Era Hiboriana: Mistérios da Era Pré-Cataclísmica

por Dale Rippke
em 06/11/2005
Originalmente
publicado em REHUPA #157

Nada empolga
as pessoas como um bom mistério. Os melhores são como um quebra-cabeça,
trabalhando peça por peça até uma visão coerente ser feita a partir de uma
massa de partes caóticas. Neste ensaio, o primeiro de vários, olharei para
vários mistérios que o famoso Robert E. Howard não mencionou enquanto escrevia
a estrutura que sustentou seus contos de Kull e Conan: uma visão do passado,
chamada “A Era Hiboriana”.


“A Era
Hiboriana” foi publicada em 1938, em forma de folheto, e pretendia mostrar como
se formou o pano de fundo dos contos de Conan. O documento está bastante
completo. No entanto, Howard escreveu uma boa quantidade de estórias que fazem
referência a partes de sua história que “A Era Hiboriana” não menciona. Estas
são as partes que contém o mistério.


Mistérios
da Era do Mundo Thuriano


Há diversos
mistérios que pertencem à época da Valúsia e dos Sete Impérios. Há outros
países e povos mencionados na saga? Existiu algum antes da Era
Pré-Cataclísmica? Como estavam dispostos os continentes no mundo daquela época?


O primeiro
mistério da Era Pré-Cataclísmica faz sua aparição numa linha do terceiro
parágrafo de “O Reino das Sombras”, uma história do Rei Kull. A linha diz:


“Atrás
daquelas filas terríveis e orgulhosas, vieram os mercenários, guerreiros
ferozes e de aspecto selvagem, homens de Mu e Kaa-u, e das colinas do leste e
ilhas do oeste”.


O que são e
onde estão Mu e Kaa-u? Ambos são obviamente países que existiram na época dos
Sete Impérios. Howard nos fala mais alguma coisa sobre eles? Para simplificar,
vamos olhá-los separadamente.


Mu é apenas
mencionada em dois contos da saga de Kull: “O Reino das Sombras” e “Cavaleiros
Além do Sol Nascente”. Ambos não dão outras informações que não o seu nome, e o
fato de ela enviar mercenários para a Valúsia nos é comunicado. Por sorte, há
outros dois contos de Howard que falam de Mu. Um é uma história de Solomon Kane
“A Lua das Caveiras”, e o outro é um fragmento chamado “A Ilha das Eras”. Em “A
Lua das Caveiras”, sabemos que a capital de Mu tem muros escarlates, e que ela
foi engolida pelas ondas na mesma época que a Atlântida. “A Ilha das Eras” nos
diz muito, muito mais. Mu era uma massa de terra do tamanho de um continente,
situada nos chamados “Mares do Sul”, a área do Oceano Pacífico ao sul e leste
das Ilhas Lemurianas. Há vinte cidades e milhões de pessoas no continente. A
capital de Mu é chamada Kharath, a Cidade Cintilante. O povo de Mu é ligado à
Lemúria, por compartilharem o mesmo alfabeto e provavelmente a mesma linguagem.
A aventura nos conta a história de uma guerra religiosa, onde o deus da nação,
Poseidon, é derrubado e o culto ao Primeiro Deus, Xultha, é restaurado. No alto
das montanhas de Valla, uma nova capital é construída, chamada Na-hor, a Cidade
da Lua Crescente. Desta cidade, sacerdotes de Xultha foram enviados aos Sete
Impérios, à Atlântida e a um lugar chamado “As Ilhas do Mar”. Após um tempo, o
deus Poseidon retorna e submerge o continente, do qual apenas os topos das
montanhas de Valla permanecem acima do mar. A cidade de Na-hor prosperou por
várias eras, finalmente se transformando em ruínas perto do final da Era Hiboriana.


Kaa-u é
mencionado apenas em “O Reino das Sombras”, na frase citada anteriormente.
Especulações sobre onde é localizado, dirigem-se para a outra única massa de
terra com proporções continentais mencionada na saga, a terra ao sul do
Continente Thuriano ocidental. Sabemos, a partir de “A Rainha da Costa Negra”,
que a Cidade dos Alados é situada lá. “A Lua das Caveiras” relata que a
Atlântida situou a cidade-colônia de Negari nesta área. E finalmente, em “O
Reino das Sombras”, Kull se recorda do cheiro de serpente que ele sentiu em
“selvas meridionais”. Se Kaa-u, como Mu, era um continente, eu acho seguro
situá-lo aqui.


O segundo
mistério aparece no fragmento de Kull, que Lin Carter transformou no conto
“Mago e Guerreiro”. Um povo misterioso chamado Celtas é mencionado duas vezes
no conto. Os olhos de Brule são azuis como os dos Celtas, e estes últimos são
uma raça marítima que assola as Ilhas do Sol Poente. Mas, uma vez que este é um
fragmento, é possível que Howard o alterasse, caso ele decidisse terminar o
conto. Lin Carter manteve os Celtas em sua versão da história, então só posso
supor que os Celtas eram uma tribo da Atlântida ou de uma das ilhas próximas.


O mistério
final, com relação aos povos e lugares da Era Pré-Cataclísmica, diz respeito à
misteriosa civilização, existente no continente thuriano oriental, que
originalmente veio de um continente sombrio e sem nome, situado a leste da
Lemúria. Minha crença é de que eles vieram de Mu, o continente situado a leste
da Lemúria. Após a Lemúria afundar durante o Grande Cataclismo, seus refugiados
se dirigiram ao local onde acharam que seriam bem-vindos. Lemúria e Mu
compartilhavam o mesmo idioma, apesar de tudo. Agora, talvez seja possível que
um outro continente ficasse a leste de Mu, perto de onde fica hoje a América do
Sul. Também é possível que boa parte da América do Sul estivesse sob o mar
durante a Era Thuriana, e que apenas os picos da cordilheira dos Andes
estivessem acima do nível do mar. Estes picos poderiam muito facilmente ser as
“Ilhas do Mar”, mencionadas anteriormente.


Existiram
civilizações antes da Era Thuriana? Vários contos falam de uma raça pré-humana,
chamada “A Velha Raça”. Menções a esta raça são feitas em “A Gata de
Delcardes”, “Cavaleiros Além do Sol Nascente” e “Os Espelhos de Tuzun Thune”.


Então, onde
estão situados as ilhas e continentes da Era Thuriana? Usando a Atlântida como
ponto central:


- O Continente
Thuriano fica logo ao leste.


- As Ilhas do
Sol Poente (Ilhas Pictas) ficam logo a oeste.


- A Lemúria
fica a sudoeste das Ilhas Pictas, fora da costa leste thuriana.


- Mu fica ao
sul das Ilhas Pictas e a sudoeste da Atlântida.


- Kaa-u fica
ao sudeste da Atlântida e sul da Thuria ocidental.


- As Ilhas do
Mar ficam possivelmente ao sul e ligeiramente a oeste da Atlântida.


Bastante
simples, não?


Mistérios da Era Cataclísmica


Originalmente
publicado em REHUPA #160


“O
deslocamento na crosta terrestre foi tão súbito quanto devastador. Ela se moveu
com tal força implacável, com tal ferocidade esmagadora, que pegou tudo de
surpresa em seu caminho. Veio como um leviatã das profundezas do oceano, com as
mandíbulas bem abertas, prontas pra se fecharem em sua vítima. Nada se deu
conta de sua aproximação, nada foi avisado de seu perigo.


Como um
ladrão na noite, a força mortífera se moveu secreta e silenciosamente,
impulsionada por forças centrífugas, com seu poder primitivo multiplicando em
força, multiplicando em intensidade e, com toda a crescente velocidade,
carregou seu poder mortífero envolvido no gelo frio dos pólos; e com uma
precipitação nascida do aparente desespero, ela rasgou a rígida crosta dos
planetas em pedaços. Houve um momento de aparente indecisão, e então a terra
virtualmente se inflamou em furiosa reação, enquanto vulcões entraram em
erupção e terremotos mortais sacudiram o globo.


O
cataclismo veio literalmente do céu, despedaçando a crosta terrestre e
transformando o oceano num turbilhão de morte, enquanto as águas furiosas
jorraram ao longo da terra, em ondas de 30 metros que não deram aviso aos
habitantes, nem piedade aos vivos. Uma grande civilização foi reduzida a
entulho. Com o passar do tempo, apenas uma lenda do sonho da Era Dourada
permanecera nas mentes daqueles que sobreviveram. Alguns buscaram proteção nas
colinas; outros, menos afortunados mas não menos determinados, enfrentaram a
natureza com uma coragem nascida do desespero. Poucos triunfaram, mas aqueles
que o fizeram, perambularam pelas ruínas como crianças selvagens. Haviam sido
despidos de suas necessidades básicas, e dos seus sonhos com o futuro que a
civilização lhes fornecera. Desorientados, sua fé em Deus, na Natureza, e até
mesmo em seus companheiros, se desfez; ainda impelidos pelo instinto de
sobrevivência, eles começaram a tarefa de forjar uma vida do que restara, sem
saber nada do que o amanhã traria! Se passariam muitos anos, e incontáveis
lutas, até que o acontecimento fosse superado; por enquanto, sem escolha, eles
viveram minuto após minuto com uma ansiedade nascida do pânico, sempre se
perguntando se, ou quando, a terra iria se deslocar novamente”.


Trecho
de “O Martelo e o Pêndulo”, de Richard Noone


Dramático,
não? O Grande Cataclismo arrasou o mundo de sua época, mandando quase todas as
civilizações sobreviventes de volta à idade da pedra, da qual haviam se livrado
milênios antes. As nações avançadas da época desapareceram do palco da
história, com seus sobreviventes rapidamente sucumbindo à necessidade de fazer
frente a um mundo que não mais lhes daria toda suntuosidade. Das diversas
fontes que Robert E. Howard forneceu a respeito do Grande Cataclismo, é
possível especular sobre a causa e seus extensos efeitos.


Eu creio que o
“gatilho” do Grande Cataclismo foi o impacto de um cometa, no mar entre o
pequeno continente da Atlântida e as ilhas da Lemúria. Este impacto iniciou um
deslocamento na crosta, que a tornou um montante sem precedentes de terremotos
e de atividades vulcânicas, enquanto as falhas da terra foram pressionadas em
seus pontos de ruptura. O outro efeito a longo prazo foi a quebra das capas de
gelo em seus vários pólos, e o subseqüente aumento do nível do mar, enquanto
suas águas derretidas foram soltas aos oceanos.


Os mais
atingidos pelo impacto oceânico foram as ilhas e continentes próximos. Mu foi
totalmente destruído pelo tsunami e ondas de choque, e foi quase completamente
inundado pelo aumento do nível do mar. A Lemúria teve praticamente o mesmo
destino que Mu, embora uma porção bem maior da primeira tenha conseguido ficar
acima do nível do mar. A Atlântida desapareceu completamente, enquanto a brecha
do oceano central, que corria sob ele, se abriu e expeliu magma suficiente para
fazer a crosta cair na brecha. Este deslocamento se uniu à elevação do nível do
mar e afogou o continente da Atlântida numa curta seqüência. As Ilhas Pictas
perderam seus habitantes (apenas alguns, nas altas montanhas, sobreviveram) e
foram então destruídas, enquanto eram empurradas pro alto para se tornarem os
picos de um novo continente.


As áreas mais
distantes do impacto foram menos afetadas por ele, e mais atingidas pelo
deslocamento da crosta e elevação do nível do mar. A Valúsia e os Sete Impérios
foram destruídos por terremotos e atividades vulcânicas, e, logo depois disso,
pelo mar, quando o nível deste se ergueu a estimados 120 metros e submergiu as
férteis terras baixas. Através de um milagre do destino (ou dos deuses), a
civilização pré-humana da Stygia mais antiga sobreviveu relativamente ilesa.
Pode-se argumentar que seu estilo megalítico de construção foi ajustado para
sobreviver aos muitos terremotos da época.


A elevação do
continente, rodeado por selvas (Kaa-u?), que ficava ao sul da porção oeste da
massa de terra thuriana, criou uma grande quantidade de destruição nas terras
dos Sete Impérios. Ela empurrou para o alto fileira após fileira de montanhas,
com conseqüentes vulcões. A grande pressão causou um grande empurrão para cima,
ao sul do que um dia seria Koth. A borda oeste deste empurrão se partiu, e
criou grandes vulcões e campos de lava com bordas afiadas. Esta área
intransitável veio a ser conhecida como as Montanhas Flamejantes de Khrosha. A
elevação causou, nas direções oeste e leste do mar raso que separava Thuria de
Kaa-u, um esvaziamento do mesmo, criando os extensos desertos da Stygia. Um
grande mar foi formado a leste da civilização stígia, o qual foi chamado de Mar
Oriental (Howard nunca mencionou este mar, mas ele aparece em vários dos textos
apócrifos). Durante a Era Cataclísmica, o Rio Styx (Nilus) desaguou neste mar.


Após um breve
período (presumivelmente uns três anos) de interminável inverno causado pela
grande aglomeração de poeira na atmosfera, a Terra começou a experimentar um
aquecimento, devido a todo o carbono liberado pela queima da biosfera pelos
vulcões (o CO2 – gás carbônico – se tornando um grande gás de estufa). O mundo
pós-cataclísmico começou a se aquecer muito em pouco tempo. Uma tribo de
selvagens, conduzida por seu líder Bori, tirou vantagem disso, ao fugir para o
agora morno círculo ártico, a fim de escapar dos vulcões, tendo no final
evoluído para hiborianos.


O Grande
Cataclismo destruiu todas as principais civilizações então existentes, com
exceção da antiga Stygia e de uma nação sem nome, existente na costa leste do
Continente Thuriano. Além deles, apenas os povos próximos à sua herança da
idade da pedra, tinham condições de superar os problemas que o Cataclismo
despejou em seus colos.


Uma destas
raças, os pictos, haviam sido abrigados nas montanhas meridionais da Valúsia,
como proteção às invasões estrangeiras. Quando o Cataclismo os surpreendeu,
eles perderam contato com as Ilhas Pictas no oeste distante. Eles voltaram a
usar pedra em suas armas, mas dentro de quinhentos anos conseguiram criar uma
rude nação, graças à sua unidade e habilidade.


Um dos
mistérios desta época foi como os pictos conseguiram passar, de uma raça de pele
de bronze para indivíduos de pele branca. Não é mesmo muito difícil explicar,
já que os pictos provavelmente absorveram centenas de sobreviventes valusianos
de pele branca em sua composição genética. Com o passar dos anos, isso teve o
efeito de clarear a pele dos pictos para uma cor marrom-clara.


A outra raça
bárbara a prosperar no mundo pós-cataclísmico, foram os remanescentes do reino
continental dos atlantes. Eles também retrocederam ao uso da pedra para a luta
por suas vidas contra os milhares de selvagens e feras que habitavam a região
ao redor de seu enclave. Não demorou muito até que as tribos guerreiras
atlantes entrassem em contato com a nação picta, mais poderosa.


Uma série de
guerras sangrentas se seguiu, e a cultura atlante foi reduzida a tribos nômades
de selvagens. O desenvolvimento cultural dos pictos foi detido, embora eles
conseguissem se manter como nação pela vantagem numérica.


Foi durante
este período de quinhentos anos que a raça stígia se expandiu para o leste, em
direção ao Mar Oriental, uma vez que ao sul havia desertos severos, e ao norte,
intransitáveis trincheiras vulcânicas. Eu creio que as grandes cidades stígias
de Kuthchemes e Pteion foram fundadas durante este período, e os importantes
centros de adoração tenham sido construídos ao longo da corrente norte do Styx.


Na porção
sudeste da Thuria ocidental, uma raça chamada Zhemri está fazendo durar uma
existência dificultada por vulcões e terremotos. Eles são um testamento de que
a habilidade do ser humano existe em qualquer lugar onde ele queira viver. Aqui
e ali, através do Continente Thuriano, estão espalhados grupos de bárbaros
selvagens.


Quinhentos
anos após o Grande Cataclismo, outro cataclismo menor alterou a face do
Continente Thuriano. O Cataclismo Menor foi um acontecimento relativamente
local. Provavelmente, a placa tectônica da borda sul do Continente Thuriano se
deslizou, originando os Montes Ilbars, e fez o Mar Oriental escoar na direção
oeste, num caminho quase direto ao Oceano Ocidental, criando a grande
correnteza ocidental do Rio Styx e o Deserto do Leste no processo. A extrema
pressão causada pelo levantamento do centro da placa thuriana fez com que esta
quebrasse e se acomodasse numa enorme depressão, que foi finalmente preenchida
com água e se tornou o Mar Vilayet. A separação final entre as porções leste e
oeste do continente thuriano havia ocorrido. A oeste, o recomeço das erupções
vulcânicas e terremotos completaram a ruína das tribos bárbaras errantes e
rudes nações que haviam sido formadas, lançando todos mais uma vez de volta à
Idade da Pedra. Desse modo, o local está assentado para o surgimento dos
hiborianos e a próxima era mundial.


O Mistério da Stygia Pré-Humana


Originalmente
publicado em REHUPA #161


“No extremo
leste, os lemurianos, rebaixados até quase o plano animalesco pela brutalidade
da escravidão, insurgiram-se e destruíram seus senhores. São selvagens andando
altivamente entre as ruínas de uma civilização estranha. Os sobreviventes dessa
civilização, que haviam escapado da fúria de seus escravos, foram migrando rumo
ao oeste. Eles atacam aquele misterioso reino pré-humano do sul e derrubam-no,
substituindo sua própria cultura, modificada pelo contato com a mais antiga. O
reino novo se chama Stygia, e os remanescentes da nação mais antiga parecem ter
sobrevivido, e até ter sido adorados, depois que a raça como um todo fora
destruída”.


(trecho de “A
Era Hiboriana”, de Robert E. Howard)


Nesse breve
parágrafo, Robert E. Howard dispõe uma civilização misteriosa, que havia
existido desde antes do Grande Cataclismo e da queda da Era Thuriana. Quem era
esta misteriosa raça pré-humana? O ensaio “A Era Hiboriana”, de Howard, não
fornece nenhuma outra informação que o fato de aquela raça ter existido inicialmente.
Devemos buscar nossas respostas em outros lugares.


Um dos maiores
mistérios da Era Hiboriana para mim é a suposição de que a civilização
pré-humana, mencionada no ensaio, era um enclave dos Homens-Serpente. Ele não é
mencionado em nenhum dos contos de Kull e Conan como um fato. Até onde posso
afirmar, esta suposição é baseada em nada mais que uma dedução de que o culto
de uma divindade, que os homens-serpente chamam de a Grande Serpente, é
idêntico ao culto stígio do demoníaco deus-serpente Set.


Embora possa
ser feita uma boa conjectura de que as duas divindades são fundamentalmente a
mesma, surge uma pergunta, se os homens-serpente eram a única raça a adorar a
Grande Serpente durante a Era Thuriana. Thulsa Doom, o grande feiticeiro
thuriano, era um seguidor humano da Grande Serpente. E mesmo depois de Kull
destruir os Homens-Serpente e quebrar o poder do deus deles, os homens ainda
cultuavam a Grande Serpente em seu templo, na capital da Valúsia de Kull. Desse
modo, parece que os homens-serpente não eram os únicos adoradores sob a
influência da Grande Serpente.


Surge outro
problema, quando Kull jura “caçar os homens-serpente de terra em terra, de mar
em mar, sem dar descanso até matar todos, que o bem triunfe e o poder do
Inferno seja quebrado”. É narrado em histórias posteriores que ele cumpriu sua
promessa e quebrou o poder da Grande Serpente. Então, me parece estranho ele
permitir que uma nação deles permanecesse, a várias centenas de milhas ao sul
da Valúsia, ao sul do Continente Thuriano. Embora seja possível que esta nação
de homens-sepente não tenha sido fundada depois da morte de Kull, isto é
meramente suposição. Devemos procurar as respostas em outro lugar.


Se alguém
procurar bastante rigorosamente pelas histórias de Conan, surgem pequenos fios
de informação que, entrelaçados, apresentam uma visível tapeçaria no olhar
sobre a raça pré-humana que viveu na Antiga Stygia. Não são uma raça de
homens-serpente, embora cultuem Set.


Nosso primeiro
pedaço de informação vem da aventura “O Deus na Tigela", de Howard. A
história dá uma olhada na pré-história da Stygia, na seguinte citação: “Kallian
Publico acreditava que ela continha o diadema dos reis-gigantes, dos povos que
habitavam aquela terra escura antes que os antepassados dos stígios chegassem.
Ele me mostrou um desenho gravado na tampa, que jurava que tinha a forma do
diadema que, segundo as lendas, era usado pelos reis-monstros”. Agora isto é
interessante! A raça pré-humana que existia antes dos stígios chegarem era de
gigantes, mais altos que a média humana. Existiu uma raça de gigantes durante a
Era Thuriana? A resposta é sim!


Na aventura “O
Altar e o Escorpião”, de Howard, aparece um membro da “Velha Raça” que existia
antes da humanidade. Seu nome é Thuron e ele é um alto sacerdote da Sombra Negra,
um deus mais antigo. Sua aparência é a de “um homem alto e magro, um gigante
cadavérico. Seus olhos brilhavam como poços de fogo sob suas pesadas
sobrancelhas, e o fino talho de sua boca se abriu num sorriso silencioso”. Ele
também é descrito como sendo incrivelmente forte, e com o passo sinuoso, como o
deslizar de uma cobra rastejante. De todas as descrições das raças mais
antigas, a dele é a única que se ajusta à descrição dos pré-stígios como reis
gigantes.


E tem mais. Em
“A Hora do Dragão” há uma riqueza de evidências sobre a raça pré-humana e
pré-stígia. Se olharmos o ensaio “A Era Hiboriana” e somarmos os anos que ele
abrange, descobrimos que aproximadamente 6500 anos se passaram entre o Grande
Cataclismo e a Era de Conan. Ainda em “A Hora do Dragão”, Conan encontra uma
vampira morta-viva chamada Akivasha e a reconhece: “O nome daquela antiga
princesa, bela e maligna, ainda existia no mundo em canções e lendas, embora
dez mil anos tivessem transcorrido desde que a filha de Tuthamon se deleitara
em régias festas, no meio dos salões negros da antiga Luxor”. Ela confirma sua
idade, quando declara: “Dez mil anos atrás, eu morri para viver pra sempre!”.
Assim, em outras palavras, ela se tornou uma vampira 3500 anos antes da Era
Thuriana ser destruída no Grande Cataclismo! Também somos informados que a
cidade de Luxor existiu durante a Era Thuriana. Akivasha é descrita da seguinte
forma: “Sua pele de marfim indicava-a como uma stígia de alguma antiga família
nobre, e como todas aquelas mulheres, ela era alta, esbelta e voluptuosa; seu
cabelo era uma grande pilha de espuma negra, em meio à qual brilhava um
cintilante rubi”. Conan acredita que ela seja uma stígia, uma vez que ainda há
nobres stígios de pele branca existindo durante sua vida. Sobre ela não ser, se
conclui pela data, a qual mostra que ela era viva vários milênios antes da
fundação da Stygia. Além disso, nota-se que ela é alta, como todas as mulheres
de sua raça. Um pedaço adicional de informação acrescenta valor à teoria de que
ela é da “Velha Raça”: “Num momento em que [Conan] falou com ela, a garota
virou a cabeça em sua direção e ele se sobressaltou ao ver os olhos dela
brilharem como fogo dourado no escuro”. Ela tem a mesma luz brilhante nos
olhos, que é descrita nos de Thuron.


Nós sabemos
que o povo do leste, que fundou a Stygia, não tinha a pele branca, porque
Howard nos diz mais. Ao descrever uma pirâmide colossal, Howard afirma: “Nenhum
homem podia se aproximar de uma daquelas pilhas sombrias de pedra negra sem
apreensão. O próprio nome era símbolo de repulsivo horror entre as nações do
norte, e as lendas davam a entender que os stígios não as construíram; que
estavam naquela terra em qualquer data antiga e imemorial, em que o povo de
pele escura adentrou a terra do grande rio”.


Outra peça do
quebra-cabeça é adicionada, quando entende-se que Acheron não foi fundada por
stígios, mas pelos “Reis-gigantes”. Em “A Hora do Dragão”, ao ver Xaltotun
restituído à vida, Valerius afirma: “Ele [Xaltotun] não era um stígio. Essa
parte, pelo menos, era verdade”. Deitado em seu sarcófago, Xaltotun é descrito
como “um homem alto e robusto, nu, de pele branca, com cabelos e barba
escuros”. Ele não é um stígio escuro; sua aparência é a própria descrição de um
membro da raça mais antiga. Ele tem os mesmos olhos incandescentes:
“Lentamente, a inteligência brotou em seus olhos escuros, tornando-os
profundos, estranhos e luminosos. Era como se luzes místicas, há muito
submersas, flutuassem lentamente através dos poços noturnos da escuridão” e “as
luzes bruxuleantes do inferno tremeluziam em seus olhos”. Quando Xaltotun
aparece após a Batalha de Valka, Conan reconhece sua aproximação como se fosse
a de uma serpente. E, como um pedaço final de prova, temos a observação de
Orastes, o sacerdote decaído: “Nós libertamos um demônio sobre a terra, um
espírito maligno incompreensível para humanos comuns. Eu tenho estudado o mal a
fundo, mas há um limite para aquilo que eu, ou qualquer homem da minha raça e
era, possa fazer. Meus ancestrais eram homens limpos, sem nenhuma mancha
demoníaca; apenas eu desci às covas, e posso pecar apenas ao alcance de minha
individualidade pessoal. Atrás de Xaltotun jazem mil séculos [100.000 anos] de
magia negra e diabolismo, uma antiga tradição do mal. Ele está além da nossa
compreensão, não apenas porque seja por si só um feiticeiro, mas também porque
ele é filho de uma raça de feiticeiros”. Mesmo considerado um pouco de exagero,
100.000 anos leva a raça de volta às brumas da pré-história.


A civilização
pré-humana, que governou a terra do grande rio, não consiste em
homens-serpente. Os próprios textos de Howard sugerem que eles eram os
Reis-Gigantes, uma raça antiga de feiticeiros com olhos incandescentes e uma
mancha demoníaca no sangue. Eles exerciam incrível poder mágico, devido à
relação com os mais antigos Deuses da infância da terra. Eles fundaram o
opressor Império de Acheron após o Grande Cataclismo. Os refugiados de pele
escura do Leste os aniquilaram na Stygia. E eles foram destruídos em Acheron
pelas migrações hiborianas. Os remanescentes da Antiga Stygia e os refugiados
da queda de Acheron instalados na Stygia, seus ancestrais se tornaram os nobres
stígios de pele branca da era de Conan. Eles trouxeram o culto a Set para a
Stygia, e suas ruínas deram magia, mistério e terror aos povos que os
sucederam. Sua influência se estendeu por toda a vastidão da Era Hiboriana e
além.


A Primeira Grande Migração


Originalmente
publicado em REHUPA #163


Na região mais
oriental do pré-diluviano Continente Thuriano, existiu uma misteriosa raça
xenófoba que, originalmente, habitara uma terra sombria que ficava no leste
distante, do outro lado do mar (Mu). Robert Howard nunca nos deu um nome para
este estranho povo, mas certos textos apócrifos se referem a essa gente como os
Khari. Eles eram uma antiga raça de pessoas de pele escura e rosto aquilino, e
seu único e raro intercurso na época era com o povo de pele amarelada do
Arquipélago Lemuriano.


Esta época
idílica chegou a um fim abrupto, quando um desastre, chamado O Grande
Cataclismo, sacudiu os alicerces do mundo. A maioria das terras de Mu e Lemúria
submergiu nas ondas do oceano e forçou os sobreviventes a encontrarem uma nova
terra pra morarem.


Os Khari,
através de um maravilhoso ato de geografia, conseguiram, não apenas sobreviver
ao Grande Cataclismo, mas manter intacta a maior parte de sua sociedade. O mais
notável dos desafios que esta raça teve de enfrentar, na esteira da catástrofe
que se estendia pelo mundo, era o problema dos refugiados lemurianos,
adentrando as terras que eles dominavam. Eles resolveram isso, escravizando os
lemurianos, os quais agüentaram um cativeiro tão brutal que quase os reduziu a
um nível bestial de existência.


Aproximadamente
quinze séculos depois(*), a estranha civilização dos Khari foi destruída,
quando os escravos lemurianos se revoltaram sucessivamente. Com suas cidades em
chamas, os poucos Khari sobreviventes – povo e sacerdotes – fugiram para o
oeste, a fim de escaparem de ser destruídos pelas mãos de seus antigos
escravos. Eles se juntaram aos exércitos, que protegiam a fronteira oeste dos
bárbaros que viviam além. As ruínas de sua outrora grandiosa civilização, eles
deixaram para os vingativos lemurianos.


A perda de sua
terra natal deve ter doído na alma dos Khari. Sobraram apenas várias centenas
deles. Para onde eles iriam? A oeste, ficam milhares de quilômetros de estepes
estéreis (as quais por fim se tornariam a Hirkânia) e, a sudoeste deles, se
estendiam as trincheiras intransitáveis dos montes Himelianos e Afghulis. Eles
tinham que ir a algum lugar, e era óbvio que não teriam paz com os lemurianos.


Eu especularia
que, durante este tempo, os antigos sacerdotes-feiticeiros assumiram o papel da
liderança. Pode-se imaginar que a idéia de encontrar ou conquistar uma pátria
empregava um fervor quase religioso. Poderia ser o equivalente Khari dos
refugiados israelitas de Moisés, vagando pelo deserto durante quarenta anos.
Resultaria no molde da alma da nação.


Desse modo,
começou a Grande Migração Khari. Eles viajaram para o sudoeste, ao longo das
orlas das montanhas. Surgiram conflitos durante sua jornada, enquanto
civilizações nascentes estavam começando a se formarem ao longo de sua rota.
Estes povos foram deslocados, destruídos ou absorvidos, normalmente como
escravos. Quase imperceptivelmente, seus números começaram a aumentar.


Finalmente,
eles alcançaram a área sul do Mar Vilayet. De quanto tempo se tomou para chegar
lá, nenhuma palavra é mencionada. Pode ter levado várias gerações; pode ter
levado vários séculos.


Foi aqui, na
orla do Deserto Kharamun, que lhes alcançou a palavra de uma nação fabulosa,
com cidades feitas de estruturas de pedras ciclópicas, espalhadas como
brinquedos descartados ao longo das margens de um rico e fértil rio, e seu mar
resultante. Isto provaria ser a Terra Prometida deles.


A terra diante
deles era velha, existindo desde muito antes do Grande Cataclismo reagrupar o
perfil do mundo. Esta terra maligna foi comumente chamada de Antiga Stygia, em
épocas mais tardias. Era a obscura nação pré-humana dos Reis-Gigantes de pele
branca; seu nome verdadeiro perdido nas brumas da história (pode-se fazer a
hipótese de que seu verdadeiro nome era Acheron). Ela ostentava cidades com
nomes fabulosos, como Luxor, Pteon, Sabatea, Erkulum e Qarnak (as duas últimas
são de textos apócrifos relativos a esta época). E parece bem provável que a
cidade suprema desta terra era a grande cidadela meridional de Kuthchemes.


Como a nação
Khari, ela sobrevivera ao Grande Cataclismo razoavelmente intacta e crescera
nos anos seguintes, rodeando as extensões ocidentais do Rio Nilus e as terras
que rodeavam o mar que se encolhia a seu leste. Ela crescera na direção norte,
fundando cidades ao longo das extensões do Rio Tybor. Assim como a nação Khari,
ela foi construída pela subjugação das tribos nômades da área e de negros das
terras ao sul. Vez que não houve uma verdadeira oposição na região, os Khari
tiveram uma única oportunidade. A Terra dos Reis-Gigantes ficara decadente e
mole porque seus senhores pré-humanos deram confiança demais à sua
infra-estrutura humana. Esta foi uma falha que os Khari aproveitaram
impiedosamente.


A primeira
cidade com certa importância a enfrentar os invasores Khari foi a cidadela de
Kuthchemes. A cidade murada, que até então nunca enfrentara nada maior que
esporádicas incursões nômades, se encontrou diante de um vasto e disciplinado
exército de invasores, determinados a renderem-na. A vasta e mal-defendida
cidade caiu em curta ordem. A captura de Kuthchemes deu aos Khari a base para
concluir o restante do domínio das cidades do vale do Nilus.


Os exércitos
dos Reis-Gigantes foram dificultados pela insubordinação interna dos súditos
humanos que os abrangia. Seus feiticeiros foram impedidos por forças
invisíveis, conjuradas pelos sacerdotes-feiticeiros Khari. Refugiados, fugindo
das cidades do leste, paralisaram os recursos das cidades remanescentes. A
traição desfez a estrutura da sociedade, enquanto várias famílias de
Reis-Gigantes fizeram acordos secretos com os Khari, para traírem o restante
por um lugar no sistema seguinte.


O império dos
Reis-Gigantes se dissolveu rapidamente em sangue e fogo. Grupos de refugiados,
tomando o que podiam levar, fugiram da nação em embarcações, para o santuário
das cidades acheronianas do Rio Tybor. Os remanescentes gigantes pré-humanos
hostis foram mortos, enquanto os Khari consolidavam suas conquistas. A Terra
Prometida ao longo do Rio Nilus agora pertencia aos Khari. A Grande Migração
havia terminado.


Os
conquistadores substituíram sua própria cultura nas terras ao longo do Nilus,
embora ela tenha sido amplamente modificada pelo contato com a Antiga Raça.
Eles admiraram as grandes pirâmides escuras e pilharam as relíquias mágicas de
tumbas pré-históricas. Começaram a chamar o Rio Nilus por um novo nome, o Rio
Styx. Eles deixaram de ser os Khari neste momento, comemorando seu novo começo
ao chamarem a si mesmo de stígios.


As traiçoeiras
famílias nobres dos Reis-Gigantes, que ajudaram os stígios, foram incorporadas,
como prometido, à camada mais alta da sociedade stígia. Eles foram a cola que
manteve unida a fusão das duas culturas e ajudaram a amenizar o período de
transição.


Um mistério
desta era foi a razão pela qual os stígios começaram a adorar Set, o grande
deus-serpente dos Reis-Gigantes. Eu creio que os stígios sentiram que seus
velhos deuses os abandonaram, durante a revolta lemuriana, e que eles foram
guiados pela intervenção divina à sua nova pátria. O fato de Set não ter feito
nada para ajudar os Reis-Gigantes não passou despercebido aos stígios de pele
escura, que tomaram isso como um sinal da própria ascensão à benevolência de
Set. Os stígios continuaram a cultuar Set com um fervor inigualado pelos
não-lamentados Reis-Gigantes. Ela se tornou a religião suprema do estado, e foi
assentada em Erkulum, a Cidade de Set.


Esta foi,
então, a história da Primeira Grande Migração. A nova nação da Stygia estava
formada, e os Reis-Gigantes se dissiparam de seu lugar e tempo na história
(eles logo voltariam, quando as cidades do Rio Tybor se tornassem a nação de
Acheron). O palco estava agora estabelecido para a Segunda Grande Migração, a
dos hiborianos. Este será o tema de meu próximo capítulo de “Mistérios da Era
Hiboriana”.


(*) – Embora
Rippke tenha mencionado um período de quinze séculos (1500 anos) entre o
escravizamento dos lemurianos e a revolta dos mesmos, vale lembrar que o
próprio Howard menciona, no ensaio “A Era Hiboriana”, que “a história deles,
durante milhares de anos, é uma história de brutal servidão” (ver Conan –
Espada e Magia #1, pág, 187). Portanto, é de se imaginar que os lemurianos
tenham sido escravos dos Khari por, pelo menos, dois mil anos (N. do T.).


A Chegada dos Hiborianos


Originalmente
publicado em REHUPA # 165


A origem da
tribo hiboriana remonta à Era Antediluviana, antes do Grande Cataclismo sacudir
a terra. Eles descendiam de uma raça de selvagens neanderthalenses, que
habitavam as extensões setentrionais do Continente Thuriano.


Então, o
Grande Cataclismo ocorreu, e o mundo foi lançando no caos e na anarquia. Terras
submergiram nos mares e os grandes reinos do mundo foram arruinados. Maciças
erupções vulcânicas cobriram o Continente Thuriano ocidental de cinzas e de
gases venenosos.


Os
proto-hiborianos fugiram para o norte, em direção ao Circulo Ártico, a fim de
escaparem da destruição causada pelos efeitos violentos dos vulcões (recontado
em “Fragmento sem Título”, THE HOWARD COLLECTOR, 1979). Eles encontraram esta
região, infestada por uma espécie nativa de ferozes macacos da neve. As tribos
nômades enfrentaram estes peludos horrores brancos, e finalmente expulsaram-nos
para dentro das terras desérticas, próximas ao Pólo Norte, onde se acreditou
que eles pereceriam. Então, eles tomaram posse desta região, se adaptaram a ela
e prosperaram. Mesmo um cataclismo menor, 500 anos após o primeiro, pouco fez
para deter seu desenvolvimento.


Por volta
desta época, as tribos se autodenominavam Hibori, ou hiborianos, em honra a seu
deus Bori (Bori era, na verdade, um antigo líder das tribos, elevado ao status de
divindade com o passar dos séculos). Durante os mil anos seguintes, eles se
espalharam por todas as terras vazias e, estando isolados, lutavam apenas em
guerras tribais.


Depois de seu
deslocamento para o Circulo Ártico, os hiborianos se tornaram “uma raça de
cabelos claros, olhos cinzas, vigorosa e guerreira, já exibindo uma natureza
artística e poética bem definida”. Eles vivem originalmente da caça, embora
algumas das tribos mais meridionais criem gado. Não tiveram contato com nenhuma
raça, em seus 1500 anos de existência, e acreditavam estarem sós.


Esta crença é
despedaçada quando vêm informações do extremo norte, de que uma extensa tribo
de homens simiescos habita as terras além do Círculo Ártico. Eles são
supostamente os descendentes dos macacos-das-neves, que os belicosos hiborianos
haviam expulsado de suas terras milênios antes. Um guerreiro nômade hiboriano,
retornando de uma jornada ao norte distante, afirma que eles estão evoluindo
para homens de verdade e insiste pela rápida formação de um bando de
guerreiros, para erradicá-los daquela região.


Os hiborianos
reagem às notícias com descrença e ridicularização. O jovem guerreiro é incapaz
de recrutar mais que um pequeno grupo de lutadores aventureiros, para
acompanharem-no seu retorno à região do Círculo Ártico. Eles desaparecem, e não
se ouve mais falar deles.


A pressão de
um volumoso número de habitantes, vivendo numa área ártica com recursos
limitados, finalmente obriga algumas das tribos mais meridionais a seguirem
para climas mais quentes. As primeiras migrações hiborianas vagam por terras
relativamente desocupadas, conquistando ou destruindo os pequenos clãs sem nome
que encontram. Eles se instalam nestas terras, absorvendo os remanescentes
destes clãs em sua população. Estas instalações, por sua vez, são conquistadas
por novas tribos hiborianas, de sangue mais puro, e varridas, enquanto as
pequenas migrações se tornam uma torrente, “se estendendo por séculos e eras”
(Black Colossus).


Um elemento
adicional, que contribui para o impulso hiboriano, ocorre quando uma tribo
daquela raça descobre o uso da pedra, construindo rudes fortalezas, projetadas
para resistirem a ataques tribais. Estas pessoas logo descartam suas tendas de
pele de cavalo, em favor da vida em casas de pedra, agrupadas para proteção.
Isto, por sua vez, dá origem ao primeiro reino hiboriano, a rude e bárbara
nação da Hiperbórea (a Mais Antiga). O nascimento deste reino empurra para
diante muitas outras tribos; elas se recusam a serem subordinadas a seus
parentes dos castelos.


Entretanto,
não demora muito para os hiborianos se depararem com Acheron, uma terra
governada por uma raça pré-cataclísmica chamada de Reis-Gigantes. Acheron está
situada como uma grande rocha no meio do fluxo da migração hiboriana, forçando
as tribos para oeste ao longo de suas fronteiras setentrionais, ou para o sul
ao longo de sua divisa leste.


Ao sudeste da
Hiperbórea, se encontra a nascente nação dos Zhemri. Logo antes das migrações
hiborianas começarem a sério, os Zhemri se uniram a uma raça desconhecida (refugiados
dagonianos?), que revivia a memória de sua antiga cultura. Isto, combinado às
defesas naturais de terrenos montanhosos, permitiu aos Zhemri desviarem o
crescente número de hiborianos para as terras a oeste deles.


O empurrão
migratório para oeste ocupa as terras entre Acheron e as montanhas do que iria
se tornar a Ciméria, deslocando as tribos aborígenes existentes para oeste, em
direção às terras dos pictos. Linhagens hiborianas se miscigenaram com aqueles
aborígenes, para formarem a tribo da Bossônia. Os bossonianos empurraram os
desorganizados pictos para oeste, em direção aos sertões, e ocuparam as novas
terras. As tribos hiborianas continuam adentrando a área, contornando Acheron e
se instalando ao longo do Rio Shirki. Uma tribo de hiborianos xenófobos se
instala nas regiões montanhosas, ao norte do Rio Shirki, para formarem os
ancestrais dos gunderlandeses.


O empurrão
migratório para o sul ocupa as terras entre a fronteira leste de Acheron e as
terras rodeadas por montanhas dos Zhemri. As tribos hiborianas avançam para o
sul, até as extensões montanhosas e férteis ao sul da nação Zhemri. Estas
terras estão sob o controle do império da Stygia, que situa-se no distante sul.
Pressões dos avanços hiborianos, ajudadas tanto quanto possível pelos acheronianos
e/ou Zhemri, forçam os hiborianos a impelirem os stígios pra fora das montanhas
do sul, em direção às campinas shemitas. Eles perseguem o exército stígio e o
destroem, no saque da cidade stígia de Kuthchemes. Os hiborianos se estabelecem
nas férteis montanhas e fundam a segunda nação hiboriana, à qual chamam de
Koth. O estabelecimento de uma terceira nação, Ophir, vem logo depois.

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