Poemas Diversos

(por Robert E. Howard)


Jovem Sonho de Amor

Vi a maligna luz vermelha brilhar
Acima da porta do prostíbulo;
Entrei como um sonho
E subi a escada mais uma vez.

Senti o mau cheiro de homens peludos.
De suor, fumaça e cerveja,
E, atravessando a algazarra esfumaçada,
A risada vazia dela se ergueu clara.

Fiquei dentro da sala desarrumada
Que se abria para o salão;
Vi os frascos de perfume barato
E as gravuras na parede.

O chapéu dela foi lançado numa cadeira quebrada,
Havia um casaco no chão;
Cigarros baratos nauseavam o ar
Que se infiltrava pela porta vergada.

E todos os meus sonhos afundaram até desaparecer,
Mas a garota estava lá,
A qual eu imaginara como uma donzela risonha
Com uma flor no cabelo.

A garota que eu sonhava que ela pudesse ser
Desaparece diante do que ela é.
Mas esquecerei, como todos os homens fazem,
Na alegria árida da paixão.

Pois ela corre paralela à vida –
O sonho e sua essência apodrecida –
Pois a Vida é uma prostituta saída do Inferno
Com uma luz vermelha acima de sua porta.


Canção de um Coração de Ébano

O vinho em meu copo é borra amarga,
A lua é dura e fria,
Como uma mulher que abre as pernas famintas
Por uma mancha de ouro lodoso.

Meu coração era o de um vagabundo alquebrado,
O chacal incendiou meus olhos,
Quando procurei por paz numa casa de prostituição,
E descansar nas coxas de uma meretriz.

Quando vim das silenciosas ruas da meia-noite,
Onde a chuva era fina e fresca,
Para sujar minha alma nas ruas amareladas
E tentar rasgar a carne ardente dela.

Ardente aos meus olhos, o corpo nu dela
Brilhava através de seus escuros cabelos emaranhados,
Eu era a prole da prole do chacal
Fartando-me em carne comum.

A lua está fria em meu corpo esta noite,
Eu a lacei do céu,
Ela jaz num poço de luz tremeluzente,
Dura como o olho de uma mulher.

Seus braços são brancos, mas agarram como barras.
A vela pinga agora.
Posso pregar a lua de volta sobre as estrelas,
Mas minha alma morreu há muito tempo.


Poema sem título

A sorte de uma mulher servil é dura,
Uma meretriz e uma tola.
Ela se ajoelha e choraminga para seu senhor...
Mas eu nasci para governar!
Sei que o homem não é um deus,
Reino em ouro e vermelho.
Todos os homens são vassalos diante de minha disciplina,
Meu reino é minha cama.

Eu os arrasto, astutamente, com meus encantos,
Como o chicote esfolador da paixão;
Com pernas e braços que agarram,
Arrebatei suas almas.
Sim, eu guiei mil homens,
Através das chamas de todos os Infernos.
Ri e os lancei para diante outra vez,
Conchas entorpecidas e vazias.
E já varri mais mil
Para picos de êxtase,
E os ensinei mais do que o folclore antigo,
Entre meus joelhos inquietos.

Deixe a mulher servil se ajoelhar e acariciar –
Sua fala e ações vigiadas,
E nua, se contorcer e tremer
Nos joelhos de um homem cruel.
Meus ombros nunca sentiram o castigo
Para meretriz, escrava e tola;
Sei que o homem é um deus idiota
Ao qual nasci para governar.


Uma Canção de Alegria

Eu era a amante dele, ela era sua esposa; essa era a diferença;
Ele não caminharia, para salvar minha vida, comigo no passeio.
Dignificado com seu orgulho de família, formal e bem-arrumado...
Mas, cá em cima, em minha sala – ouça, garoto, era um homem diferente!
Já vi todos os tipos de homem tocarem quando cheios de mulheres e cerveja,
Mas os tolos mais amaldiçoados são estes pássaros formais, quando tiram seus vernizes.
Então, falando para a esposa dele, ela diz:

“Ouça, queridinha: você pensa que é ardente e bem melhor que eu;
Estou bem com seu marido – dentro de meu quarto, mas não em público, vê?
Mas ouça, queridinha, somos iguais, mesmo que você seja esposa dele.
Pois ele lhe comprou exatamente como me comprou – e ele lhe comprou para a vida toda.
Havia um sujeito, um jovem esguio que te amava incrivelmente...
Mas você se casou com esse velho bastardo – diga, o que foi isso, senão uma venda?
Por que se casou com esse esquisito? Você não admitirá isso, criança.
Mas o rapaz, ele não tinha qualquer moeda, e esse velho urubu tinha.
Você amava o rapaz, sim, eu sei que amava, mas você ama mais ainda o dinheiro.
Assim, você se vendeu e é exatamente como eu, uma prostituta de cais da Berberia...”.


Desejo

Sou uma tentação loira.
Sou a risada de falsas deusas.
Ando disfarçado de Amor.
Os homens são meus escravos.
Sou uma deusa, e o mundo é meu santuário.
Sou o vento da noite
Soprando através das folhas.
Sou o luar de uma clareira oculta.
Sou a luz das estrelas
Num palácio.
Sou Desejo.




Tradução: Fernando Neeser de Aragão.
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