Nada que esteja neste artigo deve ser considerada uma tentativa de mostrar qualquer teoria oposta à história consagrada. É simplesmente um cenário fictício para uma série de histórias de ficção. Há alguns anos, quando comecei a escrever as histórias de Conan, preparei esta “história” de sua época e dos povos daquela época, com o propósito de emprestar a ele e à sua saga uma maior aparência de realidade. E descobri que, ao me ater aos “fatos” e ao espírito dessa história, ao escrever as histórias, era mais fácil visualizá-lo (e, portanto, de apresentá-lo) como uma personagem real de carne e ossos em vez de um produto acabado. Ao escrever sobre ele e sobre suas aventuras nos diversos reinos de sua Época, jamais violei os “fatos” ou o espírito da “história” aqui definidos, mas sempre segui as linhas dessa história com tanto cuidado quanto o verdadeiro escritor de ficção histórica segue as linhas da história verdadeira. Usei esta “história” como guia para todas as histórias desta série que escrevi.
(Robert E. Howard)
Pouco se sabe sobre aquela época que os cronistas nemédios conheciam como a Era Pré-Cataclísmica, com exceção da última parte, que está envolta na névoa lendária. A História conhecida começa com o declínio da civilização pré-cataclísmica, dominada pelos reinos de Kamélia, Valúsia, Verúlia, Grondar, Thule e Commoria. Esses povos falavam línguas semelhantes, indicando uma origem comum. Havia outros reinos, igualmente civilizados, mas habitados por raças diferentes e aparentemente mais antigas.
Os bárbaros daquela época eram os pictos, que viviam nas ilhas bem distantes em meio ao oceano ocidental; os atlantes, que habitavam um pequeno Continente entre as Ilhas Pictas e o Continente principal, ou o Continente Thuriano; e os lemurianos, que habitavam uma cadeia de ilhas grandes, no hemisfério oriental. Havia extensas regiões de terras inexploradas. Os reinos civilizados, embora enormes, ocupavam uma porção relativamente pequena do planeta inteiro. Valúsia era o reino situado no extremo ocidente do Continente Thuriano; Grondar, no extremo oriente. Ao leste de Grondar, cujos povos eram menos cultos do que os dos reinos aparentados, estendia-se uma série de desertos. Entre os pedaços menos áridos dos desertos, nas selvas e no meio das montanhas, viviam clãs e tribos esparsas de selvagens primitivos. Bem ao sul havia uma misteriosa civilização, sem laços com a cultura thuriana, e aparentemente de natureza pré-humana. Nas distantes praias do Leste do Continente vivia outra raça, humana, mas misteriosa e não thuriana, com a qual, de tempos em tempos, os lemurianos entravam em contato. Originavam-se provavelmente de um Continente sombrio e sem nome, situado em algum lugar a leste das Ilhas Lemurianas.
A civilização thuriana estava ruindo; seus exércitos compunham-se principalmente de mercenários bárbaros. Seus generais eram pictos, atlantes e lemurianos, assim como seus estadistas e, muitas vezes, seus reis. Havia muito mais lendas do que história precisa sobre as lutas entre os reinos e as guerras entre Valúsia e Commoria, assim como sobre as conquistas pelas quais os atlantes fundaram um reino no Continente.
Então o cataclismo sacudiu o mundo. A Atlântida e a Lemúria submergiram, e as Ilhas Pictas foram empurradas para cima, formando os picos das montanhas de um novo Continente. Partes inteiras do Continente Thuriano desapareceram sob as ondas, ou afundaram formando grandes lagos e mares interiores. Vulcões entraram em erupção e terríveis terremotos derrubaram as reluzentes cidades dos impérios. Nações inteiras foram apagadas.
Os bárbaros estavam em condições um pouco melhores do que as raças civilizadas. Os habitantes das Ilhas Pictas foram destruídos, mas uma grande colônia deles, estabelecida no meio das montanhas da fronteira sul da Valúsia para servir de anteparo contra as invasões de estrangeiros, permaneceu intacta. O reino continental dos atlantes também escapou da ruína geral, e para lá se dirigiram em navios milhares de pessoas de suas tribos, fugindo da terra submersa. Muitos lemurianos fugiram para a costa leste do Continente Thuriano, a qual permanecia relativamente intocada. Foram escravizados ali pela antiga raça que já morava no lugar, e a história deles, durante milhares de anos, é uma história de brutal servidão.
Na parte oeste do Continente, condições mutantes criaram formas estranhas de vida vegetal e animal. Selvas espessas cobriam as planícies, grandes rios cortavam seu caminho rumo ao mar, montanhas selvagens foram erguidas e lagos cobriam os destroços de velhas cidades localizadas nos vales férteis. O reino continental dos atlantes foi invadido por miríades de animais e de selvagens — homens-macaco e macacos, que fugiam das regiões submersas. Apesar de forçados a lutar constantemente por suas vidas, eles conseguiram conservar vestígios do seu adiantado estado anterior de barbárie. Destituídos de metais e de minério, eles passaram a trabalhar a pedra como seus ancestrais remotos o fizeram, e já haviam alcançaram um nível verdadeiramente artístico quando sua cultura entrou em contato com a poderosa nação picta; os pictos também haviam regredido para a pedra lascada, mas haviam avançado mais rapidamente em termos de população e da arte da guerra. Faltava-lhes a natureza artística dos atlantes, pois eles eram uma raça mais grosseira, mais prática, mais prolífica. Eles não deixaram imagens pintadas ou entalhadas em mármore, como o fizeram seus inimigos, mas deixaram uma abundância de eficientes armas de pedra lascada.
Esses reinos da idade da pedra desmoronaram e, numa série de guerras sangrentas, os atlantes, cujo número era menor, foram lançados de volta a um estado de selvageria, e a evolução dos pictos foi interrompida. Quinhentos anos depois do cataclismo, os reinos bárbaros desapareceram. Atualmente é uma nação de selvagens — os pictos — que guerreia constantemente com as tribos selvagens — os atlantes. Os pictos tinham a vantagem de serem em número maior e de se unirem, enquanto os atlantes haviam se dispersado em clãs com pouca ligação entre si. Esse era o Oeste daqueles dias.
No Leste distante, separados do resto do mundo pelo surgimento de gigantescas montanhas, e pela formação de cadeias de lagos extensos, os lemurianos estão labutando como escravos de seus antigos senhores. O extremo Sul ainda está envolto em mistério. Intocado pelo Cataclismo, seu destino ainda é pré-humano. Das raças civilizadas do Continente Thuriano, um remanescente das nações não valusianas habita entre as montanhas baixas do Sudeste — os zhemri. Aqui e ali pelo mundo espalham-se clãs de selvagens simiescos, totalmente alheios à ascensão e à queda das grandes civilizações. Mas, no extremo Norte, outros povos estão nascendo aos poucos.
Na época do cataclismo, um bando de selvagens, cujo desenvolvimento não estava muito acima do Neanderthal, fugiu para o norte para escapar da destruição. Eles encontraram os países cobertos de neve habitados somente por uma espécie de ferozes macacos-da-neve — enormes animais de pêlo branco, aparentemente nativos daquele clima. Os selvagens lutaram com eles e os baniram para além do Círculo Ártico, achando que lá pereceriam. Então, estes se adaptaram ao novo ambiente inóspito e prosperaram.
Depois que as guerras picto-atlantes haviam destruído o início daquilo que poderia ter sido uma nova cultura, outro cataclismo menor alterou mais a aparência do Continente original; deixou um grande mar interior onde outrora existira uma cadeia de lagos, separando mais ainda o Oeste do Leste; e os terremotos, as enchentes e os vulcões completaram a ruína dos bárbaros que as guerras tribais haviam começado.
Mil anos depois do cataclismo menor, o mundo ocidental é uma terra selvagem de matas, de lagos e de rios torrenciais. Entre as colinas cobertas por florestas, a noroeste, existem bandos nômades de homens-macaco, que não falam uma língua humana, não conhecem o fogo nem o uso de ferramentas. São os descendentes dos atlantes, decaídos no caos de animalidade florestal para fora da qual seus ancestrais, séculos atrás, haviam tão laboriosamente se arrastado. A sudoeste, habitam esparsos clãs de selvagens homens das cavernas decaídos, que falam uma língua mais primitiva, mas que ainda conservam o nome de pictos, termo que chegou a significar meramente seres humanos, para distingui-los dos verdadeiros animais com os quais eles disputam a vida e o alimento. É o único vínculo que têm com o estágio anterior. Nem os esquálidos pictos nem os simiescos atlantes têm qualquer contato com outras tribos ou com outros povos.
No extremo Leste, os lemurianos, rebaixados até quase o plano animalesco pela brutalidade da escravidão, insurgiram-se e destruíram seus senhores. São selvagens entre as ruínas de uma civilização estranha. Os sobreviventes dessa civilização, que haviam escapado da fúria de seus escravos, foram migrando rumo ao oeste. Eles atacam aquele misterioso reino pré-humano do Sul e derrubam-no, substituindo sua própria cultura, modificada pelo contato com a mais antiga. O reino novo se chama Stygia, e os remanescentes da nação mais antiga parecem ter sobrevivido, e até terem sido adorados, depois que a raça como um todo fora destruída.
Aqui e ali pelo mundo, pequenos grupos de selvagens mostram sinais de uma tendência ascendente; são esparsos e insignificantes. Mas no Norte, as tribos estão crescendo. Esses povos são chamados de hiborianos, ou hibori; o deus deles era Bori — algum chefe importante, a quem as lendas tornaram mais antigo ainda como o rei que os conduzira para o norte nos dias do grande Cataclismo, do qual as tribos se lembram apenas em forma de folclore distorcido.
Eles se espalharam pelo Norte e estão descendo para o sul em passos vagarosos. Até agora, ainda não entraram em contato com outra raça; suas guerras têm sido entre eles mesmos. Mil e quinhentos anos passados nas terras do Norte os tornaram uma raça de homens altos, louros, de olhos cinza, vigorosos e guerreiros, já exibindo uma natureza artística e poética bem definida. Eles ainda vivem principalmente da caça, mas as tribos do Sul têm criado gado há alguns séculos. Há uma exceção em seu completo isolamento de outras raças: um nômade, que viajara para o extremo norte, voltara com a notícia de que os desertos gelados, supostamente desabitados, eram habitados por uma grande tribo de homens simiescos, descendentes, conforme jurava, dos animais banidos das terras mais habitáveis pelos ancestrais dos hiborianos. Ele instava para que uma grande companhia de guerra fosse enviada para além do Círculo Ártico a fim de exterminar esses animais, que ele jurava que estavam evoluindo para seres humanos. Riram dele; um pequeno bando de jovens guerreiros aventureiros seguiu-o para o norte, mas ninguém voltou.
Mas as tribos dos hiborianos estavam migrando para o sul e, conforme a população crescia, o movimento deles se expandia. A época seguinte foi de andanças e de conquistas. Através da história do mundo, tribos e levas de tribos se movem e mudam de lugar num panorama sempre em mutação.
Vamos olhar para o mundo quinhentos anos mais tarde. Tribos de hiborianos louros migraram para o sul e para o oeste, conquistando e destruindo muitos clãs pequenos e sem classificação. Absorvendo o sangue das raças conquistadas, os descendentes de migrações anteriores já começaram a mostrar traços raciais modificados, e essas raças misturadas são atacadas ferozmente pelas migrações novas, de sangue mais puro, e varridas à sua frente, como uma vassoura varre imparcialmente o lixo, para se tornarem mais misturadas ainda e enredadas no lixo das raças e finais de raças.
Os conquistadores ainda não entraram em contato com as raças mais antigas. No Sudeste, os descendentes dos zhemri, recebendo o impulso do sangue novo resultante da mistura com alguma tribo não-classificada, estão começando a tentar fazer reviver uma leve sombra de sua antiga cultura. No Oeste, os simiescos atlantes estão começando a longa escalada ascendente. Eles completaram o ciclo de existência; esqueceram-se há muito tempo de sua existência anterior como seres humanos; inconscientes de qualquer outro tipo de estado, estão começando a subir, sem a ajuda nem o impedimento das memórias humanas. Ao sul deles, os pictos continuam selvagens, aparentemente desafiando as leis da Natureza por não estar progredindo nem retrocedendo. No extremo Sul sonha o antigo reino misterioso de Stygia. Nas suas fronteiras do Leste, vagueiam clãs de nômades selvagens, já conhecidos como os Filhos de Shem.
Próximo aos pictos, no extenso vale de Zingg, protegido pelas grandes montanhas, um bando de primitivos sem nome, classificado aproximadamente como parente dos shemitas, desenvolveu um sistema avançado de agricultura e de existência.
Outro fator acrescentou-se ao ímpeto da migração hiboriana. Uma tribo dessa raça descobriu o uso da pedra na construção, e assim surgiu o primeiro reino hiboriano — o reino rude e bárbaro de Hiperbórea, que teve seu início numa fortaleza rude de pedras, construída para repelir os ataques das tribos. As pessoas dessa tribo logo substituíram suas tendas de pele de cavalo por casas de pedra, de construção tosca, mas forte; e, protegidas assim, tornaram-se fortes. Há poucos fatos mais dramáticos na história do que o surgimento do reino rude e violento da Hiperbórea, cujos povos abandonaram abruptamente a vida nômade para erguer moradias de pedra bruta, cercadas por muros ciclópicos — uma raça recém-saída da idade da pedra polida que, por um golpe do destino, aprendeu os primeiros princípios grosseiros da arquitetura.
O surgimento desse reino afastou muitas outras tribos, pois, vencidos nas guerras ou se recusando a pagar tributos aos parentes que moravam em castelos, muitos clãs partiram caminhando por longas trilhas que os levaram para o outro lado do mundo. E as tribos mais ao norte já começam a ser acossadas por gigantescos selvagens loiros, não muito mais avançados que homens-macaco.
A história dos próximos mil anos é uma história da ascensão dos hiborianos, cujas tribos belicosas dominam o mundo ocidental. Reinos rudes vão tomando forma. Os invasores loiros enfrentaram os pictos, empurrando-os para as terras desertas do Oeste. A noroeste, os descendentes dos atlantes que, sem receber ajuda, passam do estado simiesco para um estado primitivo selvagem, ainda não se defrontaram com os conquistadores. No extremo Leste, os lemurianos estão desenvolvendo uma estranha semi-civilização própria. Ao sul, os hiborianos fundaram o reino de Koth, nas fronteiras daqueles países de pastores conhecidos como as Terras de Shem, e os selvagens daquelas terras, em parte através do contato com os hiborianos, em parte através do contato com os stígios que os atacaram durante séculos, estão emergindo do barbarismo. Os selvagens loiros do extremo Norte cresceram em poder e em número, fazendo com que as tribos hiborianas do Norte migrem para o sul, afugentando seus clãs parentes diante deles. O antigo reino de Hiperbórea é derrubado por uma dessas tribos, que, no entanto, conserva seu antigo nome. A sudeste da Hiperbórea, surgiu um reino dos zhemri chamado Zamora. A sudoeste, uma tribo de pictos invadiu o vale fértil de Zingg, conquistou o povo agrícola local e se estabeleceu entre eles. Essa raça misturada foi por sua vez conquistada mais tarde por uma errante tribo de Hyboris, e desses elementos misturados surgiu o reino de Zingara.
Quinhentos anos mais tarde, os reinos do mundo estão claramente definidos. Os reinos dos hiborianos — Aquilônia, Nemédia, Britúnia, Hiperbórea, Koth, Ophir, Argos, Corinthia e um reino chamado de Reino da Fronteira — dominam o mundo ocidental. Zamora fica a leste, e Zingara a sudoeste desses reinos — povos semelhantes pela pele escura e pelos costumes exóticos, mas sem outro parentesco. No extremo Sul dorme a Stygia, intocada pelas invasões estrangeiras, mas os povos de Shem trocaram o jugo stígio pelo jugo menos opressor de Koth. Os escuros senhores foram afugentados para o sul do grande rio Styx, Nilus, ou Nilo, que, correndo para o sul partindo das sombrias terras do interior, dobra quase que em ângulo reto e corre quase que rumo a oeste através das pastagens de Shem, para desaguar no grande mar. Ao norte da Aquilônia, o mais ocidental dos reinos hiborianos, estão os cimérios, selvagens ferozes, indomados pelos invasores, mas que avançam rapidamente por causa do contato com eles; são descendentes dos atlantes, agora progredindo mais estavelmente que seus antigos inimigos, os pictos, que habitam as selvas a oeste da Aquilônia.
Mais quinhentos anos e os povos hybori são proprietários de uma civilização tão viril, que o contato com ela virtualmente arranca do estágio de selvageria as tribos que toca. O reino mais poderoso é a Aquilônia, mas outros competem com ela em força e esplendor. Os hiborianos se tornaram uma raça consideravelmente mista; os mais próximos da antiga raça-raiz são os gunder da Gunderlândia, uma província setentrional da Aquilônia. Mas esta mistura não enfraqueceu a raça. Dominam supremos no mundo ocidental, embora os bárbaros das terras inóspitas estejam se fortalecendo.
Ao norte, bárbaros de cabelos dourados e olhos azuis, descendentes dos louros selvagens árticos, expulsaram as remanescentes tribos hiborianas das terras nevadas, com exceção do antigo reino da Hiperbórea, que resiste aos ataques. O país deles se chama Nordheim, e eles se dividem entre os ruivos vanires de Vanaheim e os louros aesires de Asgard.
Agora os lemurianos tornam a entrar na história como hirkanianos. Avançaram firmemente rumo ao Ocidente através dos séculos, e agora uma tribo ladeia o extremo Sul do grande mar interior — Vilayet — e estabelece o reino de Turan na costa sudoeste. Entre o mar interior e as fronteiras orientais dos reinos nativos, há uma extensão de estepes e, no extremo Norte e no extremo Sul, desertos. Os habitantes não-hirkanianos desses territórios, no Norte são pastores esparsos sem classificação; no Sul são shemitas, com um leve traço de sangue hiboriano dos conquistadores nômades. No final dessa época, outros clãs hirkanianos avançam para o oeste, ao redor das costas setentrionais do mar interior, e se chocam com os postos avançados orientais dos hiperbóreos.
Vamos dar uma olhada nos povos dessa época. Os hiborianos dominantes já não têm mais cabelo castanho-claro e olhos cinza. Estão misturados com outras raças. Há um forte traço shemita, até stígio, entre os povos de Koth, e, menos intenso, de Argos, enquanto no último caso, o cruzamento com os zíngaros foi mais extenso do que com os shemitas. Os britunianos casaram-se com os zamorianos de pele escura, e os povos do Sul da Aquilônia se misturaram com os zíngaros de pele escura até que o cabelo negro e os olhos castanhos se tornaram o tipo dominante em Poitain, a província do extremo Sul. O antigo reino da Hiperbórea é mais reservado do que os outros, mas existe bastante sangue estrangeiro nas suas veias, por causa da captura de mulheres estrangeiras — hirkanianas, aesires e zamorianas. Somente na província da Gunderlândia, onde os povos não mantêm escravos, a raça hiboriana é pura. Mas os bárbaros conservaram pura sua descendência; os cimérios são altos e fortes, com cabelo escuro e olhos azuis ou cinza. Os povos de Nordheim são de compleição semelhante, mas têm a pele branca, olhos azuis e cabelo louro-claro ou ruivo. Os pictos são do mesmo tipo que sempre foram — baixos, muito escuros, com olhos e cabelo negros. Os hirkanianos são escuros e geralmente altos e magros, embora haja um tipo atarracado, de olhos amendoados, cada vez mais comum entre eles, resultado de uma mistura com uma curiosa raça de aborígines inteligentes, embora abrutalhados, conquistada por eles entre as montanhas a leste do Vilayet, na sua migração para o oeste. Os shemitas são geralmente de estatura mediana, embora, às vezes, quando misturados com sangue stígio, sejam gigantescos, de ombros largos e fortes, com nariz adunco, olhos escuros e cabelo preto-azulado.
Os stígios são altos e bem proporcionados, escuros, de traços retos — pelo menos a classe reinante pertence a esse tipo. As classes inferiores são uma horda de oprimidos e mestiços, uma mistura de sangue negróide, stígio, shemita e até hiboriano. Ao sul da Stygia ficam os vastos reinos negros das amazonas, dos kushitas, dos atlaianos e o império híbrido de Zimbabwe.
Entre a Aquilônia e a selva picta ficam as fronteiras bossonianas, habitadas pelos descendentes de uma raça aborígene, conquistada por uma tribo de hiborianos, no início das primeiras épocas da migração hiboriana. Este povo misto jamais conquistou a civilização dos hiborianos mais puros, e foi expulso por eles até a própria orla do mundo civilizado. Os bossonianos são de estatura mediana, têm olhos castanhos ou cinza, e são mesocefálicos. Vivem principalmente da agricultura, em grandes aldeias muradas, e fazem parte do reino da Aquilônia. Suas fronteiras se estendem desde o Reino da Fronteira até o norte de Zingara, no sudoeste, formando uma barreira para a Aquilônia contra os cimérios e os pictos. São obstinados lutadores defensivos, e séculos de guerras contra os bárbaros do norte e do oeste fizeram com que eles desenvolvessem um tipo de defesa quase intransponível contra um ataque direto.
Assim era o mundo na época de Conan.
Fontes: Conan – Espada e Magia #1 e http://www.vb-tech.co.za/ebooks/Howard%20Robert%20E%20-%20Conan%2000%20-%20The%20Coming%20of%20Conan%20The%20Cimmerian%20-%20FF.txt
Agradecimento especial: Ao howardmaníaco e amigo Rogério Silvério.