Com o rugido de um cimério em fúria e a precisão da pena de um escriba, eu forjo esta crônica sobre a saga da Espada & Feitiçaria nas páginas das histórias em quadrinhos. Ouve o som do nanquim a encontrar o papel, tão afiado quanto o de uma lâmina!
Se a Espada & Feitiçaria nasceu nas páginas amareladas das revistas pulp, foi nos painéis vibrantes das histórias em quadrinhos que o gênero encontrou seu corpo visual, sua forma mais dinâmica e, para muitos, sua mais icônica representação. A arte sequencial, com sua capacidade de capturar movimento, impacto e a grandiosidade silenciosa de cenários fantásticos, provou ser o meio perfeito para traduzir a brutalidade crua e a maravilha sombria das crônicas de Robert E. Howard e seus pares. E no centro deste panteão de nanquim, um bárbaro de cabelos negros reina supremo: Conan, o Cimério.
A Era de Bronze na Marvel: Onde a Lenda Ganhou Músculos
Nos anos 70, a Marvel Comics, sob a liderança visionária de Roy Thomas, ousou apostar em algo diferente dos super-heróis que dominavam o mercado. Em 1970, Conan the Barbarian #1 chegou às bancas, e o mundo dos quadrinhos nunca mais foi o mesmo. Esta fase inicial é definida por dois titãs artísticos que, embora diferentes, foram igualmente essenciais para moldar a imagem do bárbaro.
Barry Windsor-Smith (A Beleza Arcana): O primeiro artista a dar um rosto a Conan na Marvel, Windsor-Smith trouxe um estilo detalhado, quase psicodélico e com influências da Art Nouveau. Sua arte era intrincada, elegante e cheia de uma energia selvagem e ornamental. Ele não desenhava apenas um bárbaro; ele ilustrava um mundo de maravilhas perigosas e beleza esquecida. Sua adaptação de "Pregos Vermelhos" (Red Nails) é considerada uma obra-prima, uma sinfonia visual de claustrofobia e violência.
John Buscema (A Fúria Encarnada): Se Windsor-Smith foi a alma artística, John Buscema foi o coração pulsante. Assumindo o lápis principal, Buscema definiu Conan para gerações. Seu estilo era pura força e dinamismo. Seus músculos eram mais pronunciados, seus movimentos mais explosivos, sua fúria mais palpável. Buscema desenhou um Conan que parecia ter sido esculpido em rocha e raiva. Sua longa passagem pelo título principal e, mais notavelmente, pela revista em preto e branco Savage Sword of Conan (A Espada Selvagem de Conan), solidificou a imagem do bárbaro como um titã de poder inigualável. A Savage Sword, em seu formato magazine, permitia mais violência, temas adultos e uma fidelidade maior à prosa sombria de Howard, tornando-se a publicação definitiva do personagem para muitos fãs.
Além da Ciméria: Outros Heróis em Nanquim
O sucesso de Conan abriu as portas para outros heróis da Espada & Feitiçaria. Kull da Atlântida, o próprio precursor de Conan, ganhou suas próprias séries. A guerreira Red Sonja, embora apenas vagamente baseada em uma personagem de Howard, tornou-se um ícone por direito próprio. Até mesmo o Elric de Michael Moorcock, com sua melancolia e sua espada demoníaca, encontrou um lar temporário nas páginas da Marvel, provando a força do gênero.
A Era Dark Horse: Fidelidade e um Novo Realismo
No início dos anos 2000, a licença de Conan mudou-se para a Dark Horse Comics, que iniciou uma nova era para o personagem. A abordagem aqui foi diferente: um foco renovado na adaptação fiel das histórias originais de Howard, organizadas em ordem cronológica. O artista Cary Nord, que liderou a fase inicial, trouxe um estilo mais moderno e "sujo". Seu Conan era menos um super-herói musculoso e mais um sobrevivente calejado, coberto de cicatrizes e poeira. Esta fase foi aclamada pela crítica por seu respeito ao material de origem e por apresentar o cimério a uma nova geração de leitores.
O Cenário Atual no Brasil: Um Banquete de Aço e Nanquim
Para a felicidade dos fãs brasileiros, a Era Hiboriana nunca esteve tão bem servida. Diversas editoras têm garantido que tanto o material clássico quanto o moderno cheguem às nossas mãos com qualidade primorosa.
Pipoca & Nanquim: Esta editora tornou-se uma referência para os fãs de Conan. Além de publicar a coleção definitiva dos contos originais de Howard em prosa, eles são responsáveis pela aclamada série europeia da editora Glénat, que traz artistas renomados para adaptar contos específicos do cimério, como "A Torre do Elefante" e "A Cidadela Escarlate", em álbuns de luxo.
Mythos Editora: Com uma longa história de publicação de Conan no Brasil, a Mythos continua a ser um pilar para os fãs. Eles são os responsáveis pelos encadernados "Omnibus" da fase Dark Horse, compilando essa era importante em volumes robustos. Além disso, publicam materiais da fase mais recente da Marvel, garantindo que o leitor brasileiro tenha acesso a todas as facetas do personagem.
Panini Comics: Como a casa atual da Marvel, a Panini também tem um papel crucial. A editora publica as novas aventuras de Conan em seu retorno à Marvel, incluindo a nova série de A Espada Selvagem de Conan e o título mensal Conan, o Bárbaro, mantendo o público atualizado com as mais recentes sagas do cimério.
Iniciativas Nacionais: O espírito da Espada & Feitiçaria também floresce em solo nacional. A revista Crônicas Hiborianas, da Fantastic Hub, é um exemplo brilhante. Com roteiros do especialista Marco Collares e arte de lendas como Mozart Couto, a revista busca recriar a sensação das publicações clássicas em preto e branco, entregando histórias inéditas e autorais do bárbaro com um profundo respeito pelo material original. Outras publicações, como a antologia "Espada & Feitiçaria - HQ/Contos" da editora Tábula, também reúnem artistas e escritores brasileiros para criar novas histórias dentro do gênero, mostrando a força e a vitalidade da cena local.
O Retorno à Casa das Ideias e o Futuro
Globalmente, Conan retornou à Marvel, que lançou novas séries de Conan the Barbarian e Savage Avengers, onde o bárbaro interage com o universo de super-heróis, para o deleite e a fúria de diferentes facções de fãs.
Paralelamente, o espírito da Espada & Feitiçaria prospera na cena independente. Publicações como a já mencionada Tales from the Magician's Skull e inúmeros projetos financiados coletivamente mostram que a demanda por aventuras brutais e magia perigosa continua forte. A arte sequencial, seja em preto e branco ou em cores vibrantes, continua a ser o campo de batalha perfeito para estes heróis.
Conclusão
Dos traços elegantes de Windsor-Smith à força explosiva de Buscema e à crueza moderna de Nord, os quadrinhos não apenas adaptaram as histórias de Espada & Feitiçaria, mas as expandiram, deram-lhes um rosto e um corpo visual. Eles provaram que a fúria de um bárbaro, a beleza terrível de uma ruína antiga e o brilho sinistro de um feitiço podem ser capturados com uma força única na dança silenciosa entre os painéis. E graças ao trabalho dedicado de editoras como Pipoca & Nanquim, Mythos, Panini e iniciativas independentes como a Fantastic Hub, essa saga em nanquim continua mais viva e acessível do que nunca para o público brasileiro.