Conan: As idades de Conan na ponta do lápis

por Ricardo Tavares Medeiros
em 07/12/2004
conan-rod.jpgNão sei pra vocês, mas pra mim sempre foi uma dificuldade determinar a idade de Conan pela aparência. Óbvio, há os casos em que se tem uma idéia clara, como por exemplo as aventuras do jovem Bárbaro ou da fase final de sua vida. O problema é o período mais movimentado da carreira do Cimério: entre os 20 e 40 anos.

Também esbarramos num outro problema: os desenhistas. Boa parte deles não consegue diferenciar a aparência de Conan através dos anos. Este é o tema desta análise.

É óbvio que só cabe verificarmos o trabalho de desenhistas que, efetivamente, tenham trabalhado diversos momentos da vida do Bárbaro. Há muitos desenhistas "convidados", ou seja, que desenharam poucas aventuras do Cimério, não tendo a oportunidade de mostrar o que sabem (ou não sabem...).

"Comecemos pelo começo": a infância.

De 0 a 15 anos.

Foram feitas poucas histórias completas da infância de Conan e a maioria (se não todas) foram feitas por artistas não muito presentes nas revistas do Bárbaro. Exemplos: "Ritual de Sangue" (ESC 61), "O coração do Velho Garrad" (ESC 112) e "Dia da Maturidade" (ESC 130). Mais recentemente, podemos citar "Nascido em um campo de batalha", em Conan, o Cimério 8.

Não há muito o que se comentar a respeito das artes desta faixa etária, já que as mudanças que ocorrem da infância para a vida adulta são muitas e as concepções mudam pouco de um artista para o outro. Além do mais, não há como ter dúvidas a respeito da idade de um Conan guri. Podemos, também, citar as versões desta idade de artistas conhecidos, como da dupla Val Semeiks & Geof Isherwood ("As Sete Vidas de Thulsa Doom", em CB 35) e, claro, John Buscema ("Os Ratos Infestam Ravengard", em CB 45 e CBM 26).

 
A melhor retratação de um Conan adolescente de todos os
tempos. Po Val Semeiks e Alfredo Alcala.

De 16 a 20 anos.

Para esta faixa, é impossível não citar um nome: Barry Smith. A primeira fase da revista Conan The Barbarian, desenhada pelo britânico (que pode ser vista em ESC 196 a 205 e CBM 1 e 2), retrata mais ou menos esta época. Barry também desenhou outras aventuras, mas, certamente, esta fase o caracterizou, por desenhar Conan mais esguio (alguns acham que até demais...), o que se assimilou como um Cimério mais jovem e menos bombado pela intensa atividade que viria.

Uma aventura que Barry ilustrou fora desta época (aliás, bem fora, tratando-se de um Bárbaro já experiente e caminhando para as aventuras que o colocariam no trono da Aquilônia) foi "A Cidadela dos Condenados" (ESC 2 e no especial da Mythos). Nesta aventura, Barry mostra um Conan diferente do que apareceu em Conan The Barbarian, mas, ainda assim, com um ar adolescente e esguio (apesar de mais corpulento). À época, o desenhista ainda estava ganhando campo nas artes e, provavelmente, se tivesse continuado na série, formaria uma imagem mais madura do Cimério. Isso pôde ser visto na aventura especial "Conan VS Rúnico", onde ele mostra tudo que aprendeu com os anos, dando uma verdadeira aula de arte e mostrando um Conan perfeitamente adulto e bem formado (claro que o colorista também teve seu crédito: as cores fizeram seu papel muito bem).

Não podemos esquecer o artista Rafael Kayanan, que desenhou quase toda a série especial "Conan, o Aventureiro". Ele negará até a morte, mas a influência de Smith em sua arte é notória. Os mesmos desenhos detalhados, o mesmo Conan esbelto, os mesmo cabelos. Claro que seu trabalho tem mérito próprio e ele soube diferenciar bem as características do jovem Bárbaro desta série do Conan adulto de seu outro trabalho, "Conan e os deuses da montanha" (ESC 122 a 124), sequência direta de "Red Nails". Sua maior qualidade foi também seu maior defeito: o detalhismo da arte, que o impedia de cumprir os prazos. Tal qual com Smith. Pelo jeito, Kayanan terá que se conformar com o fato de que sempre se lembrará do britânico ao se citar sua arte.

Nunca saberemos se a arte de Barry Smith continuaria fazendo sucesso entre os fãs... o fato é que, com sua saída, a imagem definitiva nos quadrinhos do período mais ativo de Conan se formaria com o artista que o precederia.


Como negar a influência de Smith na arte de Kayanan? Ambos
fizeram um ótimo trabalho com o jovem Conan.

De 21 a 39 anos.

Um nome caracteriza esta fase: John Buscema.

Não há como negar que sua arte formou a imagem mais conhecida de Conan, mas aí chegou-se a um problema: Buscema não conseguiu mais se desvencilhar dos ombros largos, cabeleira negra e longa e as botas do Capitão América que ele soldou ao Cimério. Em praticamente todas as aventuras (magistralmente) desenhadas pelo artista, é impossível olhar para o Bárbaro e dizer: "Eu sei a idade de Conan". Só o contexto da história forneceria este dado. Tomemos como exemplo a aventura "A origem de Conan" (ESC 121): o Cimério tem pouco mais de 15 anos e já tem o físico e aparência de adulto! A impressão se intensifica se compararmos com a mesma história ilustrada por Smith, na edição de estréia de Conan The Barbarian. Outro caso é "A legião dos mortos" (ESC 21), que, além de ter a arte de Buscema, tem a arte final de Tony deZuñiga, que envelhece bem mais o Bárbaro (como comentarei adiante).

Mas, a partir dos 20 anos, a arte de Big John é impecável. Até porque, realmente, não há tantas mudanças aparentes num homem entre sua completa formação e o início da velhice.

Outro artista que desenha muito bem Conan nesta época, mas tem dificuldade com outras idades é Mike Docherty. É só dar uma olhada na história "Devastação na Hiperbórea" (CB 56): trata-se de um flashback, onde o Cimério conta como escapou das garras da rainha Vammatar, pouco antes de conhecer o mundo civilizado. Na história, não há diferença entre o Bárbaro que conta a aventura e o que aparece na recordação.

É esta fase que diferencia os conceitos a respeito da aparência através dos anos dos desenhistas que trabalharam com Conan. Um dos melhores trabalhos que já vi foi o da dupla Val Semeiks e Alfredo Alcala: fizeram um Bárbaro adulto padrão, mas souberam diferenciar bem o jovem Cimério. Refiro-me à história "Honra Guerreira" (CB 39), também estilo flashback, onde é mostrada a melhor retratação de um Conan adolescente de todos os tempos (é mesmo uma pena que apenas em meia aventura).

É praxe: quem se destaca nesta fase vai longe, mas se atrapalha na hora de desenhar histórias de outras épocas.


Dá pra acreditar que Conan tenha pouco mais de 15 anos aqui?

De 40 a 55 anos

Esta é a fase mais sóbria do Gigante de Bronze. Basta lembrarmos da atitude de Conan ao ser interpelado por um de seus aliados em "Conan, o Libertador" (ESC 37 a 40) e, após enxotar um recruta aos berros, ouvir que seu problema seria falta de mulher. O antigo mulherengo disse que já não lhe servia qualquer fêmea. Ainda assim, sua escolha foi terrível: a gostosa e traiçoeira Alcina. Isso prova que a maturidade e os instintos do Bárbaro são muito eficientes, mas sua testosterona age ainda melhor.

Mas o assunto são os desenhistas. Buscema também se destaca nessa fase, mas não se trabalhar sozinho ou com o artefinalista errado. O principal nome desta etapa da vida de Conan é Tony deZuñiga. O filipino não desenha tão bem assim, mas sua arte final é a melhor. Um bom exemplo de seu trabalho é a Graphic Novel estrelada por Kull, "O Vale das Sombras" (ESCOR 13), onde vemos uma arte sem grandes atrativos. No entanto, quando ele se juntava ao Big John, tudo funcionava às mil maravilhas (desde que a aventura mostrasse um Conan maduro ou próximo desta fase. É só lembrarmos o "desastre" que foi a finalização de Tony na já citada "A Legião dos Mortos", onde vemos um jovem velho Conan). Os
desenhos passavam uma atmosfera épica impressionante. Basta dar uma lida em "A Fronteira do Fim do Mundo" (ESC 14 e 15) e na já citada "Conan, o Libertador" para saber do que estou falando.

Não há muitos outros destaques nesta fase (que, além dos grandes clássicos, não teve tantas aventuras assim). A maioria retratou um Bárbaro que poderia facilmente ser o mercenário dos anos iniciais ou o kozak da fase mais nômade. A aparência, realmente, não muda tanto.


Um jovem velho Conan... por Buscema/de Zuñiga.

De 56 a 65 anos

Esta fase teve muitas histórias. Basta levarmos em consideração as séries Conan Rei e Rei Conan, bem como alguma aventuras esporádicas em outras publicações. A não ser pelo humor (Conan fica extremamente ranzinza após constituir família), a aparência também não muda tanto. Alguns
desenhistas e coloristas até tentaram colocar algumas rugas e "agrisalhar" uns fios de cabelo, mas os resultados não foram tão efetivos. Se os diálogos fossem mudados para uma situação da época do pirata (baracho, bucaneiro, flibusteiro), ninguém notaria qualquer diferença.

Há, ainda assim, um destaque desta fase. Para variar, numa única história. Refiro-me à aventura "O Vento das Estrelas" (ESC 170). Nela vemos um bárbaro envelhecido na exata proporção (as madeixas prata no cabelo dão o toque principal) e uma altivez que só a experiência da vida pode dar. De quem é a arte? De ninguém menos que Alcatena. As cenas lembram muito as épicas aventuras do tempo dos Césares. Seria incrível ver uma série de histórias do rei Conan desenhadas por este artista incrível.


O melhor Conan de meia idade. Do grande Alcatena.

Dos 65 anos em diante

É impossível um homem, a partir desta idade, não mostrar sinais de velhice. Mas, ainda assim, os desenhistas se atrapalharam. Foi um esforço tremendo acertar a conta de envelhecer o Bárbaro em "Sombras Vermelhas" (ESCOR 11). Os desenhos de Buscema seguiram o padrão: sem nenhuma distinção do Conan de meia idade. O trabalho ficou para os artefinalistas Danny Bulanadi, Ricardo Villamonte, Armando Gil e Dave Simons. O resultado não foi, digamos, 100%, mas não dá pra dizer de forma alguma que o Conan mostrado estaria em outra fase da vida.

Um ponto que podemos frisar nesta história é o velho Sigurd. O vanir, que Conan conheceu em "Conan, o Pirata" (ESC 23 a 25), foi magistralmente envelhecido por Buscema. Comparando o pirata nas duas aventuras, não dá pra negar que sejam a mesma pessoa, mas em épocas e idades completamente distintas. Isso vem provar que o único problema de John é com Conan.

Na malfadada sequência "Os Necromantes de Na´at" (ESC 160), o erro persiste, mas desta vez a arte final não completou o serviço. Conan não foi devidamente envelhecido, mostrando que, realmente, o negócio do Big John era desenhar o Bárbaro em sua fase mais ativa.

Ora, mas há outras história onde Conan aparece mais senil. Em duas delas, a magia está envolvida. Na aventura "O Demônio das Trevas" (ESC 70), onde seu inimigo Bor´Aqh Sharaq utiliza uma jóia mágica que envelhece quem for atingido por seu raio, o Bárbaro é atingido pelo pirata. É mostrado um Conan que deve ter, pelo menos, uns 120 anos, totalmente decrépito, mas reconhecível. Um trabalho bem feito. Claro, o Bárbaro se livra quebrando a jóia com uma pedra atirada com os últimos resquícios de suas forças. Também é preciso citar a história "Caos em Kutchemes" (CB 55), onde Conan se encontra com um espectro do passado (ele mesmo, mais jovem e num estilo Barry Smith) e um do futuro: um ancião de cabelos e barba brancos, que não lembra tanto o Cimério, mas ainda é a melhor retratação de Conan pós-70. Foi difícil para Conan matar seu presente e seu futuro (os espectros eram simplesmente demônios).

Conclusão

Repito: é muito difícil determinar a idade do Bárbaro só com sua aparência. Nenhum desenhista demonstrou que pode diferenciar as variadas fases da vida do anti-herói, então cabe ao argumentista dar a dica de que idade Conan tem.

Claro: a esperança não acabou. Nas novas aventuras da Dark Horse vemos um Conan jovem muito característico. E, levando em consideração Conan, a Lenda, podemos ver que Nord sabe destacar as características do personagem através dos anos. É esperar pra ver.

REFERÊNCIAS

CB: Conan, o Bárbaro – antiga série da Editora Abril
CBM: Conan, o Bárbaro – nova série da Editora Mythos
ESC: Espada Selvagem de Conan
ESCOR: Espada Selvagem de Conan em Cores
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