse Kane, meio relutante – Por que estou aqui, não sei... mas a selva me chamava através de muitas léguas de mar azul, e eu vim. Sem dúvida, a mesma Providência que tem me guiado os passos por todos os meus anos, me trouxe para cá pelo mesmo propósito, ao qual meus olhos fracos ainda não enxergaram.

- Você carrega um bastão estranho. – disse Hawk, enquanto eles caminhavam a passos largos e balouçantes sob os enormes arcos.

Os olhos de Kane vagaram até o bastão em sua mão direita. Era tão longo quanto uma espada, duro como ferro e afiado na extremidade menor. A outra extremidade era esculpida na forma de uma cabeça de gato, e todo o bastão tinha estranhas linhas onduladas e estranhos entalhes.

- Não duvido que seja apenas mais um objeto de magia negra e feitiçaria. – disse Kane sombriamente – Mas, no passado, triunfou poderosamente contra seres das trevas, e é uma arma agradável. Foi dada para mim por uma estranha criatura... N’Longa, um feiticeiro da Costa dos Escravos, a quem eu vi realizar façanhas sem nome e não religiosas. Mas, por baixo de sua selvagem pele enrugada, bate o coração de um homem de verdade, não tenho dúvidas. Ouça!

Hawk parou, subitamente enrijecido. À frente deles, soava o caminhar de muitos pés calçados em sandálias – fraco como um vento nos topos das árvores, embora, com ouvidos tão aguçados quanto os de cães de caça, tanto ele quanto seu companheiro o ouvissem e interpretassem.

- Há uma clareira logo adiante. – disse Hawk, sorrindo selvagemente – Vamos esperá-los lá...

E assim, Kane e o ex-rei de Basti ficaram plenamente visíveis em um dos lados da clareira, quando 100 homens surgiram abruptamente do outro lado, como um bando de lobos sobre rastros recentes. Eles pararam, assombrados e repentinamente sem fala, ao verem aquele que estava fugindo por sua vida, e que agora os encarava com um sorriso cruel e zombeteiro – e ao verem seu companheiro silencioso.

Quanto a Kane, ele os encarava, surpreso. Metade deles eram negros, atarracados e robustos, com os peitos cilíndricos e pernas curtas de homens que passavam a maior parte de suas vidas em canoas. Estavam nus e armados com lanças pesadas. Foram os outros que prenderam a atenção do inglês. Eram homens altos e bem-formados, cujas feições regulares e lisos cabelos negros mostravam pouco traço de sangue negróide. A cor deles era um marrom acobreado, variando de um bege avermelhado claro até um bronze intenso. Seus rostos eram francos e não eram desagradáveis. Suas vestes consistiam apenas em tangas de seda e sandálias. Em suas cabeças, muitos usavam um tipo de elmo feito de bronze, e cada um trazia no braço esquerdo um pequeno escudo redondo de madeira, reforçado com couro endurecido e pregos de bronze. Suas armas eram espadas curvas, semelhantes à usada por Hawk, maças de madeira polida e leves machados de batalha. Alguns carregavam arcos pesados, de poder evidente, e aljavas com longas flechas farpadas.

E ocorreu violentamente a Solomon Kane a idéia de que já tinha visto homens muitos parecidos com estes, ou desenhos de homens como eles. Mas ele não sabia dizer. Eles pararam no meio da clareira, para olharem incertos para os dois brancos.

- Bom – disse Hawk, zombeteiramente –, vocês encontraram seu rei... esqueceram seus deveres para com seu governante? Ajoelhem-se, cães!

Um jovem e bem-constituído guerreiro, à frente dos homens, falou irascivelmente, enquanto Kane se sobressaltava ao perceber que entendia a linguagem. Era muito semelhante aos numerosos dialetos bantus, muitos dos quais Kane havia aprendido em suas viagens, embora algumas das palavras lhe fossem ininteligíveis e tivessem um travo de estranha antigüidade.

- Assassino de mãos ensangüentadas! – exclamou o jovem, com as bochechas escuras se ruborizando de ódio – Você ousa zombar de nós? Não sei quem é este homem, mas nossa contenda não é com ele. É a sua cabeça que nós levaremos conosco para Agara. Peguem-no...

Sua própria mão recuou, junto com a azagaia que trazia, e naquele instante, Hawk apontou cuidadosamente e atirou. A pistola de pesado calibre fez um estrondo ensurdecedor, e na fumaça, Kane viu o jovem guerreiro cair como um cão. O efeito sobre os restantes era exatamente o que Kane havia visto em selvagens de muitas outras terras. Suas armas escorregaram de mãos imóveis, e eles ficaram congelados, de boca aberta como crianças assustadas. Alguns dos guerreiros gritaram e caíram de joelhos, ou estirados sobre os rostos.

Os olhos arregalados de todos foram puxados, como que por um ímã, para o silencioso cadáver. A curta distância, a bala pesada havia literalmente despedaçado o crânio do jovem e lhe explodido os miolos. E, enquanto os camaradas deles ficavam como ovelhas, Hawk golpeou enquanto o ferro ainda estava em brasa.

- Desçam, cães! – ele gritou, de forma estridente, batendo nos joelhos de um guerreiro com um tapa – Será que devo soltar os trovões da morte sobre todos vocês, ou irão me receber novamente como seu legítimo rei?

Aturdidos e com as mentes entorpecidas, os guerreiros caíram ajoelhados; alguns se retorceram, prostrados sobre as barrigas, e choramingaram. Hawk pôs o calcanhar sobre o pescoço do guerreiro mais próximo, e sorriu selvagem e triunfantemente para Kane.

- Levantem-se. – disse ele com um chute desdenhoso – Mas ninguém esqueça que eu sou o rei! Retornareis para Basti e lutareis por mim, ou morrereis todos aqui?

- Lutaremos por você, mestre. – responderam em coro.

Hawk sorriu novamente.

- Retomar o trono é mais fácil do que eu mesmo pensei. – disse ele – Levantem-se agora... e deixem esta carniça no lugar onde caiu. Sou o rei de vocês, e este é Solomon Kane, meu camarada. Ele é um terrível feiticeiro, e se tentarem me matar... eu, que sou imortal... ele apagará todos da existência.

Homens são como ovelhas, pensou Solomon, ao ver os guerreiros de ambas as facções se arrumando pacificamente, de acordo com as ordens de Hawk. Formavam filas curtas, com três lado a lado, e no centro caminhavam Kane e Hawk.

- Não tema uma lança nas costas. – disse o bucaneiro para Kane – Eles estão intimidados... vê o olhar atordoado deles? Mas fique de guarda.

Então, chamando um homem que tinha a aparência de um chefe, ordenou para que este andasse entre ele e Kane.



Tradução: Fernando Neeser de Aragão.

Fonte: http://arthursclassicnovels.com/arthurs/howard/hawbi10.html
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