Matérias e Entrevistas: Conan e as Graphic Novels

por Glenn L. Greenberg
em 07/10/2004

Matéria publicada na revista espanhola La Espada Salvaje de Conan #144, de fevereiro de 1994, com o título "Conan de las Novelas Gráficas". Tradução e notas por Ricardo Tavares Medeiros.

Quando a Marvel Comics começou seu programa de publicação de Graphic Novels, em 1982, a intenção foi, desde o início, apresentar histórias e desenhos especiais realizados pelos melhores artistas da indústria, em um formato de alta qualidade que permitiria a estes criadores exercitar seu talento além das limitações impostas pelo formato e cores do comic-book habitual. A temática destes tomos podia ser os super-heróis, a ficção científica ou a fantasia. Só era questão de tempo para que se utilizasse este formato tão especial para apresentar um dos mais importantes personagens de fantasia de todos os tempos (afinal de contas, a Marvel já vinha publicando suas aventuras desde 1970!). O personagem em questão era Conan, de Robert E. Howard.

A primeira Graphic Novel de Conan foi "A Rainha Feiticeira de Acheron"
(N. do T.: publicada pela Editora Abril em Conan em Cores 7, setembro de 1990) com roteiro de Don Kraar e desenhos de Gary Kwapisz e Art Nichols. Tanto Kraar como Kwapisz conheciam muito bem o Cimério, já que ambos estavam trabalhando naqueles tempos na série Savage Sword of Conan. Este foi um dos principais motivos do êxito de "A Rainha Feiticeira de Acheron", e a estréia de Conan como  estrela de uma Graphic Novel estava garantido.

Kraar voltou a ser responsável pelo roteiro da Graphic Novel seguinte
do Bárbaro, "O Tesouro Maldito" (N. do T.: publicada pela Editora Abril em Conan em Cores 9, novembro de 1990). Nesta ocasião formou equipe com o lendário desenhista John Severin, que deu às ilustrações um estilo vibrante, muito semelhante ao dos contos clássicos de aventura, como "O Príncipe Valente". A irmã de John, Marie, também um artista lendária por direito próprio, se encarregou de dar cor à Graphic Novel, e o resultado foi uma das histórias de Conan mais vibrantes que já se viu.

A Graphic Novel seguinte de Conan, "Conan da Ilhas" (N. do T.:
publicada pela Editora Abril em Conan em Cores 11, março de 1991), é a maior das publicadas até agora. A história de sua edição também é pouco habitual. A publicação, que se divide em três partes, não foi concebida a princípio como Graphic Novel! O organizador da obra, Roy Thomas, a muito tempo argumentista de Conan, nos explica: "O primeiro terço foi um dos Anuais de Conan, que foi publicado no início da década de oitenta. A história completa ia compor-se de três partes, que seriam publicadas em três anuais". Estes planos foram esquecidos, segundo Thomas, quando ele deixou a série de Conan e, portanto, somente a primeira parte chegou a ver a luz da imprensa. "Não sei por que motivo, a pessoa que se encarregou das histórias de Conan decidiu não publicar os demais capítulos segundo estava previsto, de maneira
que o resto da história ficou acumulando pó nos arquivos durante anos".

"Craig Anderson (o coordenador da Graphic Novel) encontrou os capítulos não publicados e gostou muito deles", segundo nos conta Thomas. Por último, a Marvel decidiu que o primeiro capítulo voltaria a ser impresso junto com os capítulos "perdidos" em uma Graphic Novel gigante, de 96 páginas. Esta Graphic Novel, adaptada do livro homônimo de L. Sprag de Camp e Lin Carter, conta a última aventura de Conan até então (N. do T.: foi feita uma malfadada seqüência desta história: "Os Necromantes de Na'at", publicada pela Editora Abril em A Espada Selvagem de Conan 161, abril de 1998). Conan, que nesse momento já completou por volta de setenta anos de idade e é rei da
Aquilônia, se lança uma última vez ao mar, em uma de suas mais importantes aventuras. A respeito do produto acabado, Thomas comenta: "Creio que o formato Graphic Novel caiu muito bem a este material".

A Graphic Novel "Conan das Ilhas" conta também com uma equipe de
desenhistas impressionante. Os três capítulos têm lápis de John Buscema e a primeira parte tem tinta de Danny Bulanadi, Ricardo Villamonte e Armando Gil. As outras duas partes (os capítulos "perdidos") foram finalizados por Dave Simons. A Graphic Novel "Conan das Ilhas" é uma autêntica referência entre os projetos de Conan, que satisfaz tanto aficionado e incondicional admirador do personagem como ao leitor casual, que só busca desfrutar de uma história bem narrada e emocionante.

Depois de "Conan das Ilhas", a Marvel publicou "A Caveira de Set" (N.
do T.: publicada pela Editora Abril em Conan em Cores 8, outubro de 1990), outra Graphic Novel protagonizada pelo Cimério. Este projeto também foi muito especial, já que reuniu a popular equipe criativa formada pelo argumentista Doug Moench e o desenhista Paul Gulacy, cujo trabalho conjunto na série Marvel "Master of Kung-Fu", na década de setenta, mereceu admiração geral. O arte-finalista Gary Martin
complementou o trabalho da dupla nesta obra e o resultado é impressionante. O clímax da ação, a batalha entre Conan e o demônio gigante de pedra que ganhou vida, é um dos melhores momentos desta aventura épica.

Uma das coisas mais interessantes sobre a Graphic Novel seguinte de
Conan é a história relacionada com sua origem. Originalmente, se concebeu um roteiro para um filme, mais exatamente para a segunda
filmagem do personagem protagonizado por Arnold Schwarzenegger, que a princípio teria o título "Conan, o Rei dos Ladrões". Os autores do roteiro foram Roy Thomas e Gerry Conway, que desenvolveram o projeto seguindo as instruções dos produtores, que queriam que este segundo longametragem de Conan fosse de tom mais suave que o primeiro - os produtores desejavam também que fosse classificado para todas as idades, em vez de para maiores de dezoito anos, como o primeiro (N. do T.: na edição publicada no Brasil há uma matéria mais detalhada a respeito, onde é citado que o primeiro filme teve classificação livre, com sugestão de acompanhamento de um adulto. Os fãs mais antigos, que tiveram a oportunidade de ver o filme no cinema, poderão tirar esta dúvida). Houve diferenças de critério entre os produtores do filme e os roteiristas, então Thomas e Conway tiveram que revisar e rescrever o roteiro várias vezes. Mas, no fim, abandonaram o projeto, ainda que apareçam nos créditos do filme "Conan, o Destruidor".

Segundo Roy Thomas, tanto ele como Gerry Conway só estavam satisfeitos de verdade com o primeiro rascunho do roteiro. Acreditavam que era o único dos apresentados que refletia a intenção e o tom
que se havia marcado como objetivo. Os que tiveram oportunidade, mais tarde, de ler esse rascunho ficaram muito impressionados e não compreenderam por que os produtores o haviam recusado. A resposta de Gerry e Roy é um encolhimento de ombros e um resignado "Assim é Hollywood!".

Uma vez mais, Craig Anderson foi o impulsor desta Graphic Novel tão
especial. Anderson era um dos afortunados que haviam lido esse primeiro rascunho de Thomas e Conway e fez uma sugestão aos
autores: já que era tão diferente do filme, por que não o transformavam em uma Graphic Novel original? A idéia encantou tanto a Roy como a Gerry, que adaptaram 130 páginas de roteiro cinematográfico para transformá-las em um roteiro de um comic de 62
páginas. "Escrevemos diretamente em forma de diálogo – explicou mais adiante Thomas –. Foi uma das poucas vezes que o fiz. Gerry escreveu a primeira metade da história e eu, a segunda. Escrevemos a aventura sem utilizar textos de apoio e creio que funcionou muito bem". Fora algumas cenas que tiveram que cortar por problemas de espaço e a troca de alguns nomes para evitar confusões com a adaptação Marvel do filme, "O Chifre de Azoth" (N. do T.: publicada pela Editora Abril em Conan em Cores 10, janeiro de 1991) é a visão original de Roy e Gerry do segundo filme de Conan e consideram este um de seus melhores trabalhos.

Mike Docherty, que ilustrou a Graphic Novel "O Chifre de Azoth" junto
com o arte-finalista Tony deZúñiga, afirmou que trabalhar no "filme de Conan que nunca se chegou a fazer" era uma experiência maravilhosa. "É muito divertido comparar o filme como chegou às telas com o filme que poderiam ter feito", comentou. Ainda que ele prefira o "estilo Marvel" de fazer as histórias (primeiro o argumento, depois o desenho e por último o roteiro), Docherty assegurou que não havia se importado
em trabalhar com o roteiro já terminado.

A Graphic Novel seguinte , "Conan, o Indomável" (N. do T.: publicada
pela Editora Abril em Grafic Marvel 12, janeiro de 1993), também foi muito especial, no sentido de que a idéia, o argumento e toda a arte (lápis, tinta e cor!) estiveram a cargo do artista mais intimamente relacionado com o personagem do títulos: John Buscema. Buscema garantiu que levou seis anos para concluir o projeto. "O enfoque que empreendi foi mais ou menos o mesmo que quando ilustro as histórias para a revista em preto e branco – conta –. Mas, nesta Graphic Novel, me encarreguei absolutamente de tudo: lápis, tinta, cor... até o argumento foi coisa minha". Ainda que admita que, nas últimas páginas, teve que apressar-se um pouco, estava muito satisfeito com o resultado no geral. Roy Thomas, que fez o roteiro de "Conan, o Indomável", só tem elogios para o trabalho de Buscema nesta obra. "A história é incrível, poderia se situar em qualquer momento da vida de Conan", disse. Quanto ao desenho, Thomas opina que é "umas das melhores obras de John em muitos anos". Buscema gostou muito de ter
Thomas como companheiro de trabalho. "Trabalhar com Roy é um prazer", comentou. Thomas entrou em cena quando o projeto já estava muito avançado. "Era um projeto inteiramente de John Buscema – explicou –. Quando comecei a colaborar com ele, já tinha desenhado a
maior parte e também alguns fragmentos do roteiro. Apareço nos créditos como co-roteirista, mas na realidade considero que é
uma obra de John".

Thomas conta também que, por uma estranha coincidência, publicou-se ao mesmo tempo uma nova novela de Conan em formato de livro de bolso, também entitulada "Conan The Rogue" (N. do T.: título original da Graphic Novel), que não guardava nenhuma semelhança com a
obra de Thomas-Buscema. "Estou certo de que isso causou algumas confusões entre as pessoas", disse.

Na seguinte Graphic Novel, "Conan: Os Guerreiros do Tempo" (N. do T.:
publicada pela Editora Abril em Grafic Marvel 15, janeiro de 1993), Roy Thomas voltou a encarregar-se do roteiro e reuniu Conan, Sonja e o Rei Kull em uma continuação da já clássica história de viagens pelo tempo que ele mesmo havia escrito (e desenhada por Neal Adams), para Savage Sword of Conan, nada década de setenta (N. do T.: para maiores informações sobre histórias de viagens pelo tempo, consulte a matéria " Conan Tempus", no arquivo de matérias deste portal). "Ocorreu-me escrever outra história que reunisse alguns dos heróis de Robert E. Howard – conta Roy –. Além do mais, soube desde o início que o material seria publicado em forma de Graphic Novel". De maneira que foi um roteiro diferente dos projetos anteriores e tratou de convertê-lo em algo muito especial.

Nesta história trabalharam junto com Thomas o desenhista Mike Docherty e o arte-finalista Alfredo Alcala. Docherty afirmou que estava muito feliz em colaborar em "Conan: Os Guerreiros do Tempo",
inclusive mais que em sua obra anterior, "O Chifre de Azoth". "O trabalho de Alfredo foi fantástico", disse Docherty, que confessou ter sido um grande entusiasta de Conan desde antes da Marvel começar a publicar os comics, elogiando o autor da Graphic Novel e colaborador habitual de Conan The Barbarian. "É maravilhoso trabalhar com Roy. Sempre tem decidido de antemão como quer as coisas, mas me permite uma ampla margem de liberdade".

Já que mencionamos antes o Rei Kull, também é obrigatório dizer que
"Conan: Os Guerreiros do Tempo" não foi a primeira aparição do Atlante em uma Graphic Novel. Antes, o monarca havia estrelado uma Graphic Novel própria, "Kull: O Vale das Sombras" (N. do T.: publicada pela Editora Abril em Conan em Cores 13, setembro de 1991), com roteiro de Alan Zelenetez e desenhos de Tony deZúñiga. Segundo Roy Thomas, a idéia desta obra partiu do artista inicial de Conan The
Barbarian, Barry Windsor-Smith. "Barry Smith fez o argumento e Alan o elaborou – nos revela Thomas –. No princípio, Barry ia encarregar-se de tudo". "Conan: Os Guerreiros do Tempo" é a última Graphic Novel de Conan publicada até agora, com o qual se planta uma questão: o que o futuro prepara para o Cimério em formato Graphic Novel? Neste momento se está trabalhando uma história de Roy Thomas, em que Conan viaja às paragens geladas da Antártida. "Até agora Conan nunca havia estado ali – conta Roy –. A história tem que ser especial,
concebida pensando no formato". Além do mais, para que esta aventura seja um acontecimento autêntico, Roy tem pensado em apresentar Conan com sua amada Bêlit, um dos personagens secundários mais populares durante a primeira temporada de Roy em Conan The Barbarian. O coordenador da Marvel, Mike Rockwitz, para quem "Os Guerreiros do Tempo" foi a primeira ocasião de controlar o processo criativo de uma Graphic Novel, coordenará também esta. "Será publicada aproximadamente dentro de um ano – anuncia –, com desenhos de Docherty e Chan" (N. do T.: A história foi publicada em 1995, mas não como Graphic Novel. Foi publicada no Brasil pela Editora Abril com o título "A Rainha Branca", em A Espada Selvagem de Conan 137 e 138, abril e maio de 1996).

Segundo Roy, "Existe uma fórmula determinada na hora de escrever roteiros de Conan. Eu tento utilizar esta fórmula em toda a sua extensão e leva-la até seus limites sem esquecer o conceito básico, que a faz funcionar. Essa tem sido sempre minha filosofia com Conan". É uma filosofia que tem feito um bom serviço a Roy, aos leitores e ao próprio Conan ao longo de muito tempo e assim seguirá sendo nos formatos habituais, nas revistas em preto e branco e Graphic Novels que se publiquem no futuro.

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