em 07/10/2004
A Casa das Idéias se livra da maldição, tornando o título acima, antes absurdo, realidade
Quem nunca sonhou em ver seus heróis favoritos no cinema? O Homem-Aranha escalando os prédios, o Hulk destruindo tanques ou os X-Men salvando seres humanos de Magneto? Após décadas de tentativas fracassadas de transportar seus personagens para a tela grande, a famosa editora norte-americana de quadrinhos, Marvel Comics, que até já passou por processo de falência no final dos anos 90, finalmente conseguiu um lugar em Hollywood. Resta saber quanto tempo este império reinará contra uma concorrência cada vez mais diversificada.
Primeiro a Telinha
Alguém aí se lembra do filme do Capitão América? Aquele em que o Caveira Vermelha é italiano e pianista? Quem viu prefere esquecer, quem nunca viu... finja que não existe! Inicialmente, as investidas da Marvel ganharam espaço na tela pequena com seriados e filmes feitos para a televisão, dentre os quais se destaca "O Incrível Hulk", que marcou toda uma geração com a transformação do frágil cientista, interpretado por Bill Bixby, numa montanha de músculos verde trajada apenas com uma calça rasgada - o fisiculturista Lou Ferrigno. No entanto, tal sucesso foi possível graças à idéia anterior da DC Comics, concorrente direta da Marvel, de transformar personagens de quadrinhos em séries televisivas. Batman, o homem morcego criado por Bob Kane, brilhou na TV dos anos 60 na pele (e barriga) do ator Adam West e seu inseparável parceiro Robin (Burt Ward).
Infelizmente, como as histórias em quadrinhos sempre correspondem à infância e adolescência, o único meio de vender a série era torná-la agradável ao público alvo. Assim, a dupla dinâmica combatia o crime com bugigangas inimagináveis em plena luz do dia (!) em meio a cenários e figurinos coloridos e espalhafatosos. Talvez, a única qualidade (ou o menor defeito) do programa foi sua fidelidade às onomatopéias recorrentes na linguagem dos quadrinhos. Atualmente, a série, que chegou a ter um filme em 1966, tornou-se "cult" entre os jovens que apreciam seu humor incidental.
Da Era das Trevas aos Bárbaros
Nos anos 80, enquanto a DC Comics enriquecia através dos filmes do Super-Homem, o diretor John Milius transportou para o cinema o personagem bárbaro de Robert E. Howard (1906-1936), Conan. Inspirado pela arte de Frank Frazzetta e a ultra-violência típica das histórias em quadrinhos baseada na frase de Nietzche: "O que não nos mata nos torna mais fortes", Milius escreveu o roteiro ao lado de um desconhecido Oliver Stone e para interpretar a personagem, contaram com a performance do ator austríaco protagonista do filme "Hércules em Nova York", Arnold Schwarzenegger, o atual "governator" da Califórnia. Numa produção caprichada assinada pelos Laurentis, "Conan, o Bárbaro" (Conan the Barbarian/ 1982) abocanhou mais de nove milhões no primeiro fim-de-semana e deu o Globo de Ouro de revelação à Sandahl Bergman. Tal sucesso se deve à paixão do diretor, que quando Schwarzenegger disse "Estou sangrando!" respondeu: "A dor é passageira, mas os filmes são eternos". O filme ainda daria origem a duas seqüências menores: "Conan, o Destruidor" (Conan, the Destroyer/ 1984) e "Guerreiros de Fogo" (Red Sonja/ 1985).
Enquanto a Marvel explorava os bárbaros, sua concorrente, já cansada de explorar o Homem de Aço (curta-metragem de animação, desenho animado, série de TV e filmes), começava a dirigir sua atenção e lucro a outro personagem com bom potencial cinematográfico.
O Auge da Concorrente
Ao contrário do Super-Homem, Batman, era sombrio, a começar por sua origem: o assassinato de seus pais. Para isso, a DC não se arriscou: optou pela contemporaneidade. Foi assim que o telefone de Tim Burton tocou. Burton, que já havia mostrado seu estilo "dark" em filmes como "Os Fantasmas se Divertem" (Beetlejuice/ 1988), foi convocado pelos poderosos dos estúdios da Warner Bros. com um único objetivo: arrecadar milhões nas bilheterias. Lançado em 1989, o filme tinha que trazer o subtítulo "O Filme" para se distinguir da idéia da série de TV, pois agora tinham vergonha dela. Neste filme, o diretor mostrou que é possível utilizar os recursos cinematográficos como a fotografia, direção de arte e trilha musical para a construção de um herói dos quadrinhos em herói de cinema. O tom sombrio garantiu que todas as faixas etárias pudessem conferir o personagem em ação. Contudo, apesar da competência da equipe técnica, o verdadeiro mérito vai para a campanha de marketing da Warner, que usou e abusou de trailers e do símbolo do herói estampado em cada cartaz e produto para consumo um ano antes de seu lançamento.
A seqüência dirigida novamente por Burton trouxe uma qualidade visual nunca antes vista. Todavia, a sensualidade da Mulher-Gato de Michelle Pfeifer e a bizarrice do Pingüim de Danny DeVito não agradaram tantos espectadores como o Coringa de Jack Nicholson, acarretando numa bilheteria inferior à primeira: "míseros" U$ 162 milhões só na terrinha deles. Dali em diante, a série só decai: Joel Schumacher assume a cadeira de diretor e transforma o cenário sombrio num carnaval com direito a fantasias de gorilas, vilões mudos e incompetentes e até danças tribais. A eficiente trilha de Danny Elfman se perde, o belíssimo trabalho de Peter Young e Anton Furst na direção de arte dá lugar a um horrível e insuportável néon barato e as atuações não correspondem ao tipo de filme que Schumacher dirige; enfim, o exagero toma conta da segunda metade da série (que já foi) milionária. Mas, quem pensa que o tema central foi desviado, é importante ressaltar que "Batman & Robin" (Batman & Robin/ 1997) foi, no mínimo, fundamental, pois serviu como referência de "Como Não fazer um Filme de Super-Heróis de Quadrinhos", além de abrir espaço para personagens menos conhecidos do grande público.
Os Primeiros Passos da Marvel
Foi assim que no ano seguinte, "Blade - O Caçador de Vampiros" (Blade, the Vampire Slayer/ 1998) deu o primeiro passo no cinema da Marvel - Conan e Homens de Preto não são criações da Marvel. Blade, um personagem secundário nos quadrinhos, torna-se protagonista do filme pelo ator Wesley Snipes. Para a direção, os desesperados da Marvel chamaram Stephen Norrington, mais conhecido pelos efeitos especiais que criou em "Aliens" (Aliens/ 1986) e "O Enigma da Pirâmide" (Young Sherlock Holmes/ 1985). Como se trata de um personagem desconhecido do grande público, não houve tanta pressão por parte dos produtores, possibilitando um filme mais alternativo, trazendo apenas fãs e curiosos aos cinemas, porém sua narrativa ágil e econômica provou que o personagem da Marvel possui potencial bastante cinematográfico, além de profundidade. A abertura do filme presenteia o espectador com um caprichado banho de sangue numa discoteca repleta de vampiros, mas faltou uma galeria de vilões mais digna para Blade. Se Norrington mostra a porta para Hollywood à Marvel Comics, quem a abre é Bryan Singer, o jovem diretor de "Os Suspeitos" (The Usual Suspects/ 1995) e "O Aprendiz" (Apt Pupil/ 1998).
Um dos tesouros guardados a sete chaves da Marvel Comics são os mutantes denominados X-Men, pois são responsáveis por colocar a editora no topo das vendas de quadrinhos nos EUA, além de dona um desenho animado bacana nos anos 90. Se tais personagens caíssem nas mãos de um diretor qualquer ou voltado aos filmes de ação, o teor mais importante desse universo jamais seria explorado: o preconceito entre humanos e mutantes. Mutantes são seres superiores devido ao fator genético X que lhes confere poderes extraordinários - essa era a nova realidade, que Singer logo captou. Tal adaptação modificou também o visual dos heróis. Os uniformes colantes de cores claras deram lugar a um visual mais sombrio e realista. Depois da onda "Matrix" (The Matrix/ 1999), os figurinos passaram a ser basicamente couro preto, influenciando posteriormente as histórias em quadrinhos atuais.
A primeira metade do filme soube resumir o essencial das personagens num bom ritmo, ilustrados por belos planos como os do campo de concentração. A propósito, "X-Men" já se diferencia dos demais filmes de super-heróis como "Batman" logo com a cena inicial, encarregada de mostrar a origem de Magneto na 2ª Guerra Mundial na Polônia, substituindo a já tradicional demonstração de poderes da equipe num crime menor.
Curiosamente, o ator Dougray Scott que interpretaria Wolverine, sofreu um acidente nas gravações de "Missão Impossível 2" (M:I 2/ 2000) de John Woo, dando lugar a um ator australiano de TV e teatro: Hugh Jackman. A performance do ator agradou a maioria do público, inclusive dos fanáticos pelo personagem. "Se não fosse por Hugh, Wolverine correria sério risco de ser um grandalhão que só tem músculos. Ele acrescenta densidade a um personagem que, em mãos erradas, seria um desastre" - elogia Singer, que voltaria a trabalhar com o ator na seqüência. Numa entrevista, Jackman confessa que para absorver a fúria de Wolverine, tomava banho frio durante as filmagens num Canadá bastante gelado. Quanto à formação do elenco, a produtora Lauren Shuler Donner revela que a admissão de Ian McKellen fez com que os demais atores comprovassem que se tratava de algo, no mínimo, interessante. Obviamente, o currículo de Singer também favoreceu para o sucesso do filme, além disso, seu tratamento diferenciou "X-Men" de um filme de quadrinhos: "Meu filme não é uma adaptação de histórias em quadrinhos, mas uma ficção científica" - afirma Singer.
Após um sucesso comercial, o primeiro personagem a ganhar uma seqüência foi justamente aquele que iniciou a jornada toda: Blade. Wesley Snipes, que viveu o caçador de vampiros, retorna no início de 2002 nessa seqüência bem-sucedida, desta vez dirigida pelo argentino Guillermo del Toro ("A Espinha do Diabo"). Se Norrington tinha dado um toque sombrio no primeiro filme, del Toro abusa dele. Sangue em caminhões-pipa e mais refletores para a fotografia de Gabriel Beristain se destacam nesse filme que poderia ser mais ambicioso, já que se trata de um personagem do segundo escalão. "Blade II" segue a fórmula das seqüências: vilões em maior número com um perigo maior do que o primeiro e, nesse caso, muitas acrobacias no ar (atores e dublês pendurados por cabos). Um filme que nada acrescenta, mas muito bem produzido e realizado que agrada ao público de filmes de ação.
A Era de Ouro da Marvel
Continuando a cronologia do pensamento, se "Blade - O Caçador de Vampiros" mostrou a porta e "X-Men" a abriu, o Universo Marvel a estreou com um projeto empoeirado na gaveta há décadas: o filme do Homem-Aranha, cujos direitos autorais foram rebatidos mais do que bola de pingue-pongue. Acertado o roteiro, escalaram um diretor um tanto incomum: Sam Raimi, responsável pelo inovador terror trash de "Evil Dead - A Morte do Demônio" (Evil Dead/ 1982). Apesar de seu nome estar associado a filmes desse gênero, Raimi demonstrou firme direção de atores em "Um Plano Simples" (A Simple Plan/ 1998), com Bill Paxton, Bridget Fonda e Billy Bob Thornton (numa surpreendente performance).
Além de ter estilo e direção de atores, Raimi ainda era fã do herói aracnídeo, possibilitando um trabalho mais emotivo. Logo acertou escalando Tobey Maguire para o papel principal (James Cameron queria Leonardo DiCaprio e este não queria aparecer tempo demais mascarado) e Willem Dafoe como o vilão Duende Verde. Como bom conhecedor, Raimi tomou como base as primeiras histórias do herói ainda adolescente, capturando o espírito jovem que influenciou tantos leitores nos anos 60. Resultado: a maior bilheteria de um filme baseado em quadrinhos, além de dono do recorde de maior arrecadação num único fim de semana com nada menos que 115 milhões de dólares só nos EUA. O filme ainda foi indicado aos Oscar técnicos (Som e Efeitos Visuais) e levou 2 prêmios no MTV Movie Awards. "Homem-Aranha" foi a grande prova de que a Marvel Comics era uma fonte de ouro que os estúdios logo se encarregaram de "acreditar".
Marvel Para Dar e Vender
2003 foi o ano do "Big Bang" Marvel. Em fevereiro, "Demolidor - O Homem Sem Medo", dirigido por outro fã de histórias em quadrinhos, Mark Steven Johnson, estréia com 45 milhões de dólares. Ben Affleck, Jennifer Garner, Colin Farrel e Michael Clarke Duncan encontram-se bem estilizados como seus respectivos personagens numa trama baseada nas histórias do roteirista e desenhista Frank Miller, que ressuscitou o personagem nos quadrinhos. Apesar de apresentar estrutura linear como o filme de Raimi, iniciando-se com a origem do herói até o conflito final com o vilão, o filme se dirige a um público mais adulto. O cenário é uma Nova York de becos sujos, comandados pelo Rei do Crime.
Inicialmente, o filme deveria ser alternativo, mas com o sucesso milionário de "Homem-Aranha", a brincadeira ficou séria. "De repente, injetaram mais 30 milhões de dólares a meu orçamento de 40 milhões e a expectativa dos produtores foi parar na estratosfera" - revela o diretor. O dinheiro investido possibilitou a criação de efeitos visuais (CGI) para a visão por radar do Demolidor; pena que não investiram no figurino barato do herói. Para os fãs, há uma série de referências espalhadas ao longo do filme como a aparição do criador Stan Lee nas ruas de Nova York e Kevin Smith no necrotério.
Três meses depois, um dos filmes mais aguardados estréia: a seqüência de "X-Men". Com um orçamento bem superior e mais tempo, Bryan Singer lança seu "O Império Contra-Ataca" e capricha em cenas de luta e uso de poderes mutantes. Apesar de já ser uma franquia milionária, a produtora Lauren Shuler-Donner ressalta: "Com o vasto catálogo de personagens a nossa disposição, seria fácil escolher um vilão escandaloso e realizar um filme bonito, mas vazio". O roteiro é baseado numa antiga história escrita por um dos maiores roteiristas dos X-Men nos quadrinhos, Chris Claremont, chamada "Deus Ama, o Homem Mata", na qual o padre racista William Stryker ataca os mutantes ao conquistar o público na mídia.
Singer não desaponta os fãs que aguardaram três anos desde o lançamento do primeiro filme da série. Há seqüências já antológicas como o ataque ao presidente na Casa Branca, a invasão da Mansão X e a luta entre dois mutantes munidos de garras: Wolverine e Lady Letal. "Acho que no futuro, X-Men será visto como um grande trailer de X2" - divulga o entusiasmado Patrick Stewart. Com as cartas já na mesa, Bryan Singer decide explorar outros personagens e aprofundar o passado do protagonista Wolverine, utilizando flashbacks rápidos. Obviamente, o "tratamento ficção científica" do diretor permanece, valorizando não somente a trama, mas os personagens que fizeram de X-Men um sucesso comercial.
Enquanto isso, Ang Lee se preparava para o lançamento de "Hulk". Para quem estava pensando estar no topo do mundo, um fracasso deve fazer bem à Marvel. Além da criatura digital não satisfazer a maioria dos espectadores, a história não foi muito convincente. Hulk sempre foi comparado ao personagem "Super-Homem" devido à força, mas sua dualidade se iguala ao personagem de "O Médico e o Monstro" (Dr. Jekyll/ Mr. Hyde) de Robert Louis Stevenson. Lee bem que tentou inserir dramaticidade e verossimilhança na história assim como a atuação das personagens, todavia os efeitos especiais roubam a cena e as risadas, pois muitos ligaram a figura verde ao ogro Shrek da mesma cor. Nas próprias histórias em quadrinhos, o personagem criado por Stan Lee não tinha uma base com potencialidade para o drama. Basicamente, Hulk nasceu para dar dor de cabeça ao exército e quebrar tudo à sua frente. Sua única salvação era seu grande amor Betty Ross, vivida no cinema pela bela Jennifer Connelly. Ang Lee perde o rumo ao mesclar drama psicológico (trauma familiar) com o total fictício (o que dizer dos cães-Hulk e do pai que vira um espectro de energia?). O diferencial do filme está na montagem criativa de Tim Squyres que simula páginas de quadrinhos, mas ainda assim num ritmo bastante moroso.
Futuro Sem Garantias
Em 2004, a Marvel volta às telas de cinema com "Justiceiro" (The Punisher), a seqüência de "Homem-Aranha" e as prováveis adaptações de Quarteto Fantástico e Motoqueiro Fantasma, além de uma retomada de Conan por Milius em 2005. Em apenas cinco anos, a maldição que reinava na Marvel Comics teve seus dias contados. Hoje, aquela velha DC Comics está lutando para conseguir de volta o prestígio nas telas de cinema com projetos difíceis de se concretizar. Entre eles, o filme de Batman vivido pelo "psicopata americano" Christian Bale dirigido por Christopher Nolan ("Amnésia" e "Insônia"), "Superman" de McG ("As Panteras" e "As Panteras Detonando") e, correndo por fora, o filme solo da Mulher-Gato, provável "trash" com Halle Berry, carregam as últimas esperanças da editora. Além disso, outras editoras americanas estão aderindo à moda de adaptar personagens para o cinema. Recentemente, "A Liga Extraordinária" (The League of Extraordinary Gentlemen/ 2003) de Alan Moore foi adaptado por Norrington ("Blade"), rendendo milhões só nos EUA. Para este ano, "Hellboy" e "Constantine" são as apostas do selo adulto Vertigo.
Com uma safra cada vez mais rica e variada, o reinado da Marvel corre riscos de desmoronar. Para quem já saboreou o gostinho amargo da falência, a editora não pretende abandonar o trono sem uma boa luta. Por mais que a editora perca esta briga, os fãs vão pelo menos poder dizer aos netos que a Marvel chegou a conquistar as bilheterias uma vez.
Sitegrafia
- IMDb - Internet Movie Database ( www.imdb.com ): Maior arquivo de produções cinematográficas entre outros;
- Crônicas da Ciméria ( ): Site brasileiro muito bem-elaborado para interessados na Era Hiboriana de Conan;
- UXN ( www.uncannyxmen.net ): Site americano para os fãs e feito pelos fãs dos mutantes X-Men;
- Gibiteca ( www.gibiteca.com.br ): Acervo de publicações e eventos no Brasil;
- Marvel Comics ( www.marvel.com ): Site oficial da editora norte-americana.
Matéria exibida no site Mnemocine - memória e imagens (http://www.mnemocine.com.br)