O Que Motiva Um Bárbaro? — A Essência do Livro Cedrik – Espada & Sangue




Em uma época perdida no Tempo,
onde a Escuridão ameaçava todos,
surgiu um líder.
Destruição, morte, tudo conspirava contra.
Mas era um Homem de extremos, audacioso.
Era um Homem sem medo.


                                           Dos Relatos e das Crônicas da Velha Terra.

Os feitos de Cedrik, o Guerreiro, um dia seriam cantados pelas ninfas e redigidos por poetas e por escribas. Na região Sul do Continente Oeste da Idade do Ferro, ele nasceu, cresceu, tornou-se um jovem de força extraordinária e seu manejo na espada e no arco e flecha seriam um dia postos à prova. Quando lobos o atacaram, em uma ocasião em que dormitava após longa caçada, Cedrik os despachou com os pés e punhos, assim como quem pisa em um adversário morto por suas mãos.

Cedrik lutou contra bandidos que saquearam e mataram sem piedade sua família, seus pais agricultores e a irmãzinha indefesa. Um exército de mercenários, hostis como um inimigo sanguinário e destituído de qualquer piedade! O Guerreiro os levou para as montanhas, suas encostas íngremes e letais. E, com seus músculos desenvolvidos, sua mente aguçada e a força dos elementos da Natureza, convocados por ele, como o Vento, liquidou todos.

Encontrou um velho homem, Sandial, o Ancião, na estrada que levava para o Norte, acossado por um batalhão de mercenários. Cansado, Cedrik sentia suas forças o abandonarem, mas, vendo o velho disparar saraivadas de flechas contra os assassinos, fazendo-os tombarem, um a um, o herói sentiu suas forças voltarem. Massacrou todos os deixados pelo Ancião, cortando pescoços, rachando crânios, mutilando, matando, matando com um prazer redobrado! 

— Minhas forças estão de volta, voltei a lutar e matar com sede de sangue! — ele gritou para Sandial, que ria, do alto de uma torre de vigia, construída de rocha e ferro.

Assim, tornaram-se companheiros de luta inseparáveis.

E, um dia, em que o velho tomava conta de seu armazém, que servia de bar, Cedrik entrou  pela porta, molhando o chão e o balcão. Uma tormenta caía sobre o povoado onde os dois estavam vivendo. Foi desnecessário que o amigo de Cedrik dissesse alguma coisa além de cumprimentá-lo. O Guerreiro enfrentou quatro dos cinco bandidos que entraram no bar, em minutos. Sandial matou o quinto, com uma flecha disparada embebida em ácido poderoso. Quando Cedrik acabou com um Gigante de força descomunal, o Ancião voltou dos fundos do bar, onde deixara para uma criatura canibal do subsolo que completasse a refeição com um dos malditos, chutado no estômago por Cedrik, enquanto lutava com os principais membros da quadrilha.

No outro lado da rua havia uma estalagem. Vazia. Uma garota de cerca de dezoito anos passara pelo bar de Sandial e deixara cair um pedaço de papel com um desenho significando necrofilia, canibalismo e sacrifícios humanos. Era o que havia em Delfos, cidade murada agora tomada pelas tropas de mercenários dominados pela magia negra dos sacerdotes-feiticeiros que, uma vez destronado o pai de Vivian, dominavam o Extremo Leste, após lutar de maneira feroz contra os exércitos do bravo rei.

Cedrik e Sandial saíram do bar e foram para a estalagem. Dois estupradores despiam com vagar Vivian e o estalajadeiro reclamava uma parte naquele festim. Arrancando a porta da hospedaria e lançando-a na garganta do bandido mais fraco, enfrentou o chefe da dupla, matando-o por asfixia em segundos. O livro que a princesa tanto procurara, livro de feitiços, encantamentos e maldições, o Necrofilium, estava com o estalajadeiro, que o entregara a ela, sob a mira da ponta afiada da espada que a jovem portava.

Saíram do povoado a cavalo, que montavam em pelo. Três cavalos resistentes como nenhum outro. Dirigiram-se para uma vila que existia a horas de galope. Chegando lá, casas arruinadas, queimadas, terrenos destruídos pelo fogo, enquanto somente uma casa ficara de pé. Em termos. Parcialmente queimada, com uma porta de ferro manchada de vermelho, era o que sobrara. A tinta vermelha não era tinta. Era sangue. Resolveram entrar, após a porta se abrir com um rangido alto.

Porém, Vivian decidira lutar contra os homens, pelo direito de entrar. Cedrik mantinha-se afastado da garota e fazia sinal com a cabeça para que Sandial não interferisse. Vivian se virou e avançou para a entrada da casa e, enquanto esperava a vista se acostumar à escuridão do interior, Cedrik juntou-se a ela, que não se importou.

Barulhos vinham do interior das paredes e do chão de madeira. Ao saírem da casa, Cedrik teve de parar no meio do caminho, para arrastar Vivian, que, controlada pela magia existente na casa, ajoelhou-se no chão e esperou os seres de aparência hostil deixarem a casa e o terreno imenso ao redor. Eram seres que se moviam sobre dedos e tinham ferrões na parte de cima do corpo negro e peludo. Cedrik, Vivian e Sandial cavalgaram de modo rápido para fora daquele lugar maldito, mas as criaturas vinham sem dar trégua. Prestes a serem alcançados pelos demônios, Vivian acordou de seu sonho hipnótico e folheou o Necrofilium. Leu palavras ininteligíveis para os outros dois combatentes, mas Vivian lia com fluência e clareza. Ela conhecia a língua escrita no livro! Nuvens cinza enegrecidas surgiram e cobriram o céu. Relâmpagos caíram sobre as monstruosidades e um cheiro de carne queimada dominou a atmosfera.

Na viagem de volta, Cedrik e seus companheiros alcançaram as terras geladas. Segundo o livro, havia água estagnada pútrida, criaturas com carne impenetrável às flechas de Sandial e bandos de salteadores, cada um com cinquenta ou mais bandidos. Mesmo assim, Cedrik entrou na região e descobriu algo, além de certo ponto para o Leste uma barreira invisível impedia que passassem.

Continuaram para o Norte, rodeando a região mortal. Lutaram contra monstros invencíveis, até para a espada de Cedrik eles eram impenetráveis. O Necrofilium os ajudou. Vivian declamou frases mágicas que fizeram o magma subir à superfície, destruindo todas as aberrações. Todas? Uma delas, a que lutara corpo-a-corpo com Cedrik e os amigos, fugiu. Os três viajantes retornaram e encontraram o monstro pregado com centenas de tachas de metal a duas estacas de madeira, dispostas em X, tendo a coisa sido presa à madeira de ponta-cabeça, com as mãos no lugar dos pés e os pés no topo da escultura bizarra.

Deixando a coisa para trás, decidiram se manter a uma pequena distância da fronteira entre a área mortal e as terras quentes no Oeste. Uma nevasca os atingiu. Montaram acampamento. Sandial discutiu com Vivian. Quando a discussão atingiu o ponto de uma luta até a morte, ouviram um berro altíssimo. Cedrik não se moveu, mas os outros se encolheram. O Guerreiro saiu da tenda, onde tinham inclusive colocado os cavalos, para protegê-los do frio. 

Enfrentou dez mercenários, que os haviam seguido. Matou nove, com a espada e as mãos. O décimo era o chefe. O herói acabou a luta, enterrando com lentidão a lâmina do punhal do inimigo em sua própria testa, até o cabo.

Foram para o Leste, enfrentando neve, chuva e ventos fortes sem parar, dessa vez. Encontraram a costa e inúmeras dunas, afastadas da orla. Sabiam que sua sorte mudaria, mas um ciclone surgiu em meio à ventania de uma tormenta que os apanharia em breve. 

Correndo e cavalgando, saltaram contra a encosta de uma duna que ultrapassava em altura qualquer outra. A parede de areia se abriu e eles deram com um enxame de morcegos-gigantes vampiros. Um deles conseguiu penetrar na barreira de proteção de Vivian e Sandial e a arranhara no braço. Ela desmaiou. Com a ajuda de um machado de ferro, que o Ancião conseguira nos campos em que o magma aflorara à superfície da terra, os homens fizeram uma passagem de metal se abrir. Saíram, com os morcegos tentando alcançá-los. Por um triz. Foi somente por um triz...

Tinham de descobrir um modo de salvar Vivian!

Cedrik carregou os oitenta e cinco quilos de músculo, gordura e ossos de Vivian até um ponto que descia de modo abrupto até a praia. Havia obstáculos, afloramentos rochosos, que seriam mortais, se não fosse a força e agilidade de Cedrik e Sandial. Na praia, seguiram para o Sul. Havia uma caverna, com um barco de madeira embebida em óleo, para que se tornasse dura e resistente como metal.

O Guerreiro bateu com o punho no casco e uma escada de madeira desceu do topo do casco até perto dos pés de Cedrik. Ele subiu de gatas e observou o tombadilho. Vazio. Nele, fez sinal para que o Ancião subisse. Mas o velho era esperto. Arrastou-se pela escada e, quando teve visão, deparou-se com um negro imenso, que saíra da casa dos mantimentos. Uma cabeça e meia acima de Cedrik, carregava um machado de duas lâminas e uma espada. 

A luta teria sido desigual se não fosse o fato de o Guerreiro possuir músculos sobre músculos e o negro ser magro e ágil como uma pantera. Lutaram por meia hora, desferindo golpes violentos, que atingiam o chão e a amurada. Mas levou um segundo para que o homem gigantesco saltasse e Cedrik aproveitasse para atingir a espinha do oponente com o cabo de sua espada. O gigante não se moveu, a partir desse momento.

A partir desse momento, o meu livro Cedrik – Espada & Sangue continua numa torrente de lutas, o salvamento de Vivian, devido a uma poção escondida no interior da rocha da caverna e, quando os heróis conseguiram sair velejando com o barco, Sandial perguntou ao Guerreiro quantos mercenários eles haviam dado conta nas entranhas da caverna, ele respondeu:

— Cinquenta?

Ao que Sandial retrucou:

— Cinquenta? Você se esqueceu de como contar? Foram cento e vinte!

Cedrik não ligou para uma observação jocosa de Vivian e pensou em voz sussurrante:

— Foram duzentos... duzentos, Sandial...

O Oceano que separava o Continente Oeste, ou Ocidental, do Continente Leste, ou Oriental, era o Grande Mar. Atravessaram-no, mas por pouco. Enfrentaram um demônio gigantesco, que teria afundado o barco, um vórtice onde existiam demônios prontos a matarem todos e um navio pirata.

O demônio imenso erguia-se a dezenas de metros de altura, e pode ser destruído com a ajuda do Necrofilium, declamado por Vivian. O navio pirata foi invadido pelos três camaradas, que trucidaram todos os tripulantes. O vórtice, fruto de magia negra, rodopiava e rodopiava sem parar. Vivian lançou para todos os lados uma esfera de luz, com um objeto mágico que herdara de sua mãe, atraindo um relâmpago fulgurante, desfazendo os demônios e dissipando  o vórtice.

Ao chegarem na costa Leste, um exército de grandes vespas, levando um homúnculo nas costas, veio até eles e escoltaram-nos até o interior do Continente. Eram aliados do rei do Extremo Leste, encarregados de tomar conta da princesa. Isso não ocorreu, pois Serep, o líder dos sacerdotes-feiticeiros de Delfos, inoculara na mente dos homúnculos, confusão. Isso separara o grupo das vespas do rei, da rainha e da princesa.

Tudo corria bem, até que Lorgrin, o protetor pessoal de Vivian, alçasse voo e desaparecesse na noite. Vivian começou a travar uma luta contra Cedrik com espadas. Estava enfurecida, louca de ódio incoerente. Contou ao Guerreiro e amante o que havia acontecido com ela e seus pais e, por fim, fez o que ninguém nunca havia feito. Um pequeno corte no braço do Guerreiro. Este, boquiaberto, sacou sua espada indestrutível e aparou todos os golpes dados pela lutadora exímia. Ela ameaçou cortar sua garganta com sua espada, mas Cedrik abaixou a sua. Uma fração de segundo antes de ela se matar, cortando o ventre com a espada, aquele que a escolhera a desarmara. 

Porém, o ferimento que Vivian causara a si poderia ser mortal. Seguindo o caminho feito pelas vespas, Cedrik descobriu uma base de concreto no solo. Trazia um rolo de cordas de Sandial, que o trouxera junto com facas, punhais, cantis cheios e vários rolos de corda enroladas, de comprimento enorme. Cedrik fincou sua espada na base, quase até a metade, e desceu o precipício. Na encosta, havia uma caverna. Apoiando-se na borda desta, o homenzarrão deu um forte puxão na corda e a espada caiu. Cedrik soltou uma esfera magnífica, da qual Lorgrin havia falado a respeito, de onde estava presa, no fundo da gruta.

A esfera tinha consciência. Falava por pensamentos. Curou Vivian do corte e erigiu uma barreira contra a magia dos sacerdotes no cérebro dos três. Queria uma coisa em troca, que neutralizassem os efeitos maléficos do cetro de Serulac, um objeto que caíra em poder dos feiticeiros, ao tomarem Delfos, e que ameaçava a esfera.

As vespas, segundo o que viram pouco depois Cedrik e Sandial, liquidaram todo um exército de mercenários, que haviam voltado para a costa onde os amigos atracaram o barco. Eles viam as vespas transformarem os mercenários em areia, após picarem-nos, ou quando um inimigo as trespassava com a espada.

Nisso, Vivian acordou e avisou que iria até o desfiladeiro. Todo o percurso havia sido gravado na memória dos três guerreiros. Era verdade que eles eram poderosos, mas o único com condições de enfrentar os mercenários, na verdade, era Cedrik.

Eles a seguiram à distância. Enfrentaram um punho gigantesco que procurava esmagá-los e o explodiram com as flechas de Sandial, que as atirou contra a parede oposta do desfiladeiro e provocaram faíscas, incendiando gases que as próprias flechas haviam liberado. 

Os dois mutilaram um grupo de criaturas esverdeadas, cortando seus membros. Um grande conjunto de homens saiu de esconderijos por trás das paredes. Eram assassinos. Cedrik os conhecera no passado. Ao tentar dialogar com um gigante, o chefe deles, este ameaçou matar Vivian, amarrada a um poste. Cedrik enfrentou o bandido, terminando a contenda, cortando um tornozelo do chefe. O Guerreiro e Sandial tiveram de lutar contra os assassinos. Foi uma luta feroz, a espada de Cedrik zunindo no ar, retalhando membros e cortando tudo o que atingia. Sandial flechava quem podia, matando todos.

Quando tudo terminou, restava desamarrarem Vivian. Porém, um último homem, que dizia ser o pai de Vivian, aproximou-se de Cedrik e de Sandial. Outra mulher semelhante à princesa surgiu de uma reentrância na rocha. O herói saltou para trás, mas a aparição que se dizia ser pai da princesa transformou-se em vapor, que envolveu o Ancião. A verdadeira Vivian não era a amarrada ao poste, era aquela que surgira, no final. Saindo para uma enorme caverna, encontraram uma mulher linda, que Cedrik conhecia... mas era ilusão, somente. Lançou um feitiço contra Sandial, que se transformou em um esqueleto. A bruxa mudou para um lagarto imenso, que cuspia uma substância corrosiva. Avançou e Cedrik atraiu a atenção dele, caminhando para a direção oposta à de Vivian. Ele gritou para ela entrar em uma pequena gruta, suficiente para uma única pessoa.

Cedrik passou a lâmina pela barriga do monstro. Litros de sangue correram e abriram uma depressão no solo, que ameaçava engolir os humanos. O lagarto gritou. O Guerreiro correu até Vivian e disse que precisavam escapar. Vivian agarrou a mão de Cedrik e, enquanto a bruxa contorcia-se, o casal fugia.

Correram, saltaram a fenda aberta pelo sangue do lagarto e Vivian foi colocada em segurança, impulsionada por Cedrik em pleno ar. Ele esteve por um fio de cair no abismo, mas conseguiu escalar o paredão, que começava a desmoronar.

O herói segurou sua amada nos braços e correu. O lagarto voltou ao seu estado humano. Fez com que as paredes desmoronassem, mas o casal estava longe. Cedrik pousou Vivian no chão da única trilha que existia entre a Floresta Mágica, à esquerda, e o Deserto Skander, à direita. Lendo o Necrofilium, Vivian fez cair orelhas, olhos, nariz, lábios da feiticeira, que, voando em direção a Cedrik e a Vivian, passou a planar sem direção, em círculos, e subiu, subiu, até atingir uma altura em que pássaros mágicos a devoraram, aos bocados.

O casal passou a se movimentar pela Floresta. Árvores imensas, aflorações rochosas, riachos e lagoas era o que compunha a mata. Mas um Demônio, protetor da Floresta Màgica, ameaçou destruí-los. Com o aviso de Vivian de que os sacerdotes-feiticeiros e os mercenários planejavam destruir árvore por árvore, tornando a Floresta em um deserto igual ao de Skander, o Demônio enfureceu-se. O Necrofilium foi a gota d’água para que os dois guerreiros fossem vistos como aliados do Demônio e foi permitido que ficassem.

Em um dado lugar, chegaram perto de um destacamento de mercenários, acampados na região do Deserto Skander. Sussurrando uma mágica existente no Necrofilium, Vivian deu a Cedrik e a ela mesma o poder da invisibilidade. A seguir, durante uma tarde inteira, dizimaram as tropas inimigas. Cedrik levou Vivian para um lugar remoto da Floresta e fez amor com sua escolhida. Dormiram. Na manhã seguinte, seguiram para o Leste pela mata, margeando a trilha.

Após descobrirem e beberem água mágica de uma fonte, Cedrik triplicou sua força física e Vivian se sentiu muito mais forte e ágil. Mas, mesmo estando sob a proteção da esfera e do Demônio, Cedrik foi vítima dos sacerdotes-feiticeiros de Delfos. Levando Vivian para os subterrâneos de uma formação vegetal, o herói matou sua querida e, em seguida, ao sentir sua mente clarear, quando chega à superfície da Floresta, cometeu suicídio.

Uma feiticeira a quem fora dado o direito de viver na Floresta ressuscitou o herói e salvou a princesa. Era uma velha senhora poderosa, mas não perigosa ou inimiga. Queria fazer o Bem, somente. Correndo como o vento, sem se cansar ou perder a velocidade, os dois guerreiros chegaram a um ponto em que a Floresta começava a se transformar em poeira. Estavam a pouca distância de Delfos, construída no Deserto.

Tornando-se invisíveis, novamente, os dois lutadores saíram da Floresta e correram em direção a Delfos, matando e mutilando no caminho pelo Deserto Skander os mercenários que encontravam, e que treinavam, lutando entre si. Cedrik e Vivian viram, antes de se tornarem invisíveis, dois mercenários fortes jogarem um casal de jovens moradores da cidade em duas piras de fogo, que ladeavam o portão principal de ferro pintado de dourado. 

Chegando aos muros de Delfos, os guerreiros escalaram como felinos suas paredes e caíram de pé no outro lado. Dirigiram-se para o templo dos sacerdotes-feiticeiros, onde entraram e, após presenciarem um sacrifício de animais no fogo, esperaram os sacerdotes saírem. Muitos haviam visto o ritual, membros da sociedade de Delfos, mas, drogados, alucinavam nas escadarias que levavam o nível do solo até o primeiro andar do templo.

Forçando um dos místicos do templo a mostrar por onde se alcançava os calabouços do templo, onde estaria preso o restante das tropas do pai de Vivian, os três desceram uma escadaria de rocha e chegaram a um local onde mercenários imensos e duas feiticeiras vigiavam soldados do exército do Extremo Leste, presos a celas. Cedrik e Vivian matam quase todos, com exceção de uma das feiticeiras, que escapa por um alçapão no chão.

O casal de heróis desce para um nível muito abaixo de onde estavam, para o andar onde estariam os calabouços. Com o auxílio de cordas de metal flexíveis e do arco de Sandial, Vivian ultrapassa um pavimento, que, para Cedrik, era uma ilusão para um rio subterrâneo de lava. Vivian desce uma escadaria, procurando os sobreviventes dos exércitos de seu pai. Encontra um gigante, com uma espada e um machado, mas havia alguém mais ali. Lutando contra o gigante, Vivian, prestes a ser dominada, vê o espectro de um demônio surgir por trás do gigante, que é morto por ele.

O espectro liberta os soldados presos em celas nas paredes daquele lugar e usa de magia para fortalecê-los e abrir as celas. Todos se juntam à princesa e pedem permissão para lutar a seu lado. Ela os lidera. No patamar superior, o espectro mostra como é ilusório o perigo do rio de lava. Ele não existe. O demônio anda sobre o chão e não é tragado pelo suposto abismo.

Enquanto isso, Cedrik luta contra uma serpente gigante amaldiçoada. Duela contra suas presas e a mata, por fim. Encontra-se com Vivian e a abraça, beijando-a longamente. Os soldados decidem subir a escadaria por onde o Guerreiro e Vivian vieram e onde Cedrik matara a serpente demoníaca. Deparam, no meio da escadaria, com uma horda de seres sem cabeça, mas que portavam cada um uma espada. Com músculos hipertrofiados, travam combate contra os soldados, até Cedrik chegar. Juntos, os soldados, Cedrik, Vivian e Lark, o Comandante-Chefe dos exércitos do pai de Vivian, liquidam os seres sem crânio. Chegam ao nível onde lutaram contra as duas feiticeiras. Os soldados presos nas celas desse andar estão moribundos, não há nada a fazer por eles.

Sem outra escolha, Cedrik e Vivian resolvem descer pelo alçapão. Nesse ínterim, Serep, o líder dos sacerdotes-feiticeiros, manda matar em sua presença um rapaz e uma moça que os mercenários traziam, dizendo que conspiraram contra Serep. Este ordena que cortem a cabeça dos dois. Gaal, mercenário mais próximo do líder-feiticeiro, tem uma ideia, trazerem de Promm, ao Norte, outra leva de mercenários, para impedir Cedrik e seu grupo. Assim é feito.

Gaal pede ajuda a outro sacerdote, Geshak, que faça cair o teto sobre Cedrik e os outros. O feiticeiro usa seus poderes para que as milhares de toneladas de rocha caiam sobre Vivian e seus aliados. Quando o feitiço é lançado, as paredes e o teto no nível onde Cedrik está começam as ruir. Todos, então, se lançam pelo alçapão, descendo por uma corda que o Guerreiro amarra a um pilar descomunal, que sustentava o teto.

Nos subterrâneos, para onde escapam, Cedrik, Lark e os outros têm de enfrentar monstros, armadilhas, até que encontram o cetro de Serulac. Antes de encontrá-lo, porém, Vivian usa a magia do Necrofilium para transportar os soldados para a Floresta Mágica. Assim foi feito, sob extrema dor e tortura dos soldados, mas não havia outra opção. Com um ritual de sangue, do sangue de Vivian, os três que sobraram conseguem neutralizar os efeitos do cetro.

Mas a princesa está à beira da morte. Seu sangue fora drenado para que o feitiço que ela pronunciou fizesse efeito contra o cetro. O Guerreiro e Lark saem daquele nível subterrâneo, dirigindo-se de volta por onde vieram e abrindo caminho por uma passagem através de uma parede. Do outro lado, encontram uma escadaria, que sobem. Em dado momento, Cedrik encontra mercenários e os desarma, enquanto estão distraídos. Ele os prende com cordas e os três heróis continuam a subida. Chegam a um corredor e Vivian se recupera das energias perdidas, há pouco. 

Cedrik duela contra outro mercenário de físico descomunal, mas o mata. Os três seguem até outro corredor perpendicular, cheio de armadilhas. Cedrik decide continuar e escapa de várias. Decide voltar para o mesmo caminho que fizeram antes. Eles chegam a uma bifurcação e Cedrik luta contra um monstro praticamente invencível. Mas não para ele, que o destrói. 

Eles correm por um corredor transversal, até chegarem a uma parede circular fechada. Um encantamento do livro maldito destrói a parede, lançando-a para longe. Mercenários vêm de onde a parede foi lançada. Os três combatentes esperam e acabam com todos os inimigos. Porém, há um sacerdote que os lidera, e que mata Lark com violência e avança em direção ao casal de guerreiros. Estes destroem o sacerdote, com a ajuda do livro de feitiços e encantamentos e continuam até chegarem a uma escadaria, que sobe e desce a partir do corredor.

Subindo, os dois param metros acima. Cedrik faz sinal de silêncio para sua amada e sobe com o corpo rente à escada. Saltando, cai sobre a cabeça de um lobo de cinco metros de comprimento, trespassando seu crânio com a espada. Ele e Vivian continuam a subida, até atingirem um local que serve de tortura e sacrifício humano. Enquanto Cedrik duela e mata um a um os carcereiros daquele covil, Vivian declama maldições, que fazem o teto do lugar destinado aos rituais desabar. Percebendo que seria esmagado, Cedrik escapa com um salto para fora da câmara de torturas. Liberta três moças que iriam ser executadas em pouco tempo. Todos dirigem-se para cima e atingem um pátio que leva ao exterior do prédio.

Cedrik ordena que Vivian fique com as jovens, no pátio. Sobe mais e, em pouco tempo, gases são lançados contra as quatro mulheres, que decidem subir, até onde Cedrik foi. Uma das garotas morre asfixiada. Passando por uma parede frágil, através de golpes dados com sua espada, Vivian e as outras chegam ao salão de Serep. Não há ninguém, a não ser Cedrik, ajoelhado e drogado. Vivian destrói o trono do líder dos sacerdotes-feiticeiros e lama fétida sai de dentro do trono. Gases são lançados no salão.

Com a ajuda da lembrança do que sua mãe lhe dissera a respeito de Vivian ser especial, quando criança, esta retoma suas forças e recebe a ajuda da esfera consciente que haviam descoberto perto da costa. A esfera abre o imenso portão, trancado, que prendia os heróis e as garotas soltas pelo casal de heróis.

Eles saem rapidamente, prestes a serem asfixiados pelos gases. Cedrik e Vivian lutam contra cada sacerdote que encontram. No final, só sobram Geshak e Serep. Cedrik consegue liquidar Geshak e vai, com a companheira, para a Floresta Mágica, para onde Serep fugira. Nela, o casal guerreiro toma consciência de que outro ser viera junto com o líder dos magos. Com cautela, os dois heróis encontram Serep, que Cedrik alveja com o arco de Sandial inúmeras vezes. Nada. Serep continua vivo. 

Cedrik corta o pescoço do mago com a espada, mas o corpo a busca e a coloca de volta no tronco. O Guerreiro divide Serep do ombro à virilha. Este cai e Vivian chama pelo Demônio da Floresta, que agarra as duas metades do mago e as mastiga, engolingo-as com estrondo.

Cedrik decide visitar as terras de sua família e o túmulo deles. Deixa Vivian, ajudando o povo de Delfos, e vai em direção ao Continente Ocidental.

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É interessante como cheguei a um ponto, no final de Cedrik – Espada & Sangue, em que o mocinho, Cedrik, aparentemente abandona a sua amada, Vivian, para voltar ao Continente Ocidental e rever sua terra natal. A pergunta é, ele realmente voltará para Vivian?

Nas aventuras que envolvem heróis, raramente, o protagonista acaba ficando c om a mocinha. Ou ela morre — vejam o caso de Bêlit, de Conan, que morre enforcada por um colar — ou acontece um fato que impede que os dois amantes permaneçam juntos. Não quero estragar surpresas, mas eu espero de coração que Cedrik volte para os braços de Vivian. Porque, depois de passarem por tantas provações, e as vencido todas, eles têm o direito de permanecerem juntos.

Escrevi este livro imaginando um herói de extrema força e rapidez de raciocínio. Não pensei em Conan, o Bárbaro, a princípio, mas alguém com força nunca antes vista no mundo. Alguém que tivesse a força de dez homens fortes, fosse invencível na espada ou com qualquer outra arma branca. E que tivesse sede de sangue. Por que sede de sangue? A época em que Cedrik vive é a da Idade do Ferro, milênios no passado, e combates, lutas físicas e guerras deveriam ser comuns, àquela época. O barbarismo de uma Era sem Lei deveria existir. Grupos de nômades, sob a liderança de um chefe bárbaro, seriam comuns.

Por bárbaro eu tenho uma visão não de um povo que não era romano, assim como nos é ensinado. Por bárbaro eu penso em uma pessoa que possui independência, liberdade alcançada por meio de lutas, e uma existência de amores e combates. Um bárbaro seria exatamente como Robert E. Howard imaginou: alguém como Conan, ou Kull.

Só depois que assisti mais uma vez ao filme Conan, the Barbarian, com Arnold Schwartzenegger como o herói, é que me veio à cabeça de que eu estava criando um protagonista que tinha muito a ver com Conan, porém, eu o tinha imaginado com um físico até mesmo superior. Carregar setenta e cinco quilos ou muito mais em cada braço e poder escalar um paredão de mais de vinte metros de altura me fazem lembrar de vikings, os mais fortes. Pessoas que tiveram a mente e o corpo talhados para a guerra ou para a lavoura. Homens que fizeram da vida uma forma de esculpir o corpo, seja por necessidade, como o plantio — fazer uma plantação de hectares de área com o suor de seu rosto e o uso único de seus músculos—, como por obrigação, como a guerra.

Não pensei que meu personagem pudesse sustentar tantas aventuras dificílimas de sair vitorioso, com combates todos os dias, lutas e esforços diários que um homem civilizado, como é o atual, que estudou e usa o cérebro para vencer na vida, não conseguiria. 

Isso foi a princípio. Mas, assim como tantas vezes, acreditei que Cedrik seria um personagem invencível, que vivesse da luta e da paixão assim como alguém vive para sobreviver, em um ambiente hostil e letal.

Cedrik, Guerreiro!

Cedrik, em minha imaginação, é fruto de uma série de heróis míticos, como Hércules, Teseu, Perseu, Aquiles, heróis gregos que a imortalidade de sua existência, em nossa imaginação, os fez invencíveis.

Nem só de heróis gregos Cedrik tem inspiração. Conan, a princípio um guerreiro cimeriano, do continente da Hibória, após o afundamento da Atlântida, é quem mais se assemelha a um Guerreiro como Cedrik.

Com a força de dez a vinte homens fortes, possui pele moreno-clara e curtida pela vida ao ar livre. Cedrik jamais perdeu uma única batalha, ou uma única luta homem-a-homem. Devido a suas características, nunca foi ferido, exceto por Vivian, sua amante e princesa do Extremo Leste. 

Seu físico fora talhado por uma vida de combates contra bandidos e grupos de nômades vindos do Norte — Cedrik vivia com sua família, desde que nascera, nas Terras Frígidas do Sul do Continente Ocidental —, bem como uma existência de caçadas sem fim, para trazer carne aos seus familiares e a agricultores, que armazenavam-na para a terem no período de frio e gelo, no Inverno duro e insensível à vida dos homens.

Músculos sobre músculos formavam o corpo de Cedrik. Não usava capacetes, ou armaduras, nem cotas de malha de ferro, vivia-se sim, na Idade do Ferro, bem antes de se desenvolverem o aço. Podia-se forjar espadas, armas e armaduras a partir do ferro existente em minas por todo o mundo, mas Cedrik tinha os reflexos e a agilidade de um tigre. Portanto, ele trajava apenas um colete de couro marrom-claro aberto na frente, calças de couro marrons-escuras e uma bota que ia até a metade da batata da perna. Quando o Inverno chegava, tinha suas peles, e elas, juntamente com o couro, o confortavam.

A face de Cedrik era endurecida pelos anos a fio em que caçara e lutara. Malares salientes, o rosto impassível como que esculpido em pedra, orelhas nem grandes, nem pequenas, rentes à cabeça, cabelos longos e lisos, grossos e bem escuros. Pescoço taurino, que uma vez resistira a um golpe com uma barra de ferro dado por um guerreiro hercúleo, um bandido de força impressionante, fazia de Cedrik uma lenda. Houvera amantes. Muitas. Uma delas, a princesa Vivian, era tão rápida e forte, segurando o punho de uma espada, quanto Cedrik. A única. O tronco de Cedrik era como o de uma árvore. Resistiria a ventos e a tempestades. As costas, musculosas, as pernas, extraordinariamente fortes e atléticas, veias sobre músculos maciços.

O conjunto de tanta força se fizera mostrar quando, estando Sandial em transe hipnótico e Vivian, sob o efeito sedativo de um veneno, tiveram de ser carregados, um em cada ombro, e o herói precisando escalar um paredão de mais de vinte metros de altura.

Conseguira-o facilmente.

Os bíceps e tríceps de Cedrik faziam as mulheres suspirarem e os bandidos, a quererem matá-lo. Massa de músculos, veias e músculos sobre músculos faziam dos braços de Cedrik armas poderosas. Uma vez sufocara e quebrara o pescoço de um bandido que tentara estuprar Vivian em questão de segundos. Arrancara uma porta de seus ferrolhos e sua maçaneta assim como quem abre uma gaveta de uma mesa. Atirara a sete metros de distância a pesada porta, que estraçalhara o queixo de outro bandido e separara a cabeça do corpo, pelo pescoço, daquele que esperava a vez de se aproveitar de Vivian.

Assim era Cedrik: lutava sem igual e pensava como um enxadrista aliado a seus sentidos apurados de olfato, visão, audição, paladar e tato.

Pensava rápido. Sabia quando se esconder para atacar posteriormente e sabia quando sair a campo aberto, revelando-se, para duelar e massacrar. E há ainda uma qualidade física de Cedrik que muitos historiadores consideram pura fantasia. No mais absoluto silêncio, na escuridão total, Cedrik era capaz de observar o invisível, ouvir onde não havia ruído, sentir pelo olfato onde só havia o cheiro da areia do deserto. Quem conviveu com Cedrik, como a princesa Vivian, pode confirmar tais fatos, mas o que é certo é que nunca houvera na face da Terra, em tempo algum, um Guerreiro como Cedrik, virtualmente invencível.

Um homem que vê o invisível, sente o que não pode ser sentido, está perto da descrição de um semi-deus. Mas Cedrik é apenas um homem, um Guerreiro, ainda que com capacidades extraordinárias — está na classificação máxima, junto como Conan, dos heróis das histórias de Espada & Feitiçaria.

Lancei em 2021 o livro “Cedrik – Espada & Sangue”, romance de Espada & Feitiçaria, tendo por inspiração o filme Conan, the Barbarian, com Arnold Schwartzenegger como herói. Tenho ainda alguns exemplares e o romance não tem previsão de quando será reeditado.

Cedrik! Que sua amada Vivian, seu amigo fiel Sandial e o livro Necrofilium, de maldições, feitiços, encantamentos e curas, possam sobreviver pela Eternidade!

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